Costas e Azevedos
Segunda-feira, 8 de Janeiro de 2001
Na reportagem de capa da revista PÚBLICA de 24 de Dezembro de 2000, emprega-se o singular de apelidos em regências que, segundo a tradição linguística portuguesa, pedem o plural: o Costa > os Costas; o Azevedo > os Azevedos, etc. A construção que o PÚBLICO preferiu é estruturalmente francesa: "os Costa", "os Azevedo", etc. Na primeira "Gramática da Linguagem Portuguesa", publicada em 1536 e reeditada em Fevereiro de 2000 pela Academia das Ciências de Lisboa, Fernão de Oliveira escreve que os nomes portugueses têm plural, "tirando Domingos, Marcos e Lucas, que não variam seus números". Doutrina basicamente semelhante se indica para Portugal e o Brasil na "Nova Gramática do Português Contemporâneo", da autoria do investigador brasileiro Celso Cunha e do português Lindley Cintra. Exemplifiquemos: Cavaco > os Cavacos > os irmãos Cavacos; Zé Manel > os Zé Manéis; Ferreira do Amaral > os Ferreiras do Amaral (como, neste caso bem, a PÚBLICA grafou).
A linguagem popular portuguesa do século XX mantém-se fiel a tal flexão, o que se comprova na seguinte sentença: "Onde pintam Marias não pintam Manéis". Aliás, não é estranha à linguagem corrente da sua época (século XVI) a norma que Fernão Oliveira menciona. E, como no Grego e no Latim estes nomes se empregavam na forma singular, pode dizer-se que a sua flexão plural constitui um dos muitos traços que, no advento do Português, de algum modo o permitiram distinguir da língua-mãe (o Latim vulgar da Península Ibérica). Nos estratos "altos" da sociedade portuguesa dos séculos XIX e XX e na prosa de alguns ficcionistas contemporâneos [note-se: no registo do narrador; não no registo da expressão peculiar de uma personagem], ocorre a construção "os Sousa", "os Azevedo", mas isso coexiste com expressões de mau estilo e origem diversa, como "é suposto" (em vez de supõe-se) ou "à última da hora" (à última hora). Os estratos dominantes da escala social não são necessariamente os que se exprimem melhor em Português.
Maria Teresa Teixeira, Lisboa
Luso-descendentes
Queria desde já felicitar-vos pelo vosso excelente trabalho. A vossa revista é excelente! Gostei particularmente da vossa revista quando falou sobre o regresso dos jovens luso-descendentes à Portugal. Acho que o vosso trabalho reflecte bastante bem o que acontece à todos estes jovens.
Eu próprio sou filho de emigrantes, nasci em Paris e residi lá até aos meus 16 anos. Já estou em Portugal há 7 anos. Tenho sempre muito gosto em falar com jovens que passaram pela mesma situação do que eu, mas na região onde eu moro (vivo em Faro), há poucos luso-descendentes como eu.
Dinis Luz, e-mail
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Costas e Azevedos
Segunda-feira, 8 de Janeiro de 2001
Na reportagem de capa da revista PÚBLICA de 24 de Dezembro de 2000, emprega-se o singular de apelidos em regências que, segundo a tradição linguística portuguesa, pedem o plural: o Costa > os Costas; o Azevedo > os Azevedos, etc. A construção que o PÚBLICO preferiu é estruturalmente francesa: "os Costa", "os Azevedo", etc. Na primeira "Gramática da Linguagem Portuguesa", publicada em 1536 e reeditada em Fevereiro de 2000 pela Academia das Ciências de Lisboa, Fernão de Oliveira escreve que os nomes portugueses têm plural, "tirando Domingos, Marcos e Lucas, que não variam seus números". Doutrina basicamente semelhante se indica para Portugal e o Brasil na "Nova Gramática do Português Contemporâneo", da autoria do investigador brasileiro Celso Cunha e do português Lindley Cintra. Exemplifiquemos: Cavaco > os Cavacos > os irmãos Cavacos; Zé Manel > os Zé Manéis; Ferreira do Amaral > os Ferreiras do Amaral (como, neste caso bem, a PÚBLICA grafou).
A linguagem popular portuguesa do século XX mantém-se fiel a tal flexão, o que se comprova na seguinte sentença: "Onde pintam Marias não pintam Manéis". Aliás, não é estranha à linguagem corrente da sua época (século XVI) a norma que Fernão Oliveira menciona. E, como no Grego e no Latim estes nomes se empregavam na forma singular, pode dizer-se que a sua flexão plural constitui um dos muitos traços que, no advento do Português, de algum modo o permitiram distinguir da língua-mãe (o Latim vulgar da Península Ibérica). Nos estratos "altos" da sociedade portuguesa dos séculos XIX e XX e na prosa de alguns ficcionistas contemporâneos [note-se: no registo do narrador; não no registo da expressão peculiar de uma personagem], ocorre a construção "os Sousa", "os Azevedo", mas isso coexiste com expressões de mau estilo e origem diversa, como "é suposto" (em vez de supõe-se) ou "à última da hora" (à última hora). Os estratos dominantes da escala social não são necessariamente os que se exprimem melhor em Português.
Maria Teresa Teixeira, Lisboa
Luso-descendentes
Queria desde já felicitar-vos pelo vosso excelente trabalho. A vossa revista é excelente! Gostei particularmente da vossa revista quando falou sobre o regresso dos jovens luso-descendentes à Portugal. Acho que o vosso trabalho reflecte bastante bem o que acontece à todos estes jovens.
Eu próprio sou filho de emigrantes, nasci em Paris e residi lá até aos meus 16 anos. Já estou em Portugal há 7 anos. Tenho sempre muito gosto em falar com jovens que passaram pela mesma situação do que eu, mas na região onde eu moro (vivo em Faro), há poucos luso-descendentes como eu.
Dinis Luz, e-mail