EXPRESSO

17-02-2001
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TURQUIA A força da Terra

Fotografias AP/REUTERS

Texto de MIGUEL CALADO LOPES

NA SUA relação com o eterno divino, o arquitecto otomano Mimar Sinan (1489-1578 ou 88) sabia que tinha que ter os pés bem assentes na terra. Também sabia, sem que ninguém lhe tivesse dito, que a terra dos seus 477 edifícios não era de fiar, porque era atravessada pela falha tectónica da Anatólia. Por isso, antes da edificação, Sinan esperava dois anos que as fundações por ele lançadas se consolidassem nos solos escavados para glória de Alá e dos sultões que O serviam. A ele se devem, entre outras obras-primas, as mesquitas de Suleymaniye, em Istambul, e a de Selimiye, em Edirna.

TÉNIS A partida da campeã

Textos de JOSÉ PEREIRA, com CARLOS MARTINS, em Bona

Depois de 17 anos de carreira e 900 vitórias, Steffi Graf abandonou os campos de ténis. Por livre vontade, uma das maiores tenistas do mundo e detentora de um invejável palmarés despediu-se do desporto profissional numa conferência de Imprensa convocada para uma sexta-feira 13

CAPA Entre dois destinos

Textos de JOSÉ VEGAR

Fotografias de BIRGIT BETZELT, enviados a Díli

NA SEGUNDA-FEIRA, cerca de 440 mil timorenses irão decidir sobre o seu futuro. Independentemente do resultado que vier a verificar-se, o processo eleitoral provou que 23 anos de ocupação indonésia criaram divisões tão profundas entre os timorenses que dificilmente desaparecerão. De um lado estão os que pertencem à Resistência desde 1975, como a família de Maria Olandina Alves, de 43 anos, proprietária de um restaurante em Díli. Esteve presa duas vezes, trabalhou clandestinamente, viu o marido pela última vez em 1979, antes de ele ir combater para o mato, onde terá desaparecido.

Sem medo de nada

FILOMENO Maria João Ximenes, timorense, 44 anos, casado com uma indonésia, Elisabeth, pai de quatro filhos, católico, deputado regional, ex-membro da Apodeti, e morador no bairro de Akadiru Hun, está convencido que a autonomia vai ganhar por «uma maioria não superior a 70 por cento». O «Meno», como é conhecido entre familiares e amigos, é um homem tímido, que sorri sempre sob um olhar estrábico congénito que o obriga a usar lentes grossas.

Um sonho para cumprir

MARIA Olandina Isabel Alves, timorense, 43 anos, casada com João Bosco, guerrilheiro da Falintil desaparecido em 1979, com um filho, católica, proprietária de um restaurante, apoiante da Fretilin desde 1975, diz-se convencida de que no dia 30 «o sol vai nascer pela primeira vez em Timor-Leste». Olandina é o exemplo perfeito da mãe timorense. Alta, forte, digna. Fala devagar, com ternura, sem mostrar emoções e com um travo permanente de tristeza na voz.

Um país dividido

CARLA TOMÁS

UMA «bomba-relógio» está montada na Indonésia e o resultado da consulta popular em Timor-Leste, na próxima segunda-feira, poderá ser o mote para fazer «explodir» um país balcanizado. A tensão alastrou no arquipélago - em múltiplos focos de conflito inter-étnico, inter-religioso e separatista -, após a queda do Presidente Suharto, em Maio de 1998. Com Suharto desmoronou o pretensamente unido mosaico de 300 grupos étnicos em que se dividem os 212 milhões de habitantes do país.

TEDDY-BOYS Zangados com o mundo

Texto de HELENA MATOS

No final do Verão de 1959, nas zonas de Espinho e da Praia das Maçãs, grupos de rapazes foram acusados de destruírem viaturas, atirarem pedras contra pessoas e bens, cruzarem as pernas nos transportes públicos, roubarem fruta e assobiarem alto em plena rua. Os jornais encheram-se de notícias, a polícia elaborou relatórios, e Salazar interveio. Pouco tempo depois, o assunto morreu de velho: apenas ficou o retrato de uma geração inquieta, delirante e estouvada

FÉRIAS A invenção das praias

Texto de HELENA NEVES

É no século XIX que os portugueses descobrem as virtualidades das praias. Mas são sobretudo os aristocratas, os endinheirados, a gente «fina» de Cascais que as frequentam, como num ritual de convívio mundano. As praias eram enfim autênticos territórios de classe, com a particularidade de terem espaços reservados a senhoras e cavalheiros, fossem nobres ou burgueses. Porque a plebe - essa - ficava fora deste mundo absurdo

FORMATO DIGITAL Revolução no cinema

Texto de RUI TRINDADE, em Los Angeles

A era digital chegou este ano a Hollywood e a meca do cinema americano descobriu que filmes de baixo orçamento podem resultar em estrondosos sucessos de bilheteira. Ao ponto de pequenas obras conseguirem destronar o «rei» George Lucas

OLHAR-O-CÉU A magnitude das estrelas

Texto de NUNO CRATO

O triângulo de Verão orienta-nos no céu, servindo de referência para a medida do brilho das estrelas

