Os programas de rádio que resistem ao tempo

08-05-2001
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Os Programas de Rádio Que Resistem ao Tempo

Por TERESA MATOS

Domingo, 22 de Abril de 2001 No ar há mais de uma década Cinco Minutos de Jazz, Lugar ao Sul, Íntima Fracção, Oceano Pacífico, Grande Júri e Repórter da História são programas radiofónicos. Em comum têm um passado com, no mínimo, uma década Não há receitas mágicas nem universais que determinem o êxito de um programa. É a conclusão que se pode retirar da análise de cada um dos programas de rádio que, em Portugal, têm resistido à erosão do tempo e se mantêm no ar, indiferentes à idade. Entre músicas e palavras, são um exemplo de longevidade. Cinco Minutos de Jazz, Lugar ao Sul, Íntima Fracção, Oceano Pacífico e Grande Júri são, neste momento, os programas em exibição com mais tempo de vida, todos com mais de 13 anos. A rubrica O Repórter da História, com quase 25 anos, é outro exemplo de longevidade. Mas, afinal, haverá ou não alguma explicação para a longevidade? Cada programa apresenta a sua própria versão, mas as reacções positivas dos ouvintes são um facto incontornável. Por outro lado, cada programa conseguiu criar, ao longo dos anos, um ambiente próprio a que os ouvintes se acostumaram e que continuam a procurar em cada emissão. Para os responsáveis por estes programas este é, sem dúvida, um dos factores mais importantes para o sucesso e continuação das emissões. O horário e a duração também ajudam a explicar a longevidade. Depois há as particularidades de cada um, que marcam a diferença e que fazem com que cada programa seja único. As histórias de sucesso Cinco Minutos de Jazz é actualmente, depois da suspensão do Em Órbita (na Antena 2), o programa de rádio mais antigo no ar. Tem 35 anos, apesar de ter estado suspenso entre 1975 e 1983. Trinta e cinco anos dedicados a divulgar a música jazz em Portugal. E "é a força, a longevidade e a verdade do jazz que explicam o sucesso e a longevidade do programa", afirma José Duarte, o seu responsável. Mas a fórmula, e principalmente a sua duração, é determinante. "As pessoas gostam porque não as maça" (o programa dura em média cerca de cinco minutos, de onde o nome). João Coelho, director da Antena 1, que emite o programa desde 3 de Junho de 1993, também salienta este facto. "O formato breve, sendo pedagógico e divulgador, é o ideal para inserir na grelha, devido à sua flexibilidade." A longevidade é apenas um dos marcos do Cinco Minutos de Jazz. José Duarte gosta de acrescentar outro. No decorrer de todos estes anos, "o programa conseguiu o respeito pelo jazz. Nos anos 60 [quando o programa começou] as pessoas chegavam mesmo a ser malcriadas". Rafael Correia, o autor e responsável pelo programa Lugar ao Sul, da Antena 1, prefere não falar do sucesso do programa, mas sim do seu valor intrínseco. "Sucesso têm as novelas", afirma. A mais-valia do programa reside, segundo Rafael Correia, no contacto com a verdadeira realidade do país, o "Portugal profundo", uma expressão que é agora muito recorrente, mas que quando o programa começou, há 21 anos, era ainda desconhecida. Para João Coelho, este é um programa importante na grelha da emissora para o fim-de-semana. O Lugar ao Sul é, juntamente com a Feira Franca e com o Margens D'Ouro, uma das peças da trilogia de programas deste canal dedicados ao contacto com o "país real". Tocar as pessoas e estar atento Para Francisco Amaral, autor e apresentador do Íntima Fracção, o mais importante é conseguir chegar às pessoas. E, "se há algum segredo para o sucesso do programa, é a ligação entre várias épocas de música e textos que tocam as pessoas". Por outro lado, é o próprio ambiente que se cria e que faz com que haja ouvintes fiéis, com gravações de anos do programa, acrescenta Francisco Amaral. Mas se calhar o sucesso do programa, da TSF, reside no mais óbvio: "É um programa sincero que gosto de fazer e se calhar por isso é que há pessoas que o ouvem." Para João Chaves, o apresentador e responsável pelo programa Oceano Pacífico, no ar há quase 17 anos, a música é o ingrediente mais importante do programa que mantém na RFM e nele reside o seu sucesso. "Acima de tudo é a música que faz com que o programa tenha sucesso. Toco as músicas que as pessoas gostam", afirma, mas salienta a importância da sua locução, com o mesmo ritmo das baladas que escolhe e que, em conjunto, criam o ambiente próprio do programa. Depois, há o próprio horário. João Chaves tem consciência da importância deste facto, e refere-o: "É neste horário [à noite] que as pessoas estão mais receptivas." Pedro Tojal, director de programas da RFM, acrescenta mais alguns dados, salientando a importância de não se ficar parado no tempo. "É preciso estar sempre atento aos gostos das pessoas, até porque o programa, se calhar, já abrange duas gerações com gostos diferentes." O programa Grande Júri é uma das imagens de marca da TSF, onde é emitido desde o primeiro dia da estação, que iniciou oficialmente as emissões em 1989. Carlos Andrade, um dos actuais entrevistadores, juntamente com Carlos Magno, afirma que é o "feedback" que recebe que faz com que o programa tenha razão de ser. Mas o que, concretamente, faz o sucesso do programa é mais difícil de explicar. "É um conjunto de ingredientes de natureza subjectiva", começa por afirmar Carlos Andrade, que é também o director da TSF. Entre esses, destaca a competência dos entrevistadores, os actuais e os anteriores, e o próprio factor história, pois "é um programa consolidado". Outra medida do sucesso é, para Carlos Andrade, a boa taxa de aceitação dos convites pelas personalidades convidadas. Até porque sente que "os 'decisores' reconhecem imediatamente o nome do programa e esse é um dos principais motivos por que aceitam participar". O Repórter da História não é propriamente um programa, é uma pequena rubrica de efemérides que não dura mais do que quatro minutos. No entanto, já está no ar há quase 25 anos. Para Zuzarte Reis, o criador do programa e autor dos textos, o que contribui para a longevidade desta emissão é precisamente a sua curta duração. "Não chateia", ironiza Zuzarte Reis. "O programa chama a atenção do ouvinte para os assuntos históricos sem entrar em grandes pormenores, não maçando desta forma os ouvintes", explica, agora a sério, Zuzarte Reis. Ainda este ano (em Dezembro), também o programa Café da Manhã, que a RFM emite diariamente entre as 6h00 e as 10h30, vai completar uma década de emissões. E em Janeiro de 2002 será a vez do Bom Dia, de José Candeias, na Renascença, se juntar ao clube dos programas de rádio com uma história de uma década para contar. 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Quando são ultrapassadas as fronteiras da telefonia

