"Nunca mais ninguém me disse nada"

16-12-2000
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Jorge Coelho reafirma ignorância sobre a FPS

"Nunca Mais Ninguém Me Disse Nada"

Por NUNO SÁ LOURENÇO

Sábado, 16 de Dezembro de 2000

Jorge Coelho teve apenas dois contactos esporádicos com a fundação do MAI. Foi isso mesmo que disse ontem no Parlamento, momentos antes de deixar no ar algumas indirectas a Fernando Gomes e admitir alguns erros da parte dos seus secretários de Estado. Sobre a Fundação do Instituto Nacional da Administração, deixou claro o seu apoio.

A audição parlamentar realizada ontem serviu a Jorge Coelho para se demarcar de vez da Fundação para a Prevenção e Segurança (FPS). O agora ministro do Equipamento e das Obras Públicas aproveitou a reunião com a comissão dos Assuntos Constitucionais para reafirmar o seu desconhecimento em relação à criação e funcionamento da FPS. De acordo com as declarações do titular da pasta da Administração Interna no momento do reconhecimento da instituição, o assunto foi sempre das competências do seu secretário de Estado, Armando Vara.

"Eu delego bastantes funções no secretário de Estado, em quem, aliás, confio. Quando delego funções não o faço a meio termo", justificou Jorge Coelho. O ministro acrescentou mesmo que apenas se tinha envolvido no caso da fundação por duas ocasiões, e sempre de uma forma passageira.

A primeira quando o seu secretário de Estado adjunto, Armando Vara, lhe deu conta que tencionava recuperar o forte de São João da Cadaveira para aí instalar o centro de documentação da FPS. A segunda ocasião foi depois de um almoço com o então ministro da Administração Interna, Fernando Gomes, onde este lhe expressou as suas preocupações em relação à matéria.

Para além desses contactos, nada mais: "Nunca mais ouvi falar disto", resumiu. "Nunca mais ninguém me disse nada", concluiu Jorge Coelho.

No entanto, o socialista não deixou passar em branco a atitude de Fernando Gomes no caso da fundação. De uma forma subtil, deu a entender que algo estava errado com o facto de o anterior titular da pasta ter entregue um "dossier" sobre a fundação no Parlamento. "Eu tenho a consciência perfeita das funções do ministro da Administração Interna. Eu tenho a consciência perfeita que o ministro da Administração Interna não pode, não deve retirar nenhum documento do ministério."

Foi assim que justificou a sua ignorância sobre o caso: "Não sei, não tenho que saber e era grave que soubesse." Não podia, por isso, acrescentar mais do que sabia à altura da criação da fundação. O contrário implicava ter trazido consigo documentação relativa ao ministério. Uma situação que o seu "sentido de Estado" não permitia.

Mas as críticas a Gomes não se ficaram por aqui. Jorge Coelho afirmou que teria feito mais se tivesse estado na posição do antigo autarca, lembrando que a Inspecção-Geral da Administração Interna tinha sido criada para isso mesmo: "Em todas as ocasiões poderão constatar que nunca nenhuma queixa ficava nas minhas mãos. Mandei até muitas para a Procuradoria-Geral da República e para a Polícia Judiciária." Entregando-as, portanto, "a quem de direito para as investigar".

Entretanto, apesar dos elogios feitos ao assumir das responsabilidades dos seus secretários de Estado Armando Vara e Luís Parreirão, o ministro do Equipamento não deixou de reconhecer alguns erros nas suas condutas. "Admito que possa ter havido aqui alguns erros na constituição de tudo isto", tendo depois acrescentado que "qualquer irregularidade que exista foi feita de boa-fé".

Boa-fé que não o impediu de dar mesmo um exemplo do que poderia ter sido feito de outra forma pelo seu subalterno. "Quando saí do ministério, organizei o ''dossier'' [a entregar ao seu sucessor] o melhor possível, e solicitando ao secretário de Estado que, no que lhe dizia respeito, organizasse as suas áreas. Constato agora que isso não foi feito." Recorde-se que Fernando Gomes afirmou perante a comissão ter encontrado um ''dossier'' completo sobre o MAI, onde faltava, no entanto, uma referência à FPS.

Para além dos assuntos da FPS, Jorge Coelho rejeitou ainda qualquer comparação entre este caso e a Fundação do Instituto Nacional da Administração (INA), que ontem o PÚBLICO noticiou ter sido reconhecido por Luís Patrão quando Jorge Coelho estava ainda no MAI. "Aprovo e saúdo", afirmou o ministro em relação à fundação ligada ao INA.

