"Não darei cobertura política a quem não apresente moções alternativas"

19-05-2001
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"Não Darei Cobertura Política a Quem Não Apresente Moções Alternativas"

Por ANA SÁ LOPES

Domingo, 6 de Maio de 2001

António Guterres isola críticos

O líder do PS optou pela ruptura com as vozes discordantes e deu a Jorge Coelho a maior ovação da manhã

"Não concordo politicamente e não darei cobertura política a quem não apresente moções alternativas globais e se tenha lançado nos últimos dias em operações de desgaste na comunicação social e no lançamento de iniciativas políticas colaterais em relação aos grandes problemas que nos devem preocupar". Foi assim que António Guterres lançou ontem, no discurso de abertura do Congresso, o tal "separar das águas" que tinha prometido no dia em que convocou a reunião. Na altura, era outro o cenário e Fernando Gomes, na altura catalisador dos ódios, saiu de cena, mas ficaram hiper-activos Manuel Maria Carrilho, Helena Roseta e também Manuel Alegre, que preferiu não ir ao Congresso.

O líder do PS foi brutal, ao assumir a ruptura com as vozes mais contestatárias. "Se querem adquirir merecida notoriedade disponham-se a candidatar-se a uma câmara municipal presidida por um dos nossos adversários", disse Guterres, arrancando uma enorme salva de palmas do Congresso e alvejando indirectamente Carrilho que recusou candidatar-se à Câmara de Oeiras bem como Helena Roseta, que não avançou para a Figueira da Foz.

"É inteiramente legítimo que se entenda que eu não devo ser secretário-geral do PS. Apelei a que houvesse outra candidatura", lembrou, dando depois como exemplo a sua própria experiência pessoal no partido, no tempo do ex-secretariado (Soares "versus" grupo de Zenha, no início dos anos 80): "Quando estive em desacordo com a direcção do PS, o que fiz foi propôr uma moção alternativa, discuti-a com as bases, vim ao Congresso, sujeitei-me a votos e até perdi. Perdi e não me aconteceu mal nenhum e aqui estou."

O secretário-geral "não compreende" e "não aceita" que "haja militantes socialistas que consagram praticamente a totalidade da sua actividade política apenas a dizer mal dos seus camaradas". Segue-se uma grande salva de palmas. "Há camaradas que sem eco nenhum nas bases do partido, e que até as desprezam, que têm como objectivo aparecer nas capas dos jornais a dizer mal do Governo. Se dissessem bem, ninguém lhes ligava nenhuma".

A violência contra os críticos foi a grande novidade de um discurso também marcado pela entronização de Jorge Coelho como número dois do partido. Disse Guterres que, apesar das razões que a isso levaram serem negativas, dava-se o positivo caso de o PS ter de novo Jorge Coelho "inteiramente disponível para se dedicar ao partido". Só que Coelho, a quem o liga uma grande fraternidade e a quem "deve muito desde a primeira hora" ("esteve comigo desde que lançámos este projecto") não quer aceitar ser "mais nada" que o seu actual estatuto de coordenador da Comissão Permanente. Guterres, ficou implícito, desejaria que Coelho fosse mais, que formalmente fosse alcandorado a número dois, secretário-geral adjunto ou "whatever". Mas o que interessam os cargos formais a quem, depois dos desvanecidos elogios de António Guterres, conseguiu levar a maior ovação da manhã do Congresso? Adeus, Mário Soares. De resto, o adeus formal a Mário Soares foi feito, ironia do destino, por Almeida Santos que, no seu discurso, disse "nunca na história de Portugal, nenhum político português, nem sequer Mário Soares meu amigo de sempre, teve o prestígio europeu e internacional de António Guterres".

Ao PS, António Guterres prometeu doravante passar a estar mais presente, anunciando a sua "própria disponibilidade para dar mais tempo ao partido". Aliás, confessou o líder, levantou-se nele "o bichinho dos tempos em que era secretário nacional para a organização e corria o país de três em três meses", depois de ter dado a volta ao continente na preparação deste Congresso. "Ficou-me o bichinho e agora sou eu que quero continuar e vou fazê-lo!", declarou, numa tirada de resolubilidade de certo modo infantil.

