Lucros e insolvências

04-03-2001
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Lucros e Insolvências

Segunda-feira, 26 de Fevereiro de 2001

1. Na semana passada, foram divulgados dados alarmantes sobre o endividamento ao estrangeiro da banca a operar em Portugal. Basicamente, o que se passa é que as instituições financeiras, "assediadas" por gente sem dinheiro mas com vontade de comprar mobílias, casas e automóveis, viram-se obrigadas a pedir capitais no exterior para responder aos ímpetos consumistas dentro de portas. O resultado é que o país todo, a começar nas famílias e a acabar nos bancos, está a viver a crédito. Ou, mais brutalmente, está a viver bem acima das suas possibilidades.

Múltiplas instituições e personalidades já chamaram a atenção para os perigos do endividamento crescente das famílias, sobretudo depois do fim do período em que o dinheiro esteve ao preço da chuva. Mas os efeitos concretos desta realidade são muito variáveis. Se, por um lado, é verdade que muitas economias familiares estão à beira da insolvência, os lucros líquidos recordes apresentados este ano pelas principais instituições financeiras portuguesas denunciam, por outro lado, que os excessos consumistas alimentam de forma sumptuosa os resultados de exploração da banca nacional.

O que falta saber, para tentarmos adivinhar o fim desta perigosa história de deve e haver, é até que ponto os emprestadores saberão dominar a sua sede de lucro, apertando critérios e aumentando o rigor para a atribuição de empréstimos. Acontece que a persistente agressividade publicitária de alguns bancos, continuando a acenar com todas as facilidades do mundo para "dar" dinheiro ao povo, não augura nada de bom. O problema é que o tiro pode sair-lhes pela culatra num futuro próximo...

2. Contra todas as evidências, o líder da "transportadora aérea nacional", Fernando Pinto, não viu nada de extraordinário nem de contraditório entre, por um lado, a intenção do ministro Jorge Coelho de "despolitizar" a TAP e, por outro lado, a entrada no capital da empresa de, nada menos, três accionistas públicos - a CGD, a Parpública e o IPE. Afinal, a cultura nacional portuguesa de anuência acrítica perante tudo o que diz o poder, mesmo que não faça sentido algum, ameaça vingar junto de outras escolas de "management"...

Carlos Romero

Lucros e Insolvências

Segunda-feira, 26 de Fevereiro de 2001

1. Na semana passada, foram divulgados dados alarmantes sobre o endividamento ao estrangeiro da banca a operar em Portugal. Basicamente, o que se passa é que as instituições financeiras, "assediadas" por gente sem dinheiro mas com vontade de comprar mobílias, casas e automóveis, viram-se obrigadas a pedir capitais no exterior para responder aos ímpetos consumistas dentro de portas. O resultado é que o país todo, a começar nas famílias e a acabar nos bancos, está a viver a crédito. Ou, mais brutalmente, está a viver bem acima das suas possibilidades.

Múltiplas instituições e personalidades já chamaram a atenção para os perigos do endividamento crescente das famílias, sobretudo depois do fim do período em que o dinheiro esteve ao preço da chuva. Mas os efeitos concretos desta realidade são muito variáveis. Se, por um lado, é verdade que muitas economias familiares estão à beira da insolvência, os lucros líquidos recordes apresentados este ano pelas principais instituições financeiras portuguesas denunciam, por outro lado, que os excessos consumistas alimentam de forma sumptuosa os resultados de exploração da banca nacional.

O que falta saber, para tentarmos adivinhar o fim desta perigosa história de deve e haver, é até que ponto os emprestadores saberão dominar a sua sede de lucro, apertando critérios e aumentando o rigor para a atribuição de empréstimos. Acontece que a persistente agressividade publicitária de alguns bancos, continuando a acenar com todas as facilidades do mundo para "dar" dinheiro ao povo, não augura nada de bom. O problema é que o tiro pode sair-lhes pela culatra num futuro próximo...

2. Contra todas as evidências, o líder da "transportadora aérea nacional", Fernando Pinto, não viu nada de extraordinário nem de contraditório entre, por um lado, a intenção do ministro Jorge Coelho de "despolitizar" a TAP e, por outro lado, a entrada no capital da empresa de, nada menos, três accionistas públicos - a CGD, a Parpública e o IPE. Afinal, a cultura nacional portuguesa de anuência acrítica perante tudo o que diz o poder, mesmo que não faça sentido algum, ameaça vingar junto de outras escolas de "management"...

Carlos Romero

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