A Cinderela ao contrário

14-07-2001
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A Cinderela ao Contrário

Por ISABEL COUTINHO

Segunda-feira, 4 de Junho de 2001 Ela é a Super-Tia criada no "Herman Enciclopédia". É a Lili Caraça no mundo dos bonecos do "Contra-Informação". É um fenómeno do jet set nacional e uma das mulheres mais fotografadas em Portugal. O cantor e seu amigo Raul Indipwo já disse dela que é "uma Cinderela ao contrário" porque "trocou um conto de fadas por uma vida normal". Pelos convites que lhe chegam à caixa do correio não se lhe acabaram os bailes. Vão lá parar muitos. Mostrou-nos o convite para o "Bal de l'Été" em Monte Carlo (patrocinado pelo principado do Mónaco a favor da Associação Mundial dos Amigos das Crianças); um outro para o "Bal de Paris" da King Hussein Fundation para benefício do rei; para o"Bal de la Riviera" em homenagem a Johan Strauss e para o "Ballo in Mascara"em Veneza. Marcou encontro no Hotel Palácio no Estoril. Pontual, a beber um café ao pé da piscina, sempre de óculos escuros, falou de si e do mundo onde vive. Isto foi ainda antes do "peeling" e do Bar da TV. Maria Alice Carvalho Monteiro nasceu na Guarda, na casa dos avós, e viveu com os pais em Peniche e na Parede. O pai seu pai foi adido militar na Índia e no Egipto. A sua mãe era pianista, fez o conservatório com 19 valores. Lili, como sempre lhe chamaram, estudou no liceu de Oeiras e entrou em Germânicas na Universidade Clássica. Não terminou o curso e entrou para a TAP aos 19 anos. Casou com Álvaro Caneças, um promotor imobiliário, e segundo diz tinha um casamento de conto de fadas. Um dia depois de ter assistido a um filme de James Bond passado na Jamaica manifestou ao marido o desejo de conhecer o lugar onde Sean Connery tinha uma casa. No dia seguinte tinha a viagem e a estadia marcada. PÚBLICA - Viveu na Quinta da Marinha até aos 37 anos - quando se divorciou - e desde aí vive num apartamento no Gandarinha, em Cascais. Foi uma grande mudança? Lili Caneças - Nunca tinha vivido num apartamento até então. Achei que era como se fosse a suite de um hotel: simpático, agradável, com segurança, com muito conforto. Na altura pensava que era um sítio onde eu ia ficar três, quatro meses até partir para outra etapa qualquer da minha vida. Afinal senti-me tão bem a viver sozinha - porque até aí vivia com o meu ex-marido e os meus dois filhos, o João e a Rita. P.- Mas só nos últimos anos é que tem passado mais tempo em Portugal: os seus filhos estudaram no estrangeiro. L.C.- O meu filho João é arquitecto e formou-se na Sci-Arc, o Southern California Institute of Architecture, do qual Frank Gehry foi fundador e é uma das melhores universidades do mundo. Fica em Los Angeles. A minha filha Rita estudou em Londres e fez também uma graduação em Los Angeles. A seguir fomos viver para Florença, onde ela estudou no Palazzo Pinelli, com Dona Baraldi - uma das melhores professoras do mundo de arte e restauro. Nessa altura o filho dela estava a fazer o restauro da capela Sistina em Florença, portanto vivemos lá. A Rita estudou pintura e também 'fashion marketing'. P.- A educação dos seus filhos é um dos seus motivos de orgulho. L.C.- Preocupei-me durante toda a minha vida com a educação dos meus filhos. Quando nos empenhamos muito em fazer uma coisa bem feita e temos os meios para o fazer... Nessa altura não tinha problemas económicos e relacionava-me com pessoas mais velhas. O meu marido era bastante mais velho do que eu. Eu tinha 20 anos e relacionava-me com pessoas de 35/40. Aprendi muito com elas. Aprendi, sobretudo com os meu amigos judeus do mundo inteiro, que a única herança que se pode deixar a um filho é a educação. E por isso investi tudo aquilo que eu sabia na educação dos meus filhos. Abri-lhes os olhos para a beleza da criação, para a arte, para a natureza, para os seus segredos, para os seus sinais. P.- Como assim? L.C.