EXPRESSO: País

22-09-2001
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Guerra prometida no espaço à direita Manuel Monteiro deu o primeiro passo para o regresso à política activa. Em Janeiro, promete, no CDS/PP ou num novo partido. A direcção de Paulo Portas reage com desagrado à iniciativa, votando-a ao insucesso. Mas as opiniões à direita não fecham as portas ao ex-líder popular À PARTIDA, são mais as vozes a admitir a possibilidade da existência de novos partidos no espectro político português - nomeadamente no centro-direita - do que os que rejeitam a ideia. Mas no caso concreto de uma nova formação a fundar por Manuel Monteiro, a questão sai rapidamente do plano teórico, particularmente para os seus defensores: o novo partido só parece fazer sentido se não for possível concretizar o projecto no CDS/PP. No ano passado, foi Pedro Santana Lopes quem chegou a admitir a possibilidade de avançar com uma nova formação. À PARTIDA, são mais as vozes a admitir a possibilidade da existência de novos partidos no espectro político português - nomeadamente no centro-direita - do que os que rejeitam a ideia. Mas no caso concreto de uma nova formação a fundar por Manuel Monteiro, a questão sai rapidamente do plano teórico, particularmente para os seus defensores: o novo partido só parece fazer sentido se não for possível concretizar o projecto no CDS/PP. No ano passado, foi Pedro Santana Lopes quem chegou a admitir a possibilidade de avançar com uma nova formação. Agora, reafirma-se «completamente mobilizado» no PSD e diz que, por outro lado, não pretende interferir «na vida interna de outro partido». Ultrapassados estes «pontos prévios» considera que, em termos genéricos, «há sempre espaço para novos partidos. São raros os sistemas políticos que mantêm os mesmos durante duas décadas». O português, continua, «tem tido uma estabilidade fantástica e, normalmente, uma estabilização tão acentuada pode significar falta de vitalidade». Para mostrar que é possível criar novos projectos, fala do BE «que é a prova disso mesmo». O sociólogo Manuel Villaverde Cabral acha que «razões para falar em novos partidos há de sobejo: os que existem não servem, não funcionam, não conseguem já mobilizar metade dos eleitores». Mas, ao contrário de Santana Lopes, diz que «não é por isso que há espaço para 'novos' partidos. Pense-se no BE e veja-se como o 'novo' envelheceu depressa...». Ainda mais pessimista está quanto à viabilidade de uma nova formação no espaço do centro-direita. «Pessoalmente, nada tenho a opor», adianta Villaverde Cabral, «mas estou certo de que não tem 'chances' nenhumas: nem em encontrar 'sponsors' nem tão pouco eleitores» porque não há, em Portugal, «como país pequeno e pobre da UE, espaço para um programa de direita a sério. Veja-se o que se passou com o sr. Haider num país pequeno mas rico!». A favor de Monteiro... Mais do que saber se cabe ou não um novo partido na direita, «o que cabe na direita é ter um projecto, que não tem. Aliás, este é o mal de todo o país, desde 1998, não há projecto», afirma Fernandes Thomaz. «E a direita é ideal para o gerar», conclui o antigo dirigente. Mais do que saber se cabe ou não um novo partido na direita,, afirma Fernandes Thomaz., conclui o antigo dirigente. Nogueira Simões pensa que «as pessoas estão descontentes com a governação, logo colocam a ideia de um novo partido; há uma desconfiança nos já existentes, de oposição». É por isso que «as pessoas se refugiam na ideia hipotética de novo partido» que para si, «é com certeza uma possibilidade». A melhor? «Se é melhor, não sei. Partidos de esquerda há muitos». Para Fernandes Thomaz, no CDS/PP, «com as autárquicas completa-se um ciclo» iniciado em 1998, em Braga, no Congresso que elegeu Paulo Portas. E quanto aos últimos anos afirma que «o que não é admissível é que não tenha havido uma convergência do centro-direita» porque «é necessária uma direita mais aberta a uma convergência com o PSD para desalojar o PS do poder». E «se o Partido Popular não corresponde a um projecto de direita então está a gerar-se espaço para um novo partido». Por outro lado, se o projecto for gerado por «circunstâncias pessoais entre líder e ex-líder, então está morto à partida». Nogueira Simões concorda: «Se é um partido superior ao partido actual, muito bem; se representa apenas 'tricas' internas então está condenado». Para o dirigente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), para poder ter sucesso, o novo partido terá de ser feito com «pessoas diferentes, fora da política» e Manuel Monteiro «anda a reunir com universitários para constituir ou construir um ideário político. Para incluir no PP se der; se não der, para constituir outro partido». ... e contra À actual direcção de Paulo Portas pertence João Rebelo, que não tem dúvidas: «Todas as experiências de novos partidos falharam rotundamente». Para mais, agora, o CDS/PP «está forte, portanto não existe lugar para uma nova formação neste espaço de centro-direita». Naturalmente muito crítico com Manuel Monteiro, João Rebelo pensa que falar de um novo partido neste momento tem como efeito «dividir o espaço do centro-direita quando se procura fazer a convergência entre o CDS/PP e o PSD, o que, portanto, defende os interesses do PS». Avelino Ferreira Torres, o presidente centrista da Câmara de Marco de Canavezes pensa que «há partidos a mais», defendendo «até a fusão do PP/PSD para dar origem a um novo partido que aglutinasse o bloco de centro-direita». Já tem até uma proposta de nome - «poder-se-ia chamar 'Partido Liberal'» - para este projecto a que daria o seu apoio. «Agora, mais um partido para dividir a direita não tem viabilidade», diz. Mas se arrancar mesmo, apoia? «Depende, terei de ver as pessoas que nele participam». Em relação à criação de um novo partido à direita, Daniel Campelo - outro autarca (ainda) centrista - não se quer pronunciar, afirmando apenas que é um «direito democrático constituir um partido». Mas o presidente da Câmara de Ponte de Lima sempre adianta, significativamente, que «acha estranho que pessoas que pertencem a um partido pensem em criar outro».

