EXPRESSO: Artigo

23-05-2001
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Consumo II Alta roda

É a loja mais cara do Brasil e uma das mais caras no mundo. Uma história de sucesso que começou com a venda de malhas numa garagem de São Paulo, em meados do século passado. Hoje, Daslu é sinónimo de elite e de dinheiro, muito dinheiro, dentro e fora das fronteiras brasileiras. Pelo menos 300 clientes passam diariamente pelas suas caixas. Isto num país onde um terço da população vive abaixo do limiar da pobreza.

Texto de Nina Ferraz Não existem letreiros, placas ou vitrinas que identifiquem o estabelecimento, apenas um singelo «D» na entrada, onde 25 seguranças e outros empregados apoiam o cliente à chegada. Daslu, a loja mais cara do Brasil, e uma das mais caras do mundo, tem como único objectivo satisfazer os desejos caprichosos de um leque de clientes ultra-ricos e seleccionados, cujos automóveis BMW, Volvo, Audi e Jeep Cherokee fazem fila à porta. Há 40 anos no mesmo local - Vila Nova Conceição, um dos bairros residenciais mais chiques e arborizados de São Paulo, nas cercanias do parque Ibirapuera -, a Daslu evoluiu de uma pequena loja para três grandes edifícios. Não existem letreiros, placas ou vitrinas que identifiquem o estabelecimento, apenas um singelo «D» na entrada, onde 25 seguranças e outros empregados apoiam o cliente à chegada. Daslu, a loja mais cara do Brasil, e uma das mais caras do mundo, tem como único objectivo satisfazer os desejos caprichosos de um leque de clientes ultra-ricos e seleccionados, cujos automóveis BMW, Volvo, Audi e Jeep Cherokee fazem fila à porta. Há 40 anos no mesmo local - Vila Nova Conceição, um dos bairros residenciais mais chiques e arborizados de São Paulo, nas cercanias do parque Ibirapuera -, a Daslu evoluiu de uma pequena loja para três grandes edifícios. Nos últimos três anos, o espaço foi ampliado de 700 para 5000 metros quadrados. No início, a intenção era comercializar apenas moda feminina. Hoje tem secções de moda masculina, noivas, infantil e juvenil, acessórios, jóias, livros, chocolates, perfumes, presentes, artigos utilitários sofisticados e decorativos. Numa entrevista a uma publicação brasileira, o director internacional da Dolce&Gabbana, Eric Silverman, diz que a Daslu é uma das lojas mais inovadoras e incomparáveis na indústria da moda. A revista francesa «L'Officiel» dedicou-lhe várias páginas e concluiu que a loja poderia estar na Rodeo Drive, na Califórnia, ou na Madison Avenue, em Nova Iorque. Pelas suas caixas passam por dia cerca de 300 clientes. A facturação anual está estimada em 130 milhões de reais (1 real = 115 escudos). O perfil do consumidor médio é impressionante: possui motorista particular, anda num carro de luxo, tem casa na praia e um rendimento mensal superior a 40 mil reais. Uma forma de dimensionar o grau de riqueza e o poder de compra dos clientes é observar o ordenado pago às vendedoras da casa: 8 mil reais por mês, o que as transforma em habitantes do topo da pirâmide social brasileira. Há 60 vendedoras na loja e uma lista de espera de mais de 1500. A história de sucesso da Daslu começou nos anos 50, numa garagem. Era aí que duas amigas, Lúcia (Piva de Albuquerque) e Lourdes, aproveitavam o tempo em que as crianças estavam na escola para venderem malhas às amigas. Quando uma das muitas «clientes» tinha dúvidas acerca do guarda-roupa, a solução era óbvia: «Ah, vamos lá na lojinha das Lu.» Nascia a Daslu, que conheceu a primeira expansão já nos anos 60, quando as duas sócias resolveram trocar a garagem por uma loja numa rua vizinha, a Rua Domingos Leme, 284. Endereço que até hoje se mantém. A história de sucesso da Daslu começou nos anos 50, numa garagem. Era aí que duas amigas, Lúcia (Piva de Albuquerque) e Lourdes, aproveitavam o tempo em que as crianças estavam na escola para venderem malhas às amigas. Quando uma das muitas «clientes» tinha dúvidas acerca do guarda-roupa, a solução era óbvia: «Ah, vamos lá na lojinha das Lu.» Nascia a Daslu, que conheceu a primeira expansão já nos anos 60, quando as duas sócias resolveram trocar a garagem por uma loja numa rua vizinha, a Rua Domingos Leme, 284. Endereço que até hoje se mantém. Entretanto, uma filha de Lúcia, Eliana Tranchesi, jovem estudante de artes plásticas e excelente vendedora, começou, também com uma amiga, a desenhar algumas peças e a produzir a marca Daslu. Com a morte da mãe e tendo apenas irmãos