- Desde muito pequenos iam comigo às peças da Broadway em Nova Iorque. Íamos para Londres de propósito assistir a qualquer acontecimento cultural. Passávamos as férias na Sardenha - tinha a minha filha quatro anos e o meu filho sete - com um grupo de pessoas que não eram portugueses, porque tínhamos grandes amigos no mundo inteiro. O que eu podia deixar a um filho era educação, porque dinheiro um dia você tem, outro não tem, vem uma revolução, acontece qualquer coisa e se você não souber gerir o seu dinheiro, numa geração ou em duas gerações o dinheiro acaba-se. Os meus filhos hoje, mesmo que não tenham dinheiro nenhum, com os cursos que têm podem procurar emprego em qualquer lugar no mundo e dizer: 'quero ir para aqui e quero ganhar tanto', porque as universidades que frequentaram são prestigiadas. O meu filho, quando se graduou, disse-me: 'Mom we did it!' P.- Os seus filhos agora vivem onde? L.C.- Regressaram para Portugal e por isso é que eu também estou em Portugal desde há cinco anos. Ele agora vive com o pai na Quinta da Marinha. Na casa onde eu vivia, feita pelo meu irmão que é arquitecto, decorada por mim. Foi a primeira casa minimalista que houve há 30 anos em Portugal, com peças do Corbusier e dos grandes designers da Bauhaus - eu chegava a fazer excursões guiadas... Era uma casa muito Frank Lloyd Wright, as pessoas na Quinta da Marinha faziam as casas à antiga portuguesa, muito Raul Lino. Eu era muito de vanguarda e fiz uma casa de vanguarda, toda em vidro e betão. As pessoas chegavam lá e diziam: 'Que horror, mas a sua casa não tem mobília!' Nessa altura era qualquer coisa de muito inovador. P.- A sua família viajava muito? Não era habitual as pessoas desse meio social fazerem essa vida? L.C.- Nessa altura, antes do 25 de Abril, poucos portugueses faziam essa vida. Nós viajávamos o ano inteiro. Íamos para o Palace Hotel de Saint Moritz nas passagens de ano. Você não faz ideia do que era o desfile, deslumbrava os olhos, na realidade eram mulheres chiquíssimas, cheias de 'glamour', que desfilavam Alta Costura, com jóias magníficas em que as cores condiziam com os vestidos, em que os visons e as zibelinas condiziam com a roupa. Eu sentia-me uma menina pobre completamente vinda de outro mundo ao pé dessas pessoas que eu via cheias de pompa e circunstância, como por exemplo o xá da Pérsia e a sua mulher Farah Diba. Na minha lua-de-mel conheci a maior parte destas pessoas com quem me dei pela vida fora. P.- O seu pai era comandante da marinha de guerra e viveu na Índia e no Egipto e a sua mãe era pianista. Era uma família voltada para a criatividade? L.C. - A minha mãe vivia com os meus avós numa casa na Guarda e quando quis vir para o conservatório em Lisboa foi um escândalo! A família ficou completamente alucinada, porque achava que uma menina que era criada em casa, naturalmente como uma mademoiselle a tocar piano e a falar francês, não deveria vir nunca para Lisboa sozinha, estudar piano. Mas ela acabou o curso com 19 valores e o piano era a paixão da vida dela. Mas só voltou a tocar quando tinha cinquenta e tal anos, tocava no Estoril Sol onde eu fazia ballet, acompanhava as lições. P.- Conheceu o seu ex-marido, Álvaro Pereira Caneças, empresário da construção civil e imobiliária, já depois de ter abandonado a faculdade, quando estava na TAP. L.C.- Sim, ele é promotor imobiliário, vinha de uma família já bem na vida porque eram agricultores ricos nos arredores de Lisboa e a cidade cresceu para cima de terrenos que pertenciam à família. P.- Foi difícil entrar para a TAP? L.C. - Não pude ir para hospedeira de bordo porque tinha 19 anos e precisava da autorização dos meus pais. Eles achavam que uma menina não dormia fora de casa e não ia sabe-se lá para onde. Nessa altura a minha mãe só me deixou trabalhar em terra. Ser hospedeira de bordo já era como ser empregada doméstica ou uma governanta. Não viam com muito bons olhos. P.- Então conheceu o seu ex-marido... L.C.- Conheci o meu ex-marido num casamento, ao fim de três meses de namoro casámos. Ele foi muito querido, perguntou-me que carro é que eu queria para a nossa lua-de-mel e mandou vir um Jaguar Type E 4.2, vermelho, lindíssimo. Na altura só havia um no Porto. Era um carro diferente, aerodinâmico. Fizemos a nossa viagem de lua-de-mel até Saint Moritz, fomos pela Riviera e viemos por Paris. Em Córdoba gritavam: 'Mira, el coche del Cordobés', porque ele tinha um. P.