ANA SERZEDELO e MARIA TERESA OLIVEIRA com ABÍLIO FERREIRA

1991 terá sido o ano que em que, pela primeira vez, Paulo Portas e Manuel Monteiro se cruzaram politicamente. Diogo Freitas do Amaral voltava a candidatar-se à liderança do CDS e Manuel Monteiro, líder dos jovens centristas, apresentou, com Ricardo Vieira, uma moção de estratégia. Paulo Portas, que ainda não era militante do partido, fez chegar o seu apoio à moção. 1992 No Congresso do Altis, Portas, com Luís Nobre Guedes, juntou-se a Manuel Monteiro, o seu ex-colega de curso na Universidade Católica que viria a sair líder do conclave. O director de «O Independente» passaria a fazer parte do «núcleo duro» que transformou o CDS em Partido Popular. 1995, mais precisamente, 29 de Julho. Paulo Portas, juntamente com Monteiro e na presença de, por exemplo, Leonardo Ferraz de Carvalho e Bagão Félix, apresentou-se como cabeça-de-lista do CDS/PP por Aveiro. Portas teria demorado cerca de um mês a aceitar o convite do líder do partido, para decidir abandonar «O Independente» e assumir de vez a sua entrada na política. O cartão de militante ainda não estava, porém, no horizonte. 1996 foi o ano de todos os acontecimentos. Logo em Janeiro, na Assembleia da República, dá-se um forte sinal público da importância que Paulo Portas vinha a assumir no partido: a pedido de Manuel Monteiro faz um discurso onde apela ao voto em Cavaco Silva nas presidenciais. O CDS/PP, nesta questão, tinha-se decidido pela «neutralidade institucional». Ainda no início do ano, Portas seria, finalmente, militante, mas já os jornais deixavam de o considerar como «fidelíssimo» de Manuel Monteiro para constatarem que vinha a assumir posições cada vez menos convergentes com o líder. Com o passar dos meses agudizaram-se os conflitos na bancada popular - em que ainda estavam, por exemplo, Lobo Xavier e Manuela Moura Guedes. Em Junho, no encerramento de umas jornadas parlamentares no Funchal, Monteiro faz um discurso duríssimo e pede a «quem critica a direcção ou a estratégia do partido que assuma as consequências e apresente a alternativa». Paulo Portas entra em «meditação» sobre a sua «utilidade na política» e «o estado do partido». A 22 de Junho os dois têm um encontro a sós, no Parlamento, onde discutem as suas divergências e o líder tentará demover o ex-jornalista da possibilidade de abandonar a política. Na sequência do encontro Monteiro dirá: «Paulo Portas nunca estará contra mim, nem eu contra ele. Todas as notícias que pretendam dizer o contrário são falsas». Na semana seguinte, porém, já circulava a notícia de que Portas iria pedir a sua demissão da Comissão Política do partido - a que, entretanto, ascendera - mantendo-se no grupo parlamentar. Os «monteiristas» acolheram esta intenção como «uma declaração de guerra». A 1 de Julho, a intenção transformou-se em realidade. Um mês depois, Paulo Portas candidatava-se a líder parlamentar do PP. Em Setembro já se falava de um Congresso Extraordinário (que se realizou em Dezembro) para mudar a liderança. Monteiro falava do regresso à advocacia. Portas dizia que recusava a possibilidade. Entretanto, dá-se a votação para a liderança parlamentar. 8 votos em branco e 7 em Portas, que recusa ocupar o lugar. Em Dezembro, Monteiro volta a candidatar-se e ganha, de novo, o partido. Paulo Portas não chegou a entrar na corrida. 1998 A derrota nas autárquicas de Dezembro de 1997 precipita a saída de Manuel Monteiro de líder do Partido Popular. Paulo Portas - que entretanto esteve à frente do centro de sondagens da Universidade Moderna - começa por recusar a possibilidade de se candidatar ao lugar deixado vago, mas acaba por ser eleito líder no Congresso, que em Março, se realizou em Braga, derrotando Maria José Nogueira Pinto (apoiada pelo líder cessante). Manuel Monteiro ficará até às legislativas de 1999 na bancada parlamentar, muitas das vezes em divergência assumida com a direcção do partido. O tratado de Amesterdão foi um dos pontos altos da discórdia. 1999 A direcção de Paulo Portas chega a admitir convidar Manuel Monteiro para integrar as listas do CDS/PP às eleições para a Assembleia da República. Mas a «reconciliação» entre os dois não chega nunca a acontecer. 2000 Manuel Monteiro toma clara posição a favor da candidatura presidencial de Ferreira do Amaral. O CDS/PP de Paulo Portas acabará por desistir do seu candidato, Basílio Horta. 2001 Em Julho, Manuel Monteiro assume claramente que não desistiu do projecto do CDS/PP e promete que avançará para a liderança do partido, se para tal tiver condições. Paulo Portas opta por não comentar e desvalorizar o «regresso» do seu agora (e de novo) rival.

