Almeida Santos arrepende-se

11-06-2000
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Almeida Santos: meia desculpa por «impulso momentâneo»

Numa carta enviada ontem à Associação dos Jornalistas Parlamentares, Almeida Santos queixa-se ainda de que «por vezes - não frequentes, é certo - é muito difícil fugir à impressão (...) de que existe um propósito claro, não de noticiar a verdade, mas de intencionalmente a deturpar», em notícias sobre o Parlamento. «Reafirmo o meu entendimento de que, em teoria, os órgãos da AR têm o direito de ajuizar em cada caso sobre se se justifica ou não o acto de credenciar. Não significaria isso que o direito de escolha se transferisse do órgão de comunicação social para a Assembleia», explica Almeida Santos.

A indignação de Fernando Seara...

O presidente da AR termina reconhecendo: «É certo que não cabe aos jornalistas zelar pela dignidade dos que representam o povo. O que tão-só lhes cabe é não comprometerem essa dignidade através de informações, notícias e apreciações carecidas de objectividade e rigor».

Todos os líderes parlamentares discordam da discussão que Almeida Santos desencadeou. A intervenção do presidente da AR surgiu em resposta a um protesto de Fernando Seara. O deputado do PSD afirmou-se ferido na sua dignidade pelo artigo de opinião do subdirector do EXPRESSO Fernando Madrinha, que, na edição passada, comentava a assiduidade dos deputados e a má imagem do Parlamento com base numa fotografia do hemiciclo de S. Bento. A foto fora tirada no início da sessão de quarta-feira, segundo dia da discussão e votação na especialidade do Orçamento de Estado, e o subdirector do EXPRESSO comentava que, em dias como aquele, «de maior exposição perante o país, os deputados podiam dar-se ao trabalho de cumprir o seu horário com um pouco mais de rigor».

Fernando Seara lembrou que havia deputados a trabalhar na comissão àquela hora - e pediu a Almeida Santos que enviasse ao EXPRESSO informações sobre quais eram essas comissões. Manuel dos Santos, vice-presidente da bancada do PS, associou-se ao protesto de Fernando Seara.

A polémica estalou após as intervenções de Almeida Santos, de tal forma que já se falava numa segunda «guerra dos corredores» - ocorrida em 1993, quando o Parlamento aprovou um regulamento de acessos, com grandes restrições à circulação dos jornalistas.

Almeida Santos avisou: «Não nos obriguem a rever a credenciação dos jornalistas que trabalham na AR. A credenciação tem que ter conteúdo e alguma função». E continuou, afirmando que «não está em causa a liberdade de crítica», mas «se o jornalista não é objectivo não merece a credenciação» - a qual deve servir para «termos aqui jornalistas que mereçam a nossa confiança pela sua probidade profissional». E queixou-se também de um artigo do «Público» (um artigo de opinião de Eduardo Cintra Torres, em que este criticava o Canal Parlamento, e sobre o qual Almeida Santos remeteu ao jornal uma resposta que ainda não foi publicada).

Coube a Basílio Horta (PP) a reacção mais enérgica: «Não podemos aferir da credenciação dos jornalistas em favor dos nossos interesses». O PCP considerou que o tema nem sequer merecia discussão e o Bloco de Esquerda fez um comunicado em que afirmava que «a acreditação não deve ser condicionada sequer pelas opiniões e avaliações que se expressam nos trabalhos dos jornalistas».

A associação dos jornalistas parlamentares fez de imediato um comunicado, considerando «ilegítimas» e «inaceitáveis» as pretensões de Almeida Santos sobre a credenciação.

... e as fotocópias de António Capucho

O líder parlamentar socialista, Francisco Assis, também não concordou com as palavras de Almeida Santos, presidente do PS. «Não entramos em reacções de natureza corporativa que não salvaguardam, antes prejudicam a imagem do Parlamento. Tal como não aplaudo, nem acolho reacções corporativas dos jornalistas».

António Capucho, líder parlamentar do PSD, reconhece que o seu colega de bancada, Fernando Seara, teve razão em relação ao ponto que focou. Mas «isso não permite que se comece a empolar o caso e se questione a acreditação de jornalistas». Capucho revelou que remeteu a todos os deputados do PSD uma cópia do artigo do EXPRESSO, com a anotação de que, «mesmo havendo razões ponderosas para muitos não estarem no plenário, é preciso que haja uma assiduidade mínima, para não se dar aquela imagem de desolação que a opinião pública não compreende». Para Capucho, «os deputados têm de debater a reforma do Parlamento».

