Miguel Portas admite fracasso eleitoral

29-12-2001
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Miguel Portas Admite Fracasso Eleitoral

Por ISABEL BRAGA

Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2001

O candidato do Bloco de Esquerda procurou fazer um discurso pela positiva. Mas não foi fácil.

Miguel Portas não conseguiu ser eleito para a Câmara de Lisboa e, ontem à noite, o candidato do Bloco de Esquerda (BE) admitia que falhara. Fazia-o antes da meia-noite, quando não se sabia ainda ao certo quem vencera, se João Soares se Santana Lopes. Mas a política também é a arte de disfarçar a realidade com palavras e, ontem, o candidato bloquista consolava-se como podia, atribuindo ao Bloco três objectivos e congratulando-se com o facto de dois terem sido alcançados: a vitória na Câmara de Salvaterra de Magos e o "aumento da influência do movimento a nível nacional".

Para quem acompanhava a noite das eleições na sede do PSR, na Rua da Palma, onde a candidatura de Miguel Portas assentou arraiais, era perceptível primeiro algum desconcerto e, depois, uma grande desilusão com os resultados. No meio da derrocada geral, optou-se, compreensivelmente, por um discurso não derrotista, mas também não optimista, porque era impossível.

Depois de falar "na estrondosa derrota do PS e do PCP" nestas eleições, Miguel Portas disse que o Bloco "foi a força que melhor respondeu ao avanço da direita". Foi mesmo, frisou, "o único projecto de esquerda que conseguiu resistir, num contexto de bipolarização e de apelo ao voto útil".

Mas o candidato bloquista - que até admitiu que só com João Soares como presidente da Câmara, o Bloco poderia aspirar "a um acordo político de natureza estratégica" - foi veemente na rejeição de responsabilidades nos maus resultados da coligação Amar Lisboa. Tudo aconteceu por causa da bipolarização, disse e repetiu.

"Não é por causa do Bloco que a coligação Amar Lisboa perdeu votos. Se o BE tivesse desistido, as coisas não teriam sido diferentes. Os resultados de João Soares em Lisboa tiveram a ver com o medo que se abateu sobre a esquerda da cidade. E esse medo reflectiu-se na diferença entre a votação que o Bloco obteve para a Câmara e para a Assembleia Municipal".

Perdida a corrida à Câmara, Miguel Portas preferiu falar do país. "O essencial, agora, não é o lavar da roupa suja, mas a esquerda perceber o novo quadro político em que se move. O PS teve, por todo o país, uma grande derrota eleitoral e não pode continuar o caminho que tem seguido. O povo julgou a política do PS e não só nas autarquias", frisou.

Francisco Louçã comentou também a "derrocada da esquerda" e considerou que os resultados eleitorais do BE fazem com que o movimento se apresente "como um factor de transformação das esquerdas portuguesas" e "uma resposta ao colapso do partido do Governo". Quanto à derrota de João Soares, foi da mesma opinião que Miguel Portas: "A bipolarização estragou tudo".

Entre um caldo verde, um prato de chili e uma cerveja, os apoiantes do Bloco iam resistindo como podiam às notícias das sucessivas derrotas do PS e do PCP. No seu discurso de fim de noite, Miguel Portas garantia, corajosamente, há que admitir: "Amanhã, às nove a manhã, estarei no Campo Grande, à porta da Câmara Municipal de Lisboa, com um grupo de pessoas que estão à espera de casa, a pedir que a Câmara cumpra a sua obrigação. Lisboa continua".

Miguel Portas Admite Fracasso Eleitoral

Por ISABEL BRAGA

Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2001

O candidato do Bloco de Esquerda procurou fazer um discurso pela positiva. Mas não foi fácil.

Miguel Portas não conseguiu ser eleito para a Câmara de Lisboa e, ontem à noite, o candidato do Bloco de Esquerda (BE) admitia que falhara. Fazia-o antes da meia-noite, quando não se sabia ainda ao certo quem vencera, se João Soares se Santana Lopes. Mas a política também é a arte de disfarçar a realidade com palavras e, ontem, o candidato bloquista consolava-se como podia, atribuindo ao Bloco três objectivos e congratulando-se com o facto de dois terem sido alcançados: a vitória na Câmara de Salvaterra de Magos e o "aumento da influência do movimento a nível nacional".

Para quem acompanhava a noite das eleições na sede do PSR, na Rua da Palma, onde a candidatura de Miguel Portas assentou arraiais, era perceptível primeiro algum desconcerto e, depois, uma grande desilusão com os resultados. No meio da derrocada geral, optou-se, compreensivelmente, por um discurso não derrotista, mas também não optimista, porque era impossível.

Depois de falar "na estrondosa derrota do PS e do PCP" nestas eleições, Miguel Portas disse que o Bloco "foi a força que melhor respondeu ao avanço da direita". Foi mesmo, frisou, "o único projecto de esquerda que conseguiu resistir, num contexto de bipolarização e de apelo ao voto útil".

Mas o candidato bloquista - que até admitiu que só com João Soares como presidente da Câmara, o Bloco poderia aspirar "a um acordo político de natureza estratégica" - foi veemente na rejeição de responsabilidades nos maus resultados da coligação Amar Lisboa. Tudo aconteceu por causa da bipolarização, disse e repetiu.

"Não é por causa do Bloco que a coligação Amar Lisboa perdeu votos. Se o BE tivesse desistido, as coisas não teriam sido diferentes. Os resultados de João Soares em Lisboa tiveram a ver com o medo que se abateu sobre a esquerda da cidade. E esse medo reflectiu-se na diferença entre a votação que o Bloco obteve para a Câmara e para a Assembleia Municipal".

Perdida a corrida à Câmara, Miguel Portas preferiu falar do país. "O essencial, agora, não é o lavar da roupa suja, mas a esquerda perceber o novo quadro político em que se move. O PS teve, por todo o país, uma grande derrota eleitoral e não pode continuar o caminho que tem seguido. O povo julgou a política do PS e não só nas autarquias", frisou.

Francisco Louçã comentou também a "derrocada da esquerda" e considerou que os resultados eleitorais do BE fazem com que o movimento se apresente "como um factor de transformação das esquerdas portuguesas" e "uma resposta ao colapso do partido do Governo". Quanto à derrota de João Soares, foi da mesma opinião que Miguel Portas: "A bipolarização estragou tudo".

Entre um caldo verde, um prato de chili e uma cerveja, os apoiantes do Bloco iam resistindo como podiam às notícias das sucessivas derrotas do PS e do PCP. No seu discurso de fim de noite, Miguel Portas garantia, corajosamente, há que admitir: "Amanhã, às nove a manhã, estarei no Campo Grande, à porta da Câmara Municipal de Lisboa, com um grupo de pessoas que estão à espera de casa, a pedir que a Câmara cumpra a sua obrigação. Lisboa continua".

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