Estava [no dia 25 de Novembro] no centro de operações que o PS tinha na Rua da Emenda, em contacto permanente com as nossas secções espalhadas pelo país e com os militares com que nos identificávamos. Além disso, executei algumas missões, a mais relevante das quais foi seguir a coluna de fuzileiros que, ao princípio da noite, se deslocou a Lisboa. Segui-os desde a Ponte 25 de Abril até ao Copcon, onde eles ficaram a partir daí.
António Guterres
Tinha sido o responsável pela organização do partido em Lisboa e conhecia particularmente bem as nossas estruturas de base, e isso tornava recomendável que me fossem atribuídas este tipo de missões.
idem
A maior parte dos contactos que tinhamos era com o Grupo dos Nove e com o posto de comando da Amadora, onde estava o general Eanes.
idem
O 25 de Novembro foi a consolidação de que a revolução se ia transformar numa democracia plena, representativa, pluralista, com o modelo da União Europeia. Foi um dia decisivo pela consolidação dessa perspectiva, em que simultâneamente se evitou uma deriva totalitária que pusesse em causa a democracia. E em que se evitou também qualquer excesso de reacção que, por exemplo, pusesse ter levado a questionar a legalidade do Partido Comunista ou a outras medidas do mesmo género que também poriam, em sentido contrário, em causa a autenticidade da democracia que tínhamos instalado em Portugal.
idem
[O maior inimigo do PS] não era nem o PCP nem a direita. O principal inimigo eram todos aqueles que na altura não queriam um regime plenamente democrático em Portugal. E é evidente que a principal ameaça que surgiu no 25 de Novembro veio do lado da extrema esquerda, com o envolvimento, ainda hoje não inteiramente esclarecido, do PCP.
Idem
Foi uma correcção absolutamente necessária. Interrompeu-se um percurso degenerativo, algo caótico e repôs-se a normalidade de um rumo.
Jaime Gama
Com o 25 de Novembro consumou-se, no plano militar, o que há muito vinha a ser feito no plano político e na rua, para recentrar a trajectória política do país
Idem
Às 16h30, o Presidente da República decretou o estado de sítio na região de Lisboa e às 18h, vimos na RTP Duran Clemente a protestar por não poder continuar a sua defesa popular, sendo substituido por Danny Kaye. Pelo telefone, somos informados da evolução positiva dos acontecimentos. Mas a madrugada de 25 para 26 ainda seria passada em sobressalto - até à intervenção final dos Comandos
Guilherme d''Oliveira Martins
Mantinhamos [a JSD, de que era militante] um contacto permanente com a JS, numa ''convergência na acção'' com efeitos práticos.
idem
Não havia dias nem noites
idem
Lembro-me perfeitamente onde estava nesse dia: foi o dia em que fui para a Universidade de Coimbra pela primeira vez. Era a primeira vez que saia de casa com as malas às costas para ir viver para Coimbra.
José Socrates
Fomos ouvindo as notícias e ao chegar a Coimbra nem fui ao quarto. Fomos logo para o Gil Vicente, para uma assembleia geral
idem
O 25 de Novembro, senti-o como uma segunda derrota (...) Representou, para nós, o início da normalização democrática formal, feita ''à direita'', sob a tutela, que então nos parecia tão temível, dos óculos escuros do general Eanes vestido de camuflado.
Augusto Santos Silva
Haveria de perceber, depois, de alguma forma já retrospectivamente, que a minha gente havia corrido o risco de contribuir, com sectarismo e cegueira, para a implantação de uma nova ditadura em Portugal. Que Eanes fazia parte do campo democrático e que, no essencial, era Mário Soares quem tinha razão. Mas essa é outra história...
idem
Recordo com admiração o coronel Melo Antunes, que soube evitar na noite do 25 de Novembro que a extrema-direita tomasse conta do país.
Eduardo Ferro Rodrigues
Tenho consciência de como, levados por um misto de generosidade e vanguardismo radical, estivemos à beira do abismo. Lendo os depoimentos sobre o 25 de Novembro vejo que, felizmente, de entre muitos golpes militares paralelos que se deram no mesmo dia, o único que tinha um verdadeiro projecto para Portugal era também o único que apostava verdadeiramente na democracia pluralista.
idem
Não se sabia como era o desfecho disto tudo. A minha mãe estava um bocado aflita, achava que isto podia dar para o torto. Quis que eu fosse para casa porque podia haver tiros. Fui para casa onde estive à espera que a minha mãe viesse do jornal e passei a noite a acompanhar a emissão de televisão até àquele momento extraordinário em que Duran Clemente foi substituído por Danny Kaye
António Costa
Tinha passado o Verão em grande actividade, embora não tivesse qualquer filiação.
