Comissão política do PCP já tinha decidido afastar João Amaral

22-02-2002
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Comissão Política do PCP Já Tinha Decidido Afastar João Amaral

Por JOSÉ ALBERTO LEMOS

Sexta-feira, 25 de Janeiro de 2002

Albano Nunes informou a DORP

Como se previa, João Amaral não será o cabeça de lista da CDU no Porto. Honório Novo toma o seu lugar, numa lista onde não há notáveis e surgem grandes derrotados das autárquicas.

A Direcção da Organização Regional do Porto (DORP) do PCP consumou o afastamento de João Amaral da lista de candidatos a deputados à Assembleia da República para as eleições de 17 de Março, numa reunião que durou cerca de oito horas e que só terminou na madrugada de ontem. Como se previa, João Amaral será substituído à cabeça da lista do Porto pelo também deputado Honório Novo, que tinha sido seu número dois nas legislativas de 1999.

Se esta substituição não é propriamente uma surpresa, já que as posições críticas de João Amaral acabaram por torná-lo vítima de delito de opinião no seio do PCP, a forma como ela ocorreu deixou claro para todos que essa decisão já tinha sido tomada pela comissão política (CP) do partido. Isso mesmo afirmou na reunião Sérgio Teixeira, membro da CP e actual número um do PCP-Porto. Interpelado directamente sobre a posição da comissão política na matéria, Teixeira disse explicitamente que esse órgão já tinha decidido que João Amaral não seria candidato a deputado por qualquer distrito. Uma informação que terá contribuído para que alguns dos presentes se interrogassem sobre o que estavam ali a fazer.

O PÚBLICO já tinha noticiado que a comissão política tinha decidido o afastamento de João Amaral das listas e pode agora adiantar que Albano Nunes, o membro do secretariado do PCP responsável pela ligação à DORP, esteve no Porto no início do processo de elaboração das listas para comunicar em nome daquele órgão a Sérgio Teixeira que Amaral não seria candidato. Foi na sequência dessa directiva do secretariado que Sérgio Teixeira se reuniu com Honório Novo, para definir que seria ele o cabeça de lista. Aliás, curiosamente, Albano Nunes, depois de comunicar a directiva a Teixeira, não compareceu a nenhuma das reuniões da DORP em que as listas foram debatidas, tentando assim transmitir a imagem de que o organismo do Porto era autónomo nas suas decisões.

Na lista ontem aprovada, a seguir a Honório Novo, surgem José Calçada, inspector do ensino e ex-deputado, Jorge Machado, advogado e candidato à Câmara da Póvoa nas últimas autárquicas, Manuela Bronze, artista plástica, Sérgio Teixeira, membro da comissão política, Pimenta Dias, vereador em Gondomar, António Gomes, professor, José Luís Borges Coelho, músico, Carla Barrias, dos Verdes, Alfredo Maia, jornalista, João Torres, coordenador da União dos Sindicatos do Porto, António Graça, médico, Ilda Figueiredo, eurodeputada, Ana Maria Mesquita, sindicalista, José Alberto, metalúrgico, Jorge Sarabando, membro da DORP, entre outros, surgindo em último lugar, simbólico, Rui Sá, vereador na Câmara do Porto. Esta lista acabou por ser aprovada por 24 votos a favor e nove contra, contando-se entre os votos contra os de Emídio Ribeiro, Vidal Pinto, Rosa Dias, Teresa Duarte e Manuel Freitas, todos quadros que abandonaram o comité central (CC) do partido no último congresso. Emídio Ribeiro foi mesmo, até essa altura, o número um da DORP, tendo sido substituído por Sérgio Teixeira. Rui Sá esteve entre os que votaram a favor da lista.

A votação favorável à lista não surpreendeu os chamados "renovadores", já que entre os 33 membros da DORP se contam 15 funcionários do partido, sete ou oito sindicalistas a tempo inteiro, e todos os vereadores que o PCP detém no distrito, tudo funções dependentes da confiança do aparelho partidário.

