Que fazer de João Cravinho?

17-06-2000
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João Cravinho: coordenação entre ministérios para gestão de fundos comunitários poderá ser o destino do ministro

ANTÓNIO Guterres quer protelar o mais possível o nome do novo comissário europeu e não o deverá anunciar antes de finais de Abril, princípios de Maio. António Vitorino é a escolha incontornável, mas o primeiro-ministro insiste em que «há muitos nomes possíveis», numa tentativa de adiar a agitação socialista, tanto mais que entre os defraudados surge, à cabeça, o poderoso ministro João Cravinho. O que fazer agora a Cravinho? - eis a questão que começou a circular insistentemente nos meios governamentais, depois de se saber que a inesperada queda da Comissão Europeia e a decisão de Romano Prodi de constituir desde já uma nova Comissão para cinco anos tornavam Vitorino a escolha mais provável. Pelo caminho esvaziavam-se as hipóteses do ministro do Planeamento, que recentemente, em entrevista ao EXPRESSO, avisara não querer continuar à frente daquela pasta, além de ter pouca apetência pelo ciclo da governação, comparado com a atracção de Bruxelas onde, aliás, confessou manter residência. «Pasta à altura no Governo» Empenhados em almofadar o terreno, dois influentes ministros começaram a avançar esta semana que «Cravinho terá um importante papel a desempenhar no futuro Governo»; e que «encontrar-se-á uma pasta à altura das suas responsabilidades». Que pasta e que responsabilidades é coisa que ninguém explica, tanto mais que Guterres ainda não abriu o jogo sobre o que pensa da estrutura de um futuro Executivo e muito menos da forma como pensa gerir, no futuro, os delicadíssimos jogos de poder à sua volta. A partir de agora - e sendo certo que Guterres não quer remodelar, o que o impede de nomear Cravinho para Bruxelas nesta altura -, o futuro do superministro passa a constar das «pedras no sapato» que o chefe do Governo terá que aliviar depois das eleições. Sendo certo que o próprio Cravinho lhe deu já algumas pistas do que, eventualmente, poderia aceitar, quando defendeu uma reestruturação do Executivo que criasse um ou mais lugares de superministros políticos, com altas funções de coordenação interáreas. Este cenário promete animar cenas de autêntica luta pelo poder dentro do próximo Governo, entre ministros como Jorge Coelho, Cravinho, Sousa Franco ou Pina Moura. Uma razão de peso para Guterres querer adiar o mais possível a escolha de Vitorino para comissário passa também pela ambição política do ministro do Planeamento, que será desafiada ao ver escapar-se-lhe um lugar que indisfarçavelmente ambicionava. Se a nova Comissão só tivesse que ser formada depois das eleições de Outubro era certo que Cravinho surgiria na lista dos candidatos, mano a mano com Vitorino. E as suas hipóteses de ascender ao