21/4/2001
OPINIÃO
No centenário de um saudoso amigo Mário Soares
«As condições políticas eram difíceis, a polícia política vigiava-nos de perto, algumas vezes fomos presos e processados, mas a coragem do grupo e a fraternidade que entre todos se estabeleceu era muito estimulante. Foi um convívio político de mais de três anos, para mim desvanecedor e inesquecível, de que, um dia, talvez tenha a oportunidade de falar, com mais vagar. Constituiu a minha primeira escola cívica. Os valores que então aprendi de Bento de Jesus Caraça ainda hoje me guiam.» PASSOU na quarta-feira, 18 deste mês de Abril, o centenário do nascimento de Bento de Jesus Caraça. A data foi assinalada, com grande dignidade, numa sessão solene organizada pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) - o antigo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, ao Quelhas, de que Caraça foi aluno, professor ilustre e depois demitido compulsivamente (em 1946) pelo arbítrio de Salazar. A sessão comemorativa, presidida pelo senhor Presidente da República, teve como oradores principais os professores José Barata Moura e José Tengarrinha. Além desta cerimónia, significativa e marcante, (a que infelizmente não pude assistir) estão previstas para o próximos meses vários actos comemorativos, em diferentes lugares do país: conferências, colóquios, exposições e ainda a publicação de uma importante biografia de Bento de Jesus Caraça de autoria da conhecida jornalista e conceituada professora drª. Helena Neves. O jornal «Público» também dedicou três páginas à efeméride, intituladas «O homem das benditas ilusões», inserindo excelentes artigos de António Melo, Raquel Marques e Helena Neves e duas interessantes entrevistas: do prof. João Caraça (filho do homenageado) e do professor Emídio Guerreiro. O título «benditas ilusões» foi sugerido, seguramente, pelo texto de António Melo em que se citam umas frases muito significativas de Bento Caraça. Permito-me reproduzi-las: «As ilusões nunca são perdidas. Elas significam o que há de melhor na vida dos homens e dos povos. Perdidos são os cépticos que escondem sob uma ironia fácil a sua impotência para compreender e agir». E ainda: «derrotas só existem aqueles que se aceitam». O que equivale ao «slogan» que tanto repetimos a seguir às eleições-farsa de 1969, quando a chamada «primavera caetanista» começou a cerrar-se num rigoroso inverno de perseguições: «só é vencido quem desiste de lutar!». A Fundação Mário Soares quis associar-se, modestamente, a esta tão merecida como didáctica comemoração. É preciso não deixar esquecer, pela usura do tempo, nem a vida nem a obra das nossas grandes referências cívicas. Ora, para aqueles que lutaram contra a ditadura e assumiram responsabilidades após a liberdade trazida pela Revolução dos Cravos, a figura de Bento Caraça surge como uma referência incontornável. Resolveu, assim, a Fundação Mário Soares, no 100º aniversário do nascimento de Bento de Jesus Caraça, abrir ao público, na Fundação, em suporte digital, todo o espólio científico, cultural, político e pessoal do ilustre professor, nela depositado pelo seu único filho, o prof. João Caraça. A par disso, em Novembro próximo, tenciona a Fundação Mário Soares realizar uma série de conferências sobre a vida, a obra e a personalidade de Bento Caraça, editar um CD-ROM e colocar na Internet diversos materiais relativos à sua acção, bem como realizar uma exposição fotográfica e iconográfica, incluindo a reprodução de interessantes fotografias da sua autoria. Far-se-á deste modo algo de comparável às iniciativas que acabaram de ter lugar em homenagem a Manuel Mendes, grande amigo e compadre de Bento Caraça. A passagem deste aniversário fez-me recordar os anos (já tão distantes, infelizmente) em que conheci e depois convivi, quase diariamente, com Bento de Jesus Caraça, até ao seu falecimento, em 25 de Junho de 1948. Não tinha ainda 21 anos - a maioridade, nessa época - e estávamos a ponto de formar o que viria a ser um dos maiores movimentos de massas estudantis contra o Estado Novo. Estávamos no final da guerra, em Outubro de 1945, imediatamente