Juventudes partidárias estranham proposta

09-03-2001
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Juventudes Partidárias Estranham Proposta

Por SÃO JOSÉ ALMEIDA E EUNICE LOURENÇO

Terça-feira, 27 de Fevereiro de 2001

JSD, JCP e JP discordam do voto como medida desgarrada de uma discussão sobre direitos e deveres dos jovens de 16 e 17 anos

A maioria das juventudes partidárias não acolhem com entusiasmo a proposta de Guterres. À excepção de Jamila Madeira, líder da Juventude Socialista, ou seja, correligionária política de António Guterres, todos os representantes das chamadas "jotas" contactados pelo PÚBLICO não se revelaram entusiastas da ideia, ainda que não rejeitem o seu debate.

Jamila Madeira manifestou mesmo a sua satisfação por ter visto o líder do PS a pegar numa ideia que é já património histórico da JS. "Nós ficámos muito satisfeitos por o secretário-geral abraçar uma proposta que trouxemos connosco durante quase 10 anos", congratulou-se Jamila Madeira, acrescentando: "Não tínhamos encontrado apoio político para a relançar e é com satisfação que vemos o secretário-geral a lançar este debate."

A jovem deputada considerou ainda que, "hoje em dia, com as novas tecnologias de informação, é pertinente voltar a esta discussão, que permitirá o envolvimento diferente dos jovens na sociedade".

Mas se Jamila Madeira está agradada com a proposta de Guterres, o mesmo não se passa com os outros representantes das juventudes. Margarida Botelho, da direcção da JCP, começou por reconhecer que este é um tema cujo debate os jovens comunistas ainda nem sequer aprofundaram e garante que a JCP, "à partida, está aberta a discutir a questão". Mas adverte desde logo que "o voto não pode ser visto de uma forma desgarrada, só o voto aos 16 anos e pronto". E avança: "Achamos que se deve enquadrar numa situação de mais larga participação civil dos jovens."

Politizando ainda mais a questão, Margarida Botelho atira: "É forçado que seja o PS, que no processo de revisão curricular não criou condições para que se discutisse com os estudantes, que votou contra o projecto do PCP sobre direitos dos jovens nos transportes e na participação da cultura, que faça esta proposta."

Oposição frontal à ideia foi manifestada pelo líder da JSD, Pedro Duarte. "É totalmente descabida", afirmou, peremptório, ao PÚBLICO. Pedro Duarte tratou mesmo de realçar as incongruências em que ficaria a situação legal dos jovens: "Os jovens com essa idade ainda não têm maturidade para conduzir um carro ou dispor dos seus bens, mas podem decidir e conduzir os destinos do país."

Pedro Duarte sustenta que uma medida como esta contribuiria para a abstenção, quando todos os discursos salientam a necessidade de a baixar. Mas o líder da JSD critica, sobretudo, a ocasião: é que a proposta sai para a rua quando são, precisamente, os jovens dessa idade que andam a manifestar-se contra a reforma curricular. E acusa Guterres: "É um rebuçado porque não consegue resolver-lhes os problemas."

O líder da JSD garante que até aceitaria discutir o assunto, mas numa perspectiva mais global, que passasse por descer a idade da maioridade. "A maturidade não é objectiva, mas hoje em dia um jovem de 16 anos tem acesso e capacidade de gestão de informação maior do que tinha há uns anos atrás", diz este jovem de 27 anos, reconhecendo, contudo, que quando tinha 16 anos se lhe dissessem que podia tirar a carta ficaria "muito contente", enquanto dizerem-lhe que podia votar "seria indiferente".

Mais crítico ainda é o líder da Juventude Popular, João Almeida, para quem, "em primeiro lugar, é ridícula a maneira como a proposta foi apresentada", pois significa que "a grande medida para o país" que o primeiro-ministro tem a apresentar no congresso do seu partido é o voto aos 16 anos.

João Almeida concorda com Pedro Duarte quando considera que esta proposta também parece ser "um rebuçado" que o PS quer dar aos jovens, não tendo sequer em conta que o voto aos 16 anos não é uma prioridade desses mesmos jovens.

E, aumentando o tom das críticas, João Almeida jura: "É uma medida disparatada, desenquadrada, uma incoerência jurídica." O líder da JP vai ao ponto de nem sequer concordar com a ideia de discutir a alteração da maioridade para os 16 anos: "Não faz sentido. Os factores de maturidade estão cada vez a ser mais adiados. Tudo está a acontecer mais tarde, os jovens estão no meio familiar até mais tarde. Não têm uma autonomia ou uma independência que estimule a consciência social."

