"Não quero ser demitido para me puxarem as orelhas"

04-03-2001
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"Não Quero Ser Demitido para Me Puxarem as Orelhas"

Por MARIA JOÃO GUIMARÃES

Quinta-feira, 22 de Fevereiro de 2001 Apoiado pelos médicos do hospital, Filipe Rosas diz que não sai O director clínico do Hospital de Santarém recusou participar numa "acção de propaganda", ou seja, na apresentação dos resultados do programa de recuperação das listas de espera. Quando viu a ministra Manuela Arcanjo pedir a sua demissão na televisão, não quis acreditar. Irmão do candidato presidencial Fernando Rosas e "quase pai" do judoca Nuno Delgado, que ganhou uma medalha de bronze em Sydney, o director clínico do Hospital de Santarém, Filipe Rosas, está no centro de uma polémica. A ministra da Saúde, Manuela Arcanjo, ponderava ontem a atitude a tomar face às declarações do director clínico, que, depois de se ter reunido com os médicos que o elegeram, decidiu não se demitir, ao contrário do que pretendia a governante. Tudo começou na segunda-feira, quando Filipe Rosas não quis estar presente na visita da ministra da Saúde ao hospital de Santarém, onde foi apresentar os números da recuperação das listas de espera em cirurgia e premiar a unidade de saúde por ter sido a que melhores resultados obteve no âmbito daquele programa (PPA). Mas Filipe Rosas não quis "pactuar com acções de propaganda" e aproveitou para o dizer nessa altura. A ministra não gostou e à noite, em directo na SIC, afirmou que esperava uma única atitude da parte de Filipe Rosas: "A demissão." Em frente ao televisor, Filipe Rosas garante que ficou surpreso: "Não esperava ouvir da ministra que os directores clínicos têm de ser 'comissários políticos' dos hospitais." A ministra invocou a lealdade, diz Filipe Rosas: "Mas a minha lealdade é cumprir e nós cumprimos - e ultrapassámos - as metas de recuperação da lista de espera. Por isso não vejo razões para me demitir. Acho que não devo ser penalizado por uma discordância." Médicos apoiam director clínico Filipe Rosas acrescenta ainda que não é "contra" o PPA: "Só acho que é uma medida que só alivia os sintomas, não trata as causas." Preocupado com o rumo que leva o Serviço Nacional de Saúde, lembra que projectos do anterior Governo, como os sistemas locais de saúde ou os centros de responsabilidade integrados estão "na gaveta". "Acho que devíamos poder discutir. Porque isto está mau. E digo-o não como político [é filiado no Bloco de Esquerda, partido pelo qual foi candidato à Câmara de Santarém], mas como médico. Há outros a dizê-lo, por exemplo o Manuel Antunes", que lançou recentemente o livro "A Doença da Saúde". Filipe Rosas está no Hospital de Santarém desde 1983 e participou nas direcções clínicas "até ao tempo da Leonor Beleza, quando começaram as nomeações políticas". Quando, com o Governo do PS, isso mudou, concorreu e foi eleito. Já vai no segundo mandato; no entanto, pensa que as direcções "não se devem eternizar". Mas agora não sai. "Não quero ser demitido para me puxarem as orelhas", sentencia. Uma decisão que tomou depois da reunião de ontem, onde os médicos presentes lhe reafirmaram o apoio "e exigiram a sua continuidade". Apesar disso, alguns clínicos entenderam que o momento das críticas não tinha sido o mais oportuno, o que, para Rosas, "é saudável". Filipe Rosas estudou Medicina em Lisboa, pertenceu à Associação de Estudantes e, juntamente com um grupo de alunos, foi preso em Caxias, em 1965, "por actividades contra o Estado". Mais tarde exilou-se em Paris para evitar nova prisão. Voltou "no dia 1 de Maio de 1974". Até à criação do Bloco de Esquerda não teve qualquer filiação partidária. OUTROS TÍTULOS EM ÚLTIMA PÁGINA "Não quero ser demitido para me puxarem as orelhas"