COMENTÁRIOS AO ARTIGO

4 comentários 1 a 4

13 Agosto 2001 às 16:05

Aires Loureiro ( airesloureiro@oninet.pt )

O regime está completamente podre e não fosse a envolvência na UE e já teria caído.

Os actuais partidos, são justamente compreendidos pelas pessoas como associações de malfeitores.

É urgente uma qualquer onda que varra isto. Talvez fosse melhor que se lhe não chamasse «partido», para se não confundir com as actuais organizações de malfeitores que têm essa designação.

O Manuel Monteiro, talvez pudesse liderar uma onda dessas; mas necessário mesmo, era pô-la em marcha,e logo se veria se o líder tinha coragem e carisma.

11 Agosto 2001 às 15:52

Análise pictórica

Não deixa de ser interessante reflectir sobre as imagens que ilustram a reportagem.

Manuel Monteiro:

O ex (futuro?) líder surge num ambiente bucólico, radioso, romântico, rodeado pela natureza no seu estado mais belo. Flores brancas, para a pureza das suas intenções e do seu coração e o verde das árvores para a esperança do renascimento da Fénix!

Paulo Portas:

Aparece sózinho e distante, mefistofélico e comprometido, sobre um fundo negro a indiciar funestas intenções, crueza nos actos e um fim cada vez mais próximo.

Elucidativo, não?

11 Agosto 2001 às 15:42

Portas entra em «meditação» sobre a sua «utilidade na política»

Entrou em meditação, saíu da mesma e devia retomá-la rapidamente!

Não lhe faria mal meditar sobre a sua utilidade!

11 Agosto 2001 às 10:25

Nuno Cardoso da Silva ( nunocardososilva@sapo.pt )

Um partido novo que fosse um projecto novo, com ideias novas e dedicado a implantar um sistema político diferente e anti-oligárquico, podia ser uma boa ideia. Um partido que seja apenas um projecto pessoal para continuar, sob outro nome, o domínio oligárquico e as políticas ruinosas dos outros partidos, NÃO!