Jorge Coelho reafirma ignorância sobre a FPS

"Nunca Mais Ninguém Me Disse Nada"

Por NUNO SÁ LOURENÇO

Sábado, 16 de Dezembro de 2000

Jorge Coelho teve apenas dois contactos esporádicos com a fundação do MAI. Foi isso mesmo que disse ontem no Parlamento, momentos antes de deixar no ar algumas indirectas a Fernando Gomes e admitir alguns erros da parte dos seus secretários de Estado. Sobre a Fundação do Instituto Nacional da Administração, deixou claro o seu apoio.

A audição parlamentar realizada ontem serviu a Jorge Coelho para se demarcar de vez da Fundação para a Prevenção e Segurança (FPS). O agora ministro do Equipamento e das Obras Públicas aproveitou a reunião com a comissão dos Assuntos Constitucionais para reafirmar o seu desconhecimento em relação à criação e funcionamento da FPS. De acordo com as declarações do titular da pasta da Administração Interna no momento do reconhecimento da instituição, o assunto foi sempre das competências do seu secretário de Estado, Armando Vara.

"Eu delego bastantes funções no secretário de Estado, em quem, aliás, confio. Quando delego funções não o faço a meio termo", justificou Jorge Coelho. O ministro acrescentou mesmo que apenas se tinha envolvido no caso da fundação por duas ocasiões, e sempre de uma forma passageira.

A primeira quando o seu secretário de Estado adjunto, Armando Vara, lhe deu conta que tencionava recuperar o forte de São João da Cadaveira para aí instalar o centro de documentação da FPS. A segunda ocasião foi depois de um almoço com o então ministro da Administração Interna, Fernando Gomes, onde este lhe expressou as suas preocupações em relação à matéria.

Para além desses contactos, nada mais: "Nunca mais ouvi falar disto", resumiu. "Nunca mais ninguém me disse nada", concluiu Jorge Coelho.

No entanto, o socialista não deixou passar em branco a atitude de Fernando Gomes no caso da fundação. De uma forma subtil, deu a entender que algo estava errado com o facto de o anterior titular da pasta ter entregue um "dossier" sobre a fundação no Parlamento. "Eu tenho a consciência perfeita das funções do ministro da Administração Interna. Eu tenho a consciência perfeita que o ministro da Administração Interna não pode, não deve retirar nenhum documento do ministério."

Foi assim que justificou a sua ignorância sobre o caso: "Não sei, não tenho que saber e era grave que soubesse." Não podia, por isso, acrescentar mais do que sabia à altura da criação da fundação. O contrário implicava ter trazido consigo documentação relativa ao ministério. Uma situação que o seu "sentido de Estado" não permitia.

Mas as críticas a Gomes não se ficaram por aqui. Jorge Coelho afirmou que teria feito mais se tivesse estado na posição do antigo autarca, lembrando que a Inspecção-Geral da Administração Interna tinha sido criada para isso mesmo: "Em todas as ocasiões poderão constatar que nunca nenhuma queixa ficava nas minhas mãos. Mandei até muitas para a Procuradoria-Geral da República e para a Polícia Judiciária." Entregando-as, portanto, "a quem de direito para as investigar".

Entretanto, apesar dos elogios feitos ao assumir das responsabilidades dos seus secretários de Estado Armando Vara e Luís Parreirão, o ministro do Equipamento não deixou de reconhecer alguns erros nas suas condutas. "Admito que possa ter havido aqui alguns erros na constituição de tudo isto", tendo depois acrescentado que "qualquer irregularidade que exista foi feita de boa-fé".

Boa-fé que não o impediu de dar mesmo um exemplo do que poderia ter sido feito de outra forma pelo seu subalterno. "Quando saí do ministério, organizei o ''dossier'' [a entregar ao seu sucessor] o melhor possível, e solicitando ao secretário de Estado que, no que lhe dizia respeito, organizasse as suas áreas. Constato agora que isso não foi feito." Recorde-se que Fernando Gomes afirmou perante a comissão ter encontrado um ''dossier'' completo sobre o MAI, onde faltava, no entanto, uma referência à FPS.

Para além dos assuntos da FPS, Jorge Coelho rejeitou ainda qualquer comparação entre este caso e a Fundação do Instituto Nacional da Administração (INA), que ontem o PÚBLICO noticiou ter sido reconhecido por Luís Patrão quando Jorge Coelho estava ainda no MAI. "Aprovo e saúdo", afirmou o ministro em relação à fundação ligada ao INA.

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