Alegre não vai ao conclave

06-05-2001
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Alegre Não Vai ao Conclave

Por ANA SÁ LOPES E SÃO JOSÉ ALMEIDA

Sexta-feira, 4 de Maio de 2001 Histórico socialista contra exclusões "por delito de opinião" Alegre falta por razões "políticas e afectivas". O poeta diz "não acreditar" que Guterres aceite o afastamento dos críticos da direcção. A FAUL apoia a exclusão. Manuel Alegre não vai mesmo estar presente no congresso do PS, que hoje à noite começa no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, e que trará como resultado a exclusão da direcção de figuras como Helena Roseta, Henrique Neto e Manuel Maria Carrilho. Em declarações ao PÚBLICO, Alegre explica a sua ausência por "razões políticas e afectivas". Politicamente, o Congresso "está feito: as condições que foram impostas à apresentação de moções limitam o debate e a livre expressão. Não ia lá fazer nada. Há muitas coisas com que não concordo e não me iria lá sentir bem", disse Alegre ao PÚBLICO, referindo a obrigação imposta pela direcção do partido a quem apresentasse moções de estratégia global de apresentar também um candidato a líder alternativo a António Guterres. Mas as razões afectivas também pesam no auto-afastamento deste histórico socialista, que vive neste momento uma relação amargurada com o partido: "Sou tratado com estima, carinho e simpatia por muitas pessoas independentemente das suas posições políticas. De onde sinto maior hostilidade é da parte de certos dirigentes mais fundamentalistas, o que me incomoda, entristece e me deixa perplexo. Toca-me afectivamente, não me sinto bem. Choca-me. Incomoda-me." O deputado está igualmente chocado com a ideia de serem "varridos" dos órgãos nacionais militantes como Henrique Neto, Helena Roseta, Manuel Maria Carrilho, que agora se transformaram em "personae non gratae" da direcção. "Não acredito que sejam excluídas pessoas por delito de opinião, pessoas que apresentam moções, publicam artigos ou escrevem livros. Não acredito que isso aconteça no PS, ao mesmo tempo em que são acarinhados dirigentes que, enquanto governantes, praticaram actos menos recomendáveis", disse Alegre ao PÚBLICO, evitando citar nomes, apesar de não ser difícil imaginar que se estaria a referir a Armando Vara, que se demitiu de ministro adjunto, depois de ter rebentado o escândalo da Fundação da Prevenção e Segurança, criada por Vara no tempo em que era secretário de Estado da Administração Interna. Uma fundação criada com dinheiros do Estado, com o objectivo de tratar das campanhas de prevenção rodoviária. Alegre vai ser indicado pela sua federação, a de Coimbra, para os órgãos nacionais. Mas não é claro que, face ao anunciado afastamento dos críticos, se disponha a aceitar ficar na direcção do partido. "Até domingo, tomarei a minha decisão. Não aceito ficar na direcção de um partido onde há exclusão por delito de opinião. Não acredito que isso aconteça. Não acredito que António Guterres faça isso." O vice-presidente da Assembleia da República afirma que "já nem no Partido Comunista se faz isso" e recorda que o deputado João Amaral "pôde exprimir livremente a sua opinião no Congresso do PCP sem um assobio e continua a falar em nome do partido sem ter sido objecto de nenhuma censura". Se se confirmar o afastamento dos críticos dos órgãos nacionais, Manuel Alegre diz que será "uma mancha no PS". Federação de Lisboa apoia exclusão A Federação do PS de Lisboa, liderada por Edite Estrela, apoia o afastamento dos críticos da direcção. Em declarações ao PÚBLICO, a presidente da Câmara de Sintra, confirma que as concelhias lhe transmitiram que não iriam indicar membros do Governo para as listas e que também deixariam de fora nomes como Helena Roseta e Manuel Maria Carrilho, manifestando "consensualmente" a opinião de que estes nomes deveriam ser afastados da direcção nacional. Edite Estrela concordou com as suas bases. Esta posição de exclusão dos críticos é reafirmada ao PÚBLICO por Miguel Coelho, deputado e presidente da concelhia de Lisboa do PS. Miguel Coelho frisou, porém, que, quer Helena Roseta, quer Manuel Maria Carrilho, nunca entraram para a Comissão Nacional do PS através de indicação de órgãos de poder concelhio ou mesmo distrital. Miguel Coelho não hesita mesmo em afirmar: "Em coerência, Helena Roseta não deveria desejar ficar na direcção nacional, uma vez que diz que o Congresso pode estar viciado e que tem tido uma intervenção cujo conteúdo é de crítica permanente, pressupondo as suas declarações um direito de alternância." Ou seja Miguel Coelho assume directamente a exclusão por motivos de divergência ideológica e política, mas também pelo facto de a deputada ter questionado a eleição de Guterres por 96 por cento dos votantes - o que corresponde de acordo com dados do PS a 51.603 votos a favor num universo de 53.645 votantes. E conclui: "Eu no lugar dela não queria. Além disso penso que as listas não são feitas na base do conceito de União Nacional Eu também abro a boca para criticar, eu também discordo, mas também abro a boca para apoiar. Agora há pessoas que não têm intervenções no sentido da concordância." Não fugindo a criticar Helena Roseta, Miguel Coelho afirma, contudo, não querer sobrevalorizar este assunto e faz questão de advertir que há questões, que na sua opinião, são mais importantes. A saber: o facto de ter diminuído drasticamente o número de nomes de futuros membros da comissão nacional que são indicados pelas federações e pelas concelhias. Uma redução que foi determinada por ter sido aumentada a quota de nomes a apresentar pelo secretário-geral do PS, António Guterres. O líder do PS-Lisboa mostrou-se assim "apreensivo e preocupado" e questiona o facto de, "em nome da renovação, se estar a dar uma machadada nas bases do partido", ao retirar da comissão nacional do PS nomes de militantes que asseguram o partido ao nível local e na gestão do dia-a-dia, quer quando o PS é poder, quer quando é oposição. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Alegre não vai ao conclave

