Direita de candeia às avessas

16-01-2001
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Apesar do mal-estar, PSD e PP admitem acordos locais nas autárquicas

Direita de Candeia às Avessas

Por HELENA PEREIRA

Terça-feira, 16 de Janeiro de 2001 PSD e PP estão desavindos por causa do resultado das presidenciais, mas destinados a entenderem-se nas eleições autárquicas. A ordem é, agora, entendimentos locais. No PSD, só Santana critica o resultado das presidenciais e fala em "oportunidade perdida". O resultado das eleições presidenciais serviu para afastar ainda mais o PSD do PP. No entanto, os dois partidos estão condenados a unirem-se nas eleições autárquicas para contrariar o PS. A regra, de um lado e do outro, será alianças de baixo para cima. A declaração de Paulo Portas, na noite das eleições, instalou a guerra entre os dois partidos. Portas, que apoiou Ferreira do Amaral a título pessoal, disse que o resultado deste ficou aquém da soma de votos do centro-direita. Dirigentes do PSD não gostaram, manifestaram-se chocados e com os cabelos em pé. É que o PSD não escondia a sua satisfação pelo candidato que apoiou ter ficado acima dos 30 por cento. Ferreira teve 34, 5 por cento em termos relativos, apesar de ter obtido menos votos do que Durão Barroso nas legislativas de 1999. Mesmo assim satisfeito e com a convicção de ter pacificado o partido, ou pelo menos adiado a sua convulsão interna, Durão repetiu ontem que jamais irá apoiar a candidatura de Portas à Câmara Municipal de Lisboa, mas que as estruturas que queiram fazer alianças com o PP têm toda a liberdade de o fazer. O presidente da distrital do PSD de Leiria, Feliciano Barreiras Duarte, afirmou ao PÚBLICO que no seu distrito não haverá um único acordo com o PP. Dirigentes sociais-democratas dizem que é "preciso pensar duas vezes" sobre futuros entendimentos. "O PSD está numa fase de análise e de adaptação da estratégia", disse ao PÚBLICO um dirigente nacional do PSD, instado a comentar a influência deste resultado eleitoral na estratégia para as eleições autárquicas e legislativas e as reviravoltas que poderão haver no PP (ver caixa nesta página). Preocupado em reforçar o partido, Durão Barroso tentou ontem à noite desdramatizar o mal-estar que a declaração de Portas provocou nas hostes sociais-democratas. "É normal que, em vez de combater entre si, [PSD e PP] convirjam na oposição ao Governo, no parlamento e a nível local. Foi isto que foi decidido. O PSD não pode andar aos ziguezagues. Não esperem do PSD frenesim, nervosismo, agitação", afirmou ontem à noite na SIC. Portas justificou ao PÚBLICO a sua atitude, lembrando que há sete anos que o centro-direita perde eleições e que o palco da candidatura de Ferreira do Amaral serviu para lhe desferir ataques. Reconhecendo que o processo das presidenciais "não correu bem", afirmou ser importante que o PSD respeite o PP, tal como sucede na situação inversa. "Se repetem a cena, não vai ser possível continuar assim", afirmou, referindo-se às alianças autárquicas e desafiando Durão a apresentar o seu candidato para Lisboa. Santana pede empenho de todos As autárquicas vão marcar também a reunião do Conselho Nacional do PSD, na quinta-feira. Pedro Santana Lopes, que já afastou a hipótese de ser candidato em Lisboa, será uma das vozes mais críticas dentro do PSD e, ao PÚBLICO, fez uma leitura das eleições parecida com a de Portas. Disse que o resultado de Ferreira do Amaral "foi excelente, tendo em conta as condições em que partiu e tudo o que fez o espaço político do centro-direita". Mas não deixou de acrescentar que os resultados "poderiam ter sido muito melhores", se o PSD tivesse seguido o caminho que ele próprio defendeu. "Nunca foram tão grandes as possibilidades de ganhar a um Presidente da República em funções, foi uma oportunidade perdida", criticou. Quanto a responsabilidades, o autarca da Figueira da Foz reparte-as entre os líderes do PSD e do PP e aqueles que, "tendo sido convidados para assumir a candidatura [como Cavaco Silva e Rebelo de Sousa], a recusaram, talvez por não saberem, na altura, que as condições hoje seriam tão favoráveis". E é precisamente isso - "o envolvimento de todos os que estão em condições de ganhar nas eleições autárquicas" - que Santana promete exigir no próximo Conselho Nacional do PSD. "Vou trabalhar com o dr. Durão Barroso, mas para ganhar e não para somar mais uma às oito derrotas consecutivas. E isso implica o empenhamento de todos e não apenas de alguns", avisa. As divergências entre Luís Filipe Menezes e a actual direcção nacional do PSD, por sua vez, vão continuar em "banho-maria". "O PSD-Porto considera que a actual direcção nacional do PSD, legitimamente sufragada em congresso, tem as condições necessárias à condução do partido num futuro próximo de sucesso, nomeadamente nas próximas eleições autárquicas", esclarece Menezes, em comunicado, destinado a desmentir uma notícia do jornal digital "Portugal Diário" que dava conta de um encontro supostamente conspirativo entre Menezes e Marcelo Rebelo de Sousa na noite das eleições. O encontro entre Menezes e Marcelo ocorreu mesmo, na cidade do Porto, segundo apurou o PÚBLICO, mas o que foi dito entre os dois permanece em segredo. Fonte autorizada da direcção nacional do PSD, no entanto, não dá grande importância ao encontro, preferindo interpretar o comunicado divulgado por Menezes como "um recuo" em relação a críticas recentes do autarca de Gaia. *com Rui Baptista e Graça Barbosa Ribeiro OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE A tradição foi mais forte