- Nessa altura a Lili já recebia imenso? Dava festas? L.C. - Recebia imenso porque acho que as pessoas nasceram para ser felizes e para viver em sociedade. Foi uma fase da minha vida que poderá ter sido um bocadinho fútil ou materialista, mas de que gostei muito. Depois a pessoa evolui, começa a crescer em espiritualidade, a ter outros valores. Considero-me uma privilegiada porque fiz uma opção. Temos que aceitar uma mudança que nos é imposta pelo destino, pois não temos outro remédio. Agora uma que foi tomada por opção... Eu mudei radicalmente a minha vida porque não estava contente com aquilo que acontecia no meu dia a dia e porque queria mesmo modificar a minha vida e custou-me. Tinha 37 anos e nunca tinha feito uma cama, nem estrelado um ovo. P.- Foi começar de novo. L.C.- Foi um começar de novo mas foi horrível. Naturalmente foi por isso que não voltei a casar. A experiência do meu divórcio foi quase kafkiana, porque deixei de acreditar em tudo aquilo em que eu acreditava. E os meus amigos todos, esses que frequentavam as minhas festas que nós dávamos na Quinta da Marinha a toda a hora, esses que viviam em minha casa convidados, vindos do mundo inteiro, todos me viraram as costas. A minha família também não me apoiou, portanto eu fiquei completamente sozinha, com uma filha para educar. Divorciámo-nos por mútuo acordo, eu prescindi de tudo, de pensão de alimentos, de recheio de casa, só me preocupei com o poder paternal e ela veio viver comigo para a Gandarinha e o meu filho ficou com o pai. Fiquei sem um tostão e foi muito difícil. Foi uma época muito difícil da minha vida e não sei se hoje teria a coragem de tornar a fazê-lo. P.- Nessa época, depois do 25 de Abril, já aparecia nas revistas? L.C.- Cá em Portugal houve festas fantásticas como a da Maria Amélia de Melo ou como os 25 anos de casado do Joaquim Silveira. Esta foi talvez a festa mais bonita em que estive no nosso país, já tinha visto festas assim no Brasil, mas em Portugal não. E nessa festa não havia um fotógrafo e isso já foi depois do 25 de Abril e não havia nessa festa revistas 'del corazón'. Nessa época já existia a 'Nova Gente' e as crónicas da Vera Lagoa, mas ela era muito selectiva. Ela fez algumas matérias sobre mim, foi de facto a primeira pessoa a escrever sobre mim. Eu gostava muito dela e ela achava-me uma certa graça. Depois apareceu o Abel Dias e o Carlos Castro, meus queridos amigos, mantemos uma amizade de 25 anos, contra tudo e contra todos. P.- Mas então como é que tudo começou? L.C.- Começaram a tirar-me fotografias porque eu era bonita, simpática, extrovertida, tinha andado pelo mundo inteiro. P.- Já era Lili nessa altura? L.C.- Na minha família as mulheres são quase todas Maria Alice, ou Maria Madalena ou Maria Amélia e a mim calhou ser Maria Alice. Mas os meus pais chamaram-me sempre Lili. Até os meus professores. Quando me separei pedi que começassem a pôr Lili de Carvalho Monteiro, mas não pegou. Na realidade, depois de 17 anos de casada toda a gente me chamava Lili Caneças. Como não me voltei a casar e os meus filhos são Caneças, achei um bocadinho paradoxal os meus filhos não terem o meu nome. Obviamente que se me tivesse voltado a casar não teria o mau gosto de continuar a usar com o nome do meu ex-marido. E se o nome do meu ex-marido fosse um título principesco ou de nobreza, se fosse um von Thurn ou von Bismark eu também não o usaria. P.- Como é que conseguiu dar essa tal volta por cima depois de toda a gente a criticar por se ter separado? L.C.- Foi um grande escândalo. Ainda por cima logo a seguir tive um namorado hippie, o que foi outro escândalo. Tinha sido 14 anos um 'broker' em Wall Street, na bolsa de Nova Iorque, era uma pessoa com imenso poder, vinha a Portugal dar conferências sobre mercados financeiros para os nossos ministros. De repente, passou-se da cabeça e virou hippie. Foi talvez a pessoa mais fantástica que eu conheci em termos de cabeça porque me disse: 'Pára e olha à tua volta e vê além dessa alucinação de Sardenha, Ibiza, Itália ir fazer compras, ir vestir-se em Paris'. P.- Ia muito a Paris arranjar-se e vestir-se? L.C.- Aos 20 anos ia à Christian Dior para comprar roupas. Os modelos desfilavam e eu dizia: 'quero este, quero este, quero aquele' e não me preocupava sequer em perguntar o preço. Vestia Alta Costura. P.- Ainda tem essas peças de roupa? L.C.