Polícias a zero no rapto de Neto Valente

09-05-2001
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Polícias a Zero no Rapto de Neto Valente

Por EDUARDO DÂMASO E JOÃO PEDRO HENRIQUES

Sexta-feira, 2 de Março de 2001

Pressões crescem sobre Pequim

Vinte e quatro horas depois do rapto do advogado Neto Valente, as investigações policiais não têm pistas significativas. Nem sobre o paradeiro do advogado nem sobre o móbil do sequestro. Começa a temer-se pela vida de Neto Valente.

Do advogado Neto Valente ninguém sabe. Vinte e quatro horas depois do rapto de Jorge Neto Valente, em Macau, as autoridades policiais não dispunham ontem de qualquer pista sobre o paradeiro do advogado nem sobre o móbil dos raptores. No terreno estão mais de cem investigadores da Polícia Judiciária que têm à sua volta um suporte logístico e de informação que envolve mais de mil pessoas. Ao fim do dia, temia-se mesmo pela vida de Neto Valente, já que nenhum pedido de resgate tinha sido feito nem as progressões realizadas na investigação permitiam alimentar grandes esperanças.

As perspectivas de salvar Neto Valente são, de facto, pessimistas. Um antigo juiz português no território, hoje residente em Portugal, revelou ao PÚBLICO que, na sua vasta experiência de sequestros naquela zona do globo, foram raros os sequestrados que se salvaram. Mais ainda: que para a sobrevivência do sequestrado é relativamente indiferente o pagamento, ou não, do resgate. Por outras palavras: muitos resgates foram pagos sem a contrapartida da sobrevivência do sequestrado.

Neto Valente, 55 anos, foi dado como desaparecido depois de o seu automóvel ter sido encontrado abandonado cerca das 21h40 horas locais de quarta-feira (13h40 em Lisboa) numa das principais artérias de Macau. O BMW do advogado foi encontrado com as portas abertas no meio da Avenida da República, e junto do veículo estava um par de sapatos e um par de óculos. As informações recolhidas pelas autoridades confirmam o facto de Neto Valente ter sido raptado quando se deslocava no seu automóvel por indivíduos que seguiam em duas outras viaturas acompanhados de dois velocípedes que o interceptaram e posteriormente o levaram para local desconhecido. Ontem, as hipóteses de o sequestro estar relacionado com uma vingança por eventuais casos que o advogado tenha tratado profissionalmente eram desvalorizadas pelos investigadores. Admitia-se que se pudesse tratar de um rapto clássico para obter o pagamento do resgate - tese que sofreu alguma erosão à medida que o tempo foi passando sem que fosse pedido pagamento algum - ou que se tratasse de uma acção das tríades por causa das concessões do jogo. Em 1997 e até mais recentemente, Neto Valente fez declarações públicas em que associou algum tipo de criminalidade existente nos casinos às seitas.

Sampaio e Soares telefonam a Ho

Ao mesmo tempo que a cidade de Macau era batida exaustivamente na busca de indícios, o caso conhecia alguns desenvolvimentos na esfera internacional. Foram feitas várias pressões diplomáticas, pelo Governo português, pela Presidência da República, como por diversas personalidades, entre as quais Mário Soares, que desenvolveram contactos a pedir o maior empenhamento do Governo chinês neste caso. Jorge Sampaio e Mário Soares também ligaram ontem à tarde a Edmundo Ho dando conta do interesse com que acompanham o caso.

Ontem, enquanto a PJ decretava "black out" total em relação às investigações, Carlos Frota, cônsul-geral de Portugal em Macau, obteve garantias das principais autoridades do território de que tudo iria ser feito com vista à resolução do caso do rapto do advogado Neto Valente. O cônsul tem estado em contacto com o comandante da polícia local, que o mantém a par do desenvolvimento das investigações, e foi já recebido pelo chefe do executivo do território, Edmundo Ho, que lhe garantiu o empenho do governo de Macau nesta questão, disse à Agência Lusa fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Polícias a Zero no Rapto de Neto Valente

Por EDUARDO DÂMASO E JOÃO PEDRO HENRIQUES

Sexta-feira, 2 de Março de 2001

Pressões crescem sobre Pequim

Vinte e quatro horas depois do rapto do advogado Neto Valente, as investigações policiais não têm pistas significativas. Nem sobre o paradeiro do advogado nem sobre o móbil do sequestro. Começa a temer-se pela vida de Neto Valente.