lugar eram enormes: tinha perfil para o lugar e em redor de Guterres não faltavam poderosos conselheiros empenhados em empurrar Cravinho para Bruxelas. Além de que o primeiro-ministro tentaria convencer Vitorino a permanecer em Lisboa onde, é sabido, Guterres ambicionava poder contar com a sua preciosa ajuda. É certo que António Vitorino também há muito que sonhava com o lugar de comissário e o primeiro-ministro dificilmente lhe diria que não mas, a verdade, é que tudo estava em aberto. A aceleração dos calendários europeus levou Vitorino a confessar, há 15 dias, uma enorme expectativa interior pelos sinais que lhe chegavam, quando disse publicamente que «se o sol que hoje faz quiser dizer alguma coisa, e se amanhã não chover, então chegou a Primavera». Supergestor de fundos? A solução para alguns destes problemas poderá passar por um novo modelo de gestão dos fundos comunitários que está a ser pensado por membros do Governo, por forma a dar resposta ao falhanço da regionalização. «A criação das regiões administrativas estaria intimamente ligada à gestão dos fundos. Agora terá que se pensar noutro modelo», confirmou um governante muito próximo de Guterres, ainda sem avançar pormenores das novas estruturas que poderiam vir a ser criadas entre as actuais Comissões de Coordenação Regionais e os Ministérios envolvidos na distribuição das verbas. O estatuto que venha a ser definido para o coordenador destas estruturas - e o peso da sua articulação com Bruxelas -, poderá ajudar a encontrar um lugar para Cravinho. ÂNGELA SILVA João Soares sem voz na Europa ANTÓNIO Saleiro integra a lista do PS ao Parlamento Europeu, embora num lugar absolutamente inelegível. O nome do ex-governador Civil de Beja chegou a estar entre os 14 primeiros, o que, numa perspectiva muito optimista, era encarado como uma hipótese remota de vir a ser eleito, mas a conversa decisiva de Jorge Coelho com António Guterres remeteu Saleiro para 17º. O grupo de João Soares - que teria hipóteses de conseguir um lugar caso Acácio Barreiros não recusasse integrar a lista - fica, assim, sem lugar em Estrasburgo. Um dirigente do PS ironizava ontem que aquele grupo passa a estar representado pelo pai, Mário Soares. A seguir ao cabeça-de-lista, vêm António José Seguro, Luís Marinho, Helena Torres Marques, Carlos Lage, António Campos, Sérgio Sousa Pinto, Maria Carrilho, um representante dos Açores a indicar amanhã, Carlos Candal, Elisa Damião, e Joaquim Vairinhos. São estes os 12 nomes que o PS dá como seguros na eleição para o PE. Nas últimas eleições europeias, elegeram 10 deputados e, se a perspectiva de crescimento for além do esperado, seguem-se Manuel dos Santos, Joel Hasse Ferreira, António Reis, um representante da Madeira e só depois António Saleiro. A ex-Plataforma de Esquerda, com a saída de Barros Moura, deixou de estar representada. A.S.