- Algumas roupas guardei porque eram tão bonitas. Muitas, muitas, muitas dei. Mas guardei as que tinham algum significado, como a comemoração de uma data de casamento ou de aniversário, guardei o que usei num meu aniversário no restaurante Tour D'Argent. As pessoas que conviveram comigo nessa época sabem que eu tive uma vida de princesa e que troquei tudo por um sonho, pela tal mudança que foi radical, que foi terrível, que foi horrível mas que fez de mim aquilo que eu sou hoje. Bem ou mal. P.- Foi tudo então por uma paixão por um hippie. L.C.- Não, não. Eu não me apaixonei quem se apaixonou foi ele. Ele deixou tudo, deixou de trabalhar, vivia alucinado. A fixação da vida dele era eu. Depois abriu um restaurante na Marina de Vilamoura, o Paulo China era o cozinheiro dele. Toda a gente sabia dessa paixão e eu achava graça e ria-me imenso. Não foi por isso que me divorciei. Ele esteve apaixonado por mim 12 anos e portanto eu tinha-me divorciado logo. Separei-me porque a paixão que tive pelo meu marido chegou ao fim. Tudo o que se tem materialmente é fantástico, mas não chega. Quis descobrir quem era eu, o meu interior e aí mudei completamente e radicalmente de vida. Fui para um movimento carismático de oração onde estive doze anos e comecei a preocupar-me muito mais com as coisas espirituais do que com as materiais. P.- Até aí vivia num mundo à parte? L.C.- Só aí é que percebi que as pessoas tinham tantos problemas, que a vida era tão complicada que eu estava completamente afastada da realidade. Vivia num 'fairy tale'. Nessa altura ainda por cima não se viam aquelas imagens terríveis na televisão. Eu não tinha a percepção do que é que se passava no mundo em termos de fome e de miséria. P.- Em relação ao dinheiro já explicou em entrevistas que vive de rendimentos que a sua mãe lhe deixou. L.C.- Não. A minha mãe morreu quando eu tinha 30 anos. Apesar de não ter que estar a dar explicações da maneira como vivo, faço isto porque não tenho nada a esconder. As pessoas questionam muito isso, mas não têm nada com isso. Posso ter um senhor que me sustenta e que ninguém sabe. Posso fazer seja o que for, que as pessoas não têm nada com isso. Mas como não gosto de deixar perguntas por responder e já respondi a esta pergunta várias vezes, digo-lhe. A minha mãe morreu quando eu tinha 30 anos. Quando me separei não tinha um tostão, tinha 500 escudos no banco, o meu marido levantou as minhas contas. Tive que ir trabalhar e fui. Tirei um curso de decoração, tirei um curso de ikebana. Trabalhei no mercado financeiro, ganhei imenso dinheiro, sustentei a minha filha, nada nos faltou, foi uma experiência muito dolorosa. Mais tarde investi outra vez na bolsa e em 1987 houve o crash. Perdi outra vez tudo. Trabalhei na imobiliária e quando a imobiliária começou a decair eu e os meus irmãos fizemos partilhas. P.- E agora? L.C.- Tenho um pequeno rendimento no banco e vivo dos juros desse rendimento que é muito pouco, que tem que ser muito bem gerido. Portanto não viajo tanto como gostaria de viajar, não vou a estas festas todas para que me convidam do mundo inteiro porque não posso ir. Não esquio tanto como gosto de esquiar, porque ir para a Serra Nevada não me dá gozo nenhum, já conheço as pistas de cor, os buracos e isso não faço. Hoje em dia os juros estão baixíssimos e é muito difícil viver dos juros. Talvez esteja na altura de começar a ganhar dinheiro e voltar a trabalhar outra vez. [Esta entrevista realizou-se antes de Lili Caneças fazer parte da equipa do Bar da TV] P.- Na sua opinião porque é que são as figuras da televisão a aparecer nas capas da imprensa cor-de-rosa? L.C. - Porque são essas que vendem mais. A alta sociedade protege-se, a alta sociedade praticamente não aparece em público. A única grande festa que houve recentemente foi a dos Pereira Coutinho que não quiseram lá fotógrafos, nem sequer a espanhola 'Hola'. P.- Ainda há grandes festas como antigamente? L.C. - A grande festa que houve foi essa. Porque os portugueses também têm um grande complexo em mostrar que têm dinheiro. As pessoas bem nascidas, de famílias tradicionais, acham que sim senhora vivem num país socialista, com um governo socialista, em que os impostos são altíssimos, em que o dinheiro é mal gerido, em que o dinheiro dos impostos não é para a melhoria da saúde pública, da terceira idade, mas isso você fala com o Paulo Portas e ele explicar-lhe-á. OUTROS TÍTULOS EM PÚBLICA

