O Presidente de todos os socialistas

18-12-2000
marcar artigo

O Presidente de Todos Os Socialistas

Por PEDRO MAGALHÃES

Segunda-feira, 18 de Dezembro de 2000 À primeira vista, as próximas eleições presidenciais parecem não passar de um acto protocolar de confirmação do actual Presidente. Jorge Sampaio surge em primeiro lugar em todas as sondagens e bem a salvo de uma segunda volta. Cerca de 92 por cento dos portugueses com opinião sobre o assunto acham que Sampaio vai triunfar, e sabe-se bem o que sucede quando as eleições estão decididas à partida: a diminuição da utilidade e do valor do voto, ou seja, a abstenção. O PSD e o PCP apresentam candidatos de segunda escolha, cordeiros num sacrifício do qual apenas António Abreu poderá ainda ser salvo, a fim de que os espectadores mais sensíveis sejam poupados ao maior descalabro eleitoral da história dos Comunistas. Os eleitores do CDS/PP estão colocados perante o terrível dilema: um Domingo despreocupado ou a mobilização geral para o voto em Ferreira do Amaral a fim de expressarem o seu "não socialismo"? Para já, e em comparação com os eleitorados dos restantes partidos, é entre eles que a intenção de abstenção nas presidenciais é mais elevada. E a Fernando Rosas resta esperar que uma abstenção elevada e a desistência de António Abreu o aproxime dos 2,6 por cento que Carlos Marques obteve em 1991. Caso contrário, o Bloco de Esquerda terá de recorrer a Magritte para explicar aos seus apoiantes que, afinal, "ceci n''est pas une pipe". Sucede, no entanto, que estas eleições poderão ser bem mais importantes do que parecem à primeira vista. Em primeiro lugar, devido às suas consequências na intenção de voto nos partidos. Uma das hipóteses nunca provadas acerca dos sistemas de governo semipresidenciais é a da forma como eles contribuem para o reforço de uma lógica de bipartidarização e/ou bipolarização no sistema partidário. A hipótese continua a não passar disso mesmo, mas a comparação entre a intenção de voto nos dois maiores partidos hoje e em Setembro passado não deixa de ser sugestiva. Há três meses, PS e PSD reuniam 68 por cento das intenções de voto nas legislativas. Hoje, no rescaldo da primeira fase da campanha para as presidenciais, os indecisos estão mais decididos e os pequenos partidos esvaziaram, elevando a percentagem dos dois maiores partidos para 79 por cento. Mesmo que queiramos atribuir este fenómeno aos erros do PCP e do CDS na forma como (não) escolheram os seus candidatos presidenciais, o certo é que foram as eleições que lhes forçaram a mão. Contudo, há um partido em especial para quem estas presidenciais se preparam para ser cruciais. 80 por cento dos eleitores do PS dizem considerar as próximas eleições presidenciais pelo menos "bastante importantes". Apesar do "seu" candidato ter a vitória garantida, é entre os socialistas que a intenção de abstenção nas presidenciais apresenta os valores mais baixos em comparação com os restantes eleitorados. É entre aqueles que se situam à esquerda do espectro político-ideológico, incluindo os eleitores do PS, que encontramos o mais forte apoio a um aumento dos poderes presidenciais. E se a maioria dos portugueses afirma que a função fundamental de um Presidente da República deverá ser a de "fiscalizar" o governo, a maior parte dos eleitores socialistas dão às suas funções uma interpretação algo distinta: "orientar" a acção do governo. Até 1991, a aparente inércia de Mário Soares em face de um governo maioritário do PSD serviu-lhe para se distanciar de um PS destroçado e, adicionalmente, para obter junto do centro e da direita um capital de confiança suficiente para tornar tolerável o posterior desmantelamento de Cavaco Silva. A aparente inércia de Jorge Sampaio em face do governo de António Guterres servirá outros objectivos. Em Janeiro, o eleitorado do PS vai converter Sampaio no presidente de todos os socialistas, com o meritório objectivo de "orientar" a acção de um governo desnorteado. Por enquanto, Sampaio vai demitindo ministros. Depois de Janeiro, Guterres que se cuide. *Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Sampaio com o dobro dos votos de Amaral

