Depoimentos

15-02-2001
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Segunda-feira, 22 de Janeiro de 2001 João Rebelo da Silva, professor: e um "par de estalos"? "Vivemos numa ditadura das Ciências da Educação, quase tudo é proibido porque não é pedagógico: não se passa trabalhos de casa, não se pode mandar um berro. Mas quando o aluno diz 'não faço porque não quero', ou insulta, os pedagogos dizem que a culpa não é dos meninos, mas das dificuldades que têm em casa". A falta de autoridade é um problema, os docentes "sentem-se revoltados" E conta uma história: um dia viu-se "obrigado" a dar "um par de estalos" a um aluno. Por acaso, e só por acaso, não teve que responder pelo acto com um processo disciplinar - a administração da escola onde dava aulas, nunca chegou a saber. "O aluno tinha agredido uma colega minha, ao ponto de ela ter recebido tratamento no hospital. Na hora seguinte o miúdo continuava incontrolável, gritava, perturbava os outros alunos. Era a minha aula". Como a situação ameaçava agravar-se, e nenhum apelo surtia efeito, "preguei-lhe um estalo e pu-lo fora da sala. No dia seguinte falámos, ele pediu desculpa eu também". "Não digo que deva sair um decreto a dizer que é permitido bater..." mas se o motivo para o tal par de estalos é suficientemente plausível, porquê sancionar os professores? Alfredo Frade, psiquiatra: professores "emparedados" Os pais empurraram para a escola a responsabilidade da educação dos filhos. A tutela desautorizou os docentes, que têm cada vez menos poder. Resultado: os professores estão "emparedados" entre os pais e o Ministério da Educação. É este o cenário que se vive nas escolas portuguesas, segundo Alfredo Frade, psiquiatra que dá consultas nas instalações da Federação Nacional dos Professores, em Lisboa. No seu consultório, são cada vez mais os professores que se queixam de violência nas salas de aula. Chegam com a auto-estima "tão destruída que não conseguem restabelecer as suas funções, ganham fobia aos alunos e à própria escola". E não são raros os que preferem a pré-reforma ou fazer trabalhos menores a dar aulas. Estes pacientes não são "pessoas inadaptadas". Ao longo da sua vida, "já deram provas" de que são bons profissionais. Mas hoje sentem-se ofendidos enquanto educadores, sentem que não têm mecanismos para exercer a autoridade que lhes é devida ou que facilmente podem sofrer retaliações se a exercerem. Helena Marujo, psicóloga: treinar o auto-controlo Existem crianças que não sabem comportar-se nem agir quando confrontadas com situações novas. Não sabem, porque não foram educadas ou não tiveram os melhores exemplos. Algumas são agressivas porque vêem os pais agir da mesma maneira. Antes de mais, é preciso ensinar-lhes tudo que não aprenderem com a família. O apoio psicológico pode ser fundamental. Com estes miúdos, é preciso "treinar o pensamento divergente, o auto-controlo". No fundo, ensinar-lhes que para situações de conflito, em que costumam envolver-se, há respostas que não passam pela violência. As próprias escolas podem fazer um trabalho de prevenção, apostando no trabalho de grupo nas salas de aula e criando um espaço semanal para se conversar sobre os problemas. Mais grave é os próprios docentes estarem a sair das escolas superiores sem formação para lidar com atitudes agressivas. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Violência escolar no Parlamento

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"Qualquer dia temos de vir nus para aqui"

Trafaria: câmaras não acabaram com agressões

Medidas contra a indisciplina na escola

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OPINIÃO

Indisciplina e violência de alunos: notas de um professor

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