a seguir à célebre reunião do Centro Republicano Almirante Reis, onde surgiu o depois chamado Movimento de Unidade Democrática (MUD). O ambiente era de festa e de esperança: todos estávamos convencidos de que Salazar cairia, arrastado pelos «ventos da democracia» que sopravam em todo o mundo, com o fim da guerra e a derrota do nazi-fascismo. Como poderia o ditador português subsistir? Eu tinha sido encarregado por um grupo reduzido de colegas de várias faculdades da Universidade de Lisboa de redigir o manifesto-proclamação que daria lugar ao MUD Juvenil, com as grandes reivindicações estudantis da época. Por sugestão de um colega de Economia, Nóvoa, aceitei ir à Rua Almeida e Sousa, onde ele morava, visitar o professor Caraça, para lhe dar a conhecer o referido manifesto. Nunca o tinha visto, senão de passagem, uma vez, na livraria Sá da Costa. Bento Jesus Caraça era então professor catedrático - e nesse tempo os professores tinham o hábito de marcar as suas distâncias em relação aos alunos. Imagine-se o efeito que essa visita me produziu! Caraça era um homem extraordinário, parecendo muito mais velho do que na realidade era, com uma cabeça linda, aureolada de branco, uns olhos doces e perscrutadores - que pareciam trespassar-nos, ver e compreender tudo - e uma inteligência e uma bondade transparentes. Acolheu-me com uma simplicidade e uma gentileza que me cativaram, inesquecíveis. Encorajou-me, limitando-se a sugerir-me brevíssimas correcções do texto que lhe submeti. Saí de lá como seu admirador incondicional e discípulo, para toda a vida... Depois, convivi quase diariamente com Bento Caraça. O MUD reorganizou a sua Comissão Central e eu fui convidado a pertencer, como representante da juventude, à nova Comissão, presidida pelo prof. Mário de Azevedo Gomes, outro cidadão exemplar, e na qual tinham assento Bento de Jesus Caraça, Hélder Ribeiro, Manuel Mendes, Maria Isabel Aboim Inglês, Mayer Garção, Tito de Morais, Lobo Vilela e Luciano Serão de Moura. As condições políticas eram difíceis, a polícia política vigiava-nos de perto, algumas vezes fomos presos e processados, mas a coragem do grupo e a fraternidade que entre todos se estabeleceu era muito estimulante. Foi um convívio político de mais de três anos, para mim desvanecedor e inesquecível, de que, um dia, talvez tenha a oportunidade de falar, com mais vagar. Constituiu a minha primeira escola cívica. Os valores que então aprendi ainda hoje me guiam. msoares@fmsoares.pt
COMENTÁRIOS AO ARTIGO
11 comentários 1 a 10
24 Abril 2001 às 14:58
BentodeJesusCaraça@outromundo.com ( socorro, salvem-me desse Soares... )
Mas desde quando é que um homem da minha formação moral poderia ser seu amigo???...
24 Abril 2001 às 3:13
BomBom
Discordo do comentário do JOTA (19,46).
O Bento não foi um comunista. Foi um HOMEM e isso é o mais importante. Pena é que não tenha havido muitos mais.Comunista ou não o "rotulo" fica convosco. Ieias ele sempre teve e soube defendê-las como poucos.
23 Abril 2001 às 19:46
JOTA
ATÉ NISTO SE VÊ A SUPERIORIDADE MORAL DOS COMUNISTAS !!
BENTO FOI UM DOS NOSSOS !!!
23 Abril 2001 às 19:13
Carlos Costa ( cacimbo@yahoo.com )
Caro Sr. Soares,
Há uma série de assuntos que tinha curiosídade de os vêr abordados por sí. Dois deles são o facto de em Alvor ter ractificado a inclusão de Cabinda em Angola (posição que agora não tem...). Outro é o facto de ainda se estar à espera de que coloque uma acção judicial ao Sr. Ministro Angolano Val Neto. No ano passado disseram, creio que o Sr. e o Sr. João Soares que iriam levar isso adiante. Faz amanhã um ano o vosso prazo limite.Será que quem cala consente?
23 Abril 2001 às 17:06
O seu paizinho é que tinha razão, ao dizer que o Senhor (o márito) serial a perdição do nosso País! Deus Nosso Senhor o tenha junto d'Ele, pois conhecia bem o filho que tinha. O Seu paizinho tinha os votos de padre quando pediu a suspenção dos mesmos para casar com a sua mãezinha. Esse era um Senhor com letra grande! Se o seu paizinho visse o que fez, os saltos que não estaria a dar agora no tumulo. Sabe porquê ? Por causa duma coisa que se chama honra!
