Portugal num estado de insegurança

07-05-2001
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Portugal Num Estado de Insegurança

Por CLARA VIANA, Idálio Revez e Carlos Dias

Terça-feira, 6 de Março de 2001

Faltam vistorias em pontes e barragens e as estradas são, também, campos de buracos

A ponte que liga Constância a Vila Nova da Barquinha deixou de comportar o tráfego que a atravessa e poderá pôr em perigo os utentes que dela se servem. O alerta foi ontem repetido pelo presidente da Câmara de Constância, António Mendes. No rescaldo da tragédia que assolou Castelo de Paiva, há outras vozes a dar conta do estado de insegurança em que se vive em Portugal.

Mário Frota, presidente da Associação Portuguesa de Direito do Consumo disse, por exemplo, que existem indicações de que mais de 50 por cento das barragens nacionais não só não dispõem de planos de segurança, como "não têm sido sujeitas a obras de manutenção".

"A continuar assim, não querendo ser alarmista, não sei se não haverá problemas com consequências gravosas", alertou ontem António Mendes, referindo-se à velha ponte ferroviária de Constância que, em 1988, foi adaptada à circulação rodoviária e que hoje é atravessada diariamente por cerca de quatro mil automobilistas. Acrescenta o autarca que a ponte "não tem sido alvo de qualquer vistoria" e que os seus pedidos no sentido de serem efectuadas "análises do ponto de vista estrutural" não foram atendidos até hoje. O governador civil, Carlos Cunha, considerou, por seu lado, que o problema ali é de "dificuldade ao nível do tráfego e não ao nível de segurança". "Qualquer dúvida em relação à segurança de qualquer ponte do distrito" levará ao seu encerramento "automático", garantiu.

O presidente da Câmara Municipal de Constância adiantou que os autarcas andam "há dez anos" a lutar pela construção de uma nova ponte, tendo sido tomada uma decisão política nesse sentido há mais de três anos. Contudo, o processo não passou da fase do estudo de localização, ainda em apreciação no Instituto de Estradas de Portugal (IEP).

A Associação Portuguesa de Direito do Consumo exortou, entretanto, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) a revelar quais as barragens que não dispõem de planos de segurança e que não têm sido sujeitas a obras de manutenção. "É preciso criar em Portugal uma consciência de segurança", sublinhou o presidente da associação, Mário Frota. Por enquanto, o LNEC não responde. Frota insiste: "Se vier a dar-se uma catástrofe numa das barragens, temos de multiplicar por muito os efeitos" do acidente ocorrido em castelo de Paiva.

Do viaduto Duarte Pacheco à Portela

Há quem se interrogue, de novo, sobre a segurança do viaduto Duarte Pacheco, que serve um dos principais acessos à capital. Parado no meio do tráfego da Avenida de Ceuta, um munícipe de Lisboa habituou-se a espiar os pilares da estrutura que foi mandada construir por Duarte Pacheco há mais de 50 anos. Vai atentando nas rachas que eles ostentam e que lhe fazem recordar os alertas emitidos por Edgar Cardoso, o falecido "engenheiro das pontes".

No princípio a década de 90, o viaduto Duarte Pacheco era uma das principais preocupações da então ainda existente Junta Autónoma de Estradas. Não só porque chegara à idade do reumático, mas também pelo volume de tráfego que suporta diariamente e ainda pelo facto, não menos importante, de ter sido implantado numa falha sísmica, portanto uma zona geologicamente muito delicada. Estará o viaduto doente?

Em Lisboa, as entidades responsáveis pela protecção civil habituaram-se, há muito, a atribuir à sorte, ou à intervenção divina, o facto de os grandes acidentes continuarem arredados da história recente da capital. Na cidade existe, por exemplo, um aeroporto que foi considerado, pela Deco, como sendo o mais perigoso da Europa. Esta foi uma das principais conclusões de um estudo comparativo, divulgado em 1998, sobre as condições de segurança das instalações de 34 aeroportos internacionais em 17 cidades europeias. A Portela foi brindada com um "mau". Já os aeroportos de Faro e do Funchal receberam, neste estudo, um "medíocre", classificação que os aproximaram de outros seus congéneres europeus.