B.I. dos programas

TV Hoje

Cinema em Casa

Ministro apoia movimentos pela qualidade da tv

261

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Por TERESA MATOS

Domingo, 22 de Abril de 2001 No ar há mais de uma década Cinco Minutos de Jazz, Lugar ao Sul, Íntima Fracção, Oceano Pacífico, Grande Júri e Repórter da História são programas radiofónicos. Em comum têm um passado com, no mínimo, uma década Não há receitas mágicas nem universais que determinem o êxito de um programa. É a conclusão que se pode retirar da análise de cada um dos programas de rádio que, em Portugal, têm resistido à erosão do tempo e se mantêm no ar, indiferentes à idade. Entre músicas e palavras, são um exemplo de longevidade. Cinco Minutos de Jazz, Lugar ao Sul, Íntima Fracção, Oceano Pacífico e Grande Júri são, neste momento, os programas em exibição com mais tempo de vida, todos com mais de 13 anos. A rubrica O Repórter da História, com quase 25 anos, é outro exemplo de longevidade. Mas, afinal, haverá ou não alguma explicação para a longevidade? Cada programa apresenta a sua própria versão, mas as reacções positivas dos ouvintes são um facto incontornável. Por outro lado, cada programa conseguiu criar, ao longo dos anos, um ambiente próprio a que os ouvintes se acostumaram e que continuam a procurar em cada emissão. Para os responsáveis por estes programas este é, sem dúvida, um dos factores mais importantes para o sucesso e continuação das emissões. O horário e a duração também ajudam a explicar a longevidade. Depois há as particularidades de cada um, que marcam a diferença e que fazem com que cada programa seja único. As histórias de sucesso Cinco Minutos de Jazz é actualmente, depois da suspensão do Em Órbita (na Antena 2), o programa de rádio mais antigo no ar. Tem 35 anos, apesar de ter estado suspenso entre 1975 e 1983. Trinta e cinco anos dedicados a divulgar a música jazz em Portugal. E "é a força, a longevidade e a verdade do jazz que explicam o sucesso e a longevidade do programa", afirma José Duarte, o seu responsável. Mas a fórmula, e principalmente a sua duração, é determinante. "As pessoas gostam porque não as maça" (o programa dura em média cerca de cinco minutos, de onde o nome). João Coelho, director da Antena 1, que emite o programa desde 3 de Junho de 1993, também salienta este facto. "O formato breve, sendo pedagógico e divulgador, é o ideal para inserir na grelha, devido à sua flexibilidade." A longevidade é apenas um dos marcos do Cinco Minutos de Jazz. José Duarte gosta de acrescentar outro. No decorrer de todos estes anos, "o programa conseguiu o respeito pelo jazz. Nos anos 60 [quando o programa começou] as pessoas chegavam mesmo a ser malcriadas". Rafael Correia, o autor e responsável pelo programa Lugar ao Sul, da Antena 1, prefere não falar do sucesso do programa, mas sim do seu valor intrínseco. "Sucesso têm as novelas", afirma. A mais-valia do programa reside, segundo Rafael Correia, no contacto com a verdadeira realidade do país, o "Portugal profundo", uma expressão que é agora muito recorrente, mas que quando o programa começou, há 21 anos, era ainda desconhecida. Para João Coelho, este é um programa importante na grelha da emissora para o fim-de-semana. O Lugar ao Sul é, juntamente com a Feira Franca e com o Margens D'Ouro, uma das peças da trilogia de programas deste canal dedicados ao contacto com o "país real". Tocar as pessoas e