Destaque

27-12-2001
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Vencidos

Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2001

António Guterres

"A culpa é essencialmente minha", assumiu o primeiro-ministro. Tem razão. Uma derrota deste calibre não pode passar só, nas suas justificações, pela arrogância de João Soares, Edite Estrela ou Fernando Gomes. Tem uma razão nacional e essa razão é o Governo do PS, que está pelas ruas da amargura. Ao demitir-se de primeiro-ministro, António Guterres não fez mais do que a sua obrigação. Convinha já agora que esclarecesse o que pretende fazer do seu futuro político. É praticamente certo que tenderá a iniciar uma travessia do deserto, que até pode ser muito longa, senão mesmo eterna. Mas resistirá, entretanto, à velha tentação dos ex-líderes de passar o tempo a interferir na condução do partido pelos seus sucessores? É duvidoso.

Jorge Coelho

Ontem Jorge Coelho associou o seu destino, mais uma vez, ao de António Guterres. "Se ele sair eu também saio", afirmou. Fica-lhe bem - mas também é verdade que não tinha outro remédio. Jorge Coelho chefia o aparelho do PS e nesse aparelho quem pontifica são os autarcas. Agora esses autarcas são muito menos e portanto o poder de Coelho no partido tenderá sempre, inevitavelmente, a diminuir. É claro que, no curto e médio prazo, o futuro do partido, e da sua liderança, passará sempre bastante por ele. Mas nem por sombras como passou noutros tempos. Jorge Coelho foi ontem um dos grandes derrotados da noite eleitoral.

João Soares

O líder da coligação Amar Lisboa chamou a si todas as responsabilidades pela derrota. Pode não ser o único culpado, mas é, sem dúvida, o principal responsável. Foi ele que desvalorizou o adversário, que apostou numa campanha que começou tarde e de forma discreta, que se preparou mal e até se deu até ao luxo de anular acções dessa campanha e de a ter deixado cair numa radicalização ridícula. Vai ficar na história por deixar fugir pela primeira vez a autarquia de Lisboa das mãos de única aliança PS-PCP para as mãos do PSD. Vai agora ter fazer uma longa travessia do deserto até se abalançar a um novo cargo político de peso. Tudo isso tem uma vantagem para ele: vai ter muito tempo para pensar nos erros que cometeu enquanto presidente da Câmara e enquanto político.

Fernando Gomes

Reconheceu que a sua passagem pelo Governo foi um desastre, mas nunca lhe passou pela cabeça que o regresso ao Porto também o seria. Aparentemente, o eleitorado da cidade não lhe perdoou a deriva lisboeta e sentiu a sua candidatura como um recurso para salvar a carreira política. A lista de candidatos não entusiasmou ninguém, a campanha não lhe correu bem, e os compromissos com os interesses instalados afastaram muitos eleitores. A renovação representada por Rio acabou por lhe ser fatal. A carreira política que queria salvar no Porto talvez tenha ontem ficado enterrada definitivamente. No Porto.

Edite Estrela

Se há alguém que encarou estas eleições com uma soberba anormal esse alguém foi Edite Estrela. Primeiro desvalorizou como ninguém o adversário, depois apostou mais em opíparas almoçaradas para amigos e companheiros de partido do que falar ao povo de Sintra. Quando começou a ver o tapete a fugir-lhe debaixo dos pés, começou a atirar as culpas aos jornalistas, a boatos que só ela ouvia e acabou a falar sobre a sua saúde numa das mais ridículas e tontas declarações desta campanha eleitoral. Sai destas autárquicas como uma das grandes derrotadas e volta agora ao Parlamento como a figura secundária, como aliás foi sempre tratada no partido.