Ponte à beira da derrocada no Algarve

No Algarve, a ponte sobre a ribeira da Foupana, na ligação Mértola- Vila Real de Santo António, pela Estrada Nacional 122, está cortada há mais de dois meses, e não se sabe quando será retomada. Em consequência das cheias que antecederam o Natal, a base do pilar central da ponte partiu e o tapete abateu quase meio metro. A estrutura pode desabar a qualquer momento. Para evitar eventuais acidentes, o trânsito automóvel foi cortado, passando a circulação, em alternativa, a fazer-se por estradas municipais.

O presidente da Câmara de Alcoutim, Francisco Amaral, informou o ministro do Equipamento, Jorge Coelho - a quem pediu auxílio urgente - e o Instituo de Estradas de Portugal, mas a situação permanece inalterável. O governador civil de Faro, Fialho Anastácio, prometeu: "logo que o tempo permita, a obra será lançada".

A circulação de viaturas por estradas municipais, de curvas apertadas e pavimento esburacado, tem tido como consequência mais directa o aumento do número de acidentes. Pelo andar das coisas, diz Francisco Amaral, "receio que chegue o Verão, e a ponte continue na mesma". Se isso vier a acontecer, adverte: "vão ter acidentes a todo o instante, e engarrafamentos de tráfego".

Estradas ou campos de buracos?

População e autarquias multiplicam, entretanto, os protestos face ao mauestado das estradas, uma das causas que tem contribuído para a alta sinistralidade rodoviária que se regista no país. "Há uma guerra civil nas estradas portuguesas", insiste a Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados, um movimento cívico que emergiu das dezenas de mortos registados no IP5.

Na semana passada, a população de S. Jacinto cortou a EN327 para exigir obras e uma protecção para a margem da Ria. Na A8, conhecida por auto-estrada do Oeste, a estrada abateu em vários locais e o piso encontra-se cheio de remendos. A falta se conservação é evidente para quem circula por ali Mais a sul, as câmara de Mora e de Viana do Alento denunciam o mau estado da EN2 e continuam a reivindicar obras que tardam a ser concretizadas.

Portugal Num Estado de Insegurança

Por CLARA VIANA, Idálio Revez e Carlos Dias

Terça-feira, 6 de Março de 2001

Faltam vistorias em pontes e barragens e as estradas são, também, campos de buracos

A ponte que liga Constância a Vila Nova da Barquinha deixou de comportar o tráfego que a atravessa e poderá pôr em perigo os utentes que dela se servem. O alerta foi ontem repetido pelo presidente da Câmara de Constância, António Mendes. No rescaldo da tragédia que assolou Castelo de Paiva, há outras vozes a dar conta do estado de insegurança em que se vive em Portugal.

Mário Frota, presidente da Associação Portuguesa de Direito do Consumo disse, por exemplo, que existem indicações de que mais de 50 por cento das barragens nacionais não só não dispõem de planos de segurança, como "não têm sido sujeitas a obras de manutenção".

"A continuar assim, não querendo ser alarmista, não sei se não haverá problemas com consequências gravosas", alertou ontem António Mendes, referindo-se à velha ponte ferroviária de Constância que, em 1988, foi adaptada à circulação rodoviária e que hoje é atravessada diariamente por cerca de quatro mil automobilistas. Acrescenta o autarca que a ponte "não tem sido alvo de qualquer vistoria" e que os seus pedidos no sentido de serem efectuadas "análises do ponto de vista estrutural" não foram atendidos até hoje. O governador civil, Carlos Cunha, considerou, por seu lado, que o problema ali é de "dificuldade ao nível do tráfego e não ao nível de segurança". "Qualquer dúvida em relação à segurança de qualquer ponte do distrito" levará ao seu encerramento "automático", garantiu.

O presidente da Câmara Municipal de Constância adiantou que os autarcas andam "há dez anos" a lutar pela construção de uma nova ponte, tendo sido tomada uma decisão política nesse sentido há mais de três anos. Contudo, o processo não passou da fase do estudo de localização, ainda em apreciação no Instituto de Estradas de Portugal (IEP).