DO EDITOR

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Jet set à portuguesa

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A Cinderela ao contrário

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"Como me chateiam, agora só digo dinossáurio"

"A minha grande derrota é o museu"

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Também todos se riram de Galileu

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[35.] Bichos

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DINHEIRO PELO NATAL

DISCOTECA

O roubo e os seus riscos

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Segunda-feira, 4 de Junho de 2001 Ela é a Super-Tia criada no "Herman Enciclopédia". É a Lili Caraça no mundo dos bonecos do "Contra-Informação". É um fenómeno do jet set nacional e uma das mulheres mais fotografadas em Portugal. O cantor e seu amigo Raul Indipwo já disse dela que é "uma Cinderela ao contrário" porque "trocou um conto de fadas por uma vida normal". Pelos convites que lhe chegam à caixa do correio não se lhe acabaram os bailes. Vão lá parar muitos. Mostrou-nos o convite para o "Bal de l'Été" em Monte Carlo (patrocinado pelo principado do Mónaco a favor da Associação Mundial dos Amigos das Crianças); um outro para o "Bal de Paris" da King Hussein Fundation para benefício do rei; para o"Bal de la Riviera" em homenagem a Johan Strauss e para o "Ballo in Mascara"em Veneza. Marcou encontro no Hotel Palácio no Estoril. Pontual, a beber um café ao pé da piscina, sempre de óculos escuros, falou de si e do mundo onde vive. Isto foi ainda antes do "peeling" e do Bar da TV. Maria Alice Carvalho Monteiro nasceu na Guarda, na casa dos avós, e viveu com os pais em Peniche e na Parede. O pai seu pai foi adido militar na Índia e no Egipto. A sua mãe era pianista, fez o conservatório com 19 valores. Lili, como sempre lhe chamaram, estudou no liceu de Oeiras e entrou em Germânicas na Universidade Clássica. Não terminou o curso e entrou para a TAP aos 19 anos. Casou com Álvaro Caneças, um promotor imobiliário, e segundo diz tinha um casamento de conto de fadas. Um dia depois de ter assistido a um filme de James Bond passado na Jamaica manifestou ao marido o desejo de conhecer o lugar onde Sean Connery tinha uma casa. No dia seguinte tinha a viagem e a estadia marcada. PÚBLICA - Viveu na Quinta da Marinha até aos 37 anos - quando se divorciou - e desde aí vive num apartamento no Gandarinha, em Cascais. Foi uma grande mudança? Lili Caneças - Nunca tinha vivido num apartamento até então. Achei que era como se fosse a suite de um hotel: simpático, agradável, com segurança, com muito conforto. Na altura pensava que era um sítio onde eu ia ficar três, quatro meses até partir para outra etapa qualquer da minha vida. Afinal senti-me tão bem a viver sozinha - porque até aí vivia com o meu ex-marido e os meus dois filhos, o João e a Rita. P.- Mas só nos últimos anos é que tem passado mais tempo em Portugal: os seus filhos estudaram no estrangeiro. L.C.- O meu filho João é arquitecto e formou-se na Sci-Arc, o Southern California Institute of Architecture, do qual Frank Gehry foi fundador e é uma das melhores universidades do mundo. Fica em Los Angeles. A minha filha Rita estudou em Londres e fez também uma graduação em Los Angeles. A seguir fomos viver para Florença, onde ela estudou no Palazzo Pinelli, com Dona Baraldi - uma das melhores professoras do mundo de arte e restauro. Nessa altura o filho dela estava a fazer o restauro da capela Sistina em Florença, portanto vivemos lá. A Rita estudou pintura e também 'fashion marketing'. P.- A educação dos seus filhos é um dos seus motivos de orgulho. L.C.- Preocupei-me durante toda a minha vida com a educação dos meus filhos. Quando nos empenhamos muito em fazer uma coisa bem feita e temos os meios para o fazer... Nessa altura não tinha problemas económicos e relacionava-me com pessoas mais velhas. O meu marido era bastante mais velho do que eu. Eu tinha 20 anos e relacionava-me com pessoas de 35/40. Aprendi muito com elas. Aprendi, sobretudo com os meu amigos judeus do mundo inteiro, que a única herança que se pode deixar a um filho é a educação. E por isso investi tudo aquilo que eu sabia na educação dos meus filhos. Abri-lhes os olhos para a beleza da criação, para a arte, para a natureza, para os seus segredos, para os seus sinais. P.- Como assim? L.C.