Mário Soares

Mário soares foi a Setúbal, a Coimbra, a Sintra, a Lisboa e à Nazaré dar uma mãozinha aos candidatos socialistas. Em nenhuma delas o PS ganhou e, nas cinco primeiras, sofreu mesmo derrotas históricas. Terá acabado o soarismo? Tendo em conta a figura, o seu peso e a sua inteligência talvez seja cedo para avançar como uma tese como esta, mas, pelo menos, pode dizer-se que Soares foi um dos principais derrotados destas eleições autárquicas. Até porque há muito que Soares não se empenhava deforma tão forte na política caseira. O ex-Presidente da República é também um dos principais responsáveis pela radicalização da eleição Lisboeta e esse facto fica-lhe mais mal a ele que a qualquer outro.

Carlos Carvalhas

É mais um dos grandes derrotados da noite. A CDU ficou reduzida em termos de presidências de câmaras a dois terços do que dispunha. Ganhar Setúbal e manter Beja nem pouco mais ou menos compensam as enormes perdas que sofreu - e em tantos sítios míticos no imaginário comunista, como Loures, Barreiro ou Grândola. É impossível agora que não se sintam dentro do partido - e da sua liderança - as consequências deste desaire. Uma derrocada desta dimensão tem indesmentíveis razões nacionais, e portanto está em causa a forma como Carvalhas dirige o partido no seu todo.

Paulo Portas

Soou mal, pessimamente aliás, a forma como Paulo Portas não soube tirar as devidas consequências do arraso eleitoral que o seu partido sofreu. Ou seja, como não se soube demitir. Ainda por cima porque o coordenador autárquico do partido, Anacoreta Correia, teve a lucidez de por o seu lugar à disposição. O CDS/PP passou de oito câmaras para três (Marco de Canavezes, Oliveira do Bairro e Corvo) e nenhuma delas é verdadeiramente do partido, são todas dos respectivos candidatos. Além do mais, no caso pessoal de Portas, viu Santana vencer Lisboa sem precisar dele para nada. E é confrangedor reclamar, no país, um substancial aumento de influência, quando se sabe que isso foi conseguido sobretudo à boleia de dezenas de alianças com o PSD.

Vencidos

Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2001

António Guterres

"A culpa é essencialmente minha", assumiu o primeiro-ministro. Tem razão. Uma derrota deste calibre não pode passar só, nas suas justificações, pela arrogância de João Soares, Edite Estrela ou Fernando Gomes. Tem uma razão nacional e essa razão é o Governo do PS, que está pelas ruas da amargura. Ao demitir-se de primeiro-ministro, António Guterres não fez mais do que a sua obrigação. Convinha já agora que esclarecesse o que pretende fazer do seu futuro político. É praticamente certo que tenderá a iniciar uma travessia do deserto, que até pode ser muito longa, senão mesmo eterna. Mas resistirá, entretanto, à velha tentação dos ex-líderes de passar o tempo a interferir na condução do partido pelos seus sucessores? É duvidoso.

Jorge Coelho

Ontem Jorge Coelho associou o seu destino, mais uma vez, ao de António Guterres. "Se ele sair eu também saio", afirmou. Fica-lhe bem - mas também é verdade que não tinha outro remédio. Jorge Coelho chefia o aparelho do PS e nesse aparelho quem pontifica são os autarcas. Agora esses autarcas são muito menos e portanto o poder de Coelho no partido tenderá sempre, inevitavelmente, a diminuir. É claro que, no curto e médio prazo, o futuro do partido, e da sua liderança, passará sempre bastante por ele. Mas nem por sombras como passou noutros tempos. Jorge Coelho foi ontem um dos grandes derrotados da noite eleitoral.

João Soares

O líder da coligação Amar Lisboa chamou a si todas as responsabilidades pela derrota. Pode não ser o único culpado, mas é, sem dúvida, o principal responsável. Foi ele que desvalorizou o adversário, que apostou numa campanha que começou tarde e de forma discreta, que se preparou mal e até se deu até ao luxo de anular acções dessa campanha e de a ter deixado cair numa radicalização ridícula. Vai ficar na história por deixar fugir pela primeira vez a autarquia de Lisboa das mãos de única aliança PS-PCP para as mãos do PSD. Vai agora ter fazer uma longa travessia do deserto até se abalançar a um novo cargo político de peso. Tudo isso tem uma vantagem para ele: vai ter muito tempo para pensar nos erros que cometeu enquanto presidente da Câmara e enquanto político.