ANA PAULA AZEVEDO

Almeida Santos: meia desculpa por «impulso momentâneo»

Numa carta enviada ontem à Associação dos Jornalistas Parlamentares, Almeida Santos queixa-se ainda de que «por vezes - não frequentes, é certo - é muito difícil fugir à impressão (...) de que existe um propósito claro, não de noticiar a verdade, mas de intencionalmente a deturpar», em notícias sobre o Parlamento. «Reafirmo o meu entendimento de que, em teoria, os órgãos da AR têm o direito de ajuizar em cada caso sobre se se justifica ou não o acto de credenciar. Não significaria isso que o direito de escolha se transferisse do órgão de comunicação social para a Assembleia», explica Almeida Santos.

A indignação de Fernando Seara...

O presidente da AR termina reconhecendo: «É certo que não cabe aos jornalistas zelar pela dignidade dos que representam o povo. O que tão-só lhes cabe é não comprometerem essa dignidade através de informações, notícias e apreciações carecidas de objectividade e rigor».

Todos os líderes parlamentares discordam da discussão que Almeida Santos desencadeou. A intervenção do presidente da AR surgiu em resposta a um protesto de Fernando Seara. O deputado do PSD afirmou-se ferido na sua dignidade pelo artigo de opinião do subdirector do EXPRESSO Fernando Madrinha, que, na edição passada, comentava a assiduidade dos deputados e a má imagem do Parlamento com base numa fotografia do hemiciclo de S. Bento. A foto fora tirada no início da sessão de quarta-feira, segundo dia da discussão e votação na especialidade do Orçamento de Estado, e o subdirector do EXPRESSO comentava que, em dias como aquele, «de maior exposição perante o país, os deputados podiam dar-se ao trabalho de cumprir o seu horário com um pouco mais de rigor».

Fernando Seara lembrou que havia deputados a trabalhar na comissão àquela hora - e pediu a Almeida Santos que enviasse ao EXPRESSO informações sobre quais eram essas comissões. Manuel dos Santos, vice-presidente da bancada do PS, associou-se ao protesto de Fernando Seara.

A polémica estalou após as intervenções de Almeida Santos, de tal forma que já se falava numa segunda «guerra dos corredores» - ocorrida em 1993, quando o Parlamento aprovou um regulamento de acessos, com grandes restrições à circulação dos jornalistas.

Almeida Santos avisou: «Não nos obriguem a rever a credenciação dos jornalistas que trabalham na AR. A credenciação tem que ter conteúdo e alguma função». E continuou, afirmando que «não está em causa a liberdade de crítica», mas «se o jornalista não é objectivo não merece a credenciação» - a qual deve servir para «termos aqui jornalistas que mereçam a nossa confiança pela sua probidade profissional». E queixou-se também de um artigo do «Público» (um artigo de opinião de Eduardo Cintra Torres, em que este criticava o Canal Parlamento, e sobre o qual Almeida Santos remeteu ao jornal uma resposta que ainda não foi publicada).

Coube a Basílio Horta (PP) a reacção mais enérgica: «Não podemos aferir da credenciação dos jornalistas em favor dos nossos interesses». O PCP considerou que o tema nem sequer merecia discussão e o Bloco de Esquerda fez um comunicado em que afirmava que «a acreditação não deve ser condicionada sequer pelas opiniões e avaliações que se expressam nos trabalhos dos jornalistas».

A associação dos jornalistas parlamentares fez de imediato um comunicado, considerando «ilegítimas» e «inaceitáveis» as pretensões de Almeida Santos sobre a credenciação.

... e as fotocópias de António Capucho

O líder parlamentar socialista, Francisco Assis, também não concordou com as palavras de Almeida Santos, presidente do PS. «Não entramos em reacções de natureza corporativa que não salvaguardam, antes prejudicam a imagem do Parlamento. Tal como não aplaudo, nem acolho reacções corporativas dos jornalistas».

António Capucho, líder parlamentar do PSD, reconhece que o seu colega de bancada, Fernando Seara, teve razão em relação ao ponto que focou. Mas «isso não permite que se comece a empolar o caso e se questione a acreditação de jornalistas». Capucho revelou que remeteu a todos os deputados do PSD uma cópia do artigo do EXPRESSO, com a anotação de que, «mesmo havendo razões ponderosas para muitos não estarem no plenário, é preciso que haja uma assiduidade mínima, para não se dar aquela imagem de desolação que a opinião pública não compreende». Para Capucho, «os deputados têm de debater a reforma do Parlamento».

ANA PAULA AZEVEDO

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