Abstenção faz história

15-01-2001
marcar artigo

Sampaio é Presidente reeleito com menos 600 mil votos

Abstenção Faz História

Por NUNO SÁ LOURENÇO

Segunda-feira, 15 de Janeiro de 2001

Menos de um por cento. É o que separa os valores da abstenção da barreira dos cinquenta pontos percentuais. O que não impediu que tais valores se transformassem em valores recorde para uma eleição presidencial. Quanto a Jorge Sampaio, tornou-se no menos votado Presidente de sempre. E com menos 600 mil votos do que os que tinha conseguido há cinco anos.

São os mais altos valores de sempre em Portugal. Nunca antes, em qualquer eleição presidencial, a abstenção tinha atingido os 49,08 pontos percentuais registados ontem. Dos mais de oito milhões de eleitores inscritos, quatro milhões e trezentos mil não foram votar. E ainda há seis freguesias ainda por apurar, todas devido a boicote.

Foi no Norte interior que se registaram os valores mais elevados, nalguns casos bem acima dos 50 por cento. Ainda assim foi o arquipélago dos Açores que teve direito a um primeiro lugar destacado graças aos 62,82 por cento de abstenção. Mais abaixo na tabela ficou Bragança com os seus 56,5 pontos percentuais. Vila Real, Viseu e Guarda registaram ainda valores à volta dos 52 por cento. O valor mais baixo de abstenção registou-se também a Norte, mas no litoral. Mais especificamente, em Braga, onde só 44,7 dos votantes ficaram em casa.

Qualquer comparação que seja feita com outra eleição recente demonstra que os números das presidenciais de 2001 ficaram bem acima. As últimas eleições realizadas em Portugal - as legislativas de 1999 - apresentaram 38,1 pontos percentuais de abstenção

Nem mesmo o argumento da reeleição de Jorge Sampaio estar já antecipadamente assegurada parece ser justificação suficiente para explicar os valores atingidos. Afinal, o mesmo poderia ser dito aquando da recondução de Mário Soares, em 1991. Apesar disso, as presidenciais desse ano apenas registaram uma abstenção de 38,01 por cento. Quando a comparação é feita com a reeleição de Ramalho Eanes, nas presidenciais de 1980, a discrepância é ainda maior. Nesse ano só se registaram16 por cento de abstenção, correspondentes a pouco menos de um milhão e cem mil de votantes que faltaram à chamada.

Como se tal não bastasse para deixar o Presidente reeleito incomodado, apesar de Jorge Sampaio ter subido em termos percentuais a verdade é que perdeu em número de votantes. Comparando o número de votos destas eleições com as de 1996, verifica-se que o candidato socialista ficou em falta com mais de 600 mil eleitores. Desta vez, Jorge Sampaio não conseguiu sequer chegar aos dois milhões e meio de eleitores. Números que, em contrapartida, igualam o candidato socialista a Belém aos valores atingidos pelo PS nas últimas legislativas, onde os socialistas conseguiram mais de dois milhões e trezentos mil cruzes.

Mas é também com os números de votantes que Jorge Sampaio faz história. A comparação com os outros Presidentes reeleitos deixa o candidato muito longe do que os seus antecessores tinham conseguido. O antigo líder da Câmara de Lisboa revelou-se o Presidente eleito com o menor número de votos, já que tanto Ramalho Eanes como Mário Soares recolheram sempre mais de 2,9 milhões de votos.

Os outros candidatos

Quanto a Ferreira do Amaral, apesar de ter conseguido ultrapassar a percentagem obtida do seu partido nas últimas legislativas, ficou muito longe do espaço que pretendia representar. Os seus 34,5 por cento não cobrem os mais de 40 pontos que os sociais-democratas e centristas somaram nas legislativas de há dois anos. Os portugueses não-socialistas são concerteza bem mais do que os cerca de um milhão e quinhentos mil que Ferreira do Amaral conseguiu cativar.

O resultado de António Abreu também não pode deixar os comunistas satisfeitos. Os pouco mais de cinco por cento conseguidos pelo candidato de última hora não representam sequer o eleitorado do PCP. Basta repescar os nove por cento de 1999 para se perceber a derrota. Além disso, é preciso não esquecer que da última vez que os comunistas tinham tentado a corrida a Belém, graças ao secretário -geral Carlos Carvalhas, tinham atingido os 12 por cento.

Fernando Rosas, o candidato apoiado pelo Bloco de Esquerda (BE), congratulou-se por ter conseguido ultrapassar a votação do seu partido nas legislativas onde tinham chegado aos 2,4 por cento. Só que, tal como aconteceu com Jorge Sampaio, isso não correspondeu a um maior número de votos, já que se Rosas conseguiu mais de 128 mil cruzes, o BE representou em 1999 bem mais de 130 mil votos.

Acresce a isto o facto do candidato bloquista ter perdido votos nas áreas de maior implantação do BE, ou seja, nas cidades. Uma perda que foi colmatada, contudo, com um crescimento nas áreas rurais.

Já Garcia Pereira pode mostrar-se mais satisfeito com os resultados das presidenciais. O facto de ter participado já era uma vitória. Só que o advogado conseguiu ir mais longe, duplicando a percentagem habitualmente atingida pelo partido que o apoiou. Se nas últimas legislativas o MRPP garantiu 0,7 pontos percentuais, Garcia Pereira contabilizou mais de um e meio por cento, ficando contudo ainda longe dos 100 mil eleitores que dizia conseguir cativar.