- Desde muito pequenos iam comigo às peças da Broadway em Nova Iorque. Íamos para Londres de propósito assistir a qualquer acontecimento cultural. Passávamos as férias na Sardenha - tinha a minha filha quatro anos e o meu filho sete - com um grupo de pessoas que não eram portugueses, porque tínhamos grandes amigos no mundo inteiro. O que eu podia deixar a um filho era educação, porque dinheiro um dia você tem, outro não tem, vem uma revolução, acontece qualquer coisa e se você não souber gerir o seu dinheiro, numa geração ou em duas gerações o dinheiro acaba-se. Os meus filhos hoje, mesmo que não tenham dinheiro nenhum, com os cursos que têm podem procurar emprego em qualquer lugar no mundo e dizer: 'quero ir para aqui e quero ganhar tanto', porque as universidades que frequentaram são prestigiadas. O meu filho, quando se graduou, disse-me: 'Mom we did it!' P.- Os seus filhos agora vivem onde? L.C.- Regressaram para Portugal e por isso é que eu também estou em Portugal desde há cinco anos. Ele agora vive com o pai na Quinta da Marinha. Na casa onde eu vivia, feita pelo meu irmão que é arquitecto, decorada por mim. Foi a primeira casa minimalista que houve há 30 anos em Portugal, com peças do Corbusier e dos grandes designers da Bauhaus - eu chegava a fazer excursões guiadas... Era uma casa muito Frank Lloyd Wright, as pessoas na Quinta da Marinha faziam as casas à antiga portuguesa, muito Raul Lino. Eu era muito de vanguarda e fiz uma casa de vanguarda, toda em vidro e betão. As pessoas chegavam lá e diziam: 'Que horror, mas a sua casa não tem mobília!' Nessa altura era qualquer coisa de muito inovador. P.- A sua família viajava muito? Não era habitual as pessoas desse meio social fazerem essa vida? L.C.- Nessa altura, antes do 25 de Abril, poucos portugueses faziam essa vida. Nós viajávamos o ano inteiro. Íamos para o Palace Hotel de Saint Moritz nas passagens de ano. Você não faz ideia do que era o desfile, deslumbrava os olhos, na realidade eram mulheres chiquíssimas, cheias de 'glamour', que desfilavam Alta Costura, com jóias magníficas em que as cores condiziam com os vestidos, em que os visons e as zibelinas condiziam com a roupa. Eu sentia-me uma menina pobre completamente vinda de outro mundo ao pé dessas pessoas que eu via cheias de pompa e circunstância, como por exemplo o xá da Pérsia e a sua mulher Farah Diba. Na minha lua-de-mel conheci a maior parte destas pessoas com quem me dei pela vida fora. P.- O seu pai era comandante da marinha de guerra e viveu na Índia e no Egipto e a sua mãe era pianista. Era uma família voltada para a criatividade? L.C. - A minha mãe vivia com os meus avós numa casa na Guarda e quando quis vir para o conservatório em Lisboa foi um escândalo! A família ficou completamente alucinada, porque achava que uma menina que era criada em casa, naturalmente como uma mademoiselle a tocar piano e a falar francês, não deveria vir nunca para Lisboa sozinha, estudar piano. Mas ela acabou o curso com 19 valores e o piano era a paixão da vida dela. Mas só voltou a tocar quando tinha cinquenta e tal anos, tocava no Estoril Sol onde eu fazia ballet, acompanhava as lições. P.- Conheceu o seu ex-marido, Álvaro Pereira Caneças, empresário da construção civil e imobiliária, já depois de ter abandonado a faculdade, quando estava na TAP. L.C.- Sim, ele é promotor imobiliário, vinha de uma família já bem na vida porque eram agricultores ricos nos arredores de Lisboa e a cidade cresceu para cima de terrenos que pertenciam à família. P.- Foi difícil entrar para a TAP? L.C. - Não pude ir para hospedeira de bordo porque tinha 19 anos e precisava da autorização dos meus pais. Eles achavam que uma menina não dormia fora de casa e não ia sabe-se lá para onde. Nessa altura a minha mãe só me deixou trabalhar em terra. Ser hospedeira de bordo já era como ser empregada doméstica ou uma governanta. Não viam com muito bons olhos. P.- Então conheceu o seu ex-marido... L.C.- Conheci o meu ex-marido num casamento, ao fim de três meses de namoro casámos. Ele foi muito querido, perguntou-me que carro é que eu queria para a nossa lua-de-mel e mandou vir um Jaguar Type E 4.2, vermelho, lindíssimo. Na altura só havia um no Porto. Era um carro diferente, aerodinâmico. Fizemos a nossa viagem de lua-de-mel até Saint Moritz, fomos pela Riviera e viemos por Paris. Em Córdoba gritavam: 'Mira, el coche del Cordobés', porque ele tinha um. P.