Paulo Portas ponderou demissão

05-01-2002
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Paulo Portas Ponderou Demissão

Por EUNICE LOURENÇO

Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2001

Enterro autárquico do CDS-PP

Democratas-cristãos perderam sete câmaras. Portas será decisivo em Lisboa

Foi uma noite de enterro na sede do CDS-PP, em Lisboa. O enterro autárquico de um partido que, numa só noite, perdeu seis das oito câmaras que tinha e apenas ganhou uma nova, e de um líder, Paulo Portas, que jogou tudo nesta corrida e a perdeu. Mas que, na hora de assumir a derrota, recuou na demissão que chegou a ponderar, mas que irá decidir nos próximos dias.

A noite começou cautelosa, muito cautelosa, com uma cautela que anunciava o que se viria a passar. Pouco depois das 19 horas, o coordenador autárquico, Anacoreta Correia, fez a primeira declaração da noite, na qual afirmou que o CDS-PP mantinha intactos todos os objectivos a que se propôs nestas eleições. A saber: aumentar o número de autarcas, aumentar o número de câmaras e equiparar a votação nas autárquicas à das últimas legislativas.

Dos três, só o primeiro foi alcançado. Mas a derrota só começaria a ser reconhecida quase quatro horas depois. "Alô PP. Então vocês não têm nada?", perguntava, ao longo da noite, o centro de comando da RTP para os seus enviados ao largo do Caldas. E a resposta era sempre a mesma: "Do PP, neste momento não há ninguém para reagir." Na sala só jornalistas, muitos tentando aquecer-se junto aos aquecedores eléctricos. Raramente se acendiam as luzes para os directos. Lisboa continuava por decidir. Nada parecia acontecer na sede do CDS-PP, enquanto o partido ia perdendo as já poucas câmaras que tinha.

"Os resultados nacionais não são resultados satisfatórios", assumiu, enfim, Anacoreta perto das 23 horas. O coordenador autárquico do CDS-PP deixava no ar o tom do que se passaria no andar de cima: pedia tempo porque "não é bom reagir a frio", mas reconhecia que deviam ser "tiradas conclusões" por Portas e pela direcção do partido e punha, de imediato, os seus cargos directivos à disposição.

Mais uma espera. O que interessava era ouvir Paulo Portas, mas o líder nunca mais descia. Estaria à espera de saber o vencedor de Lisboa? Dos comentários de Marcelo Rebelo de Sousa? Das anunciadas declarações do seu antecessor Manuel Monteiro? Monteiro falou e pediu que Portas tirasse as conclusões dos resultados, tal como ele o fez há quatro anos. Marcelo comentou e decretou a derrota do CDS-PP "enquanto partido autónomo". Mas nada de Paulo Portas. Iria demitir-se? - era a pergunta pendente.

Eis que, de repente, quem se demite é António Guterres. A noite anima-se. João Soares reconhece a derrota e Portas desce, finalmente, para proclamar: "Estas eleições são para o CDS-PP uma alegria e um revés." E passou a explicar: alegria porque o seu eleitorado "contribuiu decisivamente para que os socialistas perdessem câmaras tão importantes", ou seja, "houve viragem à direita porque a fórmula da AD foi mobilizadora"; revés porque o "resultado nacional é decepcionante".

Tanto a nível nacional como na sua qualidade de candidato a Lisboa, o discurso de Portas oscilou entre reclamar o carácter decisivo do seu partido para a formação de uma "maioria de direita" e o reconhecimento de que os objectivos a que se propôs e a estratégia que traçou há quase dois anos foram clamorosamente derrotados.

Quanto às conclusões, Paulo Portas remeteu-as para mais tarde. Anunciou que vai "proceder a uma análise ponderada" e depois dirá o que faz. O líder do CDS-PP recuava, assim, na decisão que tinha ponderado ao longo da noite e que alguns membros da sua direcção tinham tentado demover. Afinal, com o primeiro-ministro a demitir-se, a sua demissão já não seria tão notada e era preciso rever prioridades.