João Cravinho: coordenação entre ministérios para gestão de fundos comunitários poderá ser o destino do ministro

ANTÓNIO Guterres quer protelar o mais possível o nome do novo comissário europeu e não o deverá anunciar antes de finais de Abril, princípios de Maio. António Vitorino é a escolha incontornável, mas o primeiro-ministro insiste em que «há muitos nomes possíveis», numa tentativa de adiar a agitação socialista, tanto mais que entre os defraudados surge, à cabeça, o poderoso ministro João Cravinho. O que fazer agora a Cravinho? - eis a questão que começou a circular insistentemente nos meios governamentais, depois de se saber que a inesperada queda da Comissão Europeia e a decisão de Romano Prodi de constituir desde já uma nova Comissão para cinco anos tornavam Vitorino a escolha mais provável. Pelo caminho esvaziavam-se as hipóteses do ministro do Planeamento, que recentemente, em entrevista ao EXPRESSO, avisara não querer continuar à frente daquela pasta, além de ter pouca apetência pelo ciclo da governação, comparado com a atracção de Bruxelas onde, aliás, confessou manter residência. «Pasta à altura no Governo» Empenhados em almofadar o terreno, dois influentes ministros começaram a avançar esta semana que «Cravinho terá um importante papel a desempenhar no futuro Governo»; e que «encontrar-se-á uma pasta à altura das suas responsabilidades». Que pasta e que responsabilidades é coisa que ninguém explica, tanto mais que Guterres ainda não abriu o jogo sobre o que pensa da estrutura de um futuro Executivo e muito menos da forma como pensa gerir, no futuro, os delicadíssimos jogos de poder à sua volta. A partir de agora - e sendo certo que Guterres não quer remodelar, o que o impede de nomear Cravinho para Bruxelas nesta altura -, o futuro do superministro passa a constar das «pedras no sapato» que o chefe do Governo terá que aliviar depois das eleições. Sendo certo que o próprio Cravinho lhe deu já algumas pistas do que, eventualmente, poderia aceitar, quando defendeu uma reestruturação do Executivo que criasse um ou mais lugares de superministros políticos, com altas funções de coordenação interáreas. Este cenário promete animar cenas de autêntica luta pelo poder dentro do próximo Governo, entre ministros como Jorge Coelho, Cravinho, Sousa Franco ou Pina Moura. Uma razão de peso para Guterres querer adiar o mais possível a escolha de Vitorino para comissário passa também pela ambição política do ministro do Planeamento, que será desafiada ao ver escapar-se-lhe um lugar que indisfarçavelmente ambicionava. Se a nova Comissão só tivesse que ser formada depois das eleições de Outubro era certo que Cravinho surgiria na lista dos candidatos, mano a mano com Vitorino. E as suas hipóteses de ascender ao lugar eram enormes: tinha perfil para o lugar e em redor de Guterres não faltavam poderosos conselheiros empenhados em empurrar Cravinho para Bruxelas. Além de que o primeiro-ministro tentaria convencer Vitorino a permanecer em Lisboa onde, é sabido, Guterres ambicionava poder contar com a sua preciosa ajuda. É certo que António Vitorino também há muito que sonhava com o lugar de comissário e o primeiro-ministro dificilmente lhe diria que não mas, a verdade, é que tudo estava em aberto. A aceleração dos calendários europeus levou Vitorino a confessar, há 15 dias, uma enorme expectativa interior pelos sinais que lhe chegavam, quando disse publicamente que «se o sol que hoje faz quiser dizer alguma coisa, e se amanhã não chover, então chegou a Primavera». Supergestor de fundos? A solução para alguns destes problemas poderá passar por um novo modelo de gestão dos fundos comunitários que está a ser pensado por membros do Governo, por forma a dar resposta ao falhanço da regionalização. «A criação das regiões administrativas estaria intimamente ligada à gestão dos fundos. Agora terá que se pensar noutro modelo», confirmou um governante muito próximo de Guterres, ainda sem avançar pormenores das novas estruturas que poderiam vir a ser criadas entre as actuais Comissões de Coordenação Regionais e os Ministérios envolvidos na distribuição das verbas. O estatuto que venha a ser definido para o coordenador destas estruturas - e o peso da sua articulação com Bruxelas -, poderá ajudar a encontrar um lugar para Cravinho. ÂNGELA SILVA João Soares sem voz na Europa ANTÓNIO Saleiro integra a lista do PS ao Parlamento Europeu, embora num lugar absolutamente inelegível. O nome do ex-governador Civil de Beja chegou a estar entre os 14 primeiros, o que, numa perspectiva muito optimista, era encarado como uma hipótese remota de vir a ser eleito, mas a conversa decisiva de Jorge Coelho com António Guterres remeteu Saleiro para 17º. O grupo de João Soares - que teria hipóteses de conseguir um lugar caso Acácio Barreiros não recusasse integrar a lista - fica, assim, sem lugar em Estrasburgo. Um dirigente do PS ironizava ontem que aquele grupo passa a estar representado pelo pai, Mário Soares. A seguir ao cabeça-de-lista, vêm António José Seguro, Luís Marinho, Helena Torres Marques, Carlos Lage, António Campos, Sérgio Sousa Pinto, Maria Carrilho, um representante dos Açores a indicar amanhã, Carlos Candal, Elisa Damião, e Joaquim Vairinhos. São estes os 12 nomes que o PS dá como seguros na eleição para o PE. Nas últimas eleições europeias, elegeram 10 deputados e, se a perspectiva de crescimento for além do esperado, seguem-se Manuel dos Santos, Joel Hasse Ferreira, António Reis, um representante da Madeira e só depois António Saleiro. A ex-Plataforma de Esquerda, com a saída de Barros Moura, deixou de estar representada. A.S.

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