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Ferreira teve 34, 5 por cento em termos relativos, apesar de ter obtido menos votos do que Durão Barroso nas legislativas de 1999. Mesmo assim satisfeito e com a convicção de ter pacificado o partido, ou pelo menos adiado a sua convulsão interna, Durão repetiu ontem que jamais irá apoiar a candidatura de Portas à Câmara Municipal de Lisboa, mas que as estruturas que queiram fazer alianças com o PP têm toda a liberdade de o fazer. O presidente da distrital do PSD de Leiria, Feliciano Barreiras Duarte, afirmou ao PÚBLICO que no seu distrito não haverá um único acordo com o PP. Dirigentes sociais-democratas dizem que é "preciso pensar duas vezes" sobre futuros entendimentos. "O PSD está numa fase de análise e de adaptação da estratégia", disse ao PÚBLICO um dirigente nacional do PSD, instado a comentar a influência deste resultado eleitoral na estratégia para as eleições autárquicas e legislativas e as reviravoltas que poderão haver no PP (ver caixa nesta página). 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Santana pede empenho de todos As autárquicas vão marcar também a reunião do Conselho Nacional do PSD, na quinta-feira. Pedro Santana Lopes, que já afastou a hipótese de ser candidato em Lisboa, será uma das vozes mais críticas dentro do PSD e, ao PÚBLICO, fez uma leitura das eleições parecida com a de Portas. Disse que o resultado de Ferreira do Amaral "foi excelente, tendo em conta as condições em que partiu e tudo o que fez o espaço político do centro-direita". Mas não deixou de acrescentar que os resultados "poderiam ter sido muito melhores", se o PSD tivesse seguido o caminho que ele próprio defendeu. "Nunca foram tão grandes as possibilidades de ganhar a um Presidente da República em funções, foi uma oportunidade perdida", criticou. Quanto a responsabilidades, o autarca da Figueira da Foz reparte-as entre os líderes do PSD e do PP e aqueles que, "tendo sido convidados para assumir a candidatura [como Cavaco Silva e Rebelo de Sousa], a recusaram, talvez por não saberem, na altura, que as condições hoje seriam tão favoráveis". E é precisamente isso - "o envolvimento de todos os que estão em condições de ganhar nas eleições autárquicas" - que Santana promete exigir no próximo Conselho Nacional do PSD. "Vou trabalhar com o dr. Durão Barroso, mas para ganhar e não para somar mais uma às oito derrotas consecutivas. E isso implica o empenhamento de todos e não apenas de alguns", avisa. As divergências entre Luís Filipe Menezes e a actual direcção nacional do PSD, por sua vez, vão continuar em "banho-maria". "O PSD-Porto considera que a actual direcção nacional do PSD, legitimamente sufragada em congresso, tem as condições necessárias à condução do partido num futuro próximo de sucesso, nomeadamente nas próximas eleições autárquicas", esclarece Menezes, em comunicado, destinado a desmentir uma notícia do jornal digital "Portugal Diário" que dava conta de um encontro supostamente conspirativo entre Menezes e Marcelo Rebelo de Sousa na noite das eleições. O encontro entre Menezes e Marcelo ocorreu mesmo, na cidade do Porto, segundo apurou o PÚBLICO, mas o que foi dito entre os dois permanece em segredo. Fonte autorizada da direcção nacional do PSD, no entanto, não dá grande importância ao encontro, preferindo interpretar o comunicado divulgado por Menezes como "um recuo" em relação a críticas recentes do autarca de Gaia. *com Rui Baptista e Graça Barbosa Ribeiro OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE A tradição foi mais forte

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