Helena Roseta: política, espaço de escuta

29-03-2001
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Helena Roseta: Política, Espaço de Escuta

Quinta-feira, 29 de Março de 2001

Ex-dirigente do PSD. Cabeça de lista do PSD em Lisboa às primeiras autárquicas, presidente da Câmara de Cascais entre 1982 e 1985. Fundadora da Associação Nacional de Municípios Portugueses. Directora do "Jornal Novo". Deputada desde a Constituinte. Desde 1995 é deputada pelo PS e membro da comissão política.

O conceito de paridade é um conceito que se tem procurado contrapor ao de igualdade. Há mesmo quem os considere incompatíveis. Penso o contrário - são complementares. O que se pretende é garantir na prática a participação efectiva das mulheres na decisão política. Basta-lhes ser competentes? Seria interessante, se fosse verdadeiro, mas não é. Acham que os homens que lá estão são todos competentes? O que se passa é que são os partidos políticos que fazem as listas de candidatos. E não é o mérito que determina a escolha, mas sim a notoriedade, a fidelidade partidária e o poder que se tem no aparelho. O universo dos cargos electivos é um universo fechado. Para entrar alguém de novo, alguém tem de sair. Não havendo limitação temporal de mandatos, como "refrescar" as listas com mulheres, se elas à partida têm menos poder e menos voz nos partidos? Quem é que as vai buscar? De resto, quantas mulheres aparecem nas sondagens de popularidade e notoriedade política divulgadas regularmente? E quantas mulheres competentes e capazes estão realmente interessadas em fazer política, quando esta actividade anda tão mal cotada?

Por outro lado, é preciso não esquecer que o tempo continua a ser o mais mal distribuído dos recursos entre homens e mulheres. Inquérito recente do INE revela que as mulheres em Portugal têm, em média, menos uma hora por dia de tempo livre que os homens. Em que altura do dia ou da noite se hão-de elas dedicar à política?

É por tudo isso que considero legítimo, racional, salutar e necessário que se introduzam medidas positivas a favor das mulheres. E que se defenda a paridade como um objectivo social igualitário para o nosso tempo.

A política não tem de ser o reino da dureza, da agressividade, da violência verbal. Pode ser também o espaço da compaixão, da partilha e da escuta. Essa é a minha língua materna. Por isso o pior de tudo, para uma mulher que intervém na política, é ouvir dizer, como se fosse um elogio, que "até parece um homem". Não percebem quanto nos magoam?

Helena Roseta: Política, Espaço de Escuta

Quinta-feira, 29 de Março de 2001

Ex-dirigente do PSD. Cabeça de lista do PSD em Lisboa às primeiras autárquicas, presidente da Câmara de Cascais entre 1982 e 1985. Fundadora da Associação Nacional de Municípios Portugueses. Directora do "Jornal Novo". Deputada desde a Constituinte. Desde 1995 é deputada pelo PS e membro da comissão política.

O conceito de paridade é um conceito que se tem procurado contrapor ao de igualdade. Há mesmo quem os considere incompatíveis. Penso o contrário - são complementares. O que se pretende é garantir na prática a participação efectiva das mulheres na decisão política. Basta-lhes ser competentes? Seria interessante, se fosse verdadeiro, mas não é. Acham que os homens que lá estão são todos competentes? O que se passa é que são os partidos políticos que fazem as listas de candidatos. E não é o mérito que determina a escolha, mas sim a notoriedade, a fidelidade partidária e o poder que se tem no aparelho. O universo dos cargos electivos é um universo fechado. Para entrar alguém de novo, alguém tem de sair. Não havendo limitação temporal de mandatos, como "refrescar" as listas com mulheres, se elas à partida têm menos poder e menos voz nos partidos? Quem é que as vai buscar? De resto, quantas mulheres aparecem nas sondagens de popularidade e notoriedade política divulgadas regularmente? E quantas mulheres competentes e capazes estão realmente interessadas em fazer política, quando esta actividade anda tão mal cotada?

Por outro lado, é preciso não esquecer que o tempo continua a ser o mais mal distribuído dos recursos entre homens e mulheres. Inquérito recente do INE revela que as mulheres em Portugal têm, em média, menos uma hora por dia de tempo livre que os homens. Em que altura do dia ou da noite se hão-de elas dedicar à política?

É por tudo isso que considero legítimo, racional, salutar e necessário que se introduzam medidas positivas a favor das mulheres. E que se defenda a paridade como um objectivo social igualitário para o nosso tempo.

A política não tem de ser o reino da dureza, da agressividade, da violência verbal. Pode ser também o espaço da compaixão, da partilha e da escuta. Essa é a minha língua materna. Por isso o pior de tudo, para uma mulher que intervém na política, é ouvir dizer, como se fosse um elogio, que "até parece um homem". Não percebem quanto nos magoam?

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