homens, Eliana assumiu naturalmente a liderança dos negócios. Em Março de 1990, aproveitando a repentina abertura às importações, Eliana saiu mundo fora em busca de marcas famosas para globalizar a Daslu. A tarefa não foi fácil. Os snobes directores das «griffes» mais importantes viam o Brasil com mal disfarçadas restrições de ordem financeira e estética. «Em termos de gosto, não passávamos de uns turistas americanos no Havai, chegados a cores berrantes. De grana, maus pagadores», confirma Eliana Tranchesi. Esta, mais do que discutir, convidava-os a conhecer a Daslu «in loco». Impressionados com o potencial de venda da «boutique» e com o seu padrão aristocrático, as opiniões mudaram radicalmente. Quando, há três anos, lançou a Daslu Homem, Eliana teve o gostinho de ver marcas como Gucci, Ferragamo, Zegna e Donna Karan a solicitarem espaços exclusivos no novo complexo. A Daslu é composta pela etiqueta do mesmo nome - e seus segmentos - e pelas marcas internacionais da Daslu Importados que por sua vez se encontram divididas em «shops in shop» e «corners», diferentes lojas de «griffe» dentro da própria Daslu. Espaços destinados aos «franchising», elaborados por meio de conceitos de arquitectura e «design» estabelecidos pelas próprias marcas internacionais. Para manter tudo sempre arrumado, há um exército de 100 empregadas uniformizadas, as «aventaizinhas», que passam o dia a dobrar roupas. Funciona assim: uma cliente chega e a vendedora tira tudo das prateleiras. Quando acaba de mostrar, a aventalzinha entra em acção e começa a dobrar tudo. É um mundo de sonhos onde os homens estão proibidos de entrar porque não há provadores e as clientes ficam «nuas» nos corredores. O homem que pretender comprar na Daslu feminina tem que chamar uma vendedora, que lhe leva cada peça. Os clientes VIP têm a vantagem acrescida de a loja se poder deslocar às suas casas. Na Daslu Homem, com os seus 280 metros quadrados, vive-se um ambiente diferente: é permitida a entrada à mulher. A filosofia é a mesma já consagrada na área feminina e de criança. Entrada discreta e, lá dentro, tudo. Tabacaria, floricultura, livraria, antiquário, presentes, quiosque com cafetaria, um balcão do BankBoston só para clientela, «corners» exclusivos de marcas importadas, boas marcas nacionais e, claro, a própria moda Daslu. A variedade é estonteante. Os preços também. Ultimamente, a Daslu tem colocado o preço nos catálogos para tentar desmistificar a sua imagem. Eliana garante que percorre o mundo em busca do bom e do bem feito, não necessariamente do mais caro. A loja pode oferecer tanto uns «jeans» importados por 70 reais (cerca de nove contos), como sapatos italianos por 140 reais (18 contos), mas claro que uma caxemira napolitana da Kiton ultrapassa os quatro mil reais (cerca de 500 contos). O homem que pretender comprar na Daslu feminina tem que chamar uma vendedora, que lhe leva cada peça. Os clientes VIP têm a vantagem acrescida de a loja se poder deslocar às suas casas. Na Daslu Homem, com os seus 280 metros quadrados, vive-se um ambiente diferente: é permitida a entrada à mulher. A filosofia é a mesma já consagrada na área feminina e de criança. Entrada discreta e, lá dentro, tudo. Tabacaria, floricultura, livraria, antiquário, presentes, quiosque com cafetaria, um balcão do BankBoston só para clientela, «corners» exclusivos de marcas importadas, boas marcas nacionais e, claro, a própria moda Daslu. A variedade é estonteante. Os preços também. Ultimamente, a Daslu tem colocado o preço nos catálogos para tentar desmistificar a sua imagem. Eliana garante que percorre o mundo em busca do bom e do bem feito, não necessariamente do mais caro. A loja pode oferecer tanto uns «jeans» importados por 70 reais (cerca de nove contos), como sapatos italianos por 140 reais (18 contos), mas claro que uma caxemira napolitana da Kiton ultrapassa os quatro mil reais (cerca de 500 contos). No Brasil, a Daslu assegura a elegância de uma burguesia estabelecida, dos emergentes endinheirados, de grandes artistas, empresários e, dizem, de boa parte do poder em Brasília. «A maioria dos nossos clientes vem de São Paulo, mas também do resto do país. Hoje, São Paulo é o primeiro pólo de consumo de artigos de luxo do Brasil. O consumo, de uma forma geral, do estado de São Paulo representa 33,55% do total do Brasil. As dimensões absurdas do país e o subdesenvolvimento fazem um país de muitos contrastes, mas as pesquisas de