TURQUIA A força da Terra

Fotografias AP/REUTERS

Texto de MIGUEL CALADO LOPES

NA SUA relação com o eterno divino, o arquitecto otomano Mimar Sinan (1489-1578 ou 88) sabia que tinha que ter os pés bem assentes na terra. Também sabia, sem que ninguém lhe tivesse dito, que a terra dos seus 477 edifícios não era de fiar, porque era atravessada pela falha tectónica da Anatólia. Por isso, antes da edificação, Sinan esperava dois anos que as fundações por ele lançadas se consolidassem nos solos escavados para glória de Alá e dos sultões que O serviam. A ele se devem, entre outras obras-primas, as mesquitas de Suleymaniye, em Istambul, e a de Selimiye, em Edirna.

TÉNIS A partida da campeã

Textos de JOSÉ PEREIRA, com CARLOS MARTINS, em Bona

Depois de 17 anos de carreira e 900 vitórias, Steffi Graf abandonou os campos de ténis. Por livre vontade, uma das maiores tenistas do mundo e detentora de um invejável palmarés despediu-se do desporto profissional numa conferência de Imprensa convocada para uma sexta-feira 13

CAPA Entre dois destinos

Textos de JOSÉ VEGAR

Fotografias de BIRGIT BETZELT, enviados a Díli

NA SEGUNDA-FEIRA, cerca de 440 mil timorenses irão decidir sobre o seu futuro. Independentemente do resultado que vier a verificar-se, o processo eleitoral provou que 23 anos de ocupação indonésia criaram divisões tão profundas entre os timorenses que dificilmente desaparecerão. De um lado estão os que pertencem à Resistência desde 1975, como a família de Maria Olandina Alves, de 43 anos, proprietária de um restaurante em Díli. Esteve presa duas vezes, trabalhou clandestinamente, viu o marido pela última vez em 1979, antes de ele ir combater para o mato, onde terá desaparecido.

Sem medo de nada

FILOMENO Maria João Ximenes, timorense, 44 anos, casado com uma indonésia, Elisabeth, pai de quatro filhos, católico, deputado regional, ex-membro da Apodeti, e morador no bairro de Akadiru Hun, está convencido que a autonomia vai ganhar por «uma maioria não superior a 70 por cento». O «Meno», como é conhecido entre familiares e amigos, é um homem tímido, que sorri sempre sob um olhar estrábico congénito que o obriga a usar lentes grossas.

Um sonho para cumprir

MARIA Olandina Isabel Alves, timorense, 43 anos, casada com João Bosco, guerrilheiro da Falintil desaparecido em 1979, com um filho, católica, proprietária de um restaurante, apoiante da Fretilin desde 1975, diz-se convencida de que no dia 30 «o sol vai nascer pela primeira vez em Timor-Leste». Olandina é o exemplo perfeito da mãe timorense. Alta, forte, digna. Fala devagar, com ternura, sem mostrar emoções e com um travo permanente de tristeza na voz.

Um país dividido

CARLA TOMÁS

UMA «bomba-relógio» está montada na Indonésia e o resultado da consulta popular em Timor-Leste, na próxima segunda-feira, poderá ser o mote para fazer «explodir» um país balcanizado. A tensão alastrou no arquipélago - em múltiplos focos de conflito inter-étnico, inter-religioso e separatista -, após a queda do Presidente Suharto, em Maio de 1998. Com Suharto desmoronou o pretensamente unido mosaico de 300 grupos étnicos em que se dividem os 212 milhões de habitantes do país.

TEDDY-BOYS Zangados com o mundo

Texto de HELENA MATOS

No final do Verão de 1959, nas zonas de Espinho e da Praia das Maçãs, grupos de rapazes foram acusados de destruírem viaturas, atirarem pedras contra pessoas e bens, cruzarem as pernas nos transportes públicos, roubarem fruta e assobiarem alto em plena rua. Os jornais encheram-se de notícias, a polícia elaborou relatórios, e Salazar interveio. Pouco tempo depois, o assunto morreu de velho: apenas ficou o retrato de uma geração inquieta, delirante e estouvada

FÉRIAS A invenção das praias

Texto de HELENA NEVES

É no século XIX que os portugueses descobrem as virtualidades das praias. Mas são sobretudo os aristocratas, os endinheirados, a gente «fina» de Cascais que as frequentam, como num ritual de convívio mundano. As praias eram enfim autênticos territórios de classe, com a particularidade de terem espaços reservados a senhoras e cavalheiros, fossem nobres ou burgueses. Porque a plebe - essa - ficava fora deste mundo absurdo

FORMATO DIGITAL Revolução no cinema

Texto de RUI TRINDADE, em Los Angeles

A era digital chegou este ano a Hollywood e a meca do cinema americano descobriu que filmes de baixo orçamento podem resultar em estrondosos sucessos de bilheteira. Ao ponto de pequenas obras conseguirem destronar o «rei» George Lucas

OLHAR-O-CÉU A magnitude das estrelas

Texto de NUNO CRATO

O triângulo de Verão orienta-nos no céu, servindo de referência para a medida do brilho das estrelas

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