O Congresso do PS a A a Z

Programa

EDITORIAL Parte do problema ou parte da solução?

Roseta admite alterar texto da moção sobre aborto

Um partido envelhecido

OPINIÃO Nunca é oportuno discutir temas que incomodam...

OPINIÃO Despenalização da IVG não pode sair enfraquecida

PS-Açores vai ao congresso mais para ensinar do que para exigir

Alegre Não Vai ao Conclave

Por ANA SÁ LOPES E SÃO JOSÉ ALMEIDA

Sexta-feira, 4 de Maio de 2001 Histórico socialista contra exclusões "por delito de opinião" Alegre falta por razões "políticas e afectivas". O poeta diz "não acreditar" que Guterres aceite o afastamento dos críticos da direcção. A FAUL apoia a exclusão. Manuel Alegre não vai mesmo estar presente no congresso do PS, que hoje à noite começa no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, e que trará como resultado a exclusão da direcção de figuras como Helena Roseta, Henrique Neto e Manuel Maria Carrilho. Em declarações ao PÚBLICO, Alegre explica a sua ausência por "razões políticas e afectivas". Politicamente, o Congresso "está feito: as condições que foram impostas à apresentação de moções limitam o debate e a livre expressão. Não ia lá fazer nada. Há muitas coisas com que não concordo e não me iria lá sentir bem", disse Alegre ao PÚBLICO, referindo a obrigação imposta pela direcção do partido a quem apresentasse moções de estratégia global de apresentar também um candidato a líder alternativo a António Guterres. Mas as razões afectivas também pesam no auto-afastamento deste histórico socialista, que vive neste momento uma relação amargurada com o partido: "Sou tratado com estima, carinho e simpatia por muitas pessoas independentemente das suas posições políticas. De onde sinto maior hostilidade é da parte de certos dirigentes mais fundamentalistas, o que me incomoda, entristece e me deixa perplexo. Toca-me afectivamente, não me sinto bem. Choca-me. Incomoda-me." O deputado está igualmente chocado com a ideia de serem "varridos" dos órgãos nacionais militantes como Henrique Neto, Helena Roseta, Manuel Maria Carrilho, que agora se transformaram em "personae non gratae" da direcção. "Não acredito que sejam excluídas pessoas por delito de opinião, pessoas que apresentam moções, publicam artigos ou escrevem livros. Não acredito que isso aconteça no PS, ao mesmo tempo em que são acarinhados dirigentes que, enquanto governantes, praticaram actos menos recomendáveis", disse Alegre ao PÚBLICO, evitando citar nomes, apesar de não ser difícil imaginar que se estaria a referir a Armando Vara, que se demitiu de ministro adjunto, depois de ter rebentado o escândalo da Fundação da Prevenção e Segurança, criada por Vara no tempo em que era secretário de Estado da Administração Interna. Uma fundação criada com dinheiros do Estado, com o objectivo de tratar das campanhas de prevenção rodoviária. Alegre vai ser indicado pela sua federação, a de Coimbra, para os órgãos nacionais. Mas não é claro que, face ao anunciado afastamento dos críticos, se disponha a aceitar ficar na direcção do partido. "Até domingo, tomarei a minha decisão. Não aceito ficar na direcção de um partido onde há exclusão por delito de opinião. Não acredito que isso aconteça. Não acredito que António Guterres faça isso." O vice-presidente da Assembleia da