consumo mostram que o artigo vestuário lidera o 'ranking' nas classes com maior poder de compra.» A nível mundial, a marca transformou o brasileiro num consumidor respeitado junto dos mais refinados fornecedores de alta moda. Nas duas ruas antes pouco conhecidas de São Paulo, a João Lourenço e a Domingos Leme, é possível encontrar hoje o que antes só se via em Montenapoleone, Milão, na Madison Avenue de Nova Iorque ou na Avenue Montaigne de Paris. Aos 43 anos e com três filhos, Eliana Tranchesi comanda um império de cerca de meia centena de pessoas, nove gerentes, 32 marcas além da própria (a «boutique» Chanel na Daslu é a única na América Latina). Mas não é «chegada a grandes teorias». A sua fórmula de sucesso é simples: «barriga no balcão e pé na estrada». Nunca deixou de andar pela loja, em contacto directo com as queixas e fantasias dos clientes. Daí acertar em cheio nas compras quando, pé na estrada, viaja dois meses por ano e é a primeira na fila cativa dos grandes desfiles de moda, onde apenas avalia tendências. Aos 43 anos e com três filhos, Eliana Tranchesi comanda um império de cerca de meia centena de pessoas, nove gerentes, 32 marcas além da própria (a «boutique» Chanel na Daslu é a única na América Latina). Mas não é «chegada a grandes teorias». A sua fórmula de sucesso é simples: «barriga no balcão e pé na estrada». Nunca deixou de andar pela loja, em contacto directo com as queixas e fantasias dos clientes. Daí acertar em cheio nas compras quando, pé na estrada, viaja dois meses por ano e é a primeira na fila cativa dos grandes desfiles de moda, onde apenas avalia tendências. As compras propriamente ditas, que equivalem em volume a toda uma loja Saks, acontecem depois, nas mesmas ruidosas salas do «prêt-à-porter» das grandes marcas. É aqui que interpreta e induz o bom gosto nacional, que «pende mais para um chique sereno do que para um tropical desbragado. A elegância é uma certa harmonia entre o jeito de vestir e o de ser e de pensar». «Nos dois lançamentos femininos anuais da marca Daslu utilizamos as 'top models' brasileiras, como Gisele Bundchen, Ana Cláudia e a internacional Carolyn Murphy. São em média 27 modelos por desfile.» Um dos últimos projectos Daslu foi o lançamento, no ano passado, da própria revista «Daslu», com uma tiragem de 30 mil exemplares, entregue gratuitamente aos 30 mil melhores clientes. Gisele Bundchen foi capa do nº 2 e Carolina Ribeiro (da actual campanha Gucci) foi capa do nº 4. São editadas três revistas por ano, que coincidem com os lançamentos da marca. Uma curiosidade: a Daslu não pensa ultrapassar as fronteiras brasileiras. Na opinião de Eliana, «este é um fenómeno local que só pode existir com pessoas que fazem parte da história da cidade como é o nosso caso. Daslu é uma loja de conceito único». Mas, como explicar este fenómeno de sucesso num país com os problemas económicos e sociais que todos conhecem? Para se entender melhor, a ordem de grandeza da tabela de preços é, no limite máximo, a seguinte: o preço de um par de sandálias dá para comprar uma «scooter»; um gancho para o cabelo pode custar o mesmo que um frigorífico; um sobretudo atinge o preço de um computador portátil Pentium IBM; uma mala de senhora equivale ao preço de um automóvel utilitário e uma «toilette» de noite custa o mesmo que um apartamento T2. A distribuição da riqueza é talvez o problema mais grave do Brasil. O rendimento somado de 1% dos brasileiros mais ricos é maior que o dos 50% mais pobres. O país, colocados os devidos pesos na balança, não é pobre no seu conjunto. «Ocupa o 9º lugar entre as maiores economias industriais do planeta e é a 1ª potência económica da América Latina. São Paulo é o coração económico e financeiro da América Latina e a 4ª metrópole do planeta depois de Tóquio, Nova Iorque e Cidade do México. Hoje, o Brasil é o 2º país emergente depois da China para o fluxo de investimentos estrangeiros directos», explica Eliana. «Existe uma parcela de 900 mil pessoas consideravelmente ricas que é o resultado da própria economia do Brasil, que consome o que há de melhor no mundo. Há muito dinheiro em São Paulo, restaurantes, hotéis e serviços com nível internacional.» O PIB actual, de 560 biliões de dólares, triplicou desde 1970. O Brasil é, portanto, um país com muito dinheiro, mas que padece de excesso de pobres e escassez de ricos. Um terço da população brasileira continua a viver abaixo do limiar da pobreza. 15