- Nessa altura a Lili já recebia imenso? Dava festas? L.C. - Recebia imenso porque acho que as pessoas nasceram para ser felizes e para viver em sociedade. Foi uma fase da minha vida que poderá ter sido um bocadinho fútil ou materialista, mas de que gostei muito. Depois a pessoa evolui, começa a crescer em espiritualidade, a ter outros valores. Considero-me uma privilegiada porque fiz uma opção. Temos que aceitar uma mudança que nos é imposta pelo destino, pois não temos outro remédio. Agora uma que foi tomada por opção... Eu mudei radicalmente a minha vida porque não estava contente com aquilo que acontecia no meu dia a dia e porque queria mesmo modificar a minha vida e custou-me. Tinha 37 anos e nunca tinha feito uma cama, nem estrelado um ovo. P.- Foi começar de novo. L.C.- Foi um começar de novo mas foi horrível. Naturalmente foi por isso que não voltei a casar. A experiência do meu divórcio foi quase kafkiana, porque deixei de acreditar em tudo aquilo em que eu acreditava. E os meus amigos todos, esses que frequentavam as minhas festas que nós dávamos na Quinta da Marinha a toda a hora, esses que viviam em minha casa convidados, vindos do mundo inteiro, todos me viraram as costas. A minha família também não me apoiou, portanto eu fiquei completamente sozinha, com uma filha para educar. Divorciámo-nos por mútuo acordo, eu prescindi de tudo, de pensão de alimentos, de recheio de casa, só me preocupei com o poder paternal e ela veio viver comigo para a Gandarinha e o meu filho ficou com o pai. Fiquei sem um tostão e foi muito difícil. Foi uma época muito difícil da minha vida e não sei se hoje teria a coragem de tornar a fazê-lo. P.- Nessa época, depois do 25 de Abril, já aparecia nas revistas? L.C.- Cá em Portugal houve festas fantásticas como a da Maria Amélia de Melo ou como os 25 anos de casado do Joaquim Silveira. Esta foi talvez a festa mais bonita em que estive no nosso país, já tinha visto festas assim no Brasil, mas em Portugal não. E nessa festa não havia um fotógrafo e isso já foi depois do 25 de Abril e não havia nessa festa revistas 'del corazón'. Nessa época já existia a 'Nova Gente' e as crónicas da Vera Lagoa, mas ela era muito selectiva. Ela fez algumas matérias sobre mim, foi de facto a primeira pessoa a escrever sobre mim. Eu gostava muito dela e ela achava-me uma certa graça. Depois apareceu o Abel Dias e o Carlos Castro, meus queridos amigos, mantemos uma amizade de 25 anos, contra tudo e contra todos. P.- Mas então como é que tudo começou? L.C.- Começaram a tirar-me fotografias porque eu era bonita, simpática, extrovertida, tinha andado pelo mundo inteiro. P.- Já era Lili nessa altura? L.C.- Na minha família as mulheres são quase todas Maria Alice, ou Maria Madalena ou Maria Amélia e a mim calhou ser Maria Alice. Mas os meus pais chamaram-me sempre Lili. Até os meus professores. Quando me separei pedi que começassem a pôr Lili de Carvalho Monteiro, mas não pegou. Na realidade, depois de 17 anos de casada toda a gente me chamava Lili Caneças. Como não me voltei a casar e os meus filhos são Caneças, achei um bocadinho paradoxal os meus filhos não terem o meu nome. Obviamente que se me tivesse voltado a casar não teria o mau gosto de continuar a usar com o nome do meu ex-marido. E se o nome do meu ex-marido fosse um título principesco ou de nobreza, se fosse um von Thurn ou von Bismark eu também não o usaria. P.- Como é que conseguiu dar essa tal volta por cima depois de toda a gente a criticar por se ter separado? L.C.- Foi um grande escândalo. Ainda por cima logo a seguir tive um namorado hippie, o que foi outro escândalo. Tinha sido 14 anos um 'broker' em Wall Street, na bolsa de Nova Iorque, era uma pessoa com imenso poder, vinha a Portugal dar conferências sobre mercados financeiros para os nossos ministros. De repente, passou-se da cabeça e virou hippie. Foi talvez a pessoa mais fantástica que eu conheci em termos de cabeça porque me disse: 'Pára e olha à tua volta e vê além dessa alucinação de Sardenha, Ibiza, Itália ir fazer compras, ir vestir-se em Paris'. P.- Ia muito a Paris arranjar-se e vestir-se? L.C.- Aos 20 anos ia à Christian Dior para comprar roupas. Os modelos desfilavam e eu dizia: 'quero este, quero este, quero aquele' e não me preocupava sequer em perguntar o preço. Vestia Alta Costura. P.- Ainda tem essas peças de roupa? L.C.