Ex-procurador fora do coro dos tribunais

08-03-2001
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Ex-procurador Fora do Coro dos Tribunais

Por ÁLVARO VIEIRA

Terça-feira, 13 de Fevereiro de 2001 Cunha Rodrigues com o Orféon Académico de Coimbra O antigo procurador-geral da República esteve nos 20 Anos do Coro dos Antigos Orfeonistas e descobriu que continua com a música no coração Só subiu ao palco para cantar o "Ámen" (da "Danação de Fausto", de Berlioz) este homem que não ficou propriamente conhecido por dizer que sim a tudo ou por contemporizar com todos. Mas, anteontem à noite, no Casino da Figueira da Foz, José Cunha Rodrigues não quis ser uma "força de bloqueio". Quando foi exigida a presença no palco dos antigos elementos do Orféon Académico de Coimbra, não saltou como uma mola da cadeira, ainda se deixou estar, a ver se a coisa passava, mas foi. Tal como o antigo e o actual presidentes da Assembleia da República - o social-democrata Barbosa de Melo e o socialista Almeida Santos, respectivamente - ou o ex-deputado europeu Manuel Porto, do PSD, que também participaram na gala dos 20 Anos do Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra (CAO/UC). De regresso à cadeira, sorridente, Cunha Rodrigues recebeu abraços de amigos que queriam saber como estava "o senhor procurador-geral da República", que já não é. O facto de ter sido o rosto, e o cérebro, do Ministério Público, durante tantos anos, não se apaga facilmente. E Cunha Rodrigues, hoje juiz do Tribunal Europeu, no Luxemburgo, tem consciência disso. Mal se aproximam os jornalistas, adverte que está ali na mera condição de antigo orfeonista e que hoje se limita a ser "um observador atento, muito interessado", da vida política portuguesa. Não comenta as afirmações do ex-director da Polícia Judiciária, Fernando Negrão, que, após o arquivamento definitivo do processo sobre as fugas de informação no "caso Moderna", disse que se sentia com direito a um pedido de desculpas por parte de Cunha Rodrigues. Nem se pronuncia sobre a ratificação da adesão de Portugal ao Tribunal Penal Internacional: "A minha posição é a que apresentei à Assembleia da República, está nas actas", resguarda-se. Entretanto, Rui Veloso já interpretou dois temas e Sara Tavares e Nuno Guerreiro também já cantaram, estes acompanhados pelo maestro José Calvário, que em 1994 dirigiu um concerto do CAO/UC com a Orquestra Filarmónica de Londres. Ontem, além do CAO/UC, os cantores tiveram a acompanhá-los a Filarmonia das Beiras, dirigida por Augusto Mesquita. À conversa com o PÚBLICO e enquanto prossegue o espectáculo, Cunha Rodrigues regressa à informalidade quando o assunto volta a ser a música e a passagem pela Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Direito, em 1963. Tem saudades desses tempos, das digressões do Orféon a Angola, aos Estados Unidos, à Madeira e aos Açores, e de toda a geração com quem partilhou a universidade. Recorda-a "menos formatada" por cursos: havia menos gente e todos se conheciam, até por força de organismos como o Orféon. Fundado em 1880, o Orféon da Associação Académica de Coimbra tem uma certa conotação de conservadorismo. Até ao 25 de Abril, esteve vedado às mulheres, que hoje integram outras secções em que se desdobra a sua actividade. E o CAO/UC, que Cunha Rodrigues já não integrou - é apenas sócio honorário -, foi fundado numa altura em que o restaurar de quaisquer tradições académicas suscitava suspeitas de simpatia pelo antigo regime. Cunha Rodrigues relativiza, lembrando que, nos anos 50-60, o Orféon se abriu à "música inglesa e norte-americana, a uma certa subcultura, ao neo-realismo". E defende que o Orféon e o CAO/UC representam o que há de melhor no ideal académico: a generosidade e a solidariedade, que permitem a camaradagem entre pessoas de diferentes quadrantes político-partidários. "A sinfonia está na polifonia", sentencia. O secretário de Estado Fausto Correia e o antigo líder do PSD Fernando Nogueira, ali na plateia, não teriam dito melhor. Hoje, liberto da pressão mediática do cargo de procurador, Cunha Rodrigues tem outro tipo de disponibilidade mental. E começa a sentir saudades do piano que conserva na casa do Porto: "Hei-de levá-lo para o Luxemburgo", promete. OUTROS TÍTULOS EM ÚLTIMA PÁGINA Ex-procurador fora do coro dos tribunais