Do advogado Neto Valente ninguém sabe. Vinte e quatro horas depois do rapto de Jorge Neto Valente, em Macau, as autoridades policiais não dispunham ontem de qualquer pista sobre o paradeiro do advogado nem sobre o móbil dos raptores. No terreno estão mais de cem investigadores da Polícia Judiciária que têm à sua volta um suporte logístico e de informação que envolve mais de mil pessoas. Ao fim do dia, temia-se mesmo pela vida de Neto Valente, já que nenhum pedido de resgate tinha sido feito nem as progressões realizadas na investigação permitiam alimentar grandes esperanças.

As perspectivas de salvar Neto Valente são, de facto, pessimistas. Um antigo juiz português no território, hoje residente em Portugal, revelou ao PÚBLICO que, na sua vasta experiência de sequestros naquela zona do globo, foram raros os sequestrados que se salvaram. Mais ainda: que para a sobrevivência do sequestrado é relativamente indiferente o pagamento, ou não, do resgate. Por outras palavras: muitos resgates foram pagos sem a contrapartida da sobrevivência do sequestrado.

Neto Valente, 55 anos, foi dado como desaparecido depois de o seu automóvel ter sido encontrado abandonado cerca das 21h40 horas locais de quarta-feira (13h40 em Lisboa) numa das principais artérias de Macau. O BMW do advogado foi encontrado com as portas abertas no meio da Avenida da República, e junto do veículo estava um par de sapatos e um par de óculos. As informações recolhidas pelas autoridades confirmam o facto de Neto Valente ter sido raptado quando se deslocava no seu automóvel por indivíduos que seguiam em duas outras viaturas acompanhados de dois velocípedes que o interceptaram e posteriormente o levaram para local desconhecido. Ontem, as hipóteses de o sequestro estar relacionado com uma vingança por eventuais casos que o advogado tenha tratado profissionalmente eram desvalorizadas pelos investigadores. Admitia-se que se pudesse tratar de um rapto clássico para obter o pagamento do resgate - tese que sofreu alguma erosão à medida que o tempo foi passando sem que fosse pedido pagamento algum - ou que se tratasse de uma acção das tríades por causa das concessões do jogo. Em 1997 e até mais recentemente, Neto Valente fez declarações públicas em que associou algum tipo de criminalidade existente nos casinos às seitas.

Sampaio e Soares telefonam a Ho

Ao mesmo tempo que a cidade de Macau era batida exaustivamente na busca de indícios, o caso conhecia alguns desenvolvimentos na esfera internacional. Foram feitas várias pressões diplomáticas, pelo Governo português, pela Presidência da República, como por diversas personalidades, entre as quais Mário Soares, que desenvolveram contactos a pedir o maior empenhamento do Governo chinês neste caso. Jorge Sampaio e Mário Soares também ligaram ontem à tarde a Edmundo Ho dando conta do interesse com que acompanham o caso.

Ontem, enquanto a PJ decretava "black out" total em relação às investigações, Carlos Frota, cônsul-geral de Portugal em Macau, obteve garantias das principais autoridades do território de que tudo iria ser feito com vista à resolução do caso do rapto do advogado Neto Valente. O cônsul tem estado em contacto com o comandante da polícia local, que o mantém a par do desenvolvimento das investigações, e foi já recebido pelo chefe do executivo do território, Edmundo Ho, que lhe garantiu o empenho do governo de Macau nesta questão, disse à Agência Lusa fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

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