Mais longe da Câmara do Porto

15-12-2000
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Fernando Gomes renuncia à OCDE e reafirma "verdades politicamente incorrectas"

Mais Longe da Câmara do Porto

Por LEONETE BOTELHO

Sexta-feira, 15 de Dezembro de 2000 Fernando Gomes anunciou ontem à noite aquilo que Guterres já tinha deixado claro horas antes no debate parlamentar sobre a Fundação para a Prevenção e Segurança (FPS): que renunciou ao cargo de embaixador de Portugal na OCDE. Foi o preço imediato a pagar pela sua prestação na audição parlamentar sobre a polémica fundação ocorrida na véspera. Mas o ex-ministro da Administração Interna não está arrependido: "Fi-lo por dever", disse, reafirmando tudo o que ali declarou. "Há verdades duras e incómodas, mas que não podem deixar de ser assumidas", "há verdades politicamente incorrectas, mas continuam a ser verdades", reafirmou ontem, no Porto, numa breve declaração aos jornalistas. "Parece, porém, que estas verdades - que, como era meu dever, transmiti na Assembleia da República -, causaram alguns embaraços", acrescentou, referindo-se obviamente a António Guterres. Foram estes "embaraços" que levaram Gomes a solicitar ao ministro dos Negócios Estrangeiros e ao primeiro-ministro que revogassem a sua nomeação para embaixador na OCDE em Paris. E anunciou que regressa à Assembleia da República. "Desta vez não fui demitido, fui eu que decidi não aceitar o cargo para que fui nomeado, entendendo que estavam fragilizadas as relações de confiança política que tinham levado a essa nomeação". Antecipou-se, assim, às muitas vozes que, no PS, logo de manhã, consideravam que Gomes deixara de ter condições para representar o Governo na OCDE. E respondeu prontamente a António Guterres que, na reunião de quarta à noite do Secretariado Nacional do PS, se mostrou "chocado" e "indignado" com toda a situação, sublinhando mesmo que "não alimenta traidores no seu colo". Com as suas declarações de ontem, Gomes reafirmou aquilo que na véspera dissera na audição parlamentar: que foi o primeiro-ministro quem prometeu investigar os contornos da FPS. E contradisse, em consequência, o que dizia a nota oficial do gabinete de António Guterres anteontem e este reafirmou ontem à Assembleia da República: que foi pedido a Gomes que investigasse a fundação. No Porto, os discursos internos estavam igualmente ao rubro. Narciso Miranda, líder distrital do PS, afirmava de manhã aos jornalistas que não permitirá plataformas de oposição ao primeiro-ministro na sua federação. "Nunca deixarei que o Porto seja um pólo de oposição ao Governo", disse, dando a entender que uma hipotética candidatura de Gomes à Câmara do Porto estava cada vez mais longe. Ao PÚBLICO, sublinhou ainda que esse é um princípio que está disposto a levar "até às últimas consequências". E não se pode esquecer que é Narciso, enquanto presidente da federação, quem tem a última palavra sobre as candidaturas autárquicas, apesar de não querer ainda antecipar futuras querelas. "As decisões são tomadas no momento oportuno e segundo uma estratégia, não em função dos ventos" políticos, afirmou. As tréguas do ex-autarca do Porto com Orlando Gaspar também duraram pouco. Ao início da tarde, a comissão política concelhia do PS/Porto emitiu um duríssimo comunicado em que afirma não se rever nas declarações do ex-ministro da Administração Interna, que considera "atentatórias da dignidade de António Guterres". Sem referir o nome de Fernando Gomes, a comissão política liderada por Gaspar, critica o facto de, "por calculismo ou interesses de diversa ordem, por fraqueza ou pela natureza cronicamente dubitativa e angustiada de alguns", haja quem, dentro do PS, "faça coro" com notícias "pouco sérias", "falsas" ou "desonestas". "Pior, porventura, há quem as alimente, que possivelmente veja na fragilização da liderança do partido, uma oportunidade de afirmação pessoal", prossegue. A posição da concelhia e o tom geral com que o assunto era ontem comentado entre outros dirigentes socialistas parecem assim inviabilizar qualquer hipótese de uma candidatura de Gomes à Câmara do Porto em 2001. Leonete Botelho OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE António Guterres KO

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