Paulo Portas Ponderou Demissão

Por EUNICE LOURENÇO

Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2001

Enterro autárquico do CDS-PP

Democratas-cristãos perderam sete câmaras. Portas será decisivo em Lisboa

Foi uma noite de enterro na sede do CDS-PP, em Lisboa. O enterro autárquico de um partido que, numa só noite, perdeu seis das oito câmaras que tinha e apenas ganhou uma nova, e de um líder, Paulo Portas, que jogou tudo nesta corrida e a perdeu. Mas que, na hora de assumir a derrota, recuou na demissão que chegou a ponderar, mas que irá decidir nos próximos dias.

A noite começou cautelosa, muito cautelosa, com uma cautela que anunciava o que se viria a passar. Pouco depois das 19 horas, o coordenador autárquico, Anacoreta Correia, fez a primeira declaração da noite, na qual afirmou que o CDS-PP mantinha intactos todos os objectivos a que se propôs nestas eleições. A saber: aumentar o número de autarcas, aumentar o número de câmaras e equiparar a votação nas autárquicas à das últimas legislativas.

Dos três, só o primeiro foi alcançado. Mas a derrota só começaria a ser reconhecida quase quatro horas depois. "Alô PP. Então vocês não têm nada?", perguntava, ao longo da noite, o centro de comando da RTP para os seus enviados ao largo do Caldas. E a resposta era sempre a mesma: "Do PP, neste momento não há ninguém para reagir." Na sala só jornalistas, muitos tentando aquecer-se junto aos aquecedores eléctricos. Raramente se acendiam as luzes para os directos. Lisboa continuava por decidir. Nada parecia acontecer na sede do CDS-PP, enquanto o partido ia perdendo as já poucas câmaras que tinha.

"Os resultados nacionais não são resultados satisfatórios", assumiu, enfim, Anacoreta perto das 23 horas. O coordenador autárquico do CDS-PP deixava no ar o tom do que se passaria no andar de cima: pedia tempo porque "não é bom reagir a frio", mas reconhecia que deviam ser "tiradas conclusões" por Portas e pela direcção do partido e punha, de imediato, os seus cargos directivos à disposição.

Mais uma espera. O que interessava era ouvir Paulo Portas, mas o líder nunca mais descia. Estaria à espera de saber o vencedor de Lisboa? Dos comentários de Marcelo Rebelo de Sousa? Das anunciadas declarações do seu antecessor Manuel Monteiro? Monteiro falou e pediu que Portas tirasse as conclusões dos resultados, tal como ele o fez há quatro anos. Marcelo comentou e decretou a derrota do CDS-PP "enquanto partido autónomo". Mas nada de Paulo Portas. Iria demitir-se? - era a pergunta pendente.

Eis que, de repente, quem se demite é António Guterres. A noite anima-se. João Soares reconhece a derrota e Portas desce, finalmente, para proclamar: "Estas eleições são para o CDS-PP uma alegria e um revés." E passou a explicar: alegria porque o seu eleitorado "contribuiu decisivamente para que os socialistas perdessem câmaras tão importantes", ou seja, "houve viragem à direita porque a fórmula da AD foi mobilizadora"; revés porque o "resultado nacional é decepcionante".

Tanto a nível nacional como na sua qualidade de candidato a Lisboa, o discurso de Portas oscilou entre reclamar o carácter decisivo do seu partido para a formação de uma "maioria de direita" e o reconhecimento de que os objectivos a que se propôs e a estratégia que traçou há quase dois anos foram clamorosamente derrotados.

Quanto às conclusões, Paulo Portas remeteu-as para mais tarde. Anunciou que vai "proceder a uma análise ponderada" e depois dirá o que faz. O líder do CDS-PP recuava, assim, na decisão que tinha ponderado ao longo da noite e que alguns membros da sua direcção tinham tentado demover. Afinal, com o primeiro-ministro a demitir-se, a sua demissão já não seria tão notada e era preciso rever prioridades.

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