República afirma que "já nem no Partido Comunista se faz isso" e recorda que o deputado João Amaral "pôde exprimir livremente a sua opinião no Congresso do PCP sem um assobio e continua a falar em nome do partido sem ter sido objecto de nenhuma censura". Se se confirmar o afastamento dos críticos dos órgãos nacionais, Manuel Alegre diz que será "uma mancha no PS". Federação de Lisboa apoia exclusão A Federação do PS de Lisboa, liderada por Edite Estrela, apoia o afastamento dos críticos da direcção. Em declarações ao PÚBLICO, a presidente da Câmara de Sintra, confirma que as concelhias lhe transmitiram que não iriam indicar membros do Governo para as listas e que também deixariam de fora nomes como Helena Roseta e Manuel Maria Carrilho, manifestando "consensualmente" a opinião de que estes nomes deveriam ser afastados da direcção nacional. Edite Estrela concordou com as suas bases. Esta posição de exclusão dos críticos é reafirmada ao PÚBLICO por Miguel Coelho, deputado e presidente da concelhia de Lisboa do PS. Miguel Coelho frisou, porém, que, quer Helena Roseta, quer Manuel Maria Carrilho, nunca entraram para a Comissão Nacional do PS através de indicação de órgãos de poder concelhio ou mesmo distrital. Miguel Coelho não hesita mesmo em afirmar: "Em coerência, Helena Roseta não deveria desejar ficar na direcção nacional, uma vez que diz que o Congresso pode estar viciado e que tem tido uma intervenção cujo conteúdo é de crítica permanente, pressupondo as suas declarações um direito de alternância." Ou seja Miguel Coelho assume directamente a exclusão por motivos de divergência ideológica e política, mas também pelo facto de a deputada ter questionado a eleição de Guterres por 96 por cento dos votantes - o que corresponde de acordo com dados do PS a 51.603 votos a favor num universo de 53.645 votantes. E conclui: "Eu no lugar dela não queria. Além disso penso que as listas não são feitas na base do conceito de União Nacional Eu também abro a boca para criticar, eu também discordo, mas também abro a boca para apoiar. Agora há pessoas que não têm intervenções no sentido da concordância." Não fugindo a criticar Helena Roseta, Miguel Coelho afirma, contudo, não querer sobrevalorizar este assunto e faz questão de advertir que há questões, que na sua opinião, são mais importantes. A saber: o facto de ter diminuído drasticamente o número de nomes de futuros membros da comissão nacional que são indicados pelas federações e pelas concelhias. Uma redução que foi determinada por ter sido aumentada a quota de nomes a apresentar pelo secretário-geral do PS, António Guterres. O líder do PS-Lisboa mostrou-se assim "apreensivo e preocupado" e questiona o facto de, "em nome da renovação, se estar a dar uma machadada nas bases do partido", ao retirar da comissão nacional do PS nomes de militantes que asseguram o partido ao nível local e na gestão do dia-a-dia, quer quando o PS é poder, quer quando é oposição. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Alegre não vai ao conclave

O Congresso do PS a A a Z

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EDITORIAL Parte do problema ou parte da solução?

Roseta admite alterar texto da moção sobre aborto

Um partido envelhecido

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