O objectivo de Ferreira do Amaral

25-11-2000
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«Obrigadinho, Marcelo» - agradeceu Ferreira do Amaral comovido, com um aperto de mão caloroso. - «Gosto que esteja de acordo comigo.»

«Completamente de acordo!» - confirmou Marcelo, com aquela sua convicção, de sobrancelhas arqueadas em vê. - «O presidente é que tem a culpa de tudo.»

«Como é que se pode aguentar um presidente assim deprimido, queixoso, sem objectivos?!» - perguntou então Ferreira do Amaral, numa conversa já só a dois, mas num tom que jorrava ainda pelos ouvidos que passavam em redor.

«Impossível!» - declarou Marcelo, definitivo.

«O que nós temos» - continuava Ferreira do Amaral, um olho posto em Rebelo de Sousa, e o outro nos transeuntes anónimos - «o que nós temos é um presidente à deriva! E um presidente à deriva põe-nos a todos também à deriva!»

«Todos à deriva!» - reconheceu logo Marcelo, a dramatizar o tom. - «Opinião pública, instituições, País, tudo à deriva!»

«É preciso mudar!» - bramou Ferreira do Amaral, num entusiasmo crescente.

«Não é preciso mudar!» - advertiu Marcelo, revirando as pupilas, numa expressão lancinante. - «É fundamental, é imprescindível, é inadiável arranjar um novo presidente!»

«Temos de aproveitar a ocasião única que se nos brinda com as eleições de 14 de Janeiro!» - Ferreira do Amaral já berrava outra vez, a falar para toda a rua.

«O voto de 14 de Janeiro é a arma da mudança!» - concordou Marcelo, com a voz a crescer-lhe também, embalado na recordação de comícios antigos. - «É a vontade popular, a traçar o futuro, a escolher sabiamente, a decidir acabar com esta pasmaceira insustentável.»

Joaquim Ferreira do Amaral deixou então alastrar um silêncio espesso, fixando em Marcelo um olhar preocupado, e acabou por lhe sussurrar, numa confidência muito discreta: «E se perdemos?!...»

«Perdermos?!!!» - Marcelo Rebelo de Sousa escancarou a boca numa gargalhada ruidosa, respondeu-lhe aos berros. - «Mas como é que é possível perdermos?!!!»

Ferreira do Amaral, visivelmente incomodado, a sentir-se esquadrinhado por aquela pequena multidão que ali andava, aproximou-se mais de Marcelo, e esticou-se todo, a segredar-lhe: «Você acredita mesmo que ganhamos?!»

«Você não acredita na vitória?!» - a frase de Marcelo fora atirada como uma chicotada, numa censura pública, a expressão carregada, enquanto ele se afastava do interlocutor num passo largo, como que a temer o contágio. - «Você duvida da vitória?! Duvida de que vamos ter um novo presidente?!!!»

«Duvido agora!» - Ferreira do Amaral sibilara o desmentido, em tom de interjeição, mas a remexer-se contrafeito, com um ar afligido. - «Além disso, temos o especialista em ganhar eleições no Terceiro Mundo, o tal Hiran Pessoa de Melo, que disse que ia esquentá a campanha, o brasileiro...»

«Quero cá saber do brasileiro!» - explodiu Marcelo. - «O que me interessa é você! É consigo que vamos ganhar!»

«Mas como?!» - inquiriu, num gemido perplexo, Ferreira do Amaral. - «Eu farei o que posso... lá estarei no dia 14 a votar em mim... e você, com certeza, também lá irá votar em mim...»

«Oiça-me bem!» - Marcelo afivelou agora uma expressão amena, um sorriso suave, um ondear insinuante da voz. - «O melhor é nós os dois, numa lúcida consonância com o País, irmos votar no Sampaio. É a melhor maneira de acabarmos de vez com aquele presidente deprimido, queixoso e sem objectivos lá no PSD!»