estar atento Para Francisco Amaral, autor e apresentador do Íntima Fracção, o mais importante é conseguir chegar às pessoas. E, "se há algum segredo para o sucesso do programa, é a ligação entre várias épocas de música e textos que tocam as pessoas". Por outro lado, é o próprio ambiente que se cria e que faz com que haja ouvintes fiéis, com gravações de anos do programa, acrescenta Francisco Amaral. Mas se calhar o sucesso do programa, da TSF, reside no mais óbvio: "É um programa sincero que gosto de fazer e se calhar por isso é que há pessoas que o ouvem." Para João Chaves, o apresentador e responsável pelo programa Oceano Pacífico, no ar há quase 17 anos, a música é o ingrediente mais importante do programa que mantém na RFM e nele reside o seu sucesso. "Acima de tudo é a música que faz com que o programa tenha sucesso. Toco as músicas que as pessoas gostam", afirma, mas salienta a importância da sua locução, com o mesmo ritmo das baladas que escolhe e que, em conjunto, criam o ambiente próprio do programa. Depois, há o próprio horário. João Chaves tem consciência da importância deste facto, e refere-o: "É neste horário [à noite] que as pessoas estão mais receptivas." Pedro Tojal, director de programas da RFM, acrescenta mais alguns dados, salientando a importância de não se ficar parado no tempo. "É preciso estar sempre atento aos gostos das pessoas, até porque o programa, se calhar, já abrange duas gerações com gostos diferentes." O programa Grande Júri é uma das imagens de marca da TSF, onde é emitido desde o primeiro dia da estação, que iniciou oficialmente as emissões em 1989. Carlos Andrade, um dos actuais entrevistadores, juntamente com Carlos Magno, afirma que é o "feedback" que recebe que faz com que o programa tenha razão de ser. Mas o que, concretamente, faz o sucesso do programa é mais difícil de explicar. "É um conjunto de ingredientes de natureza subjectiva", começa por afirmar Carlos Andrade, que é também o director da TSF. Entre esses, destaca a competência dos entrevistadores, os actuais e os anteriores, e o próprio factor história, pois "é um programa consolidado". Outra medida do sucesso é, para Carlos Andrade, a boa taxa de aceitação dos convites pelas personalidades convidadas. Até porque sente que "os 'decisores' reconhecem imediatamente o nome do programa e esse é um dos principais motivos por que aceitam participar". O Repórter da História não é propriamente um programa, é uma pequena rubrica de efemérides que não dura mais do que quatro minutos. No entanto, já está no ar há quase 25 anos. Para Zuzarte Reis, o criador do programa e autor dos textos, o que contribui para a longevidade desta emissão é precisamente a sua curta duração. "Não chateia", ironiza Zuzarte Reis. "O programa chama a atenção do ouvinte para os assuntos históricos sem entrar em grandes pormenores, não maçando desta forma os ouvintes", explica, agora a sério, Zuzarte Reis. Ainda este ano (em Dezembro), também o programa Café da Manhã, que a RFM emite diariamente entre as 6h00 e as 10h30, vai completar uma década de emissões. E em Janeiro de 2002 será a vez do Bom Dia, de José Candeias, na Renascença, se juntar ao clube dos programas de rádio com uma história de uma década para contar. OUTROS TÍTULOS EM MEDIA Os programas de rádio que resistem ao tempo

Quando são ultrapassadas as fronteiras da telefonia

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