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2 comentários 1 a 2

8 Abril 2001 às 8:21

E o que é que nós temos a ver com isso?

Com lojas de finérrimos e chiquérrimos e Quinentões e novos ricos, de desgraçados e paupérrimos, dos sem terra, dos assim assim e dos com muita!

Grande bagunça, isto é só para provocar...

Vamos preocupar-nos com os problemas deste lado de cá do Atlântico.

O grito do Ipiranga já foi soltado há muito tempo, por um sesatinado de um portugês!

Boa sorte Brasil.

7 Abril 2001 às 6:37

Marcello

Que merda de artigo! Onde está a consciência crítica da senhora que escreveu este artigo? Sou brasileiro, filho de portugueses e vou dizer-vos umas coisitas...O Brasil é um inferno de gente estúpida, violenta, egoísta e elitista...Vocês não acompanharam o que acontece no Brasil, como as recentes rebeliões nos presídios de São Paulo, a fome, os serm-terra e sem-dignidade? Será que a senhora Nina Ferraz só conhece os bairros do jet set mais cruel e indiferente à dor de outrém do mundo? Aliás, não precisa ir na periferia, no Morumbi, o bairro mais rico , onde encontramos barracos ao lado de prédios com aptos de 6 ou 7 milhões de dóllares... Esgoto ao céu aberto por toda a cidade, especulação imobiliária brutal, viadutos por todos os lados, poluição a níveis insuportáveis, trânsito impossível. Sempre que estou em São Paulo, não posso deixar de pensar em que tipo de sociedade depravada pode ter criado um lugar tão feio, sujo e improvável.Por favor, não venha com estes novo-riquismos....Sejam humanos e tenham compaixão com este povo de desgraçados...........