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Os comentários constituem um espaço aberto à participação dos leitores. EXPRESSO On-Line reserva-se, no entanto, o direito de não publicar opiniões ofensivas da dignidade dos visados ou que contenham expressões obscenas.

Guerra prometida no espaço à direita Manuel Monteiro deu o primeiro passo para o regresso à política activa. Em Janeiro, promete, no CDS/PP ou num novo partido. A direcção de Paulo Portas reage com desagrado à iniciativa, votando-a ao insucesso. Mas as opiniões à direita não fecham as portas ao ex-líder popular À PARTIDA, são mais as vozes a admitir a possibilidade da existência de novos partidos no espectro político português - nomeadamente no centro-direita - do que os que rejeitam a ideia. Mas no caso concreto de uma nova formação a fundar por Manuel Monteiro, a questão sai rapidamente do plano teórico, particularmente para os seus defensores: o novo partido só parece fazer sentido se não for possível concretizar o projecto no CDS/PP. No ano passado, foi Pedro Santana Lopes quem chegou a admitir a possibilidade de avançar com uma nova formação. À PARTIDA, são mais as vozes a admitir a possibilidade da existência de novos partidos no espectro político português - nomeadamente no centro-direita - do que os que rejeitam a ideia. Mas no caso concreto de uma nova formação a fundar por Manuel Monteiro, a questão sai rapidamente do plano teórico, particularmente para os seus defensores: o novo partido só parece fazer sentido se não for possível concretizar o projecto no CDS/PP. No ano passado, foi Pedro Santana Lopes quem chegou a admitir a possibilidade de avançar com uma nova formação. Agora, reafirma-se «completamente mobilizado» no PSD e diz que, por outro lado, não pretende interferir «na vida interna de outro partido». Ultrapassados estes «pontos prévios» considera que, em termos genéricos, «há sempre espaço para novos partidos. São raros os sistemas políticos que mantêm os mesmos durante duas décadas». O português, continua, «tem tido uma estabilidade fantástica e, normalmente, uma estabilização tão acentuada pode significar falta de vitalidade». Para mostrar que é possível criar novos projectos, fala do BE «que é a prova disso mesmo». O sociólogo Manuel Villaverde Cabral acha que «razões para falar em novos partidos há de sobejo: os que existem não servem, não funcionam, não conseguem já mobilizar metade dos eleitores». Mas, ao contrário de Santana Lopes, diz que «não é por isso que há espaço para 'novos' partidos. Pense-se no BE e veja-se como o 'novo' envelheceu depressa...». Ainda mais pessimista está quanto à viabilidade de uma nova formação no espaço do centro-direita. «Pessoalmente, nada tenho a opor», adianta Villaverde Cabral, «mas estou certo de que não tem 'chances' nenhumas: nem em encontrar 'sponsors' nem tão pouco eleitores» porque não há, em Portugal, «como país pequeno e pobre da UE, espaço para um programa de direita a sério. Veja-se o que se passou com o sr. Haider num país pequeno mas rico!». A favor de Monteiro... Mais do que saber se cabe ou não um novo partido na direita, «o que cabe na direita é ter um projecto, que não tem. Aliás, este é o mal de todo o país, desde 1998, não há projecto», afirma Fernandes Thomaz. «E a direita é ideal para o gerar», conclui o antigo dirigente. Mais do que saber se cabe ou não um novo partido na direita,, afirma Fernandes Thomaz., conclui o antigo dirigente. Nogueira Simões pensa que «as pessoas estão descontentes com a governação, logo colocam a ideia de um novo partido; há uma desconfiança nos já existentes, de oposição». É por isso que «as pessoas se refugiam na ideia hipotética de novo partido» que para si, «é com certeza uma possibilidade». A melhor? «Se é melhor, não sei. Partidos de esquerda há muitos». Para Fernandes Thomaz, no CDS/PP, «com as autárquicas completa-se um ciclo» iniciado em 1998, em Braga, no Congresso que elegeu Paulo Portas. E quanto aos últimos anos afirma que «o que não é admissível é que não tenha havido uma convergência do centro-direita» porque «é necessária uma direita mais aberta a uma convergência com o PSD para desalojar o PS do poder». E «se o Partido Popular não corresponde a um projecto de direita então está a gerar-se espaço para um novo partido». Por outro lado, se o projecto for gerado por «circunstâncias pessoais entre líder e ex-líder, então está morto à partida». Nogueira Simões concorda: «Se é um partido superior ao partido actual, muito bem; se representa apenas 'tricas' internas então está condenado». Para o dirigente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), para poder ter sucesso, o novo partido terá de ser feito com «pessoas diferentes, fora da política» e Manuel Monteiro «anda a reunir com universitários para constituir ou construir um ideário político. Para incluir no PP se der; se não der, para constituir outro partido». ... e contra À actual direcção de Paulo Portas pertence João Rebelo, que não tem dúvidas: «Todas as experiências de novos partidos falharam rotundamente». Para mais, agora, o CDS/PP «está forte, portanto não existe lugar para uma nova formação neste espaço de centro-direita». Naturalmente muito crítico com Manuel Monteiro, João Rebelo pensa que falar de um novo partido neste momento tem como efeito «dividir o espaço do centro-direita quando se procura fazer a convergência entre o CDS/PP e o PSD, o que, portanto, defende os interesses do PS». Avelino Ferreira Torres, o presidente centrista da Câmara de Marco de Canavezes pensa que «há partidos a mais», defendendo «até a fusão do PP/PSD para dar origem a um novo partido que aglutinasse o bloco de centro-direita». Já tem até uma proposta de nome - «poder-se-ia chamar 'Partido Liberal'» - para este projecto a que daria o seu apoio. «Agora, mais um partido para dividir a direita não tem viabilidade», diz. Mas se arrancar mesmo, apoia? «Depende, terei de ver as pessoas que nele participam». Em relação à criação de um novo partido à direita, Daniel Campelo - outro autarca (ainda) centrista - não se quer pronunciar, afirmando apenas que é um «direito democrático constituir um partido». Mas o presidente da Câmara de Ponte de Lima sempre adianta, significativamente, que «acha estranho que pessoas que pertencem a um partido pensem em criar outro».

