A rádio com imagens

15-01-2001
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SIC Notícias ganhou primeira prova de fogo

A Rádio com Imagens

Por ADELINO GOMES

Segunda-feira, 15 de Janeiro de 2001

Dinâmica. Ágil. Sóbria. A emissão que ofereceu aos que a escolheram - ou por ela passaram durante as duas horas que a empresa mãe lhe autorizou de autonomia - manteve-se na fasquia técnica e jornalísticamente elevada a que já habituou os que a procuram no cabo. Problemas com o som e entrevistas sem critério ou repetitivas não chegaram para retirar brilho a um trabalho cujas principais limitações se deveram sobretudo a compreensíveis critérios empresariais.

A apresentadora (ou pivot, como afrancesadamente preferimos dizer) Clara de Sousa tinha pela frente uma tarefa de algum modo inglória: animar uma emissão durante duas horas, sabendo previamente que iria calar-se segundos antes de chegar o momento da notícia da noite - a divulgação das projecções que apontariam o vencedor do acto eleitoral. Por recomendação da Alta Autoridade para a Comunicação Social seguida (saúde-se o inédito consenso) pelos responsáveis da informação das principais televisões e rádios, desta vez as projecções só podiam ser divulgadas às 20 horas, após o fecho das urnas em todo o território nacional. A SIC entendeu não dispersar equipamentos e recursos humanos por duas coberturas diferentes que dificilmente lhe trariam benefícios e lhe podiam custar audiências.

Como é bom de ver e as sinergias exigem, o sacrificado foi o canal-filho, cuja redacção, confinada ao período entre as 18 e as 20 horas (quando não havia ou havendo já, não podia ser divulgada qualquer informação relevante sobre os resultados eleitorais) mostrou o que os espectadores precisavam de ver: os boicotes do dia, a votação das figuras tradicionais da democracia portuguesa e o ambiente em cada uma das candidaturas.

Acrescentou-lhes uma excelente e didáctica ideia, em jeito de flash-back: uma viagem pelas eleições presidenciais do pós-25 de Abril, para a qual convocou também o testemunho de repórteres que as acompanharam profissionalmente.

Tudo isto executado com a dinâmica e a agilidade que são a imagem de marca da SIC. Mas também com uma sobriedade no tom adequada a um período de emissão em que (repete-se) nada mais havia a relatar do que a expectativa dos candidatos e principais apoiantes, ainda recolhidos, e a curiosidade dos cidadãos em geral, impossível de satisfazer naquele momento, apesar da redacção central já estar de posse dos resultados da respectiva projecção.

Mesmo tratando-se de um canal todo notícias, estas limitações à partida talvez tivessem aconselhado uma emissão menos prolongada. Meia hora depois de Clara de Sousa ter dado início a esta emissão de rádio com imagens, já estava tudo dito e visto - a possibilidade de uma altíssima abstenção; o corredor do andar onde Ferreira do Amaral há-de chegar dentro de minutos; o ar decidido com que homens e mulheres de meia idade rasgaram boletins de voto em Souselas; Álvaro Cunhal, amparado por um camarada, a dizer a uma jornalista "como vê, estou aqui!".

Obrigados a preencher os tempos mortos, os repórteres estendiam o microfone a quem quer que passasse ao alcance do respectivo microfone, num ambiente de excitação algo virtual, bem definida por aquele repórter que, pelas 19h45, confessava na RTP 1: ""A única agitação aqui é provocada pelos jornalistas".

A SIC Notícias ganhou, portanto, a primeira prova de fogo eleitoral. Ou para sermos precisos: mostrou amplas potencialidades para ganhar a primeira prova de fogo eleitoral. Quando a SIC mãe lhe autorizar a emancipação.

Adelino Gomes

SIC Notícias ganhou primeira prova de fogo

A Rádio com Imagens

Por ADELINO GOMES

Segunda-feira, 15 de Janeiro de 2001

Dinâmica. Ágil. Sóbria. A emissão que ofereceu aos que a escolheram - ou por ela passaram durante as duas horas que a empresa mãe lhe autorizou de autonomia - manteve-se na fasquia técnica e jornalísticamente elevada a que já habituou os que a procuram no cabo. Problemas com o som e entrevistas sem critério ou repetitivas não chegaram para retirar brilho a um trabalho cujas principais limitações se deveram sobretudo a compreensíveis critérios empresariais.

A apresentadora (ou pivot, como afrancesadamente preferimos dizer) Clara de Sousa tinha pela frente uma tarefa de algum modo inglória: animar uma emissão durante duas horas, sabendo previamente que iria calar-se segundos antes de chegar o momento da notícia da noite - a divulgação das projecções que apontariam o vencedor do acto eleitoral. Por recomendação da Alta Autoridade para a Comunicação Social seguida (saúde-se o inédito consenso) pelos responsáveis da informação das principais televisões e rádios, desta vez as projecções só podiam ser divulgadas às 20 horas, após o fecho das urnas em todo o território nacional. A SIC entendeu não dispersar equipamentos e recursos humanos por duas coberturas diferentes que dificilmente lhe trariam benefícios e lhe podiam custar audiências.

Como é bom de ver e as sinergias exigem, o sacrificado foi o canal-filho, cuja redacção, confinada ao período entre as 18 e as 20 horas (quando não havia ou havendo já, não podia ser divulgada qualquer informação relevante sobre os resultados eleitorais) mostrou o que os espectadores precisavam de ver: os boicotes do dia, a votação das figuras tradicionais da democracia portuguesa e o ambiente em cada uma das candidaturas.

Acrescentou-lhes uma excelente e didáctica ideia, em jeito de flash-back: uma viagem pelas eleições presidenciais do pós-25 de Abril, para a qual convocou também o testemunho de repórteres que as acompanharam profissionalmente.

Tudo isto executado com a dinâmica e a agilidade que são a imagem de marca da SIC. Mas também com uma sobriedade no tom adequada a um período de emissão em que (repete-se) nada mais havia a relatar do que a expectativa dos candidatos e principais apoiantes, ainda recolhidos, e a curiosidade dos cidadãos em geral, impossível de satisfazer naquele momento, apesar da redacção central já estar de posse dos resultados da respectiva projecção.

Mesmo tratando-se de um canal todo notícias, estas limitações à partida talvez tivessem aconselhado uma emissão menos prolongada. Meia hora depois de Clara de Sousa ter dado início a esta emissão de rádio com imagens, já estava tudo dito e visto - a possibilidade de uma altíssima abstenção; o corredor do andar onde Ferreira do Amaral há-de chegar dentro de minutos; o ar decidido com que homens e mulheres de meia idade rasgaram boletins de voto em Souselas; Álvaro Cunhal, amparado por um camarada, a dizer a uma jornalista "como vê, estou aqui!".

Obrigados a preencher os tempos mortos, os repórteres estendiam o microfone a quem quer que passasse ao alcance do respectivo microfone, num ambiente de excitação algo virtual, bem definida por aquele repórter que, pelas 19h45, confessava na RTP 1: ""A única agitação aqui é provocada pelos jornalistas".

A SIC Notícias ganhou, portanto, a primeira prova de fogo eleitoral. Ou para sermos precisos: mostrou amplas potencialidades para ganhar a primeira prova de fogo eleitoral. Quando a SIC mãe lhe autorizar a emancipação.

Adelino Gomes

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