Divulgação de um "ranking" das escolas divide opiniões

08-05-2001
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Divulgação de Um "Ranking" das Escolas Divide Opiniões

Por ISABEL LEIRIA

Quinta-feira, 26 de Abril de 2001 Os deputados debatem hoje no Parlamento a controversa questão dos "rankings" das escolas, uma espécie de lista nacional dos estabelecimentos de ensino classificados por desempenho. Em discussão estão dois projectos de lei do PSD. Condenados a chumbar, já que PS e PCP não querem nem ouvir falar da ideia A questão é definitivamente polémica. Hoje à tarde, quando os partidos com assento na Assembleia da República forem chamados a votar os dois projectos de lei do PSD sobre avaliação e divulgação dos resultados das escolas básicas e secundárias, o que no limite permitiria a elaboração de um "ranking" dos estabelecimentos de ensino, o hemiciclo dividir-se-à ao meio: partidos de esquerda ao lado do Governo, PP do lado dos autores dos projectos. Não será pois desta que o PSD conseguirá fazer passar aquela que tem sido uma das suas bandeiras em termos de política educativa, desde que é oposição. A discussão, essa, está lançada, com opositores e defensores da divulgação do desempenho das escolas a vincarem as suas posições. Ambos irredutíveis. Se o PSD não desiste de fazer a defesa dos seus projectos, ainda que o chumbo parlamentar seja quase uma certeza, também o Ministério da Educação (ME) se mantém firme na intenção de prosseguir aquela que tem sido a sua política: avaliação sim, divulgação só em parte. A ideia da tutela é que todas as escolas tenham conhecimento dos seus resultados e que a discussão se faça internamente. Foi isso que foi proposto quando o ME lançou este ano a avaliação integrada. Um processo que está em curso, conduzido pela Inspecção-Geral de Educação e que visa detectar os pontos fortes e fracos dos estabelecimento de ensino, ponderando as notas dos alunos, os processos de gestão, infra-estruturas, etc. Diz o Governo que, conhecidos os resultados de cerca de 300 estabelecimentos, o debate sobre os mesmos deve ser alargado a pais e alunos. O que não é possível é fazer uma análise comparada das escolas. Ou seja, saber quais as melhores e piores do país, já que, publicamente, são apenas conhecidas médias nacionais. Algo semelhante acontece com os resultados das provas de aferição - que testaram, este ano pela primeira vez, os conhecimentos dos meninos do 4º ano a Língua Portuguesa e Matemática - e ainda com os exames do 12º ano. Cada escola sabe das notas dos seus alunos, o ME calcula médias nacionais, mas não é divulgado o conjunto dos resultados por estabelecimento de ensino. "A orientação do ministério não é classificar nem fazer o 'top ten'", tem insistido o ministro Augusto Santos Silva. O deputado social-democrata responsável pela área do ensino David Justino contrapõe: "Essa é a informação que interessa aos cidadãos", justificou na apresentação dos diplomas. Ninguém vai querer o filho na pior escola Os argumentos colhem à direita, com o deputado "popular" Rosado Fernandes a avançar que o seu grupo parlamentar "com certeza que viabilizará" os projectos do PSD. "Com uma avaliação pública, séria e não insultuosa, mas que tenha apenas a intenção de melhorar, ninguém pode ficar ofendido." De resto, acrescenta, esta "forma ínvia de exercer o poder" apenas tem levado a que se "esconda o lixo debaixo do tapete", lançando uma "ameaça generalizada sobre todas as escolas". Para os "populares", os alunos acabam por ser os principais prejudicados por esta "falsa bondade" do ME. A questão é colocada noutros termos pela parlamentar comunista Margarida Botelho. "Como se sentirá um estudante do 12º ano que frequente uma escola classificada em pior lugar?" O PCP também já definiu a sua posição e votará hoje contra qualquer espécie de "ranking", sobretudo enquanto este for o resultado de uma lista ordenada "com base nas notas quantitativas dos estudantes". Nem a ressalva dos sociais-democratas de que essa seriação pode ter em conta outros factores que possam contribuir para o sucesso/insucesso escolar descansa os comunistas. Afinal, diz Margarida Botelho, "não deixa de ser um "ranking", gerador de "escolas de meninos bons e escolas de meninos maus". O receio é naturalmente partilhado pela bancada socialista. A deputada Isabel Pires de Lima não poupa críticas aos projectos em cima de mesa, acusando-os de serem "insensatos", "simplistas" e "primários do ponto de vista científico e social". Logo à partida, justifica, porque não é possível comparar através de um "algoritmo complicadíssimo" escolas que são "completamente desiguais de equipamentos e meios sociais". Porque há estabelecimentos de ensino onde a simples presença dos alunos "já é a maior prova de sucesso da escola", acredita a socialista. Depois, continua a deputada, da publicação de um "ranking" poderão advir efeitos "absolutamente desastrosos", desde um "desequilíbrio brutal entre a oferta e a procura - ninguém quererá ter o filho na escola pior classificada " até à estigmatização dos estabelecimentos de ensino "maus". Com a certeza de que esses teriam cada vez mais dificuldade em melhorar, já que ao "trânsito de alunos seguir-se-ia o trânsito dos professores". E se os parlamentares estão divididos, o consenso também está longe de chegar à sociedade civil (ver inquérito). De "rankings" não querem ouvir falar pelo menos parte dos professores e alunos que, nesta matéria, esquecem a contestação e colocam-se ao lado da actual equipa ministerial. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Divulgação de um "ranking" das escolas divide opiniões

O que dizem os diplomas

Inquérito: Concorda com divulgação de um "ranking" das escolas? Porquê?

