"Remate lá o pensamento"

08-05-2001
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"Remate Lá o Pensamento"

Por EUNICE LOURENÇO E HELENA PEREIRA

Domingo, 6 de Maio de 2001

Carrilho, o mais vaiado e as críticas aos críticos conseguiram sempre arrancar os maiores aplausos ao congresso

O PS não gosta de Manuel Maria Carrilho. Mas gosta de Helena Roseta. Até aceita Henrique Neto. E sentiu a falta da voz de Manuel Alegre. Quem o mostrou foram os delegados ao congresso.

Assim que o presidente do congresso, Almeida Santos, anunciou que quem ia falar era o ex-ministro da Cultura, os assobios começaram a ouvir-se no pavilhão Atlântico. Mas Carrilho ainda teve alguns aplausos - foi quando se referiu ao secretário-geral. Logo a seguir teve uma grande vaia quando denunciou as intenções de crucificar os críticos em congresso. A vaia foi aumentando à medida que Carrilho não se calava e Almeida Santos tentava, com muita paciência, que ele terminasse o discurso. "Remate lá o pensamento", repetia o presidente do congresso, que não mostrou a mesma benevolência para mais nenhum delegado.

Antes, Mário de Almeida tinha tido um aplauso tão grande quanto a vaia de Carrilho ao desafiar os críticos a afastarem-se do partido: "Se efectivamente não se identificam com o nosso projecto auto-supendam a condição de militantes ou saiam pela mesma porta por onde vieram."

De facto, há delegados que desconfiam da identificação de Carrilho com o PS. "Carrilho é um senhor que não conheço. Não conheço a sua ideologia, a sua prática política, não sei se estou perante um militante do PS e defensor dos ideiais socialistas", disse ao PÚBLICO Paulo Estadão, militante de Lisboa, minutos antes do ex-ministro discursar.

Se Carrilho desperta a repulsa dos militantes, já Helena Roseta consegue ter um grande capital de simpatia e teve um dos discursos mais aplaudidos da tarde. Sentimentos visíveis também na forma como estes dois críticos se relacionaram com os outros congressistas. Manuel Maria Carrilho esteve toda a manhã sentado ao lado de Arons de Carvalho, mas não trocaram palavra. O ex-ministro passou o tempo a escrever o seu discurso da tarde, nunca aplaudiu o discurso de Guterres e só se levantou no fim, mas cruzando os braços. "[O discurso] não era propriamente muito entusiasmante. (...) Limitou-se a repetir militantes mais aparelhistas com melhor qualidade literária", justificou-se aos jornalistas.

Na última fila, estava Roseta, que nem sequer se levantou no final do discurso de Guterres. Aliás, já tinha feito o mesmo quando falou Almeida Santos, mas aí ainda mais descarada. É que então deixou-se ficar sentada num degrau da primeira fila, mesmo por detrás do orador. Mas ao contrário de Carrilho, Roseta não se terá sentido isolada. Tinha sempre companhia na sua banquinha de recolha de assinaturas para a moção sobre interrupção voluntária da gravidez; assim que subiu para o palco, Elisa Damião levantou-se da primeira fila para a ir cumprimentar efusivamente; andou de um lado para outro a falar com Vera Jardim, Mário de Almeida, Medeiros Ferreira. "É uma querida camarada", descrevia ao PÚBLICO um dos delegados ao congresso, considerando, no entanto, que as criticas de Roseta e Alegre são "inoportunas".

Dos críticos presentes, o que passou mais despercebido foi Henrique Neto, o primeiro dos críticos a intervir. Apesar de ter um discurso violento, estava pouca gente na sala quando discursou. Carrilho, contudo, ouviu-o atentamente e aplaudiu. Tal como vários outros delegados, de forma tímida e dispersa. Mais atentamente ainda terá ouvido José Junqueiro que, de imediato, saltou que nem um cão de fila no ataque directo e personalizado a Neto e Carrilho. No écrã gigante, aparecia a figura do ex-ministro da Cultura a sorrir.

Por toda a tarde, as criticas aos críticos conseguiram sempre arrancar os maiores aplausos ao congresso. Ausente, Manuel Alegre não deixou de ser recordado. Como perdedor, por Sócrates, que o acusou de virar as costas ao debate. Mas também com nostalgia de outros congressos, pelos militantes de base. "A voz que tanta falta faz", comentava um delegado no bar do pavilhão Atlântico.

