Promessas de Cultura

11-03-2002
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Variantes

Promessas da Cultura

e exigências do Sul

O Governo está tomado de um novo frenesi no domínio das visitações à província. Ministros e secretários de Estado atacam em todas as direcções, inauguram obras, lançam primeiras pedras, fazem promessas, ou mostram-se simplesmente.

A toda esta excitação não são naturalmente estranhos os actos eleitorais do próximo ano - as europeias e sobretudo as legislativas.

Foi no quadro desta operação visitadora que o ministro da Cultura se deslocou ao Algarve para «a sua primeira grande visita à região», como lhe chamou o «DN».

O ministro, pelo seu lado, designou a viagem de «jornada de descentralização» e, muito de acordo com espírito natalício, fez questão de anunciar, mal chegou à região algarvia, que trazia no saco «algumas prendas».

Feito o cômputo a estas prendas, no fim da viagem, há a registar a promessa deixada por António Maria Carrilho de «cerca de 400 mil contos em equipamentos culturais», que, segundo disse, «o Governo se prepara para investir no Algarve, no próximo ano».

Entretanto, se excluirmos os 25 mil contos para o Teatro Lethes, de Faro, cuja cobertura do palco ameaça ruir, os 6 mil contos para o Festival Internacional de Cinema do Algarve e algumas pequenas verbas para bibliotecas municipais, todo o esforço de investimento governamental ficou por concretizar. Ficou também por se saber que encargos financeiros é que ele acarreta para as autarquias locais e se estas estão em condições de suportá-los.

Espera-se, porém, que Carrilho, que tanto teorizou, ao longo da viagem, sobre a mútua influência do turismo e da cultura, esteja atento, agora, para desobstruir os costumados obstáculos burocráticos que podem reduzir a nada as suas promessas.

U m aspecto inédito da viagem do ministro da Cultura ao Algarve foi a sua visita ao Nordeste Algarvio. Assinale-se que nunca antes um ministro Cultura tinha pisado estas paragens.

Em Alcoutim, ao encontrar-se com as autoridades municipais, o ministro Carrilho pôde ficar com uma ideia da acuidade do problema da desertificação num concelho que, em quatro décadas, perdeu mais de metade da sua população e apresenta a maior taxa de envelhecimento de todo o Algarve.

Significativamente, foi o presidente da Câmara, Francisco Amaral, quem, referindo os esforços do município no domínio cultural, salientou o papel da cultura com factor de desenvolvimento. Enalteceu, a propósito, a experiência autárquica de Mértola e a obra de Cláudio Torres. Chamou a atenção para o indispensável apoio governamental à acção cultural da autarquia num concelho tão carenciado.

O ministro da Cultura embarcou, depois, numa vedeta da Armada e desceu o Guadiana até Vila Real de Stº António. Espera-se, por isso, que guarde, com a memória das belas paisagens do «grande rio do Sul», os recados do Nordeste Algarvio: os explícitos em relação à cultura e os implícitos na necessidade de medidas urgentes para contrariar o avanço da desertificação.

Quanto a estes últimos, são da maior importância, nesta sub-região, todas as questões que prendem com as acessibilidades.

Assim, a questão da ponte entre Alcoutim e Sanlucar do Guadiana, que é uma aspiração secular das populações dos dois lados da fronteira, parece ter tido algum desenvolvimento a partir da última cimeira luso-espanhola. Mas está prevista para quando? Para quando o despovoamento for de todo irremediável?

O mais grave é o que se tem passado com o IC 27, que deve ligar Beja a Castro Marim. Desde que o PS chegou ao Governo é manifesta a sua má vontade em relação a este itinerário que foi uma importante promessa e chegou a ser considerado prioritário pela Governo anterior. Na proposta governamental de Orçamento de Estado para 1999 voltou a ser subestimado. O ministro Cravinho parece que só tem olhos para ver o Norte, se calhar por causa da sua massa eleitoral, esquece-se que esta obra é da maior importância económica, social e estratégica para cinco concelhos, dois alentejanos - Beja e Mértola - e três algarvios - Alcoutim, Castro Marim e Vila Real de Sto. António - sendo que quatro deles são concelhos fronteiriços.A questão que já se coloca às populações destes cinco concelhos é a de saberem o que devem fazer para que o ministro Cravinho as veja e as ouça. — Carlos Brito

«Avante!» Nº 1308 - 23.Dezembro.1998

Variantes

Promessas da Cultura

e exigências do Sul

O Governo está tomado de um novo frenesi no domínio das visitações à província. Ministros e secretários de Estado atacam em todas as direcções, inauguram obras, lançam primeiras pedras, fazem promessas, ou mostram-se simplesmente.

