"Vou votar pela mesma razão por que a minha avó vai à missa: por dever"

04-03-2001
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"Vou Votar pela Mesma Razão por Que a Minha Avó Vai à Missa: por Dever"

Por NUNO SÁ LOURENÇO

Terça-feira, 27 de Fevereiro de 2001

Debate na Universidade Nova, em Campolide

Os cinco representantes das "jotas" foram a Campolide para explicar por que é que política não rima com juventude, mas acabaram por ouvir os alunos a perguntar para que é que servem as juventudes partidárias

"'Tás a ver por que é que a política é uma seca? É por isso que estás a fazer..." A crítica saiu disparada por uma aluna da Faculdade de Direito da Universidade Nova, na passada terça-feira. Ouvia João Almeida, o líder da Juventude Popular (JP), que naquele momento acusava a secretária-geral da Juventude Socialista, Jamila Madeira, de defender agora o voto aos 16 anos, quando há sete meses era contra.

Foi esse o tom geral do debate "A juventude e política", mediado pelo sociólogo António Barreto, em que participaram cinco jovens representantes dos cinco partidos parlamentares. Pedro Sá, da Juventude Socialista, Miguel Reis, do Bloco de Esquerda, João de Vasconcelos, da Juventude Comunista Portuguesa, Pedro Duarte, líder da Juventude Social-Democrata, e João Almeida. Qualquer um deles acabou por sair algo chamuscado com as perguntas incómodas dos alunos presentes.

A proposta do voto aos 16 anos foi um dos temas abordados. O repto lançado por António Guterres para o congresso socialista suscitou as mais variadas posições, embora todas elas críticas. O primeiro aluno a falar classificou-a como uma ideia "avulsa e eleitoralista", aproveitando depois para se confessar "desconfortado com as intervenções dos representantes" sobre a matéria.

Na realidade, a grande maioria revelou-se contra a proposta, embora nem por isso Pedro Duarte, bem como João Almeida - que criticaram a ideia - tenham conseguido escapar a algumas alfinetadas.

Exemplo disso foi a resposta que Pedro Duarte teve depois de justificar porque é que "rejeita liminarmente" o voto aos 16 anos. "Não se tem maturidade para conduzir, mas tem-se capacidade para conduzir os destinos do seu país pelo voto", perguntou em jeito de recusa. A resposta veio logo a seguir. Um aluno fez notar "um pequeno pormenor" a Pedro Duarte: "Para vocês, não se conduz aos 16, mas já se é preso." A hipocrisia da contradição irritava o estudante.

Ainda assim, alguém lembrou que por vezes a idade não era tudo. Uma aluna confessou que apesar de ter 22 anos e ser estudante universitária não se sentia "preparada para fazer uma escolha" entre os diferentes partidos ou candidatos.

Foi uma outra aluna que depois deixou no ar uma ideia para resolver essa questão. "A preocupação principal devia ser educar os jovens, apostar na educação cívica", alertou.

Antes disso, tinha-se já debatido a intervenção da juventude na política. António Barreto pediu a todos para não considerarem o "divórcio entre a política e a juventude" como um "dado garantido". Mas teve azar. Todos os que falaram apenas lhe mudaram o nome. Falou-se de "desprezo", de "défice" e "seca".

As justificações para o "divórcio" foram bastante críticas. "Votei no que menos me enervava", disse alguém para sustentar a forma distante como olhava para os políticos. Outro aluno acrescentou que já não existia qualquer incentivo para participar. "Vou votar pela mesma razão por que a minha avó vai à missa: por dever."

As próprias "jotas" acabaram por ser atacadas pelo meio: "Gostava de saber qual é que é o grau de liberdade de um membro de uma juventude no seu partido?", perguntou outro aluno, ao criticar a forma como os "jotas" defendiam as gerações mais novas.

À barragem cerrada aos jovens políticos, António Barreto parecia sorrir com alguma satisfação. O próprio aproveitou, aliás, para deixar no ar uma crítica velada a todos eles, depois de ouvir os jovens: "Nenhum de vocês criticou as gerações mais velhas", sublinhou, para depois lembrar que por vezes os mais velhos não viam com bons olhos a ascensão dos mais novos.