Relatos do PEDRO BRAGANÇA

«Obrigadinho, Marcelo» - agradeceu Ferreira do Amaral comovido, com um aperto de mão caloroso. - «Gosto que esteja de acordo comigo.»

«Completamente de acordo!» - confirmou Marcelo, com aquela sua convicção, de sobrancelhas arqueadas em vê. - «O presidente é que tem a culpa de tudo.»

«Como é que se pode aguentar um presidente assim deprimido, queixoso, sem objectivos?!» - perguntou então Ferreira do Amaral, numa conversa já só a dois, mas num tom que jorrava ainda pelos ouvidos que passavam em redor.

«Impossível!» - declarou Marcelo, definitivo.

«O que nós temos» - continuava Ferreira do Amaral, um olho posto em Rebelo de Sousa, e o outro nos transeuntes anónimos - «o que nós temos é um presidente à deriva! E um presidente à deriva põe-nos a todos também à deriva!»

«Todos à deriva!» - reconheceu logo Marcelo, a dramatizar o tom. - «Opinião pública, instituições, País, tudo à deriva!»

«É preciso mudar!» - bramou Ferreira do Amaral, num entusiasmo crescente.

«Não é preciso mudar!» - advertiu Marcelo, revirando as pupilas, numa expressão lancinante. - «É fundamental, é imprescindível, é inadiável arranjar um novo presidente!»

«Temos de aproveitar a ocasião única que se nos brinda com as eleições de 14 de Janeiro!» - Ferreira do Amaral já berrava outra vez, a falar para toda a rua.

«O voto de 14 de Janeiro é a arma da mudança!» - concordou Marcelo, com a voz a crescer-lhe também, embalado na recordação de comícios antigos. - «É a vontade popular, a traçar o futuro, a escolher sabiamente, a decidir acabar com esta pasmaceira insustentável.»

Joaquim Ferreira do Amaral deixou então alastrar um silêncio espesso, fixando em Marcelo um olhar preocupado, e acabou por lhe sussurrar, numa confidência muito discreta: «E se perdemos?!...»

«Perdermos?!!!» - Marcelo Rebelo de Sousa escancarou a boca numa gargalhada ruidosa, respondeu-lhe aos berros. - «Mas como é que é possível perdermos?!!!»

Ferreira do Amaral, visivelmente incomodado, a sentir-se esquadrinhado por aquela pequena multidão que ali andava, aproximou-se mais de Marcelo, e esticou-se todo, a segredar-lhe: «Você acredita mesmo que ganhamos?!»

«Você não acredita na vitória?!» - a frase de Marcelo fora atirada como uma chicotada, numa censura pública, a expressão carregada, enquanto ele se afastava do interlocutor num passo largo, como que a temer o contágio. - «Você duvida da vitória?! Duvida de que vamos ter um novo presidente?!!!»

«Duvido agora!» - Ferreira do Amaral sibilara o desmentido, em tom de interjeição, mas a remexer-se contrafeito, com um ar afligido. - «Além disso, temos o especialista em ganhar eleições no Terceiro Mundo, o tal Hiran Pessoa de Melo, que disse que ia esquentá a campanha, o brasileiro...»

«Quero cá saber do brasileiro!» - explodiu Marcelo. - «O que me interessa é você! É consigo que vamos ganhar!»

«Mas como?!» - inquiriu, num gemido perplexo, Ferreira do Amaral. - «Eu farei o que posso... lá estarei no dia 14 a votar em mim... e você, com certeza, também lá irá votar em mim...»

«Oiça-me bem!» - Marcelo afivelou agora uma expressão amena, um sorriso suave, um ondear insinuante da voz. - «O melhor é nós os dois, numa lúcida consonância com o País, irmos votar no Sampaio. É a melhor maneira de acabarmos de vez com aquele presidente deprimido, queixoso e sem objectivos lá no PSD!»

Relatos do PEDRO BRAGANÇA

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