A toda esta excitação não são naturalmente estranhos os actos eleitorais do próximo ano - as europeias e sobretudo as legislativas.

Foi no quadro desta operação visitadora que o ministro da Cultura se deslocou ao Algarve para «a sua primeira grande visita à região», como lhe chamou o «DN».

O ministro, pelo seu lado, designou a viagem de «jornada de descentralização» e, muito de acordo com espírito natalício, fez questão de anunciar, mal chegou à região algarvia, que trazia no saco «algumas prendas».

Feito o cômputo a estas prendas, no fim da viagem, há a registar a promessa deixada por António Maria Carrilho de «cerca de 400 mil contos em equipamentos culturais», que, segundo disse, «o Governo se prepara para investir no Algarve, no próximo ano».

Entretanto, se excluirmos os 25 mil contos para o Teatro Lethes, de Faro, cuja cobertura do palco ameaça ruir, os 6 mil contos para o Festival Internacional de Cinema do Algarve e algumas pequenas verbas para bibliotecas municipais, todo o esforço de investimento governamental ficou por concretizar. Ficou também por se saber que encargos financeiros é que ele acarreta para as autarquias locais e se estas estão em condições de suportá-los.

Espera-se, porém, que Carrilho, que tanto teorizou, ao longo da viagem, sobre a mútua influência do turismo e da cultura, esteja atento, agora, para desobstruir os costumados obstáculos burocráticos que podem reduzir a nada as suas promessas.

U m aspecto inédito da viagem do ministro da Cultura ao Algarve foi a sua visita ao Nordeste Algarvio. Assinale-se que nunca antes um ministro Cultura tinha pisado estas paragens.

Em Alcoutim, ao encontrar-se com as autoridades municipais, o ministro Carrilho pôde ficar com uma ideia da acuidade do problema da desertificação num concelho que, em quatro décadas, perdeu mais de metade da sua população e apresenta a maior taxa de envelhecimento de todo o Algarve.

Significativamente, foi o presidente da Câmara, Francisco Amaral, quem, referindo os esforços do município no domínio cultural, salientou o papel da cultura com factor de desenvolvimento. Enalteceu, a propósito, a experiência autárquica de Mértola e a obra de Cláudio Torres. Chamou a atenção para o indispensável apoio governamental à acção cultural da autarquia num concelho tão carenciado.

O ministro da Cultura embarcou, depois, numa vedeta da Armada e desceu o Guadiana até Vila Real de Stº António. Espera-se, por isso, que guarde, com a memória das belas paisagens do «grande rio do Sul», os recados do Nordeste Algarvio: os explícitos em relação à cultura e os implícitos na necessidade de medidas urgentes para contrariar o avanço da desertificação.

Quanto a estes últimos, são da maior importância, nesta sub-região, todas as questões que prendem com as acessibilidades.

Assim, a questão da ponte entre Alcoutim e Sanlucar do Guadiana, que é uma aspiração secular das populações dos dois lados da fronteira, parece ter tido algum desenvolvimento a partir da última cimeira luso-espanhola. Mas está prevista para quando? Para quando o despovoamento for de todo irremediável?

O mais grave é o que se tem passado com o IC 27, que deve ligar Beja a Castro Marim. Desde que o PS chegou ao Governo é manifesta a sua má vontade em relação a este itinerário que foi uma importante promessa e chegou a ser considerado prioritário pela Governo anterior. Na proposta governamental de Orçamento de Estado para 1999 voltou a ser subestimado. O ministro Cravinho parece que só tem olhos para ver o Norte, se calhar por causa da sua massa eleitoral, esquece-se que esta obra é da maior importância económica, social e estratégica para cinco concelhos, dois alentejanos - Beja e Mértola - e três algarvios - Alcoutim, Castro Marim e Vila Real de Sto. António - sendo que quatro deles são concelhos fronteiriços.A questão que já se coloca às populações destes cinco concelhos é a de saberem o que devem fazer para que o ministro Cravinho as veja e as ouça. — Carlos Brito

«Avante!» Nº 1308 - 23.Dezembro.1998

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