Mesmo assim, o ambiente da reunião foi-nos descrito como tendo sido de "cortar à faca", marcado por vários ataques pessoais a João Amaral, no que se terá destacado José Calçada, um "incondicional" da direcção comunista, que terá responsabilizado João Amaral pela sua saída do Parlamento. Calçada acrescentou que teria muita honra em trabalhar com Honório Novo, aliás na linha do que já recentemente tinha dito num plenário do sector intelectual, onde assumiu explicitamente que tinha ambições políticas e que até gostava de ser ministro. "Poderia ser um mau ministro para o país, mas seria seguramente um bom ministro para o partido", disse então Calçada, numa afirmação que alguém fez questão que ficasse registada.

Uma breve análise à lista aprovada permite verificar a ausência de nomes destacados nos meios portuenses, como era habitual no PCP. À excepção de Borges Coelho, não surge nenhuma outra figura notada nos respectivos meios profissionais e muito menos intelectuais. A própria escolha de Honório Novo para cabeça de lista levanta o problema de saber por que cargo vai ele optar: se pela Assembleia da República, se pela vereação da Câmara de Matosinhos, para onde acabou de ser eleito. Seja qual for a opção, uma das candidaturas sairá defraudada perante o respectivo eleitorado. Entre as figuras desconhecidas da lista surgem ainda dois nomes que foram candidatos autárquicos há um mês e, nessa qualidade, foram responsáveis pelos piores resultados da CDU nos respectivos concelhos. Um deles é Jorge Machado, o terceiro da lista, advogado, que como cabeça de lista em Dezembro na Póvoa de Varzim obteve o mais fraco resultado comunista de sempre. O outro é João Torres, que liderou a candidatura CDU na Maia e teve também resultados muito modestos.

O mandatário da lista será o médico Emílio Peres. Mas poderá surgir um problema com este prestigiado clínico. É que, segundo informações por nós recolhidas, Emílio Peres terá condicionado a aceitação dessa função à não exclusão de João Amaral da lista. Perante o sucedido, é possível que algo ainda mude nesta matéria.

Ontem à noite, à hora do fecho desta edição, decorria um plenário do sector intelectual do Porto, no qual estava prevista a presença de Vítor Dias. A reunião iria certamente abordar a questão da lista de deputados e o afastamento de João Amaral.

Comissão Política do PCP Já Tinha Decidido Afastar João Amaral

Por JOSÉ ALBERTO LEMOS

Sexta-feira, 25 de Janeiro de 2002

Albano Nunes informou a DORP

Como se previa, João Amaral não será o cabeça de lista da CDU no Porto. Honório Novo toma o seu lugar, numa lista onde não há notáveis e surgem grandes derrotados das autárquicas.

A Direcção da Organização Regional do Porto (DORP) do PCP consumou o afastamento de João Amaral da lista de candidatos a deputados à Assembleia da República para as eleições de 17 de Março, numa reunião que durou cerca de oito horas e que só terminou na madrugada de ontem. Como se previa, João Amaral será substituído à cabeça da lista do Porto pelo também deputado Honório Novo, que tinha sido seu número dois nas legislativas de 1999.

Se esta substituição não é propriamente uma surpresa, já que as posições críticas de João Amaral acabaram por torná-lo vítima de delito de opinião no seio do PCP, a forma como ela ocorreu deixou claro para todos que essa decisão já tinha sido tomada pela comissão política (CP) do partido. Isso mesmo afirmou na reunião Sérgio Teixeira, membro da CP e actual número um do PCP-Porto. Interpelado directamente sobre a posição da comissão política na matéria, Teixeira disse explicitamente que esse órgão já tinha decidido que João Amaral não seria candidato a deputado por qualquer distrito. Uma informação que terá contribuído para que alguns dos presentes se interrogassem sobre o que estavam ali a fazer.

O PÚBLICO já tinha noticiado que a comissão política tinha decidido o afastamento de João Amaral das listas e pode agora adiantar que Albano Nunes, o membro do secretariado do PCP responsável pela ligação à DORP, esteve no Porto no início do processo de elaboração das listas para comunicar em nome daquele órgão a Sérgio Teixeira que Amaral não seria candidato. Foi na sequência dessa directiva do secretariado que Sérgio Teixeira se reuniu com Honório Novo, para definir que seria ele o cabeça de lista. Aliás, curiosamente, Albano Nunes, depois de comunicar a directiva a Teixeira, não compareceu a nenhuma das reuniões da DORP em que as listas foram debatidas, tentando assim transmitir a imagem de que o organismo do Porto era autónomo nas suas decisões.