23 Abril 2001 às 8:57
BomBom
Estou dividido. Não sei qual é merecedor de maiores elogios, se o artigo se o primeiro comentário ao dito.
Por essa divisão me fico.
Mas uma coisa é certa. Portugal pode-se orgulhar de homens de valor. Quer se partilhe ou não dos seus ideais politicos, Bento Jesus Caraça soube sempre ser um homem e um democrata. Pôr os interesses de um ideal - e porque não de uma sociedade - acima dos seus proprios. Por isso sofreu os horroros do Salazarismo e dos seus apaniguados. Mesmo daqueles que mais tarde se vieram a refugiar no seu próprio partido. Coisas da história.
Para todos que ao longo da vida souberam defender um ideal e por ele pacificamente lutar, as minhas homenagens e os votos de que muitos outros os sigam. Só assim poderemos ter a sociedade que desejamos.
Que os homens sejam honestos é o meu voto para todo o Portugal. Só assim poderemos honrar estas memórias.
22 Abril 2001 às 23:47
Informação complementar
No Avante desta semana vem um dossier dedicado a Bento de Jesus Caraça.
E na página do PCP (www.pcp.pt)o centenário deste insígne comunista também é dignamente retratado!
22 Abril 2001 às 21:29
Ora, ora
Os "valores" que hoje te guiam não têm nada a ver com os nobres valores de democrata, de comunista e de patriota que Bento de Jesus Caraça perfilhava.
.
As mesmas razões que te levam a esconder os valores que então dizias partilhar são as mesmas que fazem com que pretendas agora esconder os reais valores que depois abraçaste e que te fazem mover e á luz dos quais, por exemplo, pretendeste chegar a um acordo previligiado com o marcelismo.
.
Bento de Jesus Caraça é grande, muito grande. Não podemos deixar por isso que, numa técnica assaz conhecida, seja "recuperado" pelos actuais cínicos representantes do sistema que tão brilhantemente combateu.
22 Abril 2001 às 9:53
Manuel Alho ( manuel.alho@worldonline.ch )
Todos são poucos, para falar e homenagear, homems como foi Bento Caraça, Grande Democrata e Comunista, só que fico com dúvidas, se ele em vida, o Dr Mário Soares, falaria dele desta forma elegante, creio que não, visto tanta hipócrisia que se lhe conhece em relação a enaltecer uma personalidade Comunista, pelo menos em vida, por exemplo Álvaro Cunhal.
21 Abril 2001 às 22:28
Carlos Gomes ( carlosgomes@mail.telepac.pt )
«só é vencido quem desiste de lutar!» - eis uma frase lapidar que muito bem se pode aplicar em relação à questão do litígio fronteiriço de Olivença que no próximo dia 20 de Maio assinala 200 anos de ilegal ocupação espanhola. É um território português, caracteristicamente alentejano. O seu povo foi ao longo de dois séculos perseguido e humilhado na sua própria pátria. Alteraram-lhe os nomes acastelhanizando-os. Proibiram o uso da Língua portuguesa inclusivamente nas celebrações religiosas. Adulteraram o seu folclore. Prenderam e perseguiram os que defendiam a dua identidade portuguesa, tal como sucedeu com Ventura Lendesma Abrantes a quem devemos a criação da Feira do Livro, em Lisboa. Danificaram o nosso património até ao dia em que descobriram que o mesmo podería render receitas com o turismo e desse modo ajudar a sustentar a extremadura espanhola, uma região que segundo estudos da Unidão europeia encontra-se entre as cinco regiões mais pobres da comunidade europeia - o Alentejo não !
Eu gostaría de saber porque razão, sendo o sr. Dr. Mário Soares um paladino da liberdade dos povos, insurgindo-se frequentemente contra inúmeras injustiças, posições essas em relação às quais eu partilho inteiramente, não usou ainda da sua voz para defender os interesses de Portugal e do povo oliventino de origem portuguesa que estando sob condições de opressão ainda que dissimulada, não se pode pronunciar livremente, sob pena de se ver prejudicada na sua vida social e profissional. Porque será que não ergue a sua voz com a mesma tenacidade com que ergueu em relação a outras situações ? Será que o colonialismo só é mau se for português, porque se for de outros países e sobretudo em relação a um território português, então será uma coisa boa ?
