Coimbra: Encarnação "quebrou corações" dos socialistas

30-12-2001
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Coimbra: Encarnação "Quebrou Corações" dos Socialistas

Por GRAÇA BARBOSA RIBEIRO

Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2001

Apesar de prevista, a vitória provocou a euforia dos apoiantes da coligação de direita, em Coimbra. Manuel Machado, o socialista que foi presidente da câmara durante 12 anos, justificou a derrota dizendo que se sentia "um bocadinho co-incinerado"

"É mentira! É mentira!", berrava um social-democrata no Café Santa Cruz, a desejar que fossem verdadeiras as primeiras projecções, que apontavam para a maioria absoluta da coligação PSD-PP-PPM e para a derrota do PS e de Manuel Machado, presidente da Câmara de Coimbra há 12 anos. Ao lado, um rapaz saltava e gritava, exibindo a "T-shirt" com que os "jotas laranja" correram o concelho e com a qual prometeram "quebrar corações"- o símbolo do PS nesta campanha. Eram 19h00 e um minuto e, no café transformado na sede da festa da candidatura de Carlos Encarnação, as vozes de um e de outro foram abafadas por gritos e palmas que explodiram, numa euforia de que os sociais-democratas já não tinham memória.

O "speaker" agradecia a São Pedro por ter mandado sol "em vez de chuva, granizo e trovoada"; o cirurgião cardiotorácico e mandatário da candidatura, Manuel Antunes, anunciava que Coimbra estava "pronta para dar o salto para o futuro"; Maló de Abreu, o ex-presidente da concelhia "laranja" que se demitiu no decurso do complicadíssimo processo de escolha do candidato, só largava o telemóvel para ir anunciando a queda de freguesias historicamente socialistas. O café, situado junto à câmara municipal, ficava cada vez mais cheio.

A umas centenas de metros dali, na sede de candidatura do PS e de Manuel Machado, o fluxo era contrário. "Vou-me embora", anunciou, cabisbaixo, um dos poucos militantes que ali apareceram para saber pela TV o resultado das sondagens. Não havia ninguém para o segurar ou consolar. Os "jotas" socialistas tinham-se refugiado no primeiro andar do edifício; de Manuel Machado e de responsáveis políticos concelhios nem sinal. Só António Arnault, advogado, "pai" do Sistema Nacional de Saúde, entrou, desprevenido, para ser apanhado por uma avalanche de questões de jornalistas, ansiosos por reacções. Arnault não se escusou a responder - e, apesar de falar do desgaste causado pela co-incineração e por 12 anos à frente da câmara, fez questão de sublinhar as responsabilidades do Governo no "descontentamento" dos eleitores: "Eu próprio, enquanto socialista...", atirou.

Só muito mais tarde apareceriam os candidatos. Primeiro Encarnação, que entrou no Café Santa Cruz quando, em frente, se preparava a prometida festa popular. Foi beijado, abraçado, apertado, antes de conseguir chegar aos microfones. Dezanove anos depois de ter enfrentado uma derrota naquele município, também então em nome da AD, era aclamado como presidente da Câmara de Coimbra. Estava emocionado, mas disfarçou. Baixou a voz, para acalmar os ânimos; convidou todas as forças políticas a juntarem-se à festa, num apelo à tolerância para com os derrotados; prometeu dar pelouros à oposição, o que não provocou manifestações de alegria na sala; disse que a vitória era de Coimbra. Depois, tentou provar o mérito próprio, chamando a atenção para a expressão dos números: "Houve um grande cansaço em relação ao executivo [de Manuel Machado]. Mas, se não tivéssemos conquistado a confiança dos eleitores, os resultados não seriam estes", disse.

O candidato vitorioso, que fez da contestação à co-incineração uma das principais propostas de campanha, prometeu fazer a primeira reunião de câmara em Souselas. Manuel Machado, algum tempo depois, havia de dizer, para justificar a derrota, que se sentia "um bocadinho co-incinerado". "Mas é da vida...", disse, numa alusão a uma frase de Guterres. Também ele foi apertado, abraçado e beijado, na sede de candidatura. Mas sempre por gente em lágrimas que não eram de alegria.

Na sede do PCP, a animação não era maior. O dito "cansaço" em relação a Manuel Machado terá feito juntar os votos na coligação de direita. E o aumento da votação na CDU era considerado irrisório, em relação às expectativas criadas pela boa prestação do cabeça de lista, Gouveia Monteiro, como vereador, no executivo municipal. "Foi um balão que se esvaziou...", lamentava um militante comunista.

