Défice e inflação limitam salários

01-05-2001
marcar artigo

Défice e Inflação Limitam Salários

Por ARTUR NEVES

Terça-feira, 1 de Maio de 2001 Uma subida generalizada do nível dos salários teria, no estado actual da economia portuguesa, um triplo efeito negativo: acentuaria as pressões no sentido de subida da inflação que já se manifestam, elevaria o actual nível do défice público e diminuiria a competitividade das exportações portuguesas. As previsões de Primavera da Comissão Europeia, recentemente divulgadas, alertavam justamente para o risco de o país não cumprir este ano o nível de défice orçamental com que se comprometeu (1,1 por cento do PIB), arriscando-se a perder financiamentos comunitários, no âmbito das sanções previstas no Pacto de Estabilidade. Num cenário de elevada incerteza quanto ao que será a evolução no curto prazo da economia mundial, o país cresce a uma taxa situada entre dois e três por cento, insuficiente para acompanhar a média da zona euro (ou sequer a Espanha ou a Grécia) num período de pelo menos três anos. A Comissão sugere uma política orçamental menos expansionista, mesmo se a sua adopção a curto prazo é susceptível de ter reflexos negativos no crescimento do produto interno bruto (PIB), conforme salientou ao PÚBLICO Miguel Beleza, ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva e actualmente a trabalhar no BCP. Nas palavras de João César das Neves, professor na Universidade Católica, "a economia portuguesa regista neste momento um excesso da procura sobre a oferta", e "todo o país se está a endividar, das famílias ao Governo". Como se chegou até aqui? Miguel Beleza explica: "Nos últimos anos, com a adesão de Portugal ao euro e a descida das taxas de juro, houve no país um colossal incentivo ao consumo interno que não foi convenientemente contrabalançado por uma diminuição das despesas governamentais." Os dois economistas estão de acordo que competirá ao Estado dar o exemplo, gastando menos de forma a contribuir para o combate à inflação, sendo que a contenção salarial no sector público faz parte do esforço de controlo do défice. Miguel Beleza salienta que, sendo os salários da função pública um referencial para a economia como um todo, "neste momento uma subida dos salários em Portugal traduzir-se-ia em perda de competitividade externa e consequentemente mais desemprego". Mas será possível domar a inflação através da despesa pública? "As autoridades portuguesas não dispõem de meios para combater a inflação, não podendo, nomeadamente, ser a política orçamental a fazê-lo", afirma João Ferreira do Amaral, do Instituto Superior de Economia e Gestão. Para este economista, ex-assessor económico de Mário Soares na Presidência da República, o actual nível de défice público nem sequer é particularmente elevando, achando no entanto "que é um objectivo exequível termos a despesa pública a crescer menos do que o PIB". E realça que "a principal limitação do crescimento económico português é a nossa competitividade externa, encontrando-se esta condicionada por um euro sobreavaliado". Fundamental para Ferreira do Amaral é a revisão da estratégia do país face à Europa, esquecendo-se quaisquer veleidades de pertencer ao núcleo duro que nela se vier a formar. Por isso defende um modelo "à la carte", tal como é preconizado por britânicos ou escandinavos. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Euro-sindicalismo dá os primeiros passos

As comemorações de hoje

Sanções para empresas que recusem consultar os trabalhadores sobre despedimentos

Contenção salarial irrita sindicatos

Défice e inflação limitam salários

Défice e Inflação Limitam Salários

Por ARTUR NEVES

Terça-feira, 1 de Maio de 2001 Uma subida generalizada do nível dos salários teria, no estado actual da economia portuguesa, um triplo efeito negativo: acentuaria as pressões no sentido de subida da inflação que já se manifestam, elevaria o actual nível do défice público e diminuiria a competitividade das exportações portuguesas. As previsões de Primavera da Comissão Europeia, recentemente divulgadas, alertavam justamente para o risco de o país não cumprir este ano o nível de défice orçamental com que se comprometeu (1,1 por cento do PIB), arriscando-se a perder financiamentos comunitários, no âmbito das sanções previstas no Pacto de Estabilidade. Num cenário de elevada incerteza quanto ao que será a evolução no curto prazo da economia mundial, o país cresce a uma taxa situada entre dois e três por cento, insuficiente para acompanhar a média da zona euro (ou sequer a Espanha ou a Grécia) num período de pelo menos três anos. A Comissão sugere uma política orçamental menos expansionista, mesmo se a sua adopção a curto prazo é susceptível de ter reflexos negativos no crescimento do produto interno bruto (PIB), conforme salientou ao PÚBLICO Miguel Beleza, ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva e actualmente a trabalhar no BCP. Nas palavras de João César das Neves, professor na Universidade Católica, "a economia portuguesa regista neste momento um excesso da procura sobre a oferta", e "todo o país se está a endividar, das famílias ao Governo". Como se chegou até aqui? Miguel Beleza explica: "Nos últimos anos, com a adesão de Portugal ao euro e a descida das taxas de juro, houve no país um colossal incentivo ao consumo interno que não foi convenientemente contrabalançado por uma diminuição das despesas governamentais." Os dois economistas estão de acordo que competirá ao Estado dar o exemplo, gastando menos de forma a contribuir para o combate à inflação, sendo que a contenção salarial no sector público faz parte do esforço de controlo do défice. Miguel Beleza salienta que, sendo os salários da função pública um referencial para a economia como um todo, "neste momento uma subida dos salários em Portugal traduzir-se-ia em perda de competitividade externa e consequentemente mais desemprego". Mas será possível domar a inflação através da despesa pública? "As autoridades portuguesas não dispõem de meios para combater a inflação, não podendo, nomeadamente, ser a política orçamental a fazê-lo", afirma João Ferreira do Amaral, do Instituto Superior de Economia e Gestão. Para este economista, ex-assessor económico de Mário Soares na Presidência da República, o actual nível de défice público nem sequer é particularmente elevando, achando no entanto "que é um objectivo exequível termos a despesa pública a crescer menos do que o PIB". E realça que "a principal limitação do crescimento económico português é a nossa competitividade externa, encontrando-se esta condicionada por um euro sobreavaliado". Fundamental para Ferreira do Amaral é a revisão da estratégia do país face à Europa, esquecendo-se quaisquer veleidades de pertencer ao núcleo duro que nela se vier a formar. Por isso defende um modelo "à la carte", tal como é preconizado por britânicos ou escandinavos. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Euro-sindicalismo dá os primeiros passos

As comemorações de hoje

Sanções para empresas que recusem consultar os trabalhadores sobre despedimentos

Contenção salarial irrita sindicatos

Défice e inflação limitam salários

marcar artigo