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21/4/2001
OPINIÃO
No centenário de um saudoso amigo Mário Soares
«As condições políticas eram difíceis, a polícia política vigiava-nos de perto, algumas vezes fomos presos e processados, mas a coragem do grupo e a fraternidade que entre todos se estabeleceu era muito estimulante. Foi um convívio político de mais de três anos, para mim desvanecedor e inesquecível, de que, um dia, talvez tenha a oportunidade de falar, com mais vagar. Constituiu a minha primeira escola cívica. Os valores que então aprendi de Bento de Jesus Caraça ainda hoje me guiam.» PASSOU na quarta-feira, 18 deste mês de Abril, o centenário do nascimento de Bento de Jesus Caraça. A data foi assinalada, com grande dignidade, numa sessão solene organizada pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) - o antigo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, ao Quelhas, de que Caraça foi aluno, professor ilustre e depois demitido compulsivamente (em 1946) pelo arbítrio de Salazar. A sessão comemorativa, presidida pelo senhor Presidente da República, teve como oradores principais os professores José Barata Moura e José Tengarrinha. Além desta cerimónia, significativa e marcante, (a que infelizmente não pude assistir) estão previstas para o próximos meses vários actos comemorativos, em diferentes lugares do país: conferências, colóquios, exposições e ainda a publicação de uma importante biografia de Bento de Jesus Caraça de autoria da conhecida jornalista e conceituada professora drª. Helena Neves. O jornal «Público» também dedicou três páginas à efeméride, intituladas «O homem das benditas ilusões», inserindo excelentes artigos de António Melo, Raquel Marques e Helena Neves e duas interessantes entrevistas: do prof. João Caraça (filho do homenageado) e do professor Emídio Guerreiro. O título «benditas ilusões» foi sugerido, seguramente, pelo texto de António Melo em que se citam umas frases muito significativas de Bento Caraça. Permito-me reproduzi-las: «As ilusões nunca são perdidas. Elas significam o que há de melhor na vida dos homens e dos povos. Perdidos são os cépticos que escondem sob uma ironia fácil a sua impotência para compreender e agir». E ainda: «derrotas só existem aqueles que se aceitam». O que equivale ao «slogan» que tanto repetimos a seguir às eleições-farsa de 1969, quando a chamada «primavera caetanista» começou a cerrar-se num rigoroso inverno de perseguições: «só é vencido quem desiste de lutar!». A Fundação Mário Soares quis associar-se, modestamente, a esta tão merecida como didáctica comemoração. É preciso não deixar esquecer, pela usura do tempo, nem a vida nem a obra das nossas grandes referências cívicas. Ora, para aqueles que lutaram contra a ditadura e assumiram responsabilidades após a liberdade trazida pela Revolução dos Cravos, a figura de Bento Caraça surge como uma referência incontornável. Resolveu, assim, a Fundação Mário Soares, no 100º aniversário do nascimento de Bento de Jesus Caraça, abrir ao público, na Fundação, em suporte digital, todo o espólio científico, cultural, político e pessoal do ilustre professor, nela depositado pelo seu único filho, o prof. João Caraça. A par disso, em Novembro próximo, tenciona a Fundação Mário Soares realizar uma série de conferências sobre a vida, a obra e a personalidade de Bento Caraça, editar um CD-ROM e colocar na Internet diversos materiais relativos à sua acção, bem como realizar uma exposição fotográfica e iconográfica, incluindo a reprodução de interessantes fotografias da sua autoria. Far-se-á deste modo algo de comparável às iniciativas que acabaram de ter lugar em homenagem a Manuel Mendes, grande amigo e compadre de Bento Caraça. A passagem deste aniversário fez-me recordar os anos (já tão distantes, infelizmente) em que conheci e depois convivi, quase diariamente, com Bento de Jesus Caraça, até ao seu falecimento, em 25 de Junho de 1948. Não tinha ainda 21 anos - a maioridade, nessa época - e estávamos a ponto de formar o que viria a ser um dos maiores movimentos de massas estudantis contra o Estado Novo. Estávamos no final da guerra, em Outubro de 