Tempos de antena

11-03-2001
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Tempos de Antena

Sexta-feira, 12 de Janeiro de 2001

Meia palavra basta

"Com 40 anos disto"... é perfeitamente natural que os portugueses "saibam quem estão a escolher".

Por via das dúvidas, os últimos tempos de antena de Jorge Sampaio reforçaram o desfile de personalidades cuja imagem vale por mil palavras. Por isso, cada uma tem apenas direito a duas ou três.

"Isento, competente, rigoroso", diz Rui Vilar. "Porto de abrigo e base de confiança", promete Margarida Pinto Correia. Manuel Luís Goucha "orgulha-se de ter um Presidente que chora." A Nicolau Breyner tanto faz que seja de esquerda ou de direita, porque "o que está bem não se muda." A frase de João Soares é mais enigmática. "Decide para além de todas as extrapolações teóricas." Catarina Furtado insiste (por que carga de água?) em que ele "ama a língua e ama a nossa história".

Irá alguém votar por causa deles? Disso?

O patriota

Estranhamente, os adjectivos são declinados no feminino. "Forte. Determinada. Altiva. Independente. Recta. Competente. Responsável." Terá o PSD mudado de candidatura à boca das urnas? Não. "Mãe. Mulher. Trabalhadora." Leonor Beleza (a candidata impossível). É ela que inicia o desfile de mulheres num tempo de antena que o candidato dedica às mulheres, com um adjectivo forte. "Patriota." Ferreira Leite, "personalidade e percurso político". Teresa Almeida Garrett, "sério, competente, que não se limita a ser um intermediário do destino". Eunice Muñoz, "homem sério".

Por uma vez, o tema não se presta à estranha obsessão dos estrategos da campanha segundo a qual o povo ainda gosta de um certo ar de autoritarismo.

Mas se o bom do engenheiro Ferreira do Amaral não tem cara de Salazar, nem sequer de Cavaco...

Quem diria

Até ao fim, predominou o óbvio, o monótono, o cinzento, o aborrecido. "É preciso defender o sistema público de segurança social" (o candidato). "Porque as mulheres, afinal, são seres humanos" (Odete Santos). "Valores de esquerda para a mudança" (refrão).

Ao penúltimo dia apenas uma incontornável novidade. Tardia. Lembrar "a todos os militantes e simpatizantes, aos homens e mulheres de esquerda" que afinal Abreu vai a votos. Apesar de ter havido "quem pensasse que não íamos..." (Carvalhas). Quem diria!

Os filmes da (sua) vida

Depois do eterno "Casablanca", de "O Meu Diário" de Moretti, do "Psycho" de Hitchcock (deduz-se que são os filmes da vida do candidato), a última curta-metragem é dedicada a Salazar, à guerra colonial, ao 25 de Abril. A candidatura de Rosas "aprendeu com a História e fala claro".

Seguem-se as vedetas possíveis em tempo de gastar os últimos cartuchos. Louçã não quer a "política de jardim zoológico" mas a de "pôr os pés ao caminho." A que propósito? Helena Neves, por causa da "terra mátria e do país que amamos". Miguel Portas para "dar força ao que é novo." Luís Fazenda, por "um portal para os novos direitos".

Fernando Rosas diz que conta "consigo".

Enfrentar Robert Redford

Há alguma diferença entre os tempos de antena de Garcia Pereira e dos outros candidatos? Há. A falta óbvia de meios. De resto, a lógica é a mesma. Pessoas que não são famosas têm direito a muito mais palavras para compensar o facto de não serem famosas.

Ontem, a base social de apoio dos que "ousam sonhar, lutar e vencer" alargou-se a um advogado que teve a ideia genial de comparar Sampaio a Robert Redford (que magnífica arma contra a abstenção!) e a uma empresária que "ousou revoltar-se".

E é tudo. A não ser a enorme perplexidade que fica depois de 13 dias de campanha oficial e de oficialíssimos tempos de antena. O esforço merecerá um voto?