Fernando Gomes

Reconheceu que a sua passagem pelo Governo foi um desastre, mas nunca lhe passou pela cabeça que o regresso ao Porto também o seria. Aparentemente, o eleitorado da cidade não lhe perdoou a deriva lisboeta e sentiu a sua candidatura como um recurso para salvar a carreira política. A lista de candidatos não entusiasmou ninguém, a campanha não lhe correu bem, e os compromissos com os interesses instalados afastaram muitos eleitores. A renovação representada por Rio acabou por lhe ser fatal. A carreira política que queria salvar no Porto talvez tenha ontem ficado enterrada definitivamente. No Porto.

Edite Estrela

Se há alguém que encarou estas eleições com uma soberba anormal esse alguém foi Edite Estrela. Primeiro desvalorizou como ninguém o adversário, depois apostou mais em opíparas almoçaradas para amigos e companheiros de partido do que falar ao povo de Sintra. Quando começou a ver o tapete a fugir-lhe debaixo dos pés, começou a atirar as culpas aos jornalistas, a boatos que só ela ouvia e acabou a falar sobre a sua saúde numa das mais ridículas e tontas declarações desta campanha eleitoral. Sai destas autárquicas como uma das grandes derrotadas e volta agora ao Parlamento como a figura secundária, como aliás foi sempre tratada no partido.

Mário Soares

Mário soares foi a Setúbal, a Coimbra, a Sintra, a Lisboa e à Nazaré dar uma mãozinha aos candidatos socialistas. Em nenhuma delas o PS ganhou e, nas cinco primeiras, sofreu mesmo derrotas históricas. Terá acabado o soarismo? Tendo em conta a figura, o seu peso e a sua inteligência talvez seja cedo para avançar como uma tese como esta, mas, pelo menos, pode dizer-se que Soares foi um dos principais derrotados destas eleições autárquicas. Até porque há muito que Soares não se empenhava deforma tão forte na política caseira. O ex-Presidente da República é também um dos principais responsáveis pela radicalização da eleição Lisboeta e esse facto fica-lhe mais mal a ele que a qualquer outro.

Carlos Carvalhas

É mais um dos grandes derrotados da noite. A CDU ficou reduzida em termos de presidências de câmaras a dois terços do que dispunha. Ganhar Setúbal e manter Beja nem pouco mais ou menos compensam as enormes perdas que sofreu - e em tantos sítios míticos no imaginário comunista, como Loures, Barreiro ou Grândola. É impossível agora que não se sintam dentro do partido - e da sua liderança - as consequências deste desaire. Uma derrocada desta dimensão tem indesmentíveis razões nacionais, e portanto está em causa a forma como Carvalhas dirige o partido no seu todo.

Paulo Portas

Soou mal, pessimamente aliás, a forma como Paulo Portas não soube tirar as devidas consequências do arraso eleitoral que o seu partido sofreu. Ou seja, como não se soube demitir. Ainda por cima porque o coordenador autárquico do partido, Anacoreta Correia, teve a lucidez de por o seu lugar à disposição. O CDS/PP passou de oito câmaras para três (Marco de Canavezes, Oliveira do Bairro e Corvo) e nenhuma delas é verdadeiramente do partido, são todas dos respectivos candidatos. Além do mais, no caso pessoal de Portas, viu Santana vencer Lisboa sem precisar dele para nada. E é confrangedor reclamar, no país, um substancial aumento de influência, quando se sabe que isso foi conseguido sobretudo à boleia de dezenas de alianças com o PSD.

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