Os exemplos da Europa

OPINIÃO

No silêncio todos somos iguais

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Por ISABEL LEIRIA

Quinta-feira, 26 de Abril de 2001 Os deputados debatem hoje no Parlamento a controversa questão dos "rankings" das escolas, uma espécie de lista nacional dos estabelecimentos de ensino classificados por desempenho. Em discussão estão dois projectos de lei do PSD. Condenados a chumbar, já que PS e PCP não querem nem ouvir falar da ideia A questão é definitivamente polémica. Hoje à tarde, quando os partidos com assento na Assembleia da República forem chamados a votar os dois projectos de lei do PSD sobre avaliação e divulgação dos resultados das escolas básicas e secundárias, o que no limite permitiria a elaboração de um "ranking" dos estabelecimentos de ensino, o hemiciclo dividir-se-à ao meio: partidos de esquerda ao lado do Governo, PP do lado dos autores dos projectos. Não será pois desta que o PSD conseguirá fazer passar aquela que tem sido uma das suas bandeiras em termos de política educativa, desde que é oposição. A discussão, essa, está lançada, com opositores e defensores da divulgação do desempenho das escolas a vincarem as suas posições. Ambos irredutíveis. Se o PSD não desiste de fazer a defesa dos seus projectos, ainda que o chumbo parlamentar seja quase uma certeza, também o Ministério da Educação (ME) se mantém firme na intenção de prosseguir aquela que tem sido a sua política: avaliação sim, divulgação só em parte. A ideia da tutela é que todas as escolas tenham conhecimento dos seus resultados e que a discussão se faça internamente. Foi isso que foi proposto quando o ME lançou este ano a avaliação integrada. Um processo que está em curso, conduzido pela Inspecção-Geral de Educação e que visa detectar os pontos fortes e fracos dos estabelecimento de ensino, ponderando as notas dos alunos, os processos de gestão, infra-estruturas, etc. Diz o Governo que, conhecidos os resultados de cerca de 300 estabelecimentos, o debate sobre os mesmos deve ser alargado a pais e alunos. O que não é possível é fazer uma análise comparada das escolas. Ou seja, saber quais as melhores e piores do país, já que, publicamente, são apenas conhecidas médias nacionais. Algo semelhante acontece com os resultados das provas de aferição - que testaram, este ano pela primeira vez, os conhecimentos dos meninos do 4º ano a Língua Portuguesa e Matemática - e ainda com os exames do 12º ano. Cada escola sabe das notas dos seus alunos, o ME calcula médias nacionais, mas não é divulgado o conjunto dos resultados por estabelecimento de ensino. "A orientação do ministério não é classificar nem fazer o 'top ten'", tem insistido o ministro Augusto Santos Silva. O deputado social-democrata responsável pela área do ensino David Justino contrapõe: "Essa é a informação que interessa aos cidadãos", justificou na apresentação dos diplomas. Ninguém vai querer o filho na pior escola Os argumentos colhem à direita, com o deputado "popular" Rosado Fernandes a avançar que o seu grupo parlamentar "com certeza que viabilizará" os projectos do PSD. "Com uma avaliação pública, séria e não insultuosa, mas que tenha apenas a intenção de melhorar, ninguém pode ficar ofendido." De resto, acrescenta, esta "forma ínvia de exercer o poder" apenas tem levado a que se "esconda o lixo debaixo do tapete", lançando uma "ameaça generalizada sobre todas as escolas". Para os "populares", os alunos acabam por ser os principais prejudicados por esta "falsa bondade" do ME. A questão é colocada noutros termos pela parlamentar comunista Margarida Botelho. "Como se sentirá um estudante do 12º ano que frequente uma escola classificada em pior lugar?" O PCP também já definiu a sua posição e votará hoje contra qualquer espécie de "ranking", sobretudo enquanto este for o resultado de uma lista ordenada "com base nas notas quantitativas dos estudantes". Nem a ressalva dos sociais-democratas de que essa seriação pode ter em conta outros factores que possam contribuir para o sucesso/insucesso escolar descansa os comunistas. Afinal, diz Margarida Botelho, "não deixa de ser um "ranking", gerador de "escolas de meninos bons e escolas de meninos maus". O receio é naturalmente partilhado pela bancada socialista. A deputada Isabel Pires de Lima não poupa críticas aos projectos em cima de mesa, acusando-os de serem "insensatos", "simplistas" e "primários do ponto de vista científico e social". Logo à partida, justifica, porque não é possível comparar através de um "algoritmo complicadíssimo" escolas que são "completamente desiguais de equipamentos e meios sociais". Porque há estabelecimentos de ensino onde a simples presença dos alunos "já é a maior prova de sucesso da escola", acredita a socialista. Depois, continua a deputada, da publicação de um "ranking" poderão advir efeitos "absolutamente desastrosos", desde um "desequilíbrio brutal entre a oferta e a procura - ninguém quererá ter o filho na escola pior classificada " até à estigmatização dos estabelecimentos de ensino "maus". Com a certeza de que esses teriam cada vez mais dificuldade em melhorar, já que ao "trânsito de alunos seguir-se-ia o trânsito dos professores". E se os parlamentares estão divididos, o consenso também está longe de chegar à sociedade civil (ver inquérito). De "rankings" não querem ouvir falar pelo menos parte dos professores e alunos que, nesta matéria, esquecem a contestação e colocam-se ao lado da actual equipa ministerial. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Divulgação de um "ranking" das escolas divide opiniões

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