Tempos de Antena

Sexta-feira, 12 de Janeiro de 2001

Meia palavra basta

"Com 40 anos disto"... é perfeitamente natural que os portugueses "saibam quem estão a escolher".

Por via das dúvidas, os últimos tempos de antena de Jorge Sampaio reforçaram o desfile de personalidades cuja imagem vale por mil palavras. Por isso, cada uma tem apenas direito a duas ou três.

"Isento, competente, rigoroso", diz Rui Vilar. "Porto de abrigo e base de confiança", promete Margarida Pinto Correia. Manuel Luís Goucha "orgulha-se de ter um Presidente que chora." A Nicolau Breyner tanto faz que seja de esquerda ou de direita, porque "o que está bem não se muda." A frase de João Soares é mais enigmática. "Decide para além de todas as extrapolações teóricas." Catarina Furtado insiste (por que carga de água?) em que ele "ama a língua e ama a nossa história".

Irá alguém votar por causa deles? Disso?

O patriota

Estranhamente, os adjectivos são declinados no feminino. "Forte. Determinada. Altiva. Independente. Recta. Competente. Responsável." Terá o PSD mudado de candidatura à boca das urnas? Não. "Mãe. Mulher. Trabalhadora." Leonor Beleza (a candidata impossível). É ela que inicia o desfile de mulheres num tempo de antena que o candidato dedica às mulheres, com um adjectivo forte. "Patriota." Ferreira Leite, "personalidade e percurso político". Teresa Almeida Garrett, "sério, competente, que não se limita a ser um intermediário do destino". Eunice Muñoz, "homem sério".

Por uma vez, o tema não se presta à estranha obsessão dos estrategos da campanha segundo a qual o povo ainda gosta de um certo ar de autoritarismo.

Mas se o bom do engenheiro Ferreira do Amaral não tem cara de Salazar, nem sequer de Cavaco...

Quem diria

Até ao fim, predominou o óbvio, o monótono, o cinzento, o aborrecido. "É preciso defender o sistema público de segurança social" (o candidato). "Porque as mulheres, afinal, são seres humanos" (Odete Santos). "Valores de esquerda para a mudança" (refrão).

Ao penúltimo dia apenas uma incontornável novidade. Tardia. Lembrar "a todos os militantes e simpatizantes, aos homens e mulheres de esquerda" que afinal Abreu vai a votos. Apesar de ter havido "quem pensasse que não íamos..." (Carvalhas). Quem diria!

Os filmes da (sua) vida

Depois do eterno "Casablanca", de "O Meu Diário" de Moretti, do "Psycho" de Hitchcock (deduz-se que são os filmes da vida do candidato), a última curta-metragem é dedicada a Salazar, à guerra colonial, ao 25 de Abril. A candidatura de Rosas "aprendeu com a História e fala claro".

Seguem-se as vedetas possíveis em tempo de gastar os últimos cartuchos. Louçã não quer a "política de jardim zoológico" mas a de "pôr os pés ao caminho." A que propósito? Helena Neves, por causa da "terra mátria e do país que amamos". Miguel Portas para "dar força ao que é novo." Luís Fazenda, por "um portal para os novos direitos".

Fernando Rosas diz que conta "consigo".

Enfrentar Robert Redford

Há alguma diferença entre os tempos de antena de Garcia Pereira e dos outros candidatos? Há. A falta óbvia de meios. De resto, a lógica é a mesma. Pessoas que não são famosas têm direito a muito mais palavras para compensar o facto de não serem famosas.

Ontem, a base social de apoio dos que "ousam sonhar, lutar e vencer" alargou-se a um advogado que teve a ideia genial de comparar Sampaio a Robert Redford (que magnífica arma contra a abstenção!) e a uma empresária que "ousou revoltar-se".

E é tudo. A não ser a enorme perplexidade que fica depois de 13 dias de campanha oficial e de oficialíssimos tempos de antena. O esforço merecerá um voto?

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