Açores: um teste ao «estado de graça» do PS

05-03-2000
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Jorge Simão

Manuel Arruda (PSD) presidente da Câmara de Ponta Delgada: muito dificilmente o PS conseguirá desalojá-lo

AS ELEIÇÕES de amanhã constituirão, nos Açores, um teste à capacidade do PS para mobilizar o eleitorado que lhe deu a vitória nas regionais de há um ano, o mesmo acontecendo ao PSD, que pela primeira vez concorre a umas eleições na oposição. Numa primeira análise, os socialistas estarão em vantagem, dado o «estado de graça» do Governo de Carlos César. A conquista da maioria das câmaras municipais não seria novidade para o PS, que obteve no mandato de 1989 a 1993 a gestão de 10 dos 19 municípios da Região. A verdade, porém, é que a vitória parece estar longe do alcance do PS dos Açores. Os sociais-democratas detêm hoje 15 municípios contra 4 do PS, 16 das 19 assembleias municipais e 102 das 149 juntas de freguesia. O PS precisaria, portanto, de desalojar o PSD de 6 câmaras, tarefa bastante complicada porquanto o PSD recandidata quase todos os presidentes com desempenho favorável nestes quatro anos. A começar por Ponta Delgada, o maior e mais cobiçado município dos Açores, é quase garantido que o social-democrata Manuel Arruda levará a melhor sobre o independente do PS Oliveira Melo. Alguns socialistas prevêem de há muito a derrota, como o histórico dirigente da Comissão Regional do PS Albano Pimentel, que manifestou ao EXPRESSO a sua discordância pela escolha de Oliveira Melo, «um candidato sem perfil ganhador». Todos poderão cantar vitória Curioso nestas eleições é que todos os partidos poderão gritar vitória, partindo do princípio de que conquistarão mais lugares do que nas autárquicas de 93. Tudo indica que o PSD, embora mantendo a maioria, não deverá atingir os 54% da «era Mota Amaral» e, provavelmente, perderá duas ou três câmaras. É o caso de Angra do Heroísmo, onde se candidata um vereador que substituiu na presidência, a meio do mandato, Joaquim Ponte, enquanto o PS aposta no director regional da Segurança Social, Sérgio Ávila, o candidato mais exposto na comunicação social durante a pré-campanha, distribuindo cheques e assinando protocolos de cooperação com inúmeras instituições na qualidade de governante. Nas Lajes das Flores, o actual presidente, Cristiano Gomes, que desde 1982 chefia os destinos do Município, primeiro pela extinta ASDI e depois três mandatos seguidos pelo PSD, concorre agora pela CDU, pondo em perigo uma nova vitória dos sociais-democratas. Cristiano Gomes tem, assim, boas hipóteses de dar à CDU uma Câmara ou um lugar de vereador, o mesmo acontecendo com o líder comunista, José Decq Mota, que concorre à Câmara da Horta contra o presidente socialista Renato Leal. Se assim for, a CDU terá boas razões para fazer um balanço positivo das eleições, comparado com o anterior, em que não obteve qualquer vereador. O PP aposta forte na Praia da Vitória, um concelho social-democrata, com a candidatura do deputado regional Alvarino Pinheiro, o mesmo acontecendo em Angra do Heroísmo, onde apresenta o conhecido historiador Jorge Forjaz. Em qualquer dos casos bastará a conquista de um lugar na vereação para o PP também gritar vitória em relação às eleições anteriores. De sublinhar que este é o primeiro acto eleitoral do líder social-democrata Costa Neves, pelo que o seu futuro dependerá igualmente dos resultados de amanhã. Já Carlos César, mesmo não alcançando a percentagem de votos das regionais do ano passado, não terá a liderança tão ameaçada, mas certamente que surgirão vozes no PS contra o «protagonismo exagerado que César está a dar aos independentes».

OSVALDO CABRAL

correspondente nos Açores

O alemão de Rabo de Peixe EM toda a ilha de S. Miguel já é conhecido como «o alemão de Rabo de Peixe». Alexander Luitpold Acker veio da Baviera há três anos para fixar residência na maior freguesia dos Açores, conhecida pelo imenso bairro de pescadores pobres. E concorre à Junta de Freguesia nas listas do PSD. Tenente-coronel reformado do Exército alemão, 61 anos, colaborador da NASA e com livros publicados, Alexander Acker escolheu Rabo de Peixe, «para o resto da sua vida». «É a freguesia mais discriminada dos Açores e isso magoa a sua população», afirma ao EXPRESSO. O candidato alemão quer fazer desta freguesia com cerca de sete mil habitantes o que já conseguiu no seu bairro, onde residem várias dezenas de famílias pobres: «Uma educação cívica que leve as pessoas a viverem com mais dignidade. Quando aqui cheguei atiravam todos os dias lixo para o meu quintal e até para a rua». Hoje mostra, com indisfarçável orgulho, a horta no quintal e a rua do bairro mais limpa, graças à «acção cívica»que desenvolveu nestes três anos junto da vizinhança. A sua popularidade é tão grande que a miudagem da escola do bairro veio convidá-lo para preparar a festa de Natal. Alexander vive com a mulher, Helga, jornalista de um diário da Baviera, e tem 4 filhos e 7 netos, que lhe telefonam quase diariamente da Alemanha a perguntar «se precisam de alguma coisa». «Temos tudo o que queremos», refere Helga: «A paz de espírito e a amizade das pessoas», ao que Alexander acrescenta «as paisagens bonitas e a inspiração do Atlântico».

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