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Os comentários constituem um espaço aberto à participação dos leitores. EXPRESSO On-Line reserva-se, no entanto, o direito de não publicar opiniões ofensivas da dignidade dos visados ou que contenham expressões obscenas.

Consumo II Alta roda

É a loja mais cara do Brasil e uma das mais caras no mundo. Uma história de sucesso que começou com a venda de malhas numa garagem de São Paulo, em meados do século passado. Hoje, Daslu é sinónimo de elite e de dinheiro, muito dinheiro, dentro e fora das fronteiras brasileiras. Pelo menos 300 clientes passam diariamente pelas suas caixas. Isto num país onde um terço da população vive abaixo do limiar da pobreza.

Texto de Nina Ferraz Não existem letreiros, placas ou vitrinas que identifiquem o estabelecimento, apenas um singelo «D» na entrada, onde 25 seguranças e outros empregados apoiam o cliente à chegada. Daslu, a loja mais cara do Brasil, e uma das mais caras do mundo, tem como único objectivo satisfazer os desejos caprichosos de um leque de clientes ultra-ricos e seleccionados, cujos automóveis BMW, Volvo, Audi e Jeep Cherokee fazem fila à porta. Há 40 anos no mesmo local - Vila Nova Conceição, um dos bairros residenciais mais chiques e arborizados de São Paulo, nas cercanias do parque Ibirapuera -, a Daslu evoluiu de uma pequena loja para três grandes edifícios. Não existem letreiros, placas ou vitrinas que identifiquem o estabelecimento, apenas um singelo «D» na entrada, onde 25 seguranças e outros empregados apoiam o cliente à chegada. Daslu, a loja mais cara do Brasil, e uma das mais caras do mundo, tem como único objectivo satisfazer os desejos caprichosos de um leque de clientes ultra-ricos e seleccionados, cujos automóveis BMW, Volvo, Audi e Jeep Cherokee fazem fila à porta. Há 40 anos no mesmo local - Vila Nova Conceição, um dos bairros residenciais mais chiques e arborizados de São Paulo, nas cercanias do parque Ibirapuera -, a Daslu evoluiu de uma pequena loja para três grandes edifícios. Nos últimos três anos, o espaço foi ampliado de 700 para 5000 metros quadrados. No início, a intenção era comercializar apenas moda feminina. Hoje tem secções de moda masculina, noivas, infantil e juvenil, acessórios, jóias, livros, chocolates, perfumes, presentes, artigos utilitários sofisticados e decorativos. Numa entrevista a uma publicação brasileira, o director internacional da Dolce&Gabbana, Eric Silverman, diz que a Daslu é uma das lojas mais inovadoras e incomparáveis na indústria da moda. A revista francesa «L'Officiel» dedicou-lhe várias páginas e concluiu que a loja poderia estar na Rodeo Drive, na Califórnia, ou na Madison Avenue, em Nova Iorque. Pelas suas caixas passam por dia cerca de 300 clientes. A facturação anual está estimada em 130 milhões de reais (1 real = 115 escudos). O perfil do consumidor médio é impressionante: possui motorista particular, anda num carro de luxo, tem casa na praia e um rendimento mensal superior a 40 mil reais. Uma forma de dimensionar o grau de riqueza e o poder de compra dos clientes é observar o ordenado pago às vendedoras da casa: 8 mil reais por mês, o que as transforma em habitantes do topo da pirâmide social brasileira. Há 60 vendedoras na loja e uma lista de espera de mais de 1500. A história de sucesso da Daslu começou nos anos 50, numa garagem. Era aí que duas amigas, Lúcia (Piva de Albuquerque) e Lourdes, aproveitavam o tempo em que as crianças estavam na escola para venderem malhas às amigas. Quando uma das muitas «clientes» tinha dúvidas acerca do guarda-roupa, a solução era óbvia: «Ah, vamos lá na lojinha das Lu.» Nascia a Daslu, que conheceu a primeira expansão já nos anos 60, quando as duas sócias resolveram trocar a garagem por uma loja numa rua vizinha, a Rua Domingos Leme, 284. Endereço que até hoje se mantém. A história de sucesso da Daslu começou nos anos 50, numa garagem. Era aí que duas amigas, Lúcia (Piva de Albuquerque) e Lourdes, aproveitavam o tempo em que as crianças estavam na escola para venderem malhas às amigas. Quando uma das muitas «clientes» tinha dúvidas acerca do guarda-roupa, a solução era óbvia: «Ah, vamos lá na lojinha das Lu.» Nascia a Daslu, que conheceu a primeira expansão já nos anos 60, quando as duas sócias resolveram trocar a garagem por uma loja numa rua vizinha, a Rua Domingos Leme, 284. Endereço que até hoje se mantém. Entretanto, uma filha de Lúcia, Eliana Tranchesi, jovem estudante de artes plásticas e excelente vendedora, começou, também