A Associação Portuguesa de Direito do Consumo exortou, entretanto, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) a revelar quais as barragens que não dispõem de planos de segurança e que não têm sido sujeitas a obras de manutenção. "É preciso criar em Portugal uma consciência de segurança", sublinhou o presidente da associação, Mário Frota. Por enquanto, o LNEC não responde. Frota insiste: "Se vier a dar-se uma catástrofe numa das barragens, temos de multiplicar por muito os efeitos" do acidente ocorrido em castelo de Paiva.

Do viaduto Duarte Pacheco à Portela

Há quem se interrogue, de novo, sobre a segurança do viaduto Duarte Pacheco, que serve um dos principais acessos à capital. Parado no meio do tráfego da Avenida de Ceuta, um munícipe de Lisboa habituou-se a espiar os pilares da estrutura que foi mandada construir por Duarte Pacheco há mais de 50 anos. Vai atentando nas rachas que eles ostentam e que lhe fazem recordar os alertas emitidos por Edgar Cardoso, o falecido "engenheiro das pontes".

No princípio a década de 90, o viaduto Duarte Pacheco era uma das principais preocupações da então ainda existente Junta Autónoma de Estradas. Não só porque chegara à idade do reumático, mas também pelo volume de tráfego que suporta diariamente e ainda pelo facto, não menos importante, de ter sido implantado numa falha sísmica, portanto uma zona geologicamente muito delicada. Estará o viaduto doente?

Em Lisboa, as entidades responsáveis pela protecção civil habituaram-se, há muito, a atribuir à sorte, ou à intervenção divina, o facto de os grandes acidentes continuarem arredados da história recente da capital. Na cidade existe, por exemplo, um aeroporto que foi considerado, pela Deco, como sendo o mais perigoso da Europa. Esta foi uma das principais conclusões de um estudo comparativo, divulgado em 1998, sobre as condições de segurança das instalações de 34 aeroportos internacionais em 17 cidades europeias. A Portela foi brindada com um "mau". Já os aeroportos de Faro e do Funchal receberam, neste estudo, um "medíocre", classificação que os aproximaram de outros seus congéneres europeus.

Ponte à beira da derrocada no Algarve

No Algarve, a ponte sobre a ribeira da Foupana, na ligação Mértola- Vila Real de Santo António, pela Estrada Nacional 122, está cortada há mais de dois meses, e não se sabe quando será retomada. Em consequência das cheias que antecederam o Natal, a base do pilar central da ponte partiu e o tapete abateu quase meio metro. A estrutura pode desabar a qualquer momento. Para evitar eventuais acidentes, o trânsito automóvel foi cortado, passando a circulação, em alternativa, a fazer-se por estradas municipais.

O presidente da Câmara de Alcoutim, Francisco Amaral, informou o ministro do Equipamento, Jorge Coelho - a quem pediu auxílio urgente - e o Instituo de Estradas de Portugal, mas a situação permanece inalterável. O governador civil de Faro, Fialho Anastácio, prometeu: "logo que o tempo permita, a obra será lançada".

A circulação de viaturas por estradas municipais, de curvas apertadas e pavimento esburacado, tem tido como consequência mais directa o aumento do número de acidentes. Pelo andar das coisas, diz Francisco Amaral, "receio que chegue o Verão, e a ponte continue na mesma". Se isso vier a acontecer, adverte: "vão ter acidentes a todo o instante, e engarrafamentos de tráfego".

Estradas ou campos de buracos?

População e autarquias multiplicam, entretanto, os protestos face ao mauestado das estradas, uma das causas que tem contribuído para a alta sinistralidade rodoviária que se regista no país. "Há uma guerra civil nas estradas portuguesas", insiste a Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados, um movimento cívico que emergiu das dezenas de mortos registados no IP5.

Na semana passada, a população de S. Jacinto cortou a EN327 para exigir obras e uma protecção para a margem da Ria. Na A8, conhecida por auto-estrada do Oeste, a estrada abateu em vários locais e o piso encontra-se cheio de remendos. A falta se conservação é evidente para quem circula por ali Mais a sul, as câmara de Mora e de Viana do Alento denunciam o mau estado da EN2 e continuam a reivindicar obras que tardam a ser concretizadas.

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