- Algumas roupas guardei porque eram tão bonitas. Muitas, muitas, muitas dei. Mas guardei as que tinham algum significado, como a comemoração de uma data de casamento ou de aniversário, guardei o que usei num meu aniversário no restaurante Tour D'Argent. As pessoas que conviveram comigo nessa época sabem que eu tive uma vida de princesa e que troquei tudo por um sonho, pela tal mudança que foi radical, que foi terrível, que foi horrível mas que fez de mim aquilo que eu sou hoje. Bem ou mal. P.- Foi tudo então por uma paixão por um hippie. L.C.- Não, não. Eu não me apaixonei quem se apaixonou foi ele. Ele deixou tudo, deixou de trabalhar, vivia alucinado. A fixação da vida dele era eu. Depois abriu um restaurante na Marina de Vilamoura, o Paulo China era o cozinheiro dele. Toda a gente sabia dessa paixão e eu achava graça e ria-me imenso. Não foi por isso que me divorciei. Ele esteve apaixonado por mim 12 anos e portanto eu tinha-me divorciado logo. Separei-me porque a paixão que tive pelo meu marido chegou ao fim. Tudo o que se tem materialmente é fantástico, mas não chega. Quis descobrir quem era eu, o meu interior e aí mudei completamente e radicalmente de vida. Fui para um movimento carismático de oração onde estive doze anos e comecei a preocupar-me muito mais com as coisas espirituais do que com as materiais. P.- Até aí vivia num mundo à parte? L.C.- Só aí é que percebi que as pessoas tinham tantos problemas, que a vida era tão complicada que eu estava completamente afastada da realidade. Vivia num 'fairy tale'. Nessa altura ainda por cima não se viam aquelas imagens terríveis na televisão. Eu não tinha a percepção do que é que se passava no mundo em termos de fome e de miséria. P.- Em relação ao dinheiro já explicou em entrevistas que vive de rendimentos que a sua mãe lhe deixou. L.C.- Não. A minha mãe morreu quando eu tinha 30 anos. Apesar de não ter que estar a dar explicações da maneira como vivo, faço isto porque não tenho nada a esconder. As pessoas questionam muito isso, mas não têm nada com isso. Posso ter um senhor que me sustenta e que ninguém sabe. Posso fazer seja o que for, que as pessoas não têm nada com isso. Mas como não gosto de deixar perguntas por responder e já respondi a esta pergunta várias vezes, digo-lhe. A minha mãe morreu quando eu tinha 30 anos. Quando me separei não tinha um tostão, tinha 500 escudos no banco, o meu marido levantou as minhas contas. Tive que ir trabalhar e fui. Tirei um curso de decoração, tirei um curso de ikebana. Trabalhei no mercado financeiro, ganhei imenso dinheiro, sustentei a minha filha, nada nos faltou, foi uma experiência muito dolorosa. Mais tarde investi outra vez na bolsa e em 1987 houve o crash. Perdi outra vez tudo. Trabalhei na imobiliária e quando a imobiliária começou a decair eu e os meus irmãos fizemos partilhas. P.- E agora? L.C.- Tenho um pequeno rendimento no banco e vivo dos juros desse rendimento que é muito pouco, que tem que ser muito bem gerido. Portanto não viajo tanto como gostaria de viajar, não vou a estas festas todas para que me convidam do mundo inteiro porque não posso ir. Não esquio tanto como gosto de esquiar, porque ir para a Serra Nevada não me dá gozo nenhum, já conheço as pistas de cor, os buracos e isso não faço. Hoje em dia os juros estão baixíssimos e é muito difícil viver dos juros. Talvez esteja na altura de começar a ganhar dinheiro e voltar a trabalhar outra vez. [Esta entrevista realizou-se antes de Lili Caneças fazer parte da equipa do Bar da TV] P.- Na sua opinião porque é que são as figuras da televisão a aparecer nas capas da imprensa cor-de-rosa? L.C. - Porque são essas que vendem mais. A alta sociedade protege-se, a alta sociedade praticamente não aparece em público. A única grande festa que houve recentemente foi a dos Pereira Coutinho que não quiseram lá fotógrafos, nem sequer a espanhola 'Hola'. P.- Ainda há grandes festas como antigamente? L.C. - A grande festa que houve foi essa. Porque os portugueses também têm um grande complexo em mostrar que têm dinheiro. As pessoas bem nascidas, de famílias tradicionais, acham que sim senhora vivem num país socialista, com um governo socialista, em que os impostos são altíssimos, em que o dinheiro é mal gerido, em que o dinheiro dos impostos não é para a melhoria da saúde pública, da terceira idade, mas isso você fala com o Paulo Portas e ele explicar-lhe-á. OUTROS TÍTULOS EM PÚBLICA

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