1945, imediatamente a seguir à célebre reunião do Centro Republicano Almirante Reis, onde surgiu o depois chamado Movimento de Unidade Democrática (MUD). O ambiente era de festa e de esperança: todos estávamos convencidos de que Salazar cairia, arrastado pelos «ventos da democracia» que sopravam em todo o mundo, com o fim da guerra e a derrota do nazi-fascismo. Como poderia o ditador português subsistir? Eu tinha sido encarregado por um grupo reduzido de colegas de várias faculdades da Universidade de Lisboa de redigir o manifesto-proclamação que daria lugar ao MUD Juvenil, com as grandes reivindicações estudantis da época. Por sugestão de um colega de Economia, Nóvoa, aceitei ir à Rua Almeida e Sousa, onde ele morava, visitar o professor Caraça, para lhe dar a conhecer o referido manifesto. Nunca o tinha visto, senão de passagem, uma vez, na livraria Sá da Costa. Bento Jesus Caraça era então professor catedrático - e nesse tempo os professores tinham o hábito de marcar as suas distâncias em relação aos alunos. Imagine-se o efeito que essa visita me produziu! Caraça era um homem extraordinário, parecendo muito mais velho do que na realidade era, com uma cabeça linda, aureolada de branco, uns olhos doces e perscrutadores - que pareciam trespassar-nos, ver e compreender tudo - e uma inteligência e uma bondade transparentes. Acolheu-me com uma simplicidade e uma gentileza que me cativaram, inesquecíveis. Encorajou-me, limitando-se a sugerir-me brevíssimas correcções do texto que lhe submeti. Saí de lá como seu admirador incondicional e discípulo, para toda a vida... Depois, convivi quase diariamente com Bento Caraça. O MUD reorganizou a sua Comissão Central e eu fui convidado a pertencer, como representante da juventude, à nova Comissão, presidida pelo prof. Mário de Azevedo Gomes, outro cidadão exemplar, e na qual tinham assento Bento de Jesus Caraça, Hélder Ribeiro, Manuel Mendes, Maria Isabel Aboim Inglês, Mayer Garção, Tito de Morais, Lobo Vilela e Luciano Serão de Moura. As condições políticas eram difíceis, a polícia política vigiava-nos de perto, algumas vezes fomos presos e processados, mas a coragem do grupo e a fraternidade que entre todos se estabeleceu era muito estimulante. Foi um convívio político de mais de três anos, para mim desvanecedor e inesquecível, de que, um dia, talvez tenha a oportunidade de falar, com mais vagar. Constituiu a minha primeira escola cívica. Os valores que então aprendi ainda hoje me guiam. msoares@fmsoares.pt
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11 comentários 1 a 10
24 Abril 2001 às 14:58
BentodeJesusCaraça@outromundo.com ( socorro, salvem-me desse Soares... )
Mas desde quando é que um homem da minha formação moral poderia ser seu amigo???...
24 Abril 2001 às 3:13
BomBom
Discordo do comentário do JOTA (19,46).
O Bento não foi um comunista. Foi um HOMEM e isso é o mais importante. Pena é que não tenha havido muitos mais.Comunista ou não o "rotulo" fica convosco. Ieias ele sempre teve e soube defendê-las como poucos.
23 Abril 2001 às 19:46
JOTA
ATÉ NISTO SE VÊ A SUPERIORIDADE MORAL DOS COMUNISTAS !!
BENTO FOI UM DOS NOSSOS !!!
23 Abril 2001 às 19:13
Carlos Costa ( cacimbo@yahoo.com )
Caro Sr. Soares,
Há uma série de assuntos que tinha curiosídade de os vêr abordados por sí. Dois deles são o facto de em Alvor ter ractificado a inclusão de Cabinda em Angola (posição que agora não tem...). Outro é o facto de ainda se estar à espera de que coloque uma acção judicial ao Sr. Ministro Angolano Val Neto. No ano passado disseram, creio que o Sr. e o Sr. João Soares que iriam levar isso adiante. Faz amanhã um ano o vosso prazo limite.Será que quem cala consente?
23 Abril 2001 às 17:06
O seu paizinho é que tinha razão, ao dizer que o Senhor (o márito) serial a perdição do nosso País! Deus Nosso Senhor o tenha junto d'Ele, pois conhecia bem o filho que tinha. O Seu paizinho tinha os votos de padre quando pediu a suspenção dos mesmos para casar com a sua mãezinha. Esse era um Senhor com letra grande! Se o seu paizinho visse o que fez, os saltos que não estaria a dar agora no tumulo. Sabe porquê ? Por causa duma coisa que se chama honra!