Coimbra: Encarnação "Quebrou Corações" dos Socialistas

Por GRAÇA BARBOSA RIBEIRO

Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2001

Apesar de prevista, a vitória provocou a euforia dos apoiantes da coligação de direita, em Coimbra. Manuel Machado, o socialista que foi presidente da câmara durante 12 anos, justificou a derrota dizendo que se sentia "um bocadinho co-incinerado"

"É mentira! É mentira!", berrava um social-democrata no Café Santa Cruz, a desejar que fossem verdadeiras as primeiras projecções, que apontavam para a maioria absoluta da coligação PSD-PP-PPM e para a derrota do PS e de Manuel Machado, presidente da Câmara de Coimbra há 12 anos. Ao lado, um rapaz saltava e gritava, exibindo a "T-shirt" com que os "jotas laranja" correram o concelho e com a qual prometeram "quebrar corações"- o símbolo do PS nesta campanha. Eram 19h00 e um minuto e, no café transformado na sede da festa da candidatura de Carlos Encarnação, as vozes de um e de outro foram abafadas por gritos e palmas que explodiram, numa euforia de que os sociais-democratas já não tinham memória.

O "speaker" agradecia a São Pedro por ter mandado sol "em vez de chuva, granizo e trovoada"; o cirurgião cardiotorácico e mandatário da candidatura, Manuel Antunes, anunciava que Coimbra estava "pronta para dar o salto para o futuro"; Maló de Abreu, o ex-presidente da concelhia "laranja" que se demitiu no decurso do complicadíssimo processo de escolha do candidato, só largava o telemóvel para ir anunciando a queda de freguesias historicamente socialistas. O café, situado junto à câmara municipal, ficava cada vez mais cheio.

A umas centenas de metros dali, na sede de candidatura do PS e de Manuel Machado, o fluxo era contrário. "Vou-me embora", anunciou, cabisbaixo, um dos poucos militantes que ali apareceram para saber pela TV o resultado das sondagens. Não havia ninguém para o segurar ou consolar. Os "jotas" socialistas tinham-se refugiado no primeiro andar do edifício; de Manuel Machado e de responsáveis políticos concelhios nem sinal. Só António Arnault, advogado, "pai" do Sistema Nacional de Saúde, entrou, desprevenido, para ser apanhado por uma avalanche de questões de jornalistas, ansiosos por reacções. Arnault não se escusou a responder - e, apesar de falar do desgaste causado pela co-incineração e por 12 anos à frente da câmara, fez questão de sublinhar as responsabilidades do Governo no "descontentamento" dos eleitores: "Eu próprio, enquanto socialista...", atirou.

Só muito mais tarde apareceriam os candidatos. Primeiro Encarnação, que entrou no Café Santa Cruz quando, em frente, se preparava a prometida festa popular. Foi beijado, abraçado, apertado, antes de conseguir chegar aos microfones. Dezanove anos depois de ter enfrentado uma derrota naquele município, também então em nome da AD, era aclamado como presidente da Câmara de Coimbra. Estava emocionado, mas disfarçou. Baixou a voz, para acalmar os ânimos; convidou todas as forças políticas a juntarem-se à festa, num apelo à tolerância para com os derrotados; prometeu dar pelouros à oposição, o que não provocou manifestações de alegria na sala; disse que a vitória era de Coimbra. Depois, tentou provar o mérito próprio, chamando a atenção para a expressão dos números: "Houve um grande cansaço em relação ao executivo [de Manuel Machado]. Mas, se não tivéssemos conquistado a confiança dos eleitores, os resultados não seriam estes", disse.

O candidato vitorioso, que fez da contestação à co-incineração uma das principais propostas de campanha, prometeu fazer a primeira reunião de câmara em Souselas. Manuel Machado, algum tempo depois, havia de dizer, para justificar a derrota, que se sentia "um bocadinho co-incinerado". "Mas é da vida...", disse, numa alusão a uma frase de Guterres. Também ele foi apertado, abraçado e beijado, na sede de candidatura. Mas sempre por gente em lágrimas que não eram de alegria.

Na sede do PCP, a animação não era maior. O dito "cansaço" em relação a Manuel Machado terá feito juntar os votos na coligação de direita. E o aumento da votação na CDU era considerado irrisório, em relação às expectativas criadas pela boa prestação do cabeça de lista, Gouveia Monteiro, como vereador, no executivo municipal. "Foi um balão que se esvaziou...", lamentava um militante comunista.

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