com uma amiga, a desenhar algumas peças e a produzir a marca Daslu. Com a morte da mãe e tendo apenas irmãos homens, Eliana assumiu naturalmente a liderança dos negócios. Em Março de 1990, aproveitando a repentina abertura às importações, Eliana saiu mundo fora em busca de marcas famosas para globalizar a Daslu. A tarefa não foi fácil. Os snobes directores das «griffes» mais importantes viam o Brasil com mal disfarçadas restrições de ordem financeira e estética. «Em termos de gosto, não passávamos de uns turistas americanos no Havai, chegados a cores berrantes. De grana, maus pagadores», confirma Eliana Tranchesi. Esta, mais do que discutir, convidava-os a conhecer a Daslu «in loco». Impressionados com o potencial de venda da «boutique» e com o seu padrão aristocrático, as opiniões mudaram radicalmente. Quando, há três anos, lançou a Daslu Homem, Eliana teve o gostinho de ver marcas como Gucci, Ferragamo, Zegna e Donna Karan a solicitarem espaços exclusivos no novo complexo. A Daslu é composta pela etiqueta do mesmo nome - e seus segmentos - e pelas marcas internacionais da Daslu Importados que por sua vez se encontram divididas em «shops in shop» e «corners», diferentes lojas de «griffe» dentro da própria Daslu. Espaços destinados aos «franchising», elaborados por meio de conceitos de arquitectura e «design» estabelecidos pelas próprias marcas internacionais. Para manter tudo sempre arrumado, há um exército de 100 empregadas uniformizadas, as «aventaizinhas», que passam o dia a dobrar roupas. Funciona assim: uma cliente chega e a vendedora tira tudo das prateleiras. Quando acaba de mostrar, a aventalzinha entra em acção e começa a dobrar tudo. É um mundo de sonhos onde os homens estão proibidos de entrar porque não há provadores e as clientes ficam «nuas» nos corredores. O homem que pretender comprar na Daslu feminina tem que chamar uma vendedora, que lhe leva cada peça. Os clientes VIP têm a vantagem acrescida de a loja se poder deslocar às suas casas. Na Daslu Homem, com os seus 280 metros quadrados, vive-se um ambiente diferente: é permitida a entrada à mulher. A filosofia é a mesma já consagrada na área feminina e de criança. Entrada discreta e, lá dentro, tudo. Tabacaria, floricultura, livraria, antiquário, presentes, quiosque com cafetaria, um balcão do BankBoston só para clientela, «corners» exclusivos de marcas importadas, boas marcas nacionais e, claro, a própria moda Daslu. A variedade é estonteante. Os preços também. Ultimamente, a Daslu tem colocado o preço nos catálogos para tentar desmistificar a sua imagem. Eliana garante que percorre o mundo em busca do bom e do bem feito, não necessariamente do mais caro. A loja pode oferecer tanto uns «jeans» importados por 70 reais (cerca de nove contos), como sapatos italianos por 140 reais (18 contos), mas claro que uma caxemira napolitana da Kiton ultrapassa os quatro mil reais (cerca de 500 contos). O homem que pretender comprar na Daslu feminina tem que chamar uma vendedora, que lhe leva cada peça. Os clientes VIP têm a vantagem acrescida de a loja se poder deslocar às suas casas. Na Daslu Homem, com os seus 280 metros quadrados, vive-se um ambiente diferente: é permitida a entrada à mulher. A filosofia é a mesma já consagrada na área feminina e de criança. Entrada discreta e, lá dentro, tudo. Tabacaria, floricultura, livraria, antiquário, presentes, quiosque com cafetaria, um balcão do BankBoston só para clientela, «corners» exclusivos de marcas importadas, boas marcas nacionais e, claro, a própria moda Daslu. A variedade é estonteante. Os preços também. Ultimamente, a Daslu tem colocado o preço nos catálogos para tentar desmistificar a sua imagem. Eliana garante que percorre o mundo em busca do bom e do bem feito, não necessariamente do mais caro. A loja pode oferecer tanto uns «jeans» importados por 70 reais (cerca de nove contos), como sapatos italianos por 140 reais (18 contos), mas claro que uma caxemira napolitana da Kiton ultrapassa os quatro mil reais (cerca de 500 contos). No Brasil, a Daslu assegura a elegância de uma burguesia estabelecida, dos emergentes endinheirados, de grandes artistas, empresários e, dizem, de boa parte do poder em Brasília. «A maioria dos nossos clientes vem de São Paulo, mas também do resto do país. Hoje, São Paulo é o primeiro pólo de consumo de artigos de luxo do Brasil. O consumo, de uma forma geral, do estado de São Paulo representa 33,55% do total do Brasil. As dimensões absurdas do país e o subdesenvolvimento