"Remate Lá o Pensamento"

Por EUNICE LOURENÇO E HELENA PEREIRA

Domingo, 6 de Maio de 2001

Carrilho, o mais vaiado e as críticas aos críticos conseguiram sempre arrancar os maiores aplausos ao congresso

O PS não gosta de Manuel Maria Carrilho. Mas gosta de Helena Roseta. Até aceita Henrique Neto. E sentiu a falta da voz de Manuel Alegre. Quem o mostrou foram os delegados ao congresso.

Assim que o presidente do congresso, Almeida Santos, anunciou que quem ia falar era o ex-ministro da Cultura, os assobios começaram a ouvir-se no pavilhão Atlântico. Mas Carrilho ainda teve alguns aplausos - foi quando se referiu ao secretário-geral. Logo a seguir teve uma grande vaia quando denunciou as intenções de crucificar os críticos em congresso. A vaia foi aumentando à medida que Carrilho não se calava e Almeida Santos tentava, com muita paciência, que ele terminasse o discurso. "Remate lá o pensamento", repetia o presidente do congresso, que não mostrou a mesma benevolência para mais nenhum delegado.

Antes, Mário de Almeida tinha tido um aplauso tão grande quanto a vaia de Carrilho ao desafiar os críticos a afastarem-se do partido: "Se efectivamente não se identificam com o nosso projecto auto-supendam a condição de militantes ou saiam pela mesma porta por onde vieram."

De facto, há delegados que desconfiam da identificação de Carrilho com o PS. "Carrilho é um senhor que não conheço. Não conheço a sua ideologia, a sua prática política, não sei se estou perante um militante do PS e defensor dos ideiais socialistas", disse ao PÚBLICO Paulo Estadão, militante de Lisboa, minutos antes do ex-ministro discursar.

Se Carrilho desperta a repulsa dos militantes, já Helena Roseta consegue ter um grande capital de simpatia e teve um dos discursos mais aplaudidos da tarde. Sentimentos visíveis também na forma como estes dois críticos se relacionaram com os outros congressistas. Manuel Maria Carrilho esteve toda a manhã sentado ao lado de Arons de Carvalho, mas não trocaram palavra. O ex-ministro passou o tempo a escrever o seu discurso da tarde, nunca aplaudiu o discurso de Guterres e só se levantou no fim, mas cruzando os braços. "[O discurso] não era propriamente muito entusiasmante. (...) Limitou-se a repetir militantes mais aparelhistas com melhor qualidade literária", justificou-se aos jornalistas.

Na última fila, estava Roseta, que nem sequer se levantou no final do discurso de Guterres. Aliás, já tinha feito o mesmo quando falou Almeida Santos, mas aí ainda mais descarada. É que então deixou-se ficar sentada num degrau da primeira fila, mesmo por detrás do orador. Mas ao contrário de Carrilho, Roseta não se terá sentido isolada. Tinha sempre companhia na sua banquinha de recolha de assinaturas para a moção sobre interrupção voluntária da gravidez; assim que subiu para o palco, Elisa Damião levantou-se da primeira fila para a ir cumprimentar efusivamente; andou de um lado para outro a falar com Vera Jardim, Mário de Almeida, Medeiros Ferreira. "É uma querida camarada", descrevia ao PÚBLICO um dos delegados ao congresso, considerando, no entanto, que as criticas de Roseta e Alegre são "inoportunas".

Dos críticos presentes, o que passou mais despercebido foi Henrique Neto, o primeiro dos críticos a intervir. Apesar de ter um discurso violento, estava pouca gente na sala quando discursou. Carrilho, contudo, ouviu-o atentamente e aplaudiu. Tal como vários outros delegados, de forma tímida e dispersa. Mais atentamente ainda terá ouvido José Junqueiro que, de imediato, saltou que nem um cão de fila no ataque directo e personalizado a Neto e Carrilho. No écrã gigante, aparecia a figura do ex-ministro da Cultura a sorrir.

Por toda a tarde, as criticas aos críticos conseguiram sempre arrancar os maiores aplausos ao congresso. Ausente, Manuel Alegre não deixou de ser recordado. Como perdedor, por Sócrates, que o acusou de virar as costas ao debate. Mas também com nostalgia de outros congressos, pelos militantes de base. "A voz que tanta falta faz", comentava um delegado no bar do pavilhão Atlântico.

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