"Não Darei Cobertura Política a Quem Não Apresente Moções Alternativas"

Por ANA SÁ LOPES

Domingo, 6 de Maio de 2001

António Guterres isola críticos

O líder do PS optou pela ruptura com as vozes discordantes e deu a Jorge Coelho a maior ovação da manhã

"Não concordo politicamente e não darei cobertura política a quem não apresente moções alternativas globais e se tenha lançado nos últimos dias em operações de desgaste na comunicação social e no lançamento de iniciativas políticas colaterais em relação aos grandes problemas que nos devem preocupar". Foi assim que António Guterres lançou ontem, no discurso de abertura do Congresso, o tal "separar das águas" que tinha prometido no dia em que convocou a reunião. Na altura, era outro o cenário e Fernando Gomes, na altura catalisador dos ódios, saiu de cena, mas ficaram hiper-activos Manuel Maria Carrilho, Helena Roseta e também Manuel Alegre, que preferiu não ir ao Congresso.

O líder do PS foi brutal, ao assumir a ruptura com as vozes mais contestatárias. "Se querem adquirir merecida notoriedade disponham-se a candidatar-se a uma câmara municipal presidida por um dos nossos adversários", disse Guterres, arrancando uma enorme salva de palmas do Congresso e alvejando indirectamente Carrilho que recusou candidatar-se à Câmara de Oeiras bem como Helena Roseta, que não avançou para a Figueira da Foz.

"É inteiramente legítimo que se entenda que eu não devo ser secretário-geral do PS. Apelei a que houvesse outra candidatura", lembrou, dando depois como exemplo a sua própria experiência pessoal no partido, no tempo do ex-secretariado (Soares "versus" grupo de Zenha, no início dos anos 80): "Quando estive em desacordo com a direcção do PS, o que fiz foi propôr uma moção alternativa, discuti-a com as bases, vim ao Congresso, sujeitei-me a votos e até perdi. Perdi e não me aconteceu mal nenhum e aqui estou."

O secretário-geral "não compreende" e "não aceita" que "haja militantes socialistas que consagram praticamente a totalidade da sua actividade política apenas a dizer mal dos seus camaradas". Segue-se uma grande salva de palmas. "Há camaradas que sem eco nenhum nas bases do partido, e que até as desprezam, que têm como objectivo aparecer nas capas dos jornais a dizer mal do Governo. Se dissessem bem, ninguém lhes ligava nenhuma".

A violência contra os críticos foi a grande novidade de um discurso também marcado pela entronização de Jorge Coelho como número dois do partido. Disse Guterres que, apesar das razões que a isso levaram serem negativas, dava-se o positivo caso de o PS ter de novo Jorge Coelho "inteiramente disponível para se dedicar ao partido". Só que Coelho, a quem o liga uma grande fraternidade e a quem "deve muito desde a primeira hora" ("esteve comigo desde que lançámos este projecto") não quer aceitar ser "mais nada" que o seu actual estatuto de coordenador da Comissão Permanente. Guterres, ficou implícito, desejaria que Coelho fosse mais, que formalmente fosse alcandorado a número dois, secretário-geral adjunto ou "whatever". Mas o que interessam os cargos formais a quem, depois dos desvanecidos elogios de António Guterres, conseguiu levar a maior ovação da manhã do Congresso? Adeus, Mário Soares. De resto, o adeus formal a Mário Soares foi feito, ironia do destino, por Almeida Santos que, no seu discurso, disse "nunca na história de Portugal, nenhum político português, nem sequer Mário Soares meu amigo de sempre, teve o prestígio europeu e internacional de António Guterres".

Ao PS, António Guterres prometeu doravante passar a estar mais presente, anunciando a sua "própria disponibilidade para dar mais tempo ao partido". Aliás, confessou o líder, levantou-se nele "o bichinho dos tempos em que era secretário nacional para a organização e corria o país de três em três meses", depois de ter dado a volta ao continente na preparação deste Congresso. "Ficou-me o bichinho e agora sou eu que quero continuar e vou fazê-lo!", declarou, numa tirada de resolubilidade de certo modo infantil.

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