"Vou Votar pela Mesma Razão por Que a Minha Avó Vai à Missa: por Dever"

Por NUNO SÁ LOURENÇO

Terça-feira, 27 de Fevereiro de 2001

Debate na Universidade Nova, em Campolide

Os cinco representantes das "jotas" foram a Campolide para explicar por que é que política não rima com juventude, mas acabaram por ouvir os alunos a perguntar para que é que servem as juventudes partidárias

"'Tás a ver por que é que a política é uma seca? É por isso que estás a fazer..." A crítica saiu disparada por uma aluna da Faculdade de Direito da Universidade Nova, na passada terça-feira. Ouvia João Almeida, o líder da Juventude Popular (JP), que naquele momento acusava a secretária-geral da Juventude Socialista, Jamila Madeira, de defender agora o voto aos 16 anos, quando há sete meses era contra.

Foi esse o tom geral do debate "A juventude e política", mediado pelo sociólogo António Barreto, em que participaram cinco jovens representantes dos cinco partidos parlamentares. Pedro Sá, da Juventude Socialista, Miguel Reis, do Bloco de Esquerda, João de Vasconcelos, da Juventude Comunista Portuguesa, Pedro Duarte, líder da Juventude Social-Democrata, e João Almeida. Qualquer um deles acabou por sair algo chamuscado com as perguntas incómodas dos alunos presentes.

A proposta do voto aos 16 anos foi um dos temas abordados. O repto lançado por António Guterres para o congresso socialista suscitou as mais variadas posições, embora todas elas críticas. O primeiro aluno a falar classificou-a como uma ideia "avulsa e eleitoralista", aproveitando depois para se confessar "desconfortado com as intervenções dos representantes" sobre a matéria.

Na realidade, a grande maioria revelou-se contra a proposta, embora nem por isso Pedro Duarte, bem como João Almeida - que criticaram a ideia - tenham conseguido escapar a algumas alfinetadas.

Exemplo disso foi a resposta que Pedro Duarte teve depois de justificar porque é que "rejeita liminarmente" o voto aos 16 anos. "Não se tem maturidade para conduzir, mas tem-se capacidade para conduzir os destinos do seu país pelo voto", perguntou em jeito de recusa. A resposta veio logo a seguir. Um aluno fez notar "um pequeno pormenor" a Pedro Duarte: "Para vocês, não se conduz aos 16, mas já se é preso." A hipocrisia da contradição irritava o estudante.

Ainda assim, alguém lembrou que por vezes a idade não era tudo. Uma aluna confessou que apesar de ter 22 anos e ser estudante universitária não se sentia "preparada para fazer uma escolha" entre os diferentes partidos ou candidatos.

Foi uma outra aluna que depois deixou no ar uma ideia para resolver essa questão. "A preocupação principal devia ser educar os jovens, apostar na educação cívica", alertou.

Antes disso, tinha-se já debatido a intervenção da juventude na política. António Barreto pediu a todos para não considerarem o "divórcio entre a política e a juventude" como um "dado garantido". Mas teve azar. Todos os que falaram apenas lhe mudaram o nome. Falou-se de "desprezo", de "défice" e "seca".

As justificações para o "divórcio" foram bastante críticas. "Votei no que menos me enervava", disse alguém para sustentar a forma distante como olhava para os políticos. Outro aluno acrescentou que já não existia qualquer incentivo para participar. "Vou votar pela mesma razão por que a minha avó vai à missa: por dever."

As próprias "jotas" acabaram por ser atacadas pelo meio: "Gostava de saber qual é que é o grau de liberdade de um membro de uma juventude no seu partido?", perguntou outro aluno, ao criticar a forma como os "jotas" defendiam as gerações mais novas.

À barragem cerrada aos jovens políticos, António Barreto parecia sorrir com alguma satisfação. O próprio aproveitou, aliás, para deixar no ar uma crítica velada a todos eles, depois de ouvir os jovens: "Nenhum de vocês criticou as gerações mais velhas", sublinhou, para depois lembrar que por vezes os mais velhos não viam com bons olhos a ascensão dos mais novos.

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