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Terça-feira, 13 de Fevereiro de 2001 Cunha Rodrigues com o Orféon Académico de Coimbra O antigo procurador-geral da República esteve nos 20 Anos do Coro dos Antigos Orfeonistas e descobriu que continua com a música no coração Só subiu ao palco para cantar o "Ámen" (da "Danação de Fausto", de Berlioz) este homem que não ficou propriamente conhecido por dizer que sim a tudo ou por contemporizar com todos. Mas, anteontem à noite, no Casino da Figueira da Foz, José Cunha Rodrigues não quis ser uma "força de bloqueio". Quando foi exigida a presença no palco dos antigos elementos do Orféon Académico de Coimbra, não saltou como uma mola da cadeira, ainda se deixou estar, a ver se a coisa passava, mas foi. Tal como o antigo e o actual presidentes da Assembleia da República - o social-democrata Barbosa de Melo e o socialista Almeida Santos, respectivamente - ou o ex-deputado europeu Manuel Porto, do PSD, que também participaram na gala dos 20 Anos do Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra (CAO/UC). De regresso à cadeira, sorridente, Cunha Rodrigues recebeu abraços de amigos que queriam saber como estava "o senhor procurador-geral da República", que já não é. O facto de ter sido o rosto, e o cérebro, do Ministério Público, durante tantos anos, não se apaga facilmente. E Cunha Rodrigues, hoje juiz do Tribunal Europeu, no Luxemburgo, tem consciência disso. Mal se aproximam os jornalistas, adverte que está ali na mera condição de antigo orfeonista e que hoje se limita a ser "um observador atento, muito interessado", da vida política portuguesa. Não comenta as afirmações do ex-director da Polícia Judiciária, Fernando Negrão, que, após o arquivamento definitivo do processo sobre as fugas de informação no "caso Moderna", disse que se sentia com direito a um pedido de desculpas por parte de Cunha Rodrigues. Nem se pronuncia sobre a ratificação da adesão de Portugal ao Tribunal Penal Internacional: "A minha posição é a que apresentei à Assembleia da República, está nas actas", resguarda-se. Entretanto, Rui Veloso já interpretou dois temas e Sara Tavares e Nuno Guerreiro também já cantaram, estes acompanhados pelo maestro José Calvário, que em 1994 dirigiu um concerto do CAO/UC com a Orquestra Filarmónica de Londres. Ontem, além do CAO/UC, os cantores tiveram a acompanhá-los a Filarmonia das Beiras, dirigida por Augusto Mesquita. À conversa com o PÚBLICO e enquanto prossegue o espectáculo, Cunha Rodrigues regressa à informalidade quando o assunto volta a ser a música e a passagem pela Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Direito, em 1963. Tem saudades desses tempos, das digressões do Orféon a Angola, aos Estados Unidos, à Madeira e aos Açores, e de toda a geração com quem partilhou a universidade. Recorda-a "menos formatada" por cursos: havia menos gente e todos se conheciam, até por força de organismos como o Orféon. Fundado em 1880, o Orféon da Associação Académica de Coimbra tem uma certa conotação de conservadorismo. Até ao 25 de Abril, esteve vedado às mulheres, que hoje integram outras secções em que se desdobra a sua actividade. E o CAO/UC, que Cunha Rodrigues já não integrou - é apenas sócio honorário -, foi fundado numa altura em que o restaurar de quaisquer tradições académicas suscitava suspeitas de simpatia pelo antigo regime. Cunha Rodrigues relativiza, lembrando que, nos anos 50-60, o Orféon se abriu à "música inglesa e norte-americana, a uma certa subcultura, ao neo-realismo". E defende que o Orféon e o CAO/UC representam o que há de melhor no ideal académico: a generosidade e a solidariedade, que permitem a camaradagem entre pessoas de diferentes quadrantes político-partidários. "A sinfonia está na polifonia", sentencia. O secretário de Estado Fausto Correia e o antigo líder do PSD Fernando Nogueira, ali na plateia, não teriam dito melhor. Hoje, liberto da pressão mediática do cargo de procurador, Cunha Rodrigues tem outro tipo de disponibilidade mental. E começa a sentir saudades do piano que conserva na casa do Porto: "Hei-de levá-lo para o Luxemburgo", promete. OUTROS TÍTULOS EM ÚLTIMA PÁGINA Ex-procurador fora do coro dos tribunais

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