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Quinta-feira, 22 de Fevereiro de 2001 Apoiado pelos médicos do hospital, Filipe Rosas diz que não sai O director clínico do Hospital de Santarém recusou participar numa "acção de propaganda", ou seja, na apresentação dos resultados do programa de recuperação das listas de espera. Quando viu a ministra Manuela Arcanjo pedir a sua demissão na televisão, não quis acreditar. Irmão do candidato presidencial Fernando Rosas e "quase pai" do judoca Nuno Delgado, que ganhou uma medalha de bronze em Sydney, o director clínico do Hospital de Santarém, Filipe Rosas, está no centro de uma polémica. A ministra da Saúde, Manuela Arcanjo, ponderava ontem a atitude a tomar face às declarações do director clínico, que, depois de se ter reunido com os médicos que o elegeram, decidiu não se demitir, ao contrário do que pretendia a governante. Tudo começou na segunda-feira, quando Filipe Rosas não quis estar presente na visita da ministra da Saúde ao hospital de Santarém, onde foi apresentar os números da recuperação das listas de espera em cirurgia e premiar a unidade de saúde por ter sido a que melhores resultados obteve no âmbito daquele programa (PPA). Mas Filipe Rosas não quis "pactuar com acções de propaganda" e aproveitou para o dizer nessa altura. A ministra não gostou e à noite, em directo na SIC, afirmou que esperava uma única atitude da parte de Filipe Rosas: "A demissão." Em frente ao televisor, Filipe Rosas garante que ficou surpreso: "Não esperava ouvir da ministra que os directores clínicos têm de ser 'comissários políticos' dos hospitais." A ministra invocou a lealdade, diz Filipe Rosas: "Mas a minha lealdade é cumprir e nós cumprimos - e ultrapassámos - as metas de recuperação da lista de espera. Por isso não vejo razões para me demitir. Acho que não devo ser penalizado por uma discordância." Médicos apoiam director clínico Filipe Rosas acrescenta ainda que não é "contra" o PPA: "Só acho que é uma medida que só alivia os sintomas, não trata as causas." Preocupado com o rumo que leva o Serviço Nacional de Saúde, lembra que projectos do anterior Governo, como os sistemas locais de saúde ou os centros de responsabilidade integrados estão "na gaveta". "Acho que devíamos poder discutir. Porque isto está mau. E digo-o não como político [é filiado no Bloco de Esquerda, partido pelo qual foi candidato à Câmara de Santarém], mas como médico. Há outros a dizê-lo, por exemplo o Manuel Antunes", que lançou recentemente o livro "A Doença da Saúde". Filipe Rosas está no Hospital de Santarém desde 1983 e participou nas direcções clínicas "até ao tempo da Leonor Beleza, quando começaram as nomeações políticas". Quando, com o Governo do PS, isso mudou, concorreu e foi eleito. Já vai no segundo mandato; no entanto, pensa que as direcções "não se devem eternizar". Mas agora não sai. "Não quero ser demitido para me puxarem as orelhas", sentencia. Uma decisão que tomou depois da reunião de ontem, onde os médicos presentes lhe reafirmaram o apoio "e exigiram a sua continuidade". Apesar disso, alguns clínicos entenderam que o momento das críticas não tinha sido o mais oportuno, o que, para Rosas, "é saudável". Filipe Rosas estudou Medicina em Lisboa, pertenceu à Associação de Estudantes e, juntamente com um grupo de alunos, foi preso em Caxias, em 1965, "por actividades contra o Estado". Mais tarde exilou-se em Paris para evitar nova prisão. Voltou "no dia 1 de Maio de 1974". Até à criação do Bloco de Esquerda não teve qualquer filiação partidária. OUTROS TÍTULOS EM ÚLTIMA PÁGINA "Não quero ser demitido para me puxarem as orelhas"

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