Sampaio é Presidente reeleito com menos 600 mil votos

Abstenção Faz História

Por NUNO SÁ LOURENÇO

Segunda-feira, 15 de Janeiro de 2001

Menos de um por cento. É o que separa os valores da abstenção da barreira dos cinquenta pontos percentuais. O que não impediu que tais valores se transformassem em valores recorde para uma eleição presidencial. Quanto a Jorge Sampaio, tornou-se no menos votado Presidente de sempre. E com menos 600 mil votos do que os que tinha conseguido há cinco anos.

São os mais altos valores de sempre em Portugal. Nunca antes, em qualquer eleição presidencial, a abstenção tinha atingido os 49,08 pontos percentuais registados ontem. Dos mais de oito milhões de eleitores inscritos, quatro milhões e trezentos mil não foram votar. E ainda há seis freguesias ainda por apurar, todas devido a boicote.

Foi no Norte interior que se registaram os valores mais elevados, nalguns casos bem acima dos 50 por cento. Ainda assim foi o arquipélago dos Açores que teve direito a um primeiro lugar destacado graças aos 62,82 por cento de abstenção. Mais abaixo na tabela ficou Bragança com os seus 56,5 pontos percentuais. Vila Real, Viseu e Guarda registaram ainda valores à volta dos 52 por cento. O valor mais baixo de abstenção registou-se também a Norte, mas no litoral. Mais especificamente, em Braga, onde só 44,7 dos votantes ficaram em casa.

Qualquer comparação que seja feita com outra eleição recente demonstra que os números das presidenciais de 2001 ficaram bem acima. As últimas eleições realizadas em Portugal - as legislativas de 1999 - apresentaram 38,1 pontos percentuais de abstenção

Nem mesmo o argumento da reeleição de Jorge Sampaio estar já antecipadamente assegurada parece ser justificação suficiente para explicar os valores atingidos. Afinal, o mesmo poderia ser dito aquando da recondução de Mário Soares, em 1991. Apesar disso, as presidenciais desse ano apenas registaram uma abstenção de 38,01 por cento. Quando a comparação é feita com a reeleição de Ramalho Eanes, nas presidenciais de 1980, a discrepância é ainda maior. Nesse ano só se registaram16 por cento de abstenção, correspondentes a pouco menos de um milhão e cem mil de votantes que faltaram à chamada.

Como se tal não bastasse para deixar o Presidente reeleito incomodado, apesar de Jorge Sampaio ter subido em termos percentuais a verdade é que perdeu em número de votantes. Comparando o número de votos destas eleições com as de 1996, verifica-se que o candidato socialista ficou em falta com mais de 600 mil eleitores. Desta vez, Jorge Sampaio não conseguiu sequer chegar aos dois milhões e meio de eleitores. Números que, em contrapartida, igualam o candidato socialista a Belém aos valores atingidos pelo PS nas últimas legislativas, onde os socialistas conseguiram mais de dois milhões e trezentos mil cruzes.

Mas é também com os números de votantes que Jorge Sampaio faz história. A comparação com os outros Presidentes reeleitos deixa o candidato muito longe do que os seus antecessores tinham conseguido. O antigo líder da Câmara de Lisboa revelou-se o Presidente eleito com o menor número de votos, já que tanto Ramalho Eanes como Mário Soares recolheram sempre mais de 2,9 milhões de votos.

Os outros candidatos

Quanto a Ferreira do Amaral, apesar de ter conseguido ultrapassar a percentagem obtida do seu partido nas últimas legislativas, ficou muito longe do espaço que pretendia representar. Os seus 34,5 por cento não cobrem os mais de 40 pontos que os sociais-democratas e centristas somaram nas legislativas de há dois anos. Os portugueses não-socialistas são concerteza bem mais do que os cerca de um milhão e quinhentos mil que Ferreira do Amaral conseguiu cativar.

O resultado de António Abreu também não pode deixar os comunistas satisfeitos. Os pouco mais de cinco por cento conseguidos pelo candidato de última hora não representam sequer o eleitorado do PCP. Basta repescar os nove por cento de 1999 para se perceber a derrota. Além disso, é preciso não esquecer que da última vez que os comunistas tinham tentado a corrida a Belém, graças ao secretário -geral Carlos Carvalhas, tinham atingido os 12 por cento.

Fernando Rosas, o candidato apoiado pelo Bloco de Esquerda (BE), congratulou-se por ter conseguido ultrapassar a votação do seu partido nas legislativas onde tinham chegado aos 2,4 por cento. Só que, tal como aconteceu com Jorge Sampaio, isso não correspondeu a um maior número de votos, já que se Rosas conseguiu mais de 128 mil cruzes, o BE representou em 1999 bem mais de 130 mil votos.

Acresce a isto o facto do candidato bloquista ter perdido votos nas áreas de maior implantação do BE, ou seja, nas cidades. Uma perda que foi colmatada, contudo, com um crescimento nas áreas rurais.

Já Garcia Pereira pode mostrar-se mais satisfeito com os resultados das presidenciais. O facto de ter participado já era uma vitória. Só que o advogado conseguiu ir mais longe, duplicando a percentagem habitualmente atingida pelo partido que o apoiou. Se nas últimas legislativas o MRPP garantiu 0,7 pontos percentuais, Garcia Pereira contabilizou mais de um e meio por cento, ficando contudo ainda longe dos 100 mil eleitores que dizia conseguir cativar.

marcar artigo