fazem um país de muitos contrastes, mas as pesquisas de consumo mostram que o artigo vestuário lidera o 'ranking' nas classes com maior poder de compra.» A nível mundial, a marca transformou o brasileiro num consumidor respeitado junto dos mais refinados fornecedores de alta moda. Nas duas ruas antes pouco conhecidas de São Paulo, a João Lourenço e a Domingos Leme, é possível encontrar hoje o que antes só se via em Montenapoleone, Milão, na Madison Avenue de Nova Iorque ou na Avenue Montaigne de Paris. Aos 43 anos e com três filhos, Eliana Tranchesi comanda um império de cerca de meia centena de pessoas, nove gerentes, 32 marcas além da própria (a «boutique» Chanel na Daslu é a única na América Latina). Mas não é «chegada a grandes teorias». A sua fórmula de sucesso é simples: «barriga no balcão e pé na estrada». Nunca deixou de andar pela loja, em contacto directo com as queixas e fantasias dos clientes. Daí acertar em cheio nas compras quando, pé na estrada, viaja dois meses por ano e é a primeira na fila cativa dos grandes desfiles de moda, onde apenas avalia tendências. Aos 43 anos e com três filhos, Eliana Tranchesi comanda um império de cerca de meia centena de pessoas, nove gerentes, 32 marcas além da própria (a «boutique» Chanel na Daslu é a única na América Latina). Mas não é «chegada a grandes teorias». A sua fórmula de sucesso é simples: «barriga no balcão e pé na estrada». Nunca deixou de andar pela loja, em contacto directo com as queixas e fantasias dos clientes. Daí acertar em cheio nas compras quando, pé na estrada, viaja dois meses por ano e é a primeira na fila cativa dos grandes desfiles de moda, onde apenas avalia tendências. As compras propriamente ditas, que equivalem em volume a toda uma loja Saks, acontecem depois, nas mesmas ruidosas salas do «prêt-à-porter» das grandes marcas. É aqui que interpreta e induz o bom gosto nacional, que «pende mais para um chique sereno do que para um tropical desbragado. A elegância é uma certa harmonia entre o jeito de vestir e o de ser e de pensar». «Nos dois lançamentos femininos anuais da marca Daslu utilizamos as 'top models' brasileiras, como Gisele Bundchen, Ana Cláudia e a internacional Carolyn Murphy. São em média 27 modelos por desfile.» Um dos últimos projectos Daslu foi o lançamento, no ano passado, da própria revista «Daslu», com uma tiragem de 30 mil exemplares, entregue gratuitamente aos 30 mil melhores clientes. Gisele Bundchen foi capa do nº 2 e Carolina Ribeiro (da actual campanha Gucci) foi capa do nº 4. São editadas três revistas por ano, que coincidem com os lançamentos da marca. Uma curiosidade: a Daslu não pensa ultrapassar as fronteiras brasileiras. Na opinião de Eliana, «este é um fenómeno local que só pode existir com pessoas que fazem parte da história da cidade como é o nosso caso. Daslu é uma loja de conceito único». Mas, como explicar este fenómeno de sucesso num país com os problemas económicos e sociais que todos conhecem? Para se entender melhor, a ordem de grandeza da tabela de preços é, no limite máximo, a seguinte: o preço de um par de sandálias dá para comprar uma «scooter»; um gancho para o cabelo pode custar o mesmo que um frigorífico; um sobretudo atinge o preço de um computador portátil Pentium IBM; uma mala de senhora equivale ao preço de um automóvel utilitário e uma «toilette» de noite custa o mesmo que um apartamento T2. A distribuição da riqueza é talvez o problema mais grave do Brasil. O rendimento somado de 1% dos brasileiros mais ricos é maior que o dos 50% mais pobres. O país, colocados os devidos pesos na balança, não é pobre no seu conjunto. «Ocupa o 9º lugar entre as maiores economias industriais do planeta e é a 1ª potência económica da América Latina. São Paulo é o coração económico e financeiro da América Latina e a 4ª metrópole do planeta depois de Tóquio, Nova Iorque e Cidade do México. Hoje, o Brasil é o 2º país emergente depois da China para o fluxo de investimentos estrangeiros directos», explica Eliana. «Existe uma parcela de 900 mil pessoas consideravelmente ricas que é o resultado da própria economia do Brasil, que consome o que há de melhor no mundo. Há muito dinheiro em São Paulo, restaurantes, hotéis e serviços com nível internacional.» O PIB actual, de 560 biliões de dólares, triplicou desde 1970. O Brasil é, portanto, um país com muito dinheiro, mas que padece de excesso de pobres e escassez de ricos. Um terço da população brasileira continua a viver abaixo do limiar da pobreza. 15