23 Abril 2001 às 8:57
BomBom
Estou dividido. Não sei qual é merecedor de maiores elogios, se o artigo se o primeiro comentário ao dito.
Por essa divisão me fico.
Mas uma coisa é certa. Portugal pode-se orgulhar de homens de valor. Quer se partilhe ou não dos seus ideais politicos, Bento Jesus Caraça soube sempre ser um homem e um democrata. Pôr os interesses de um ideal - e porque não de uma sociedade - acima dos seus proprios. Por isso sofreu os horroros do Salazarismo e dos seus apaniguados. Mesmo daqueles que mais tarde se vieram a refugiar no seu próprio partido. Coisas da história.
Para todos que ao longo da vida souberam defender um ideal e por ele pacificamente lutar, as minhas homenagens e os votos de que muitos outros os sigam. Só assim poderemos ter a sociedade que desejamos.
Que os homens sejam honestos é o meu voto para todo o Portugal. Só assim poderemos honrar estas memórias.
22 Abril 2001 às 23:47
Informação complementar
No Avante desta semana vem um dossier dedicado a Bento de Jesus Caraça.
E na página do PCP (www.pcp.pt)o centenário deste insígne comunista também é dignamente retratado!
22 Abril 2001 às 21:29
Ora, ora
Os "valores" que hoje te guiam não têm nada a ver com os nobres valores de democrata, de comunista e de patriota que Bento de Jesus Caraça perfilhava.
.
As mesmas razões que te levam a esconder os valores que então dizias partilhar são as mesmas que fazem com que pretendas agora esconder os reais valores que depois abraçaste e que te fazem mover e á luz dos quais, por exemplo, pretendeste chegar a um acordo previligiado com o marcelismo.
.
Bento de Jesus Caraça é grande, muito grande. Não podemos deixar por isso que, numa técnica assaz conhecida, seja "recuperado" pelos actuais cínicos representantes do sistema que tão brilhantemente combateu.
22 Abril 2001 às 9:53
Manuel Alho ( manuel.alho@worldonline.ch )
Todos são poucos, para falar e homenagear, homems como foi Bento Caraça, Grande Democrata e Comunista, só que fico com dúvidas, se ele em vida, o Dr Mário Soares, falaria dele desta forma elegante, creio que não, visto tanta hipócrisia que se lhe conhece em relação a enaltecer uma personalidade Comunista, pelo menos em vida, por exemplo Álvaro Cunhal.
21 Abril 2001 às 22:28
Carlos Gomes ( carlosgomes@mail.telepac.pt )
«só é vencido quem desiste de lutar!» - eis uma frase lapidar que muito bem se pode aplicar em relação à questão do litígio fronteiriço de Olivença que no próximo dia 20 de Maio assinala 200 anos de ilegal ocupação espanhola. É um território português, caracteristicamente alentejano. O seu povo foi ao longo de dois séculos perseguido e humilhado na sua própria pátria. Alteraram-lhe os nomes acastelhanizando-os. Proibiram o uso da Língua portuguesa inclusivamente nas celebrações religiosas. Adulteraram o seu folclore. Prenderam e perseguiram os que defendiam a dua identidade portuguesa, tal como sucedeu com Ventura Lendesma Abrantes a quem devemos a criação da Feira do Livro, em Lisboa. Danificaram o nosso património até ao dia em que descobriram que o mesmo podería render receitas com o turismo e desse modo ajudar a sustentar a extremadura espanhola, uma região que segundo estudos da Unidão europeia encontra-se entre as cinco regiões mais pobres da comunidade europeia - o Alentejo não !
Eu gostaría de saber porque razão, sendo o sr. Dr. Mário Soares um paladino da liberdade dos povos, insurgindo-se frequentemente contra inúmeras injustiças, posições essas em relação às quais eu partilho inteiramente, não usou ainda da sua voz para defender os interesses de Portugal e do povo oliventino de origem portuguesa que estando sob condições de opressão ainda que dissimulada, não se pode pronunciar livremente, sob pena de se ver prejudicada na sua vida social e profissional. Porque será que não ergue a sua voz com a mesma tenacidade com que ergueu em relação a outras situações ? Será que o colonialismo só é mau se for português, porque se for de outros países e sobretudo em relação a um território português, então será uma coisa boa ?
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