Zita Seabra: nos países nórdicos é ao contrário

17-04-2001
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Zita Seabra: nos Países Nórdicos É ao Contrário

Quinta-feira, 29 de Março de 2001

Integrou a comissão política do comité central do PCP entre 1983 e 1988. Em 1988, foi afastada e alvo de um processo interno, acabando por ser expulsa do partido em 1990. Foi a responsável máxima pela União de Estudantes Comunistas desde a sua fundação em 1972 a 1979, quando a UEC se dissolveu na JCP. É vereadora eleita como cabeça de lista do PSD à Câmara de Vila Franca de Xira em 1997.

Senti dificuldade, é óbvio. É mais difícil para uma mulher do que para um homem. Não é por acaso que a política é um reduto dominantemente masculino. O tipo de actividade que se tem na política, sem horários, com uma disponibilidade enorme de tempo, choca com a família e com assistência que tem que se dar aos filhos - eu tive três filhos. Conciliar a vida profissional com a maternidade é complicado, conciliar a vida política é muito mais complicado.

A seguir ao 25 de Abril ainda havia muitos preconceitos na sociedade. Eu lembro-me de ter ido fazer um comício a uma fábrica de laranjadas chamada BB, em 1974, e quando cheguei perguntaram-me: "Então, o partido não tinha mais ninguém para mandar?"

Hoje, felizmente, esse preconceito já não existe assim. As dificuldades são de outra ordem e dependem dos partidos. Os aparelhos partidários são dominados pelos homens e, apesar da apetência pelo poder ser igual, os homens têm mais facilidade. Creio que hoje não é uma questão de preconceito, o que existe é que são os homens que dominam os partidos, são eles que fazem as listas e são eles que entram nos lugares.

O sistema de quotas tem tido resultados em alguns países. Gostaria que fosse por pressão social que os partidos tivessem vergonha de não pôr as mulheres nas listas e que se sentissem na obrigação de respeitar a paridade. Infelizmente, não é assim e as quotas são provavelmente a única solução.

Nos países nórdicos, onde as quotas foram fundamentais para as mulheres entrarem na políticas e para a existência da paridade, agora, uns anos depois, dá-se um fenómeno curioso: são os homens a abandonarem a política em troca dos conselhos de administração das empresas privadas, onde há poder e bons salários e a deixar a política para as mulheres. Há dificuldades, por exemplo, em arranjar um candidato homem a presidente de câmara. Mas, em Portugal, ainda têm de passar alguns anos para os nossos problemas serem esses.

Zita Seabra: nos Países Nórdicos É ao Contrário

Quinta-feira, 29 de Março de 2001

Integrou a comissão política do comité central do PCP entre 1983 e 1988. Em 1988, foi afastada e alvo de um processo interno, acabando por ser expulsa do partido em 1990. Foi a responsável máxima pela União de Estudantes Comunistas desde a sua fundação em 1972 a 1979, quando a UEC se dissolveu na JCP. É vereadora eleita como cabeça de lista do PSD à Câmara de Vila Franca de Xira em 1997.

Senti dificuldade, é óbvio. É mais difícil para uma mulher do que para um homem. Não é por acaso que a política é um reduto dominantemente masculino. O tipo de actividade que se tem na política, sem horários, com uma disponibilidade enorme de tempo, choca com a família e com assistência que tem que se dar aos filhos - eu tive três filhos. Conciliar a vida profissional com a maternidade é complicado, conciliar a vida política é muito mais complicado.

A seguir ao 25 de Abril ainda havia muitos preconceitos na sociedade. Eu lembro-me de ter ido fazer um comício a uma fábrica de laranjadas chamada BB, em 1974, e quando cheguei perguntaram-me: "Então, o partido não tinha mais ninguém para mandar?"

Hoje, felizmente, esse preconceito já não existe assim. As dificuldades são de outra ordem e dependem dos partidos. Os aparelhos partidários são dominados pelos homens e, apesar da apetência pelo poder ser igual, os homens têm mais facilidade. Creio que hoje não é uma questão de preconceito, o que existe é que são os homens que dominam os partidos, são eles que fazem as listas e são eles que entram nos lugares.

O sistema de quotas tem tido resultados em alguns países. Gostaria que fosse por pressão social que os partidos tivessem vergonha de não pôr as mulheres nas listas e que se sentissem na obrigação de respeitar a paridade. Infelizmente, não é assim e as quotas são provavelmente a única solução.

Nos países nórdicos, onde as quotas foram fundamentais para as mulheres entrarem na políticas e para a existência da paridade, agora, uns anos depois, dá-se um fenómeno curioso: são os homens a abandonarem a política em troca dos conselhos de administração das empresas privadas, onde há poder e bons salários e a deixar a política para as mulheres. Há dificuldades, por exemplo, em arranjar um candidato homem a presidente de câmara. Mas, em Portugal, ainda têm de passar alguns anos para os nossos problemas serem esses.

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