Inundações levam os votos

15-01-2001
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Arcos de Valdevez

Inundações Levam Os Votos

Por FRANCISCO FONSECA

Segunda-feira, 15 de Janeiro de 2001

Os 1023 eleitores de Arcos de Valdevez (S. Salvador) esperaram até ao meio da manhã de ontem que o rio Vez subisse às suas casas e estabelecimentos comerciais pela décima terceira vez. Esta era uma inundação desejada. Não para lhes tolher a vida ou destruir os bens, mas para que a junta de freguesia, onde estava a única mesa de voto instalada, não pudesse abrir: "As águas só sobem quando um homem não quer", concluiu um velho comerciante da vila, "farto de água até aos olhos". Mais adiante, Rui Aguiam, presidente da junta, corroborou: "Hoje tivemos azar... a água não veio. Só vem quando a gente não quer".

A Valeta é o centro histórico dos Arcos de Valdevez. A maioria não foi votar, porque sempre que o rio sobe os moradores têm que fugir para a parte alta da vila ou o primeiro andar. Há vários anos que pedem à câmara e ao Ministério do Ambiente que construam uma comporta para controlar o acesso do ribeiro que passa pela freguesia e desagua no Vez, a única forma de evitar o sacrifício de todos os anos fugir à água. Um trabalho árduo, este Inverno, redobrado pela elevada precipitação que se fez sentir e pelas desgraças que ocorreram no concelho, caso da tragédia de Frades, um desabamento de terras que soterrou cinco habitações e matou quatro pessoas.

A Valeta acordou engalanada com cartazes onde se liam palavras de protesto. No café, ao lado da junta de freguesia, os canais de televisão só passaram um programa: "As Cheias da Valeta", um filme amador que mostra as últimas tragédias vividas pelos moradores nos últimos cinco anos.

A votos foram pouco mais de três centenas. Alguns, de eleitores mais velhos, têm uma justificação para Rui Aguiam: "Vieram votar porque foram ameaçados que se não participassem no acto eleitoral perdiam o Rendimento Mínimo Garantido ou a reforma". O autarca sustenta a afirmação "em várias confissões feitas por idosos, testemunhados por várias pessoas, incluindo jornalistas". Mas das pouco mais de três centenas que entraram nas urnas, muitos foram votos de protesto onde se liam frases de revolta contra o Governo que "se tem demonstrado indiferente" e "não participa no encontro de uma solução para as inundações, que não custaria mais do que 40 mil contos".

Esta foi a primeira vez que os eleitores usaram o acto eleitoral para protestar contra as inundações. O problema é velho, mas, este ano, as vezes que o Vez lhes invadiu a casa foi tão grande que todos perderam a paciência. A assembleia de freguesia chegou a ameaçar com o boicote e só a não o fez por razões legais. No entanto, deixou o apelo à abstenção, porque, "afinal, isto tem uma solução, que passa apenas por uma questão de boa vontade política", recorda o autarca.

Francisco Fonseca

Arcos de Valdevez

Inundações Levam Os Votos

Por FRANCISCO FONSECA

Segunda-feira, 15 de Janeiro de 2001

Os 1023 eleitores de Arcos de Valdevez (S. Salvador) esperaram até ao meio da manhã de ontem que o rio Vez subisse às suas casas e estabelecimentos comerciais pela décima terceira vez. Esta era uma inundação desejada. Não para lhes tolher a vida ou destruir os bens, mas para que a junta de freguesia, onde estava a única mesa de voto instalada, não pudesse abrir: "As águas só sobem quando um homem não quer", concluiu um velho comerciante da vila, "farto de água até aos olhos". Mais adiante, Rui Aguiam, presidente da junta, corroborou: "Hoje tivemos azar... a água não veio. Só vem quando a gente não quer".

A Valeta é o centro histórico dos Arcos de Valdevez. A maioria não foi votar, porque sempre que o rio sobe os moradores têm que fugir para a parte alta da vila ou o primeiro andar. Há vários anos que pedem à câmara e ao Ministério do Ambiente que construam uma comporta para controlar o acesso do ribeiro que passa pela freguesia e desagua no Vez, a única forma de evitar o sacrifício de todos os anos fugir à água. Um trabalho árduo, este Inverno, redobrado pela elevada precipitação que se fez sentir e pelas desgraças que ocorreram no concelho, caso da tragédia de Frades, um desabamento de terras que soterrou cinco habitações e matou quatro pessoas.

A Valeta acordou engalanada com cartazes onde se liam palavras de protesto. No café, ao lado da junta de freguesia, os canais de televisão só passaram um programa: "As Cheias da Valeta", um filme amador que mostra as últimas tragédias vividas pelos moradores nos últimos cinco anos.

A votos foram pouco mais de três centenas. Alguns, de eleitores mais velhos, têm uma justificação para Rui Aguiam: "Vieram votar porque foram ameaçados que se não participassem no acto eleitoral perdiam o Rendimento Mínimo Garantido ou a reforma". O autarca sustenta a afirmação "em várias confissões feitas por idosos, testemunhados por várias pessoas, incluindo jornalistas". Mas das pouco mais de três centenas que entraram nas urnas, muitos foram votos de protesto onde se liam frases de revolta contra o Governo que "se tem demonstrado indiferente" e "não participa no encontro de uma solução para as inundações, que não custaria mais do que 40 mil contos".

Esta foi a primeira vez que os eleitores usaram o acto eleitoral para protestar contra as inundações. O problema é velho, mas, este ano, as vezes que o Vez lhes invadiu a casa foi tão grande que todos perderam a paciência. A assembleia de freguesia chegou a ameaçar com o boicote e só a não o fez por razões legais. No entanto, deixou o apelo à abstenção, porque, "afinal, isto tem uma solução, que passa apenas por uma questão de boa vontade política", recorda o autarca.

Francisco Fonseca

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