Isabel Mota: partidos políticos estão cegos

17-04-2001
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Isabel Mota: Partidos Políticos Estão Cegos

Quinta-feira, 29 de Março de 2001

Administradora da Fundação Gulbenkian e antiga secretária de Estado do Planeamento e Desenvolvimento Regional dos governos do PSD.

Não concordo com a introdução de quotas por lei. Penso que, nos dias de hoje, é sobretudo através da educação e da cultura que se promove e atinge, na prática, a igualdade de acesso e de oportunidades entre homens e mulheres. A participação feminina é cada vez mais intensa e destacada na sociedade, nas empresas e no mundo do trabalho e é inevitável que, na política, se assista também a uma nova partilha de responsabilidades entre homens e mulheres, sob pena de um afastamento crescente e perigoso entre os políticos e os cidadãos.

Aceitar a imposição das quotas é admitir que as mulheres não conseguirão conquistar tal papel na política, por mérito e direito próprios, o que, na prática, significa reconhecer que os partidos políticos estão cada vez mais cegos à realidade que os rodeia.

Além disso, a imposição de quotas não é, necessariamente, só por si, garantia de melhoria da qualidade da política, objectivo que, a meu ver, deve sempre prevalecer.

A igualdade de oportunidades entre homens e mulheres será, sobretudo, resultado da mudança de mentalidades das novas gerações. E é interessante notar a forma claramente mais ousada, despreocupada e confiante como a maior parte das jovens de hoje encaram a questão. Será que no séc. XXI não se discutirão "quotas" para homens?

Dito isto, acho lamentável que as actuais lideranças partidárias não consigam, por si só e voluntariamente, mudar a forma de fazer política e prosseguir objectivos de renovação dos quadros partidários e do seu preenchimento por mulheres que tenham apetência pela política.

Não vejo a questão tanto como uma "guerra de sexos", mas muito mais como uma luta, mais global, pela conservação do poder por parte de quem já o detém, em detrimento de novas oportunidades para outros "concorrentes", sejam homens ou mulheres. A não renovação do pessoal político é, porventura, um dos principais bloqueios a uma nova forma de fazer política de que o país tanto se ressente.

Por outro lado, há que reconhecer que a sociedade - homens e mulheres - tem expectativas relativamente ao papel da mulher, designadamente na família, que, duma forma por vezes difusa, acaba por ser ainda a grande causa limitativa para a gestão de uma carreira profissional ou política de uma mulher.

Não me senti prejudicada por ser mulher. O que senti foi uma dificuldade acrescida em tentar conciliar a minha vida "profissional" com a familiar, dada a intensidade de trabalho, a responsabilidade e entrega que, durante oito anos, o desempenho do cargo me exigiu. E se o consegui, à minha família o devo, que sempre me compreendeu e estimulou e me deu todo o seu apoio.

Isabel Mota: Partidos Políticos Estão Cegos

Quinta-feira, 29 de Março de 2001

Administradora da Fundação Gulbenkian e antiga secretária de Estado do Planeamento e Desenvolvimento Regional dos governos do PSD.

Não concordo com a introdução de quotas por lei. Penso que, nos dias de hoje, é sobretudo através da educação e da cultura que se promove e atinge, na prática, a igualdade de acesso e de oportunidades entre homens e mulheres. A participação feminina é cada vez mais intensa e destacada na sociedade, nas empresas e no mundo do trabalho e é inevitável que, na política, se assista também a uma nova partilha de responsabilidades entre homens e mulheres, sob pena de um afastamento crescente e perigoso entre os políticos e os cidadãos.

Aceitar a imposição das quotas é admitir que as mulheres não conseguirão conquistar tal papel na política, por mérito e direito próprios, o que, na prática, significa reconhecer que os partidos políticos estão cada vez mais cegos à realidade que os rodeia.

Além disso, a imposição de quotas não é, necessariamente, só por si, garantia de melhoria da qualidade da política, objectivo que, a meu ver, deve sempre prevalecer.

A igualdade de oportunidades entre homens e mulheres será, sobretudo, resultado da mudança de mentalidades das novas gerações. E é interessante notar a forma claramente mais ousada, despreocupada e confiante como a maior parte das jovens de hoje encaram a questão. Será que no séc. XXI não se discutirão "quotas" para homens?

Dito isto, acho lamentável que as actuais lideranças partidárias não consigam, por si só e voluntariamente, mudar a forma de fazer política e prosseguir objectivos de renovação dos quadros partidários e do seu preenchimento por mulheres que tenham apetência pela política.

Não vejo a questão tanto como uma "guerra de sexos", mas muito mais como uma luta, mais global, pela conservação do poder por parte de quem já o detém, em detrimento de novas oportunidades para outros "concorrentes", sejam homens ou mulheres. A não renovação do pessoal político é, porventura, um dos principais bloqueios a uma nova forma de fazer política de que o país tanto se ressente.

Por outro lado, há que reconhecer que a sociedade - homens e mulheres - tem expectativas relativamente ao papel da mulher, designadamente na família, que, duma forma por vezes difusa, acaba por ser ainda a grande causa limitativa para a gestão de uma carreira profissional ou política de uma mulher.

Não me senti prejudicada por ser mulher. O que senti foi uma dificuldade acrescida em tentar conciliar a minha vida "profissional" com a familiar, dada a intensidade de trabalho, a responsabilidade e entrega que, durante oito anos, o desempenho do cargo me exigiu. E se o consegui, à minha família o devo, que sempre me compreendeu e estimulou e me deu todo o seu apoio.

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