Juventudes Partidárias Estranham Proposta

Por SÃO JOSÉ ALMEIDA E EUNICE LOURENÇO

Terça-feira, 27 de Fevereiro de 2001

JSD, JCP e JP discordam do voto como medida desgarrada de uma discussão sobre direitos e deveres dos jovens de 16 e 17 anos

A maioria das juventudes partidárias não acolhem com entusiasmo a proposta de Guterres. À excepção de Jamila Madeira, líder da Juventude Socialista, ou seja, correligionária política de António Guterres, todos os representantes das chamadas "jotas" contactados pelo PÚBLICO não se revelaram entusiastas da ideia, ainda que não rejeitem o seu debate.

Jamila Madeira manifestou mesmo a sua satisfação por ter visto o líder do PS a pegar numa ideia que é já património histórico da JS. "Nós ficámos muito satisfeitos por o secretário-geral abraçar uma proposta que trouxemos connosco durante quase 10 anos", congratulou-se Jamila Madeira, acrescentando: "Não tínhamos encontrado apoio político para a relançar e é com satisfação que vemos o secretário-geral a lançar este debate."

A jovem deputada considerou ainda que, "hoje em dia, com as novas tecnologias de informação, é pertinente voltar a esta discussão, que permitirá o envolvimento diferente dos jovens na sociedade".

Mas se Jamila Madeira está agradada com a proposta de Guterres, o mesmo não se passa com os outros representantes das juventudes. Margarida Botelho, da direcção da JCP, começou por reconhecer que este é um tema cujo debate os jovens comunistas ainda nem sequer aprofundaram e garante que a JCP, "à partida, está aberta a discutir a questão". Mas adverte desde logo que "o voto não pode ser visto de uma forma desgarrada, só o voto aos 16 anos e pronto". E avança: "Achamos que se deve enquadrar numa situação de mais larga participação civil dos jovens."

Politizando ainda mais a questão, Margarida Botelho atira: "É forçado que seja o PS, que no processo de revisão curricular não criou condições para que se discutisse com os estudantes, que votou contra o projecto do PCP sobre direitos dos jovens nos transportes e na participação da cultura, que faça esta proposta."

Oposição frontal à ideia foi manifestada pelo líder da JSD, Pedro Duarte. "É totalmente descabida", afirmou, peremptório, ao PÚBLICO. Pedro Duarte tratou mesmo de realçar as incongruências em que ficaria a situação legal dos jovens: "Os jovens com essa idade ainda não têm maturidade para conduzir um carro ou dispor dos seus bens, mas podem decidir e conduzir os destinos do país."

Pedro Duarte sustenta que uma medida como esta contribuiria para a abstenção, quando todos os discursos salientam a necessidade de a baixar. Mas o líder da JSD critica, sobretudo, a ocasião: é que a proposta sai para a rua quando são, precisamente, os jovens dessa idade que andam a manifestar-se contra a reforma curricular. E acusa Guterres: "É um rebuçado porque não consegue resolver-lhes os problemas."

O líder da JSD garante que até aceitaria discutir o assunto, mas numa perspectiva mais global, que passasse por descer a idade da maioridade. "A maturidade não é objectiva, mas hoje em dia um jovem de 16 anos tem acesso e capacidade de gestão de informação maior do que tinha há uns anos atrás", diz este jovem de 27 anos, reconhecendo, contudo, que quando tinha 16 anos se lhe dissessem que podia tirar a carta ficaria "muito contente", enquanto dizerem-lhe que podia votar "seria indiferente".

Mais crítico ainda é o líder da Juventude Popular, João Almeida, para quem, "em primeiro lugar, é ridícula a maneira como a proposta foi apresentada", pois significa que "a grande medida para o país" que o primeiro-ministro tem a apresentar no congresso do seu partido é o voto aos 16 anos.

João Almeida concorda com Pedro Duarte quando considera que esta proposta também parece ser "um rebuçado" que o PS quer dar aos jovens, não tendo sequer em conta que o voto aos 16 anos não é uma prioridade desses mesmos jovens.

E, aumentando o tom das críticas, João Almeida jura: "É uma medida disparatada, desenquadrada, uma incoerência jurídica." O líder da JP vai ao ponto de nem sequer concordar com a ideia de discutir a alteração da maioridade para os 16 anos: "Não faz sentido. Os factores de maturidade estão cada vez a ser mais adiados. Tudo está a acontecer mais tarde, os jovens estão no meio familiar até mais tarde. Não têm uma autonomia ou uma independência que estimule a consciência social."

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