Verão atenua avaliação crítica do Governo e da conjuntura

30-10-2001
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Três quartos dos gestores da nova economia preferem Oliveira Martins a Pina Moura

Verão Atenua Avaliação Crítica do Governo e da Conjuntura

Por ARTUR NEVES

Segunda-feira, 3 de Setembro de 2001

Nada como umas boas férias de Verão para se passar a analisar a realidade com um pouco mais de optimismo. No espaço de dois meses tornou-se menos negativa a avaliação que os empresários da nova economia fazem do Governo (que passou de sete para oito valores) e da conjuntura económica (de oito para nove valores). Se é verdade que na frente política ocorreu uma remodelação governamental - embora demasiado baseada em mudanças de pastas e sem entradas de pesos políticos fortes para a equipa de António Guterres - capaz de inspirar alguma nova esperança, na frente económica escassearam as boas notícias.

Em termos objectivos, nada parece justificar uma apreciação mais benévola da conjuntura. Nos últimos dois meses aprofundaram-se os sinais de inquietação em relação à seriedade do abrandamento da economia mundial, e Portugal assistiu à deterioração das suas perspectivas económicas de curto prazo. Nos EUA, os sucessivos cortes das taxas de juro operados pela Reserva Federal têm apenas servido para evitar o despenhamento do consumo privado, não desencadeando qualquer retoma e servindo apenas de amortecedor à desaceleração da actividade económica. Quem o disse foi o Fundo Monetário Internacional (FMI), num relatório particularmente crítico e pessimista sobre o futuro a curto prazo da maior economia do mundo. Na zona euro, intensificaram-se as provas de que com os novos mecanismos de contágio num mundo cada vez mais globalizado, a economia não estava tão imune aos problemas do outro lado do Atlântico como inicialmente se procurou fazer crer, quando apenas se falava dos relativamente baixos fluxos comerciais entre a Europa e os EUA. O motor económico da área, a Alemanha, gripou, e os seus vizinhos geográficos sentem já os respectivos efeitos. Nos dois primeiros trimestres do ano, verificaram-se contracções do PIB na Finlândia, Dinamarca, Holanda e Bélgica, e também mais a sul, na terceira economia dos Doze, a italiana. Em Portugal, em pleno Verão, com o país político de férias, o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou com um atraso considerável as contas nacionais relativas ao primeiro trimestre de 2001: o PIB nacional contraiu-se 0,1 por cento face ao trimestre anterior, muito por culpa do mau desempenho do investimento.

E a inflação portuguesa continuou a crescer enquanto a sua homóloga da zona euro iniciava um movimento descendente, o que penaliza a já débil competitividade externa das empresas portuguesas. De facto, são conhecidas as propriedades anti-depressivas da exposição ao sol.

Orçamento passará, défice derrapará

É dado assente que o Governo de António Guterres verá o Orçamento para 2002 aprovado no Parlamento, afastando-se assim o cenário da sua queda e da realização de eleições gerais antecipadas. Muito provavelmente com nova ajuda do deputado limiano. Guilherme d'Oliveira Martins , que se estreia de forma notável entre os inquiridos do barómetro, merecia melhor. Cerca de três quartos dos inquiridos afirmaram que o novo ministro das Finanças lhes inspira mais segurança do que o seu predecessor, Joaquim Pina Moura. É certo que Oliveira Martins tem cultivado ao longo da sua passagem pela vida política uma imagem de seriedade e honestidade que lhe valem elogios da própria oposição. Mas também é verdade que não se trata de um ministro com currículo na área económico-financeira, o que poderia ser visto como um "handicap" junto de largos segmentos da classe empresarial portuguesa. Porém, sem qualquer forma de desrespeito para com o novo ministro e recuperando uma imagem utilizada noutro contexto por uma conhecida deputada do PP, o estado de desgraça junto da classe empresarial (e não só) do antigo ministro das Finanças era de tal forma gritante que, em comparação, provavelmente até o Rato Mickey seria visto como maior inspirador de confiança.

Apesar do novo sopro de confiança que Guilherme d'Oliveira Martins trouxe à pasta das Finanças, os inquiridos partilham da opinião da maior parte dos economistas que não exercem funções governamentais: Portugal não cumprirá este ano o objectivo traçado no seu programa de estabilidade e crescimento em matéria de défice público. Em vez de 1,1 por cento do PIB, a maioria das apostas colocam-no na casa dos dois por cento. Erros governamentais, má fortuna e fraca conjuntura envolvente, mas a partir do momento em que outros e mais influentes países da zona euro começaram também a dar sinais de um possível incumprimento, a gravidade da derrapagem portuguesa foi relativizada.