ANA SERZEDELO e MARIA TERESA OLIVEIRA com ABÍLIO FERREIRA

1991 terá sido o ano que em que, pela primeira vez, Paulo Portas e Manuel Monteiro se cruzaram politicamente. Diogo Freitas do Amaral voltava a candidatar-se à liderança do CDS e Manuel Monteiro, líder dos jovens centristas, apresentou, com Ricardo Vieira, uma moção de estratégia. Paulo Portas, que ainda não era militante do partido, fez chegar o seu apoio à moção. 1992 No Congresso do Altis, Portas, com Luís Nobre Guedes, juntou-se a Manuel Monteiro, o seu ex-colega de curso na Universidade Católica que viria a sair líder do conclave. O director de «O Independente» passaria a fazer parte do «núcleo duro» que transformou o CDS em Partido Popular. 1995, mais precisamente, 29 de Julho. Paulo Portas, juntamente com Monteiro e na presença de, por exemplo, Leonardo Ferraz de Carvalho e Bagão Félix, apresentou-se como cabeça-de-lista do CDS/PP por Aveiro. Portas teria demorado cerca de um mês a aceitar o convite do líder do partido, para decidir abandonar «O Independente» e assumir de vez a sua entrada na política. O cartão de militante ainda não estava, porém, no horizonte. 1996 foi o ano de todos os acontecimentos. Logo em Janeiro, na Assembleia da República, dá-se um forte sinal público da importância que Paulo Portas vinha a assumir no partido: a pedido de Manuel Monteiro faz um discurso onde apela ao voto em Cavaco Silva nas presidenciais. O CDS/PP, nesta questão, tinha-se decidido pela «neutralidade institucional». Ainda no início do ano, Portas seria, finalmente, militante, mas já os jornais deixavam de o considerar como «fidelíssimo» de Manuel Monteiro para constatarem que vinha a assumir posições cada vez menos convergentes com o líder. Com o passar dos meses agudizaram-se os conflitos na bancada popular - em que ainda estavam, por exemplo, Lobo Xavier e Manuela Moura Guedes. Em Junho, no encerramento de umas jornadas parlamentares no Funchal, Monteiro faz um discurso duríssimo e pede a «quem critica a direcção ou a estratégia do partido que assuma as consequências e apresente a alternativa». Paulo Portas entra em «meditação» sobre a sua «utilidade na política» e «o estado do partido». A 22 de Junho os dois têm um encontro a sós, no Parlamento, onde discutem as suas divergências e o líder tentará demover o ex-jornalista da possibilidade de abandonar a política. Na sequência do encontro Monteiro dirá: «Paulo Portas nunca estará contra mim, nem eu contra ele. Todas as notícias que pretendam dizer o contrário são falsas». Na semana seguinte, porém, já circulava a notícia de que Portas iria pedir a sua demissão da Comissão Política do partido - a que, entretanto, ascendera - mantendo-se no grupo parlamentar. Os «monteiristas» acolheram esta intenção como «uma declaração de guerra». A 1 de Julho, a intenção transformou-se em realidade. Um mês depois, Paulo Portas candidatava-se a líder parlamentar do PP. Em Setembro já se falava de um Congresso Extraordinário (que se realizou em Dezembro) para mudar a liderança. Monteiro falava do regresso à advocacia. Portas dizia que recusava a possibilidade. Entretanto, dá-se a votação para a liderança parlamentar. 8 votos em branco e 7 em Portas, que recusa ocupar o lugar. Em Dezembro, Monteiro volta a candidatar-se e ganha, de novo, o partido. Paulo Portas não chegou a entrar na corrida. 1998 A derrota nas autárquicas de Dezembro de 1997 precipita a saída de Manuel Monteiro de líder do Partido Popular. Paulo Portas - que entretanto esteve à frente do centro de sondagens da Universidade Moderna - começa por recusar a possibilidade de se candidatar ao lugar deixado vago, mas acaba por ser eleito líder no Congresso, que em Março, se realizou em Braga, derrotando Maria José Nogueira Pinto (apoiada pelo líder cessante). Manuel Monteiro ficará até às legislativas de 1999 na bancada parlamentar, muitas das vezes em divergência assumida com a direcção do partido. O tratado de Amesterdão foi um dos pontos altos da discórdia. 1999 A direcção de Paulo Portas chega a admitir convidar Manuel Monteiro para integrar as listas do CDS/PP às eleições para a Assembleia da República. Mas a «reconciliação» entre os dois não chega nunca a acontecer. 2000 Manuel Monteiro toma clara posição a favor da candidatura presidencial de Ferreira do Amaral. O CDS/PP de Paulo Portas acabará por desistir do seu candidato, Basílio Horta. 2001 Em Julho, Manuel Monteiro assume claramente que não desistiu do projecto do CDS/PP e promete que avançará para a liderança do partido, se para tal tiver condições. Paulo Portas opta por não comentar e desvalorizar o «regresso» do seu agora (e de novo) rival.