Sampaio atrás de Soares e de Eanes

Mulheres, alentejanas, cinquenta anos de idade

OPINIÃO

O Presidente de todos os socialistas

O Presidente de Todos Os Socialistas

Por PEDRO MAGALHÃES

Segunda-feira, 18 de Dezembro de 2000 À primeira vista, as próximas eleições presidenciais parecem não passar de um acto protocolar de confirmação do actual Presidente. Jorge Sampaio surge em primeiro lugar em todas as sondagens e bem a salvo de uma segunda volta. Cerca de 92 por cento dos portugueses com opinião sobre o assunto acham que Sampaio vai triunfar, e sabe-se bem o que sucede quando as eleições estão decididas à partida: a diminuição da utilidade e do valor do voto, ou seja, a abstenção. O PSD e o PCP apresentam candidatos de segunda escolha, cordeiros num sacrifício do qual apenas António Abreu poderá ainda ser salvo, a fim de que os espectadores mais sensíveis sejam poupados ao maior descalabro eleitoral da história dos Comunistas. Os eleitores do CDS/PP estão colocados perante o terrível dilema: um Domingo despreocupado ou a mobilização geral para o voto em Ferreira do Amaral a fim de expressarem o seu "não socialismo"? Para já, e em comparação com os eleitorados dos restantes partidos, é entre eles que a intenção de abstenção nas presidenciais é mais elevada. E a Fernando Rosas resta esperar que uma abstenção elevada e a desistência de António Abreu o aproxime dos 2,6 por cento que Carlos Marques obteve em 1991. Caso contrário, o Bloco de Esquerda terá de recorrer a Magritte para explicar aos seus apoiantes que, afinal, "ceci n''est pas une pipe". Sucede, no entanto, que estas eleições poderão ser bem mais importantes do que parecem à primeira vista. Em primeiro lugar, devido às suas consequências na intenção de voto nos partidos. Uma das hipóteses nunca provadas acerca dos sistemas de governo semipresidenciais é a da forma como eles contribuem para o reforço de uma lógica de bipartidarização e/ou bipolarização no sistema partidário. A hipótese continua a não passar disso mesmo, mas a comparação entre a intenção de voto nos dois maiores partidos hoje e em Setembro passado não deixa de ser sugestiva. Há três meses, PS e PSD reuniam 68 por cento das intenções de voto nas legislativas. Hoje, no rescaldo da primeira fase da campanha para as presidenciais, os indecisos estão mais decididos e os pequenos partidos esvaziaram, elevando a percentagem dos dois maiores partidos para 79 por cento. Mesmo que queiramos atribuir este fenómeno aos erros do PCP e do CDS na forma como (não) escolheram os seus candidatos presidenciais, o certo é que foram as eleições que lhes forçaram a mão. Contudo, há um partido em especial para quem estas presidenciais se preparam para ser cruciais. 80 por cento dos eleitores do PS dizem considerar as próximas eleições presidenciais pelo menos "bastante importantes". Apesar do "seu" candidato ter a vitória garantida, é entre os socialistas que a intenção de abstenção nas presidenciais apresenta os valores mais baixos em comparação com os restantes eleitorados. É entre aqueles que se situam à esquerda do espectro político-ideológico, incluindo os eleitores do PS, que encontramos o mais forte apoio a um aumento dos poderes presidenciais. E se a maioria dos portugueses afirma que a função fundamental de um Presidente da República deverá ser a de "fiscalizar" o governo, a maior parte dos eleitores socialistas dão às suas funções uma interpretação algo distinta: "orientar" a acção do governo. Até 1991, a aparente inércia de Mário Soares em face de um governo maioritário do PSD serviu-lhe para se distanciar de um PS destroçado e, adicionalmente, para obter junto do centro e da direita um capital de confiança suficiente para tornar tolerável o posterior desmantelamento de Cavaco Silva. A aparente inércia de Jorge Sampaio em face do governo de António Guterres servirá outros objectivos. Em Janeiro, o eleitorado do PS vai converter Sampaio no presidente de todos os socialistas, com o meritório objectivo de "orientar" a acção de um governo desnorteado. Por enquanto, Sampaio vai demitindo ministros. Depois de Janeiro, Guterres que se cuide. *Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Sampaio com o dobro dos votos de Amaral

Sampaio atrás de Soares e de Eanes

Mulheres, alentejanas, cinquenta anos de idade

OPINIÃO

O Presidente de todos os socialistas

marcar artigo