Gomes Acusou Secretário-geral de Ter "Nacionalizado" o Resultado das Autárquicas
Por JOÃO PEDRO HENRIQUES
Quinta-feira, 20 de Dezembro de 2001
Reunião da Comissão Política do PS
Na despedida, muitos dirigentes pediram a Guterres que ficasse. Mas Fernando Gomes recordou-lhe que a derrota no Porto não é só sua
"Um encontro afectivo" em torno de António Guterres. Foi assim que um dirigente do PS qualificou ao PÚBLICO a reunião de terça-feira à noite da comissão política e do secretariado nacional do partido onde António Guterres comunicou que, além de se ter demitido de primeiro-ministro, também renunciava ao cargo de secretário-geral do PS.
Na reunião, Guterres explicou porque se demitia e a seguir ouviu muitas intervenções, sobretudo dos presidentes das federações, mas também de alguns ministros (como António Costa ou Ferro Rodrigues), a pedirem-lhe que reconsiderasse, com o argumento, entre outros, de que Guterres ainda é o melhor rosto para levar de novo o partido às vitórias. Guterres foi ouvindo e no final reiterou que estava mesmo de saída, tanto da chefia do Governo como da do PS. Só não sairá, como o próprio confirmou ao PÚBLICO, da presidência da Internacional Socialista.
Uma das intervenções mais notadas na reunião foi a de Fernando Gomes, um dos grandes derrotados das eleições de domingo. O ex-ministro da Administração Interna, que saiu do Governo assumindo uma ruptura radical com Guterres - "não me demiti, fui demitido" - fez um discurso que parecia ser de reconciliação com o ainda líder do PS. Mas não resistiu a uma tirada assassina. Fê-lo ao dizer que Guterres tinha de certa forma "nacionalizado" o resultados das autárquicas com o seu envolvimento profundo na campanha. Por outras palavras: Gomes não assume sózinho as culpas pelo seu resultado, acha que Guterres também tem a sua quota-parte de responsabilidade.
No final da reunião, já perto da meia-noite de anteontem, Jorge Coelho comunicou aos jornalistas que está convocada para sábado de manhã uma comissão nacional do partido, o seu órgão máximo entre congressos. Nessa reunião serão alterados os estatutos do PS no sentido de encurtar os prazos para convocar a eleição de um novo secretário-geral, eleição essa que será, como habitualmente, por voto directo, secreto e universal dos militantes.
O que também está assente é que o corpo dirigente do partido se manterá inalterado mesmo com a eleição de um novo líder. Ou seja: não será convocado um congresso electivo de órgãos como a comissão nacional, a comissão política ou o secretariado nacional. Apenas uma convenção programática de discussão da plataforma eleitoral do partido. Ou seja: uma cerimónia mediática que se pretende de lançamento da campanha do PS para as legislativas antecipadas. Estas, disse Jorge Coelho, só "muito dificilmente" serão antes de Março.
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Gomes Acusou Secretário-geral de Ter "Nacionalizado" o Resultado das Autárquicas
Por JOÃO PEDRO HENRIQUES
Quinta-feira, 20 de Dezembro de 2001
Reunião da Comissão Política do PS
Na despedida, muitos dirigentes pediram a Guterres que ficasse. Mas Fernando Gomes recordou-lhe que a derrota no Porto não é só sua
"Um encontro afectivo" em torno de António Guterres. Foi assim que um dirigente do PS qualificou ao PÚBLICO a reunião de terça-feira à noite da comissão política e do secretariado nacional do partido onde António Guterres comunicou que, além de se ter demitido de primeiro-ministro, também renunciava ao cargo de secretário-geral do PS.
Na reunião, Guterres explicou porque se demitia e a seguir ouviu muitas intervenções, sobretudo dos presidentes das federações, mas também de alguns ministros (como António Costa ou Ferro Rodrigues), a pedirem-lhe que reconsiderasse, com o argumento, entre outros, de que Guterres ainda é o melhor rosto para levar de novo o partido às vitórias. Guterres foi ouvindo e no final reiterou que estava mesmo de saída, tanto da chefia do Governo como da do PS. Só não sairá, como o próprio confirmou ao PÚBLICO, da presidência da Internacional Socialista.
Uma das intervenções mais notadas na reunião foi a de Fernando Gomes, um dos grandes derrotados das eleições de domingo. O ex-ministro da Administração Interna, que saiu do Governo assumindo uma ruptura radical com Guterres - "não me demiti, fui demitido" - fez um discurso que parecia ser de reconciliação com o ainda líder do PS. Mas não resistiu a uma tirada assassina. Fê-lo ao dizer que Guterres tinha de certa forma "nacionalizado" o resultados das autárquicas com o seu envolvimento profundo na campanha. Por outras palavras: Gomes não assume sózinho as culpas pelo seu resultado, acha que Guterres também tem a sua quota-parte de responsabilidade.
No final da reunião, já perto da meia-noite de anteontem, Jorge Coelho comunicou aos jornalistas que está convocada para sábado de manhã uma comissão nacional do partido, o seu órgão máximo entre congressos. Nessa reunião serão alterados os estatutos do PS no sentido de encurtar os prazos para convocar a eleição de um novo secretário-geral, eleição essa que será, como habitualmente, por voto directo, secreto e universal dos militantes.
O que também está assente é que o corpo dirigente do partido se manterá inalterado mesmo com a eleição de um novo líder. Ou seja: não será convocado um congresso electivo de órgãos como a comissão nacional, a comissão política ou o secretariado nacional. Apenas uma convenção programática de discussão da plataforma eleitoral do partido. Ou seja: uma cerimónia mediática que se pretende de lançamento da campanha do PS para as legislativas antecipadas. Estas, disse Jorge Coelho, só "muito dificilmente" serão antes de Março.