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23-06-2001
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Domingo, 20 de Maio de 2001 José Tolentino Mendonça, responsável pela escolha dos textos bíblicos Quando Santo Agostinho reclama para os Livros Sagrados a excelência literária dos clássicos gregos e latinos, rompe com os cânones da beleza ocidental, reconhecendo a qualidade estética de outras línguas e geografias. Para Agostinho, a Bíblia era fonte de experiência religiosa, mas também, e de um modo irresistível, uma escola de escrita e leitura. No seu século era um perfeito escândalo pensar assim. Hoje não sei bem. E, contudo, basta folhear a Bíblia, mesmo numa mediana tradução, para perceber afirmações como as de W. Blake, que lhe chama "o grande códice da arte", de Claudel, que a considera "o imenso vocabulário", ou de Chagall, que a tem por "o atlas iconográfico". É isso tudo e também aquilo que não conseguimos dizer, porque é tão difícil, tão diferente dizer uma literatura construída por poetas anónimos, que foi recitada, segredada durante séculos, antes de ser escrita, que é tecida de palavras que solicitam o indizível, e que foram não apenas a expressão das histórias, mas de um estremecimento que as atravessou, como um sopro de vento. Na "Rosa do Mundo" coloquei poemas dos livros bíblicos, numa escolha assumidamente pessoal, mas que, creio, dá conta, a qualquer leitor, do carácter encantatório, essencial e fulgurante dessas obras. De Job a Paulo, do Eclesiastes a Lucas, do Cântico dos Cânticos ao Apocalipse. Depois, proponho um itinerário pela tradição cristã, essa região desconhecida! E ali estão orações e textos maiores da Liturgia Bizantina e Romana. E poemas de Efrém, de Ambrósio, de Gregório Nazianzeno, de Prudêncio, de Hildegarda, de Francisco de Assis, de Bernardo, de Catarina de Sena, de Teresa de Lisieux, entre muitos outros. Acredito que "A Rosa do Mundo", na pluralidade das poéticas que a tecem, constitui, de facto, um presente para o futuro da literatura portuguesa. E sei que devemos esta "Rosa" a muita gente. Mas também a devemos ao amor do Hermínio Monteiro. José Bento: seleccionador e tradutor da poesia espanhola Ao falar do que fiz, terei de falar inevitavelmente de propósitos e não de realizações. Não pude ter a pretensão de dar uma antologia da poesia espanhola, nem da hispano-americana (esta escolhida com Jorge Henrique Bastos), pois seria impossível. Procurei seguir uma linha em que se evidenciasse, na qualidade e no teor de cada poema, pelo menos uma característica importante do autor, contribuindo assim para delinear as características de cada época no respectivo país e no mundo da poesia em que ele se situa. Escolhi poemas que, sendo 2001 para um só livro, tinham de ser curtos e, destinando-se a muitos leitores, fossem diversos, sedutores, por vezes divertidos e possibilitando traduções que sejam poemas em português. Ao fazer esta escolha, quis em cada poema e na sua totalidade mostrar a satisfação que me deu este trabalho, desejando que o leitor colha o gozo que para mim é escrever, ainda que seja uma tradução. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Mito da criação

Toda a poesia

Sessão de lançamento homenageia Eugénio, Herberto e Cesariny

A presença portuguesa

"Isto tornou-se um poço sem fundo"

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COMENTÁRIO

Um livro que só serve para se ler

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Domingo, 20 de Maio de 2001 José Tolentino Mendonça, responsável pela escolha dos textos bíblicos Quando Santo Agostinho reclama para os Livros Sagrados a excelência literária dos clássicos gregos e latinos, rompe com os cânones da beleza ocidental, reconhecendo a qualidade estética de outras línguas e geografias. Para Agostinho, a Bíblia era fonte de experiência religiosa, mas também, e de um modo irresistível, uma escola de escrita e leitura. No seu século era um perfeito escândalo pensar assim. Hoje não sei bem. E, contudo, basta folhear a Bíblia, mesmo numa mediana tradução, para perceber afirmações como as de W. Blake, que lhe chama "o grande códice da arte", de Claudel, que a considera "o imenso vocabulário", ou de Chagall, que a tem por "o atlas iconográfico". É isso tudo e também aquilo que não conseguimos dizer, porque é tão difícil, tão diferente dizer uma literatura construída por poetas anónimos, que foi recitada, segredada durante séculos, antes de ser escrita, que é tecida de palavras que solicitam o indizível, e que foram não apenas a expressão das histórias, mas de um estremecimento que as atravessou, como um sopro de vento. Na "Rosa do Mundo" coloquei poemas dos livros bíblicos, numa escolha assumidamente pessoal, mas que, creio, dá conta, a qualquer leitor, do carácter encantatório, essencial e fulgurante dessas obras. De Job a Paulo, do Eclesiastes a Lucas, do Cântico dos Cânticos ao Apocalipse. Depois, proponho um itinerário pela tradição cristã, essa região desconhecida! E ali estão orações e textos maiores da Liturgia Bizantina e Romana. E poemas de Efrém, de Ambrósio, de Gregório Nazianzeno, de Prudêncio, de Hildegarda, de Francisco de Assis, de Bernardo, de Catarina de Sena, de Teresa de Lisieux, entre muitos outros. Acredito que "A Rosa do Mundo", na pluralidade das poéticas que a tecem, constitui, de facto, um presente para o futuro da literatura portuguesa. E sei que devemos esta "Rosa" a muita gente. Mas também a devemos ao amor do Hermínio Monteiro. José Bento: seleccionador e tradutor da poesia espanhola Ao falar do que fiz, terei de falar inevitavelmente de propósitos e não de realizações. Não pude ter a pretensão de dar uma antologia da poesia espanhola, nem da hispano-americana (esta escolhida com Jorge Henrique Bastos), pois seria impossível. Procurei seguir uma linha em que se evidenciasse, na qualidade e no teor de cada poema, pelo menos uma característica importante do autor, contribuindo assim para delinear as características de cada época no respectivo país e no mundo da poesia em que ele se situa. Escolhi poemas que, sendo 2001 para um só livro, tinham de ser curtos e, destinando-se a muitos leitores, fossem diversos, sedutores, por vezes divertidos e possibilitando traduções que sejam poemas em português. Ao fazer esta escolha, quis em cada poema e na sua totalidade mostrar a satisfação que me deu este trabalho, desejando que o leitor colha o gozo que para mim é escrever, ainda que seja uma tradução. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Mito da criação

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