COMENTÁRIOS AO ARTIGO

4 comentários 1 a 4

13 Agosto 2001 às 16:05

Aires Loureiro ( airesloureiro@oninet.pt )

O regime está completamente podre e não fosse a envolvência na UE e já teria caído.

Os actuais partidos, são justamente compreendidos pelas pessoas como associações de malfeitores.

É urgente uma qualquer onda que varra isto. Talvez fosse melhor que se lhe não chamasse «partido», para se não confundir com as actuais organizações de malfeitores que têm essa designação.

O Manuel Monteiro, talvez pudesse liderar uma onda dessas; mas necessário mesmo, era pô-la em marcha,e logo se veria se o líder tinha coragem e carisma.

11 Agosto 2001 às 15:52

Análise pictórica

Não deixa de ser interessante reflectir sobre as imagens que ilustram a reportagem.

Manuel Monteiro:

O ex (futuro?) líder surge num ambiente bucólico, radioso, romântico, rodeado pela natureza no seu estado mais belo. Flores brancas, para a pureza das suas intenções e do seu coração e o verde das árvores para a esperança do renascimento da Fénix!

Paulo Portas:

Aparece sózinho e distante, mefistofélico e comprometido, sobre um fundo negro a indiciar funestas intenções, crueza nos actos e um fim cada vez mais próximo.

Elucidativo, não?

11 Agosto 2001 às 15:42

Portas entra em «meditação» sobre a sua «utilidade na política»

Entrou em meditação, saíu da mesma e devia retomá-la rapidamente!

Não lhe faria mal meditar sobre a sua utilidade!

11 Agosto 2001 às 10:25

Nuno Cardoso da Silva ( nunocardososilva@sapo.pt )

Um partido novo que fosse um projecto novo, com ideias novas e dedicado a implantar um sistema político diferente e anti-oligárquico, podia ser uma boa ideia. Um partido que seja apenas um projecto pessoal para continuar, sob outro nome, o domínio oligárquico e as políticas ruinosas dos outros partidos, NÃO!

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