Guterristas abrem caminho a "sampaísmo moderado"

05-01-2002
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Guterristas Abrem Caminho a "Sampaísmo Moderado"

Por EDUARDO DÂMASO E RAPOSO ANTUNES

Sexta-feira, 21 de Dezembro de 2001

A reacção do aparelho

Deputados e líderes federativos do PS ainda "torceram o nariz" a Ferro

Ao princípio da tarde de ontem ainda havia quem não resistisse a torcer o nariz no reino do guterrismo quando se falava no avanço de Ferro Rodrigues. Líderes federativos e deputados começaram a ser surpreendidos pela desistência de Jaime Gama ao princípio da tarde e não resistiram a fazer telefonemas e contactos tentando criar uma onda que levasse o partido a insistir com António Vitorino ou mesmo António Costa. Ferro Rodrigues tem pelo seu lado a competência que lhe é reconhecida mas não deixa de haver quem o considere demasiado à esquerda para se apresentar numas eleições onde a reconquista do centro político e eleitoral é a tarefa principal.

Jorge Coelho e a sua "entourage", a quem chegava a maior parte dos telefonemas, trataram então de amortecer as pressões dispersas que íam chegando. Na véspera, Coelho telefonara a todos os líderes federativos dando o sinal de que o homem para apoiar era Jaime Gama. A meio da tarde de ontem, depois de sair do Palácio de Belém onde foi recebido no âmbito da ronda do Presidente da República com os partidos, pôs a estrutura do partido a declarar o seu apoio ao novo candidato.

Assim, a meio da tarde, os presidentes de câmaras socialistas da Área Metropolitana de Lisboa manifestaram o seu apoio a uma candidatura de Ferro Rodrigues ao cargo de secretário-geral do PS e a primeiro-ministro. Em declarações à agência Lusa, o presidente da Câmara da Amadora, Joaquim Raposo, considerou que a candidatura de Ferro Rodrigues "é a mais bem posicionada dentro do PS para bater Durão Barroso nas próximas eleições legislativas".

"Ferro Rodrigues criou o Rendimento Mínimo Garantido, evitou a falência da Segurança Social, os portugueses têm dele a imagem de uma homem sério e conseguirá votos à esquerda do PS e juntos da população mais idosa", justificou Joaquim Raposo.

Segundo o autarca da Amadora, apoiam a candidatura de Ferro Rodrigues os presidentes de câmara de Vila Franca de Xira (Maria da Luz Rosinha), do Montijo (Amélia Antunes), de Odivelas (Manuel Varges), de Loures (Carlos Teixeira) e de Sesimbra (Amadeu Penim).

Pelo país fora, as federações que anteontem estavam em peso com Jaime Gama, parecem estar agora com Ferro Rodrigues. Sintetizando muito do que estava em jogo, um dos homem do aparelho declarou ao PÚBLICO que a escolha de Ferro Rodrigues "é uma opção pelo sampaísmo moderado". Na prática, Ferro teve uma integração consensual no seio da maioria guterrista ao passo que outros antigos apoiantes de Jorge Sampaio na direcção do PS, como António Costa ou João Cravinho, foram sempre mais ciosos da sua autonomia.

Ferro Rodrigues está assim confrontado com uma unanimidade que, curiosamente, parece ser mais vigada por sectores que lhe eram próximos no passado do que propriamente pelo núcleo que conduziu Guterres à liderança. Ontem à noite, um antigo sampaísta dizia mesmo ao PÚBLICO que Ferro tem agora pela frente um duplo desafio: tem de mostrar ao eleitorado interno que o vai legitimar e depois ao eleitorado externo que está disposto a fazer uma ruptura quer com o actual aparelho quer com o estilo ziguezagueante nas políticas que acabou a ser penalizado nas eleições do passado domingo. Ou seja: está obrigado a mostrar que tem um projecto próprio e que não representa uma mera emanação do guterrismo.

Guterristas Abrem Caminho a "Sampaísmo Moderado"

Por EDUARDO DÂMASO E RAPOSO ANTUNES

Sexta-feira, 21 de Dezembro de 2001

A reacção do aparelho

Deputados e líderes federativos do PS ainda "torceram o nariz" a Ferro

Ao princípio da tarde de ontem ainda havia quem não resistisse a torcer o nariz no reino do guterrismo quando se falava no avanço de Ferro Rodrigues. Líderes federativos e deputados começaram a ser surpreendidos pela desistência de Jaime Gama ao princípio da tarde e não resistiram a fazer telefonemas e contactos tentando criar uma onda que levasse o partido a insistir com António Vitorino ou mesmo António Costa. Ferro Rodrigues tem pelo seu lado a competência que lhe é reconhecida mas não deixa de haver quem o considere demasiado à esquerda para se apresentar numas eleições onde a reconquista do centro político e eleitoral é a tarefa principal.

Jorge Coelho e a sua "entourage", a quem chegava a maior parte dos telefonemas, trataram então de amortecer as pressões dispersas que íam chegando. Na véspera, Coelho telefonara a todos os líderes federativos dando o sinal de que o homem para apoiar era Jaime Gama. A meio da tarde de ontem, depois de sair do Palácio de Belém onde foi recebido no âmbito da ronda do Presidente da República com os partidos, pôs a estrutura do partido a declarar o seu apoio ao novo candidato.

Assim, a meio da tarde, os presidentes de câmaras socialistas da Área Metropolitana de Lisboa manifestaram o seu apoio a uma candidatura de Ferro Rodrigues ao cargo de secretário-geral do PS e a primeiro-ministro. Em declarações à agência Lusa, o presidente da Câmara da Amadora, Joaquim Raposo, considerou que a candidatura de Ferro Rodrigues "é a mais bem posicionada dentro do PS para bater Durão Barroso nas próximas eleições legislativas".

"Ferro Rodrigues criou o Rendimento Mínimo Garantido, evitou a falência da Segurança Social, os portugueses têm dele a imagem de uma homem sério e conseguirá votos à esquerda do PS e juntos da população mais idosa", justificou Joaquim Raposo.

Segundo o autarca da Amadora, apoiam a candidatura de Ferro Rodrigues os presidentes de câmara de Vila Franca de Xira (Maria da Luz Rosinha), do Montijo (Amélia Antunes), de Odivelas (Manuel Varges), de Loures (Carlos Teixeira) e de Sesimbra (Amadeu Penim).

Pelo país fora, as federações que anteontem estavam em peso com Jaime Gama, parecem estar agora com Ferro Rodrigues. Sintetizando muito do que estava em jogo, um dos homem do aparelho declarou ao PÚBLICO que a escolha de Ferro Rodrigues "é uma opção pelo sampaísmo moderado". Na prática, Ferro teve uma integração consensual no seio da maioria guterrista ao passo que outros antigos apoiantes de Jorge Sampaio na direcção do PS, como António Costa ou João Cravinho, foram sempre mais ciosos da sua autonomia.

Ferro Rodrigues está assim confrontado com uma unanimidade que, curiosamente, parece ser mais vigada por sectores que lhe eram próximos no passado do que propriamente pelo núcleo que conduziu Guterres à liderança. Ontem à noite, um antigo sampaísta dizia mesmo ao PÚBLICO que Ferro tem agora pela frente um duplo desafio: tem de mostrar ao eleitorado interno que o vai legitimar e depois ao eleitorado externo que está disposto a fazer uma ruptura quer com o actual aparelho quer com o estilo ziguezagueante nas políticas que acabou a ser penalizado nas eleições do passado domingo. Ou seja: está obrigado a mostrar que tem um projecto próprio e que não representa uma mera emanação do guterrismo.

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