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8 Abril 2001 às 8:21

E o que é que nós temos a ver com isso?

Com lojas de finérrimos e chiquérrimos e Quinentões e novos ricos, de desgraçados e paupérrimos, dos sem terra, dos assim assim e dos com muita!

Grande bagunça, isto é só para provocar...

Vamos preocupar-nos com os problemas deste lado de cá do Atlântico.

O grito do Ipiranga já foi soltado há muito tempo, por um sesatinado de um portugês!

Boa sorte Brasil.

7 Abril 2001 às 6:37

Marcello

Que merda de artigo! Onde está a consciência crítica da senhora que escreveu este artigo? Sou brasileiro, filho de portugueses e vou dizer-vos umas coisitas...O Brasil é um inferno de gente estúpida, violenta, egoísta e elitista...Vocês não acompanharam o que acontece no Brasil, como as recentes rebeliões nos presídios de São Paulo, a fome, os serm-terra e sem-dignidade? Será que a senhora Nina Ferraz só conhece os bairros do jet set mais cruel e indiferente à dor de outrém do mundo? Aliás, não precisa ir na periferia, no Morumbi, o bairro mais rico , onde encontramos barracos ao lado de prédios com aptos de 6 ou 7 milhões de dóllares... Esgoto ao céu aberto por toda a cidade, especulação imobiliária brutal, viadutos por todos os lados, poluição a níveis insuportáveis, trânsito impossível. Sempre que estou em São Paulo, não posso deixar de pensar em que tipo de sociedade depravada pode ter criado um lugar tão feio, sujo e improvável.Por favor, não venha com estes novo-riquismos....Sejam humanos e tenham compaixão com este povo de desgraçados...........

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