Os «candidatos-fantasmas» do PSD

18-11-2000
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Durão Barroso com Alberto João Jardim na festa de Chão da Lagoa: com raras excepções, como a do presidente do Governo Regional da Madeira, os cabeças-de-lista do PSD são desconhecidos

PEDRO Santana Lopes não é candidato a deputado. O presidente da Câmara da Figueira da Foz cumpriu o prometido na entrevista que concedeu ao EXPRESSO na última edição e, perante a ausência das principais figuras do partido nas listas, recusou encabeçar o elenco de candidatos do PSD em Coimbra - contrariando as informações que, até ao final da tarde de ontem, o davam como certo no posto. À hora de fecho desta edição, o autarca da Figueira preparava-se para explicar a sua decisão ao partido na reunião do Conselho Nacional. Ocasião que, apurou o EXPRESSO, terá aproveitado para dirigir não poucas críticas aos «notáveis» do PSD questionando: «Onde estão os apoiantes de Durão Barroso?». Um rol de desconhecidos Com a recusa de Santana Lopes em ser o número um por Coimbra, o líder do PSD vê o seu rol de cabeças-de-lista praticamente resumido a presidentes de Câmara e de distritais. E corre, assim, o risco de ver a campanha dominada pelo tema dos «candidatos-fantasmas»: isto no pressuposto de que a grande quantidade de autarcas que se apresentam como potenciais parlamentares ou renunciam de imediato aos seus mandatos camarários ou estão a candidatar-se ficticiamente a São Bento. Com excepção de si próprio - que, por não ter conseguido encontrar uma alternativa adequada, se viu obrigado a encabeçar Lisboa em vez de Viseu, a sua primeira opção -, apenas Alberto João Jardim, João Bosco Mota Amaral, Luís Marques Mendes, António Capucho e Joaquim Ferreira do Amaral se destacam num elenco que, de outra forma, seria composto quase só por desconhecidos. Na composição das listas, o facto mais surpreendente é Marques Mendes aparecer em Aveiro. O até aqui líder parlamentar social-democrata começou por ser convidado por Barroso para cabeça-de-lista do Porto - lugar que acabaria por ser ocupado por Luís Filipe Menezes, antigo líder da Distrital e actual presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia -, mas argumentou sempre com a preferência por se manter no seu distrito natal: Braga. Uma terceira hipótese, que nunca chegou a ser seriamente equacionada, era Viana do Castelo - por onde Marques Mendes já fora candidato uma vez. A sua candidatura por Aveiro, a que não o ligam quaisquer laços, é por isso uma surpresa. Bem reveladora, aliás, das dificuldades que a direcção do PSD atravessou para resolver a questão das listas em alguns círculos eleitorais complicados. Aveiro era um deles e a solução encontrada corresponde obviamente a um último recurso de Durão Barroso. Traumatizada com a experiência de 1995 - quando aceitou o «outsider» Pacheco Pereira, que haveria de cumprir a legislatura sem praticamente voltar ao distrito que o elegeu -, a Distrital aveirense fez saber desde o início que não voltaria a aceitar um candidato de fora. Uma única excepção era admitida pelo presidente, Castro Almeida: precisamente Marques Mendes, de quem é amigo pessoal. Perante a recusa de Ângelo Correia - uma figura querida no distrito -, o líder do PSD ficou com um sério problema nas mãos. Este só se resolveu na madrugada de anteontem, quando Marques Mendes cedeu por fim às pressões quer da Distrital quer do líder do partido para que deixasse Braga e se apresentasse por Aveiro. Renovação ou falta de alternativas? Além dos tradicionais Mota Amaral (nos Açores) e Alberto João Jardim (na Madeira), o vice-presidente de Barroso, António Capucho, e o antigo vice de Marcelo, Ferreira do Amaral, são as únicas outras figuras nacionais colocadas a cabeças-de-lista. Capucho vai por Setúbal - depois de, nas últimas eleições, ter ido por Faro -, provavelmente numa tentativa de manter os votos até aqui sempre conquistados pelo seu amigo (agora excluído das listas) Carlos Pimenta. O ex-ministro das Obras Públicas, que chegou a ser dado como certo em Faro, acabou por ser indicado por Leiria. Este era outro dos distrito que manifestavam preferência por ter um conterrâneo a representá-lo mas, face à necessidade de «encaixar» o praticamente único sobrevivente do cavaquismo nas listas, os dirigentes locais acabaram por não levantar problemas ao nome de Ferreira do Amaral. Nos restantes círculos dominam os presidentes de autarquias e os líderes distritais. Na primeira categoria inscrevem-se os cabeças-de-lista de Viana do Castelo (Francisco Araújo, presidente da Câmara de Arcos de Valdevez), Vila Real (Manuel Martins, presidente da Câmara local), Braga (Fernando Reis, vice-presidente da Comissão Política Nacional e o edil de Barcelos), Porto (Luís Filipe Menezes, o responsável máximo por Gaia) e Viseu (Fernando Ruas, presidente da capital do distrito). No segundo lote incluem-se os números um de Beja (Raul do Santos, que também é o presidente da Câmara de Ourique), Faro (Isabel Soares, que acumula igualmente a responsabilidade pela distrital e a gestão da autarquia de Silves), Guarda (Álvaro Amaro, Castelo Branco (Fernando Penha), Portalegre (João Maçãs), Santarém (Miguel Relvas) e Évora (Maria do Céu Ramos). A destoar deste panorama geral, apenas Coimbra (cujo cabeça-de-lista, na recusa de Santana, deverá uma vez mais ser o antigo presidente da Assembleia da República Barbosa de Melo) e Bragança. Este é o único círculo encabeçado por um independente: um empresário de nome Machado Rodrigues (familiar do vereador socialista em Lisboa com o mesmo apelido). A ausência de nomes sonantes, pelos menos nos lugares cimeiros das listas, é naturalmente desvalorizada pela direcção do PSD. Um dos elementos da Comissão Política Nacional caracterizou o grupo de candidatos a deputados como correspondendo a «uma grande renovação» e a «uma aposta no futuro». CRISTINA FIGUEIREDO

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Listas do PS excluem direcção da JS

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E corre, assim, o risco de ver a campanha dominada pelo tema dos «candidatos-fantasmas»: isto no pressuposto de que a grande quantidade de autarcas que se apresentam como potenciais parlamentares ou renunciam de imediato aos seus mandatos camarários ou estão a candidatar-se ficticiamente a São Bento. Com excepção de si próprio - que, por não ter conseguido encontrar uma alternativa adequada, se viu obrigado a encabeçar Lisboa em vez de Viseu, a sua primeira opção -, apenas Alberto João Jardim, João Bosco Mota Amaral, Luís Marques Mendes, António Capucho e Joaquim Ferreira do Amaral se destacam num elenco que, de outra forma, seria composto quase só por desconhecidos. Na composição das listas, o facto mais surpreendente é Marques Mendes aparecer em Aveiro. 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