... mas muitos andavam mais à esquerda

16-03-2001
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... mas Muitos Andavam Mais à Esquerda

Sábado, 25 de Novembro de 2000

Gama, Guterres, Sócrates, Costa, Vara, Guilherme D'Oliveira Martins e Castro Caldas combatiam na altura o PCP e a extrema-esquerda. Desse lado da barricada estavam actuais ministros como Pina Moura (Finanças), Santos Silva (Educação), Ferro Rodrigues (Solidariedade) e Jorge Coelho (Equipamento Social), por exemplo.

Este último militava na UDP e trabalhava no STAPE (Secretariado Técnico de Apoio ao Processo Eleitoral). Nesse dia foi, segundo conta, jogar à bola com colegas para o Estado Universitário de Lisboa. Na equipa jogava o director-geral daquela entidade, um militar. Antes do jogo, o director-geral deu ordens a um contínuo para ser chamado caso lhe telefonasse Costa Gomes. Telefonou mesmo, o jogo acabou-se por aí. E Jorge Coelho, do futebol partiu para uma "manifestação de extrema-esquerda".

Pelo MES (Movimento da Esquerda Socialista, que chegou a ter mais de uma dúzia de ex-militantes no primeiro Governo formado por António Guterres) andavam Ferro Rodrigues e Augusto Santos Silva. O primeiro era soldado raso do Regimento de Infantaria de Abrantes, integrando, por eleição interpares, a comissão de soldados da unidade e ainda, nessa qualidade, a respectiva assembleia de delegados."Nesse quadro" foi no dia 25 de Novembro para Tancos "tentar perceber o que se passava" mas voltou de lá "mais confuso" ainda. Dois ou três dias depois foi passado à disponibilidade por ordem do brigadeiro Franco Charais, comandante da Região Militar Centro.

Foram, diz hoje Eduardo Ferro Rodrigues, "meses loucos mas extraordinários". "Tenho consciência de como, levados por um misto de generosidade e vanguardismo radical, estivemos todos à beira do abismo." Hoje sabe que o golpe vencedor foi "o único que apostava verdadeiramente para a democracia pluralista".

No Porto, um dos adeptos (embora não militante) do MES era um jovem de 19 anos, estudante universitário de História, chamado Augusto Santos Silva. Em 1974 andava pelo trotskismo mas depois derivou para o MES.

De todos os actuais ministros, Santos Silva, hoje militante do PS, é o único que assume que sentiu o 25 de Novembro "como uma derrota". "O 25 de Novembro representou, para nós, o início da normalização democrática formal, feita à direita, sob a tutela, que nos parecia então temível, dos óculos escuros do general Eanes vestido de camuflado". Com o passar do tempo, apercebeu-se que a sua "cegueira" e "sectarismo" poderia ter contribuído para "a implantação de uma nova ditadura em Portugal". "Eanes - diz - fazia parte do campo democrático (...) e era Soares quem tinha razão", conclui.

Quem também certamente sentiu esse dia como uma derrota foi Joaquim Pina Moura. Sentiu - mas não o diz. O ministro das Finanças só partilhou com o PÚBLICO o que já se sabia. "Era membro da UEC e do PCP. Vivia e estudava no Porto, onde passei o dia 25 de Novembro." Mais longe não foi porque os seus "afazeres" não lhe deram tempo.

Santos Silva e Pina Moura talvez se tenham cruzado por esses dias com uma jovem chamada Elisa Ferreira, hoje ministra do Planeamento. As memórias da ministra também não são detalhadas: "Tinha passado o Verão em grande actividade, embora não tivesse qualquer filiação.. No 25 de Novembro, teve "uma grande dúvida e uma grande perplexidade sobre o que ia acontecer a partir daí." Desse tempo resta-lhe orgulho: "A minha geração teve essa fantástica vantagem de pôr tudo em causa."

*com I.B., A.S.L. e E.D.

... mas Muitos Andavam Mais à Esquerda

Sábado, 25 de Novembro de 2000

Gama, Guterres, Sócrates, Costa, Vara, Guilherme D'Oliveira Martins e Castro Caldas combatiam na altura o PCP e a extrema-esquerda. Desse lado da barricada estavam actuais ministros como Pina Moura (Finanças), Santos Silva (Educação), Ferro Rodrigues (Solidariedade) e Jorge Coelho (Equipamento Social), por exemplo.

Este último militava na UDP e trabalhava no STAPE (Secretariado Técnico de Apoio ao Processo Eleitoral). Nesse dia foi, segundo conta, jogar à bola com colegas para o Estado Universitário de Lisboa. Na equipa jogava o director-geral daquela entidade, um militar. Antes do jogo, o director-geral deu ordens a um contínuo para ser chamado caso lhe telefonasse Costa Gomes. Telefonou mesmo, o jogo acabou-se por aí. E Jorge Coelho, do futebol partiu para uma "manifestação de extrema-esquerda".

Pelo MES (Movimento da Esquerda Socialista, que chegou a ter mais de uma dúzia de ex-militantes no primeiro Governo formado por António Guterres) andavam Ferro Rodrigues e Augusto Santos Silva. O primeiro era soldado raso do Regimento de Infantaria de Abrantes, integrando, por eleição interpares, a comissão de soldados da unidade e ainda, nessa qualidade, a respectiva assembleia de delegados."Nesse quadro" foi no dia 25 de Novembro para Tancos "tentar perceber o que se passava" mas voltou de lá "mais confuso" ainda. Dois ou três dias depois foi passado à disponibilidade por ordem do brigadeiro Franco Charais, comandante da Região Militar Centro.

Foram, diz hoje Eduardo Ferro Rodrigues, "meses loucos mas extraordinários". "Tenho consciência de como, levados por um misto de generosidade e vanguardismo radical, estivemos todos à beira do abismo." Hoje sabe que o golpe vencedor foi "o único que apostava verdadeiramente para a democracia pluralista".

No Porto, um dos adeptos (embora não militante) do MES era um jovem de 19 anos, estudante universitário de História, chamado Augusto Santos Silva. Em 1974 andava pelo trotskismo mas depois derivou para o MES.

De todos os actuais ministros, Santos Silva, hoje militante do PS, é o único que assume que sentiu o 25 de Novembro "como uma derrota". "O 25 de Novembro representou, para nós, o início da normalização democrática formal, feita à direita, sob a tutela, que nos parecia então temível, dos óculos escuros do general Eanes vestido de camuflado". Com o passar do tempo, apercebeu-se que a sua "cegueira" e "sectarismo" poderia ter contribuído para "a implantação de uma nova ditadura em Portugal". "Eanes - diz - fazia parte do campo democrático (...) e era Soares quem tinha razão", conclui.

Quem também certamente sentiu esse dia como uma derrota foi Joaquim Pina Moura. Sentiu - mas não o diz. O ministro das Finanças só partilhou com o PÚBLICO o que já se sabia. "Era membro da UEC e do PCP. Vivia e estudava no Porto, onde passei o dia 25 de Novembro." Mais longe não foi porque os seus "afazeres" não lhe deram tempo.

Santos Silva e Pina Moura talvez se tenham cruzado por esses dias com uma jovem chamada Elisa Ferreira, hoje ministra do Planeamento. As memórias da ministra também não são detalhadas: "Tinha passado o Verão em grande actividade, embora não tivesse qualquer filiação.. No 25 de Novembro, teve "uma grande dúvida e uma grande perplexidade sobre o que ia acontecer a partir daí." Desse tempo resta-lhe orgulho: "A minha geração teve essa fantástica vantagem de pôr tudo em causa."

*com I.B., A.S.L. e E.D.

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