Três quartos dos gestores da nova economia preferem Oliveira Martins a Pina Moura

Verão Atenua Avaliação Crítica do Governo e da Conjuntura

Por ARTUR NEVES

Segunda-feira, 3 de Setembro de 2001

Nada como umas boas férias de Verão para se passar a analisar a realidade com um pouco mais de optimismo. No espaço de dois meses tornou-se menos negativa a avaliação que os empresários da nova economia fazem do Governo (que passou de sete para oito valores) e da conjuntura económica (de oito para nove valores). Se é verdade que na frente política ocorreu uma remodelação governamental - embora demasiado baseada em mudanças de pastas e sem entradas de pesos políticos fortes para a equipa de António Guterres - capaz de inspirar alguma nova esperança, na frente económica escassearam as boas notícias.

Em termos objectivos, nada parece justificar uma apreciação mais benévola da conjuntura. Nos últimos dois meses aprofundaram-se os sinais de inquietação em relação à seriedade do abrandamento da economia mundial, e Portugal assistiu à deterioração das suas perspectivas económicas de curto prazo. Nos EUA, os sucessivos cortes das taxas de juro operados pela Reserva Federal têm apenas servido para evitar o despenhamento do consumo privado, não desencadeando qualquer retoma e servindo apenas de amortecedor à desaceleração da actividade económica. Quem o disse foi o Fundo Monetário Internacional (FMI), num relatório particularmente crítico e pessimista sobre o futuro a curto prazo da maior economia do mundo. Na zona euro, intensificaram-se as provas de que com os novos mecanismos de contágio num mundo cada vez mais globalizado, a economia não estava tão imune aos problemas do outro lado do Atlântico como inicialmente se procurou fazer crer, quando apenas se falava dos relativamente baixos fluxos comerciais entre a Europa e os EUA. O motor económico da área, a Alemanha, gripou, e os seus vizinhos geográficos sentem já os respectivos efeitos. Nos dois primeiros trimestres do ano, verificaram-se contracções do PIB na Finlândia, Dinamarca, Holanda e Bélgica, e também mais a sul, na terceira economia dos Doze, a italiana. Em Portugal, em pleno Verão, com o país político de férias, o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou com um atraso considerável as contas nacionais relativas ao primeiro trimestre de 2001: o PIB nacional contraiu-se 0,1 por cento face ao trimestre anterior, muito por culpa do mau desempenho do investimento.

E a inflação portuguesa continuou a crescer enquanto a sua homóloga da zona euro iniciava um movimento descendente, o que penaliza a já débil competitividade externa das empresas portuguesas. De facto, são conhecidas as propriedades anti-depressivas da exposição ao sol.

Orçamento passará, défice derrapará

É dado assente que o Governo de António Guterres verá o Orçamento para 2002 aprovado no Parlamento, afastando-se assim o cenário da sua queda e da realização de eleições gerais antecipadas. Muito provavelmente com nova ajuda do deputado limiano. Guilherme d'Oliveira Martins , que se estreia de forma notável entre os inquiridos do barómetro, merecia melhor. Cerca de três quartos dos inquiridos afirmaram que o novo ministro das Finanças lhes inspira mais segurança do que o seu predecessor, Joaquim Pina Moura. É certo que Oliveira Martins tem cultivado ao longo da sua passagem pela vida política uma imagem de seriedade e honestidade que lhe valem elogios da própria oposição. Mas também é verdade que não se trata de um ministro com currículo na área económico-financeira, o que poderia ser visto como um "handicap" junto de largos segmentos da classe empresarial portuguesa. Porém, sem qualquer forma de desrespeito para com o novo ministro e recuperando uma imagem utilizada noutro contexto por uma conhecida deputada do PP, o estado de desgraça junto da classe empresarial (e não só) do antigo ministro das Finanças era de tal forma gritante que, em comparação, provavelmente até o Rato Mickey seria visto como maior inspirador de confiança.

Apesar do novo sopro de confiança que Guilherme d'Oliveira Martins trouxe à pasta das Finanças, os inquiridos partilham da opinião da maior parte dos economistas que não exercem funções governamentais: Portugal não cumprirá este ano o objectivo traçado no seu programa de estabilidade e crescimento em matéria de défice público. Em vez de 1,1 por cento do PIB, a maioria das apostas colocam-no na casa dos dois por cento. Erros governamentais, má fortuna e fraca conjuntura envolvente, mas a partir do momento em que outros e mais influentes países da zona euro começaram também a dar sinais de um possível incumprimento, a gravidade da derrapagem portuguesa foi relativizada.

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