Na lista ontem aprovada, a seguir a Honório Novo, surgem José Calçada, inspector do ensino e ex-deputado, Jorge Machado, advogado e candidato à Câmara da Póvoa nas últimas autárquicas, Manuela Bronze, artista plástica, Sérgio Teixeira, membro da comissão política, Pimenta Dias, vereador em Gondomar, António Gomes, professor, José Luís Borges Coelho, músico, Carla Barrias, dos Verdes, Alfredo Maia, jornalista, João Torres, coordenador da União dos Sindicatos do Porto, António Graça, médico, Ilda Figueiredo, eurodeputada, Ana Maria Mesquita, sindicalista, José Alberto, metalúrgico, Jorge Sarabando, membro da DORP, entre outros, surgindo em último lugar, simbólico, Rui Sá, vereador na Câmara do Porto. Esta lista acabou por ser aprovada por 24 votos a favor e nove contra, contando-se entre os votos contra os de Emídio Ribeiro, Vidal Pinto, Rosa Dias, Teresa Duarte e Manuel Freitas, todos quadros que abandonaram o comité central (CC) do partido no último congresso. Emídio Ribeiro foi mesmo, até essa altura, o número um da DORP, tendo sido substituído por Sérgio Teixeira. Rui Sá esteve entre os que votaram a favor da lista.

A votação favorável à lista não surpreendeu os chamados "renovadores", já que entre os 33 membros da DORP se contam 15 funcionários do partido, sete ou oito sindicalistas a tempo inteiro, e todos os vereadores que o PCP detém no distrito, tudo funções dependentes da confiança do aparelho partidário.

Mesmo assim, o ambiente da reunião foi-nos descrito como tendo sido de "cortar à faca", marcado por vários ataques pessoais a João Amaral, no que se terá destacado José Calçada, um "incondicional" da direcção comunista, que terá responsabilizado João Amaral pela sua saída do Parlamento. Calçada acrescentou que teria muita honra em trabalhar com Honório Novo, aliás na linha do que já recentemente tinha dito num plenário do sector intelectual, onde assumiu explicitamente que tinha ambições políticas e que até gostava de ser ministro. "Poderia ser um mau ministro para o país, mas seria seguramente um bom ministro para o partido", disse então Calçada, numa afirmação que alguém fez questão que ficasse registada.

Uma breve análise à lista aprovada permite verificar a ausência de nomes destacados nos meios portuenses, como era habitual no PCP. À excepção de Borges Coelho, não surge nenhuma outra figura notada nos respectivos meios profissionais e muito menos intelectuais. A própria escolha de Honório Novo para cabeça de lista levanta o problema de saber por que cargo vai ele optar: se pela Assembleia da República, se pela vereação da Câmara de Matosinhos, para onde acabou de ser eleito. Seja qual for a opção, uma das candidaturas sairá defraudada perante o respectivo eleitorado. Entre as figuras desconhecidas da lista surgem ainda dois nomes que foram candidatos autárquicos há um mês e, nessa qualidade, foram responsáveis pelos piores resultados da CDU nos respectivos concelhos. Um deles é Jorge Machado, o terceiro da lista, advogado, que como cabeça de lista em Dezembro na Póvoa de Varzim obteve o mais fraco resultado comunista de sempre. O outro é João Torres, que liderou a candidatura CDU na Maia e teve também resultados muito modestos.

O mandatário da lista será o médico Emílio Peres. Mas poderá surgir um problema com este prestigiado clínico. É que, segundo informações por nós recolhidas, Emílio Peres terá condicionado a aceitação dessa função à não exclusão de João Amaral da lista. Perante o sucedido, é possível que algo ainda mude nesta matéria.

Ontem à noite, à hora do fecho desta edição, decorria um plenário do sector intelectual do Porto, no qual estava prevista a presença de Vítor Dias. A reunião iria certamente abordar a questão da lista de deputados e o afastamento de João Amaral.

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