"Terminou uma batalha, a guerra continua"

15-01-2001
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Fernando Rosas e BE quiseram lutar contra "ratificação silenciosa do regime"

"Terminou Uma Batalha, a Guerra Continua"

Por ISABEL BRAGA

Segunda-feira, 15 de Janeiro de 2001

Quando faltavam dez minutos para as nove da noite, o candidato do Bloco de Esquerda (BE), Fernando Rosas, acompanhado por Francisco Louçã, abriu caminho em passo apressado por entre as dezenas de apoiantes que, na Caixa Económica Operária, aguardavam os resultados das eleições, para reagir pela primeira vez aos resultados anunciados pelas televisões, que, embora parcelares, já eram susceptíveis de comentário. Naquele momento, o candidato bloquista alcançava quase três por cento dos votos e ultrapassara os 2,4 por cento obtidos pelo BE nas eleições legislativas, que eram o seu patamar mínimo. Podia, portanto, fazer um discurso de vitória.

Na sala, foi saudado por uma salva de palmas, mas não perdeu tempo. Dirigiu-se aos microfones e fez um breve discurso, em que disse que considerava cumpridos os dois objectivos assinalados pela sua candidatura: por um lado, "fazer uma campanha de ideias e claramente em defesa dos trabalhadores", por outro aumentar os resultados do Bloco em 1999, consolidando-o como força política no terreno.

"Assumimos o resultado com modéstia", sublinhou, antes de afirmar que entendia estes resultados também como "a confirmação do Bloco enquanto força indispensável à renovação, ao progresso e à unidade da esquerda", repetindo assim uma ideia muito sublinhada durante toda a sua campanha eleitoral.

Questionado pelos jornalistas sobre a possível influência negativa da não desistência do candidato do PCP nos resultados por si obtidos, limitou-se a dizer: "Não sei que influência teria, são especulações, estamos satisfeitos. Mas hoje só terminou uma batalha, a guerra continua".

Em declarações ao PÚBLICO, o candidato do BE comentou o facto político mais relevante destas eleições presidenciais, os elevados níveis de abstenção registados, afirmando que "revelam um sintoma preocupante, de afastamento das pessoas em relação ao sistema político".

Comentário idêntico foi feito por Francisco Louçã, para quem a abstenção revela "uma doença profunda" do sistema. "Se não tivesse sido a participação da esquerda, pelo debate político que suscitou, esta campanha ter-se-ia transformado numa ratificação silenciosa do regime", afirmou. Para Louçã, "a esquerda tem que reflectir. Todos os que votaram Jorge Sampaio, Abreu ou Garcia Pereira estão confrontados com a necessidade de encontrar caminhos de expressão política alternativos para o país. A lição mais importante para nós é que as convergências são indispensáveis à esquerda".

Para muitos dos apoiantes de Rosas, as declarações do candidato à comunicação social passaram despercebidas. Estavam entretidos a comemorar os resultados do seu candidato no bar da Caixa Económica Operária, saboreando os petiscos fornecidos pelos militantes que eram vendidos a preços módicos, cem escudos por um saboroso caldo verde, cento e cinquenta por sanduiches de carne assada. Um deles era Mário Tomé, que seguia os resultados de longe, pelas televisões instaladas na sala. Para o dirigente da UDP, que participou em algumas acções de campanha, Rosas "foi um candidato muito bom, com ideias claras, uma grande segurança e seriedade, incisivo quando tinha que ser, mas não agressivo".

Isabel Braga

Fernando Rosas e BE quiseram lutar contra "ratificação silenciosa do regime"

"Terminou Uma Batalha, a Guerra Continua"

Por ISABEL BRAGA

Segunda-feira, 15 de Janeiro de 2001

Quando faltavam dez minutos para as nove da noite, o candidato do Bloco de Esquerda (BE), Fernando Rosas, acompanhado por Francisco Louçã, abriu caminho em passo apressado por entre as dezenas de apoiantes que, na Caixa Económica Operária, aguardavam os resultados das eleições, para reagir pela primeira vez aos resultados anunciados pelas televisões, que, embora parcelares, já eram susceptíveis de comentário. Naquele momento, o candidato bloquista alcançava quase três por cento dos votos e ultrapassara os 2,4 por cento obtidos pelo BE nas eleições legislativas, que eram o seu patamar mínimo. Podia, portanto, fazer um discurso de vitória.

Na sala, foi saudado por uma salva de palmas, mas não perdeu tempo. Dirigiu-se aos microfones e fez um breve discurso, em que disse que considerava cumpridos os dois objectivos assinalados pela sua candidatura: por um lado, "fazer uma campanha de ideias e claramente em defesa dos trabalhadores", por outro aumentar os resultados do Bloco em 1999, consolidando-o como força política no terreno.

"Assumimos o resultado com modéstia", sublinhou, antes de afirmar que entendia estes resultados também como "a confirmação do Bloco enquanto força indispensável à renovação, ao progresso e à unidade da esquerda", repetindo assim uma ideia muito sublinhada durante toda a sua campanha eleitoral.

Questionado pelos jornalistas sobre a possível influência negativa da não desistência do candidato do PCP nos resultados por si obtidos, limitou-se a dizer: "Não sei que influência teria, são especulações, estamos satisfeitos. Mas hoje só terminou uma batalha, a guerra continua".

Em declarações ao PÚBLICO, o candidato do BE comentou o facto político mais relevante destas eleições presidenciais, os elevados níveis de abstenção registados, afirmando que "revelam um sintoma preocupante, de afastamento das pessoas em relação ao sistema político".

Comentário idêntico foi feito por Francisco Louçã, para quem a abstenção revela "uma doença profunda" do sistema. "Se não tivesse sido a participação da esquerda, pelo debate político que suscitou, esta campanha ter-se-ia transformado numa ratificação silenciosa do regime", afirmou. Para Louçã, "a esquerda tem que reflectir. Todos os que votaram Jorge Sampaio, Abreu ou Garcia Pereira estão confrontados com a necessidade de encontrar caminhos de expressão política alternativos para o país. A lição mais importante para nós é que as convergências são indispensáveis à esquerda".

Para muitos dos apoiantes de Rosas, as declarações do candidato à comunicação social passaram despercebidas. Estavam entretidos a comemorar os resultados do seu candidato no bar da Caixa Económica Operária, saboreando os petiscos fornecidos pelos militantes que eram vendidos a preços módicos, cem escudos por um saboroso caldo verde, cento e cinquenta por sanduiches de carne assada. Um deles era Mário Tomé, que seguia os resultados de longe, pelas televisões instaladas na sala. Para o dirigente da UDP, que participou em algumas acções de campanha, Rosas "foi um candidato muito bom, com ideias claras, uma grande segurança e seriedade, incisivo quando tinha que ser, mas não agressivo".

Isabel Braga

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