Elisa Ferreira
"Era membro da UEC e do PCP. Vivia e estudava no Porto, onde passei o dia 25 de Novembro"
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Estava [no dia 25 de Novembro] no centro de operações que o PS tinha na Rua da Emenda, em contacto permanente com as nossas secções espalhadas pelo país e com os militares com que nos identificávamos. Além disso, executei algumas missões, a mais relevante das quais foi seguir a coluna de fuzileiros que, ao princípio da noite, se deslocou a Lisboa. Segui-os desde a Ponte 25 de Abril até ao Copcon, onde eles ficaram a partir daí.
António Guterres
Tinha sido o responsável pela organização do partido em Lisboa e conhecia particularmente bem as nossas estruturas de base, e isso tornava recomendável que me fossem atribuídas este tipo de missões.
idem
A maior parte dos contactos que tinhamos era com o Grupo dos Nove e com o posto de comando da Amadora, onde estava o general Eanes.
idem
O 25 de Novembro foi a consolidação de que a revolução se ia transformar numa democracia plena, representativa, pluralista, com o modelo da União Europeia. Foi um dia decisivo pela consolidação dessa perspectiva, em que simultâneamente se evitou uma deriva totalitária que pusesse em causa a democracia. E em que se evitou também qualquer excesso de reacção que, por exemplo, pusesse ter levado a questionar a legalidade do Partido Comunista ou a outras medidas do mesmo género que também poriam, em sentido contrário, em causa a autenticidade da democracia que tínhamos instalado em Portugal.
idem
[O maior inimigo do PS] não era nem o PCP nem a direita. O principal inimigo eram todos aqueles que na altura não queriam um regime plenamente democrático em Portugal. E é evidente que a principal ameaça que surgiu no 25 de Novembro veio do lado da extrema esquerda, com o envolvimento, ainda hoje não inteiramente esclarecido, do PCP.
Idem
Foi uma correcção absolutamente necessária. Interrompeu-se um percurso degenerativo, algo caótico e repôs-se a normalidade de um rumo.
Jaime Gama
Com o 25 de Novembro consumou-se, no plano militar, o que há muito vinha a ser feito no plano político e na rua, para recentrar a trajectória política do país
Idem
Às 16h30, o Presidente da República decretou o estado de sítio na região de Lisboa e às 18h, vimos na RTP Duran Clemente a protestar por não poder continuar a sua defesa popular, sendo substituido por Danny Kaye. Pelo telefone, somos informados da evolução positiva dos acontecimentos. Mas a madrugada de 25 para 26 ainda seria passada em sobressalto - até à intervenção final dos Comandos
Guilherme d''Oliveira Martins
Mantinhamos [a JSD, de que era militante] um contacto permanente com a JS, numa ''convergência na acção'' com efeitos práticos.
idem
Não havia dias nem noites
idem
Lembro-me perfeitamente onde estava nesse dia: foi o dia em que fui para a Universidade de Coimbra pela primeira vez. Era a primeira vez que saia de casa com as malas às costas para ir viver para Coimbra.
José Socrates
Fomos ouvindo as notícias e ao chegar a Coimbra nem fui ao quarto. Fomos logo para o Gil Vicente, para uma assembleia geral
idem
O 25 de Novembro, senti-o como uma segunda derrota (...) Representou, para nós, o início da normalização democrática formal, feita ''à direita'', sob a tutela, que então nos parecia tão temível, dos óculos escuros do general Eanes vestido de camuflado.
Augusto Santos Silva
Haveria de perceber, depois, de alguma forma já retrospectivamente, que a minha gente havia corrido o risco de contribuir, com sectarismo e cegueira, para a implantação de uma nova ditadura em Portugal. Que Eanes fazia parte do campo democrático e que, no essencial, era Mário Soares quem tinha razão. Mas essa é outra história...
idem
Recordo com admiração o coronel Melo Antunes, que soube evitar na noite do 25 de Novembro que a extrema-direita tomasse conta do país.
Eduardo Ferro Rodrigues
Tenho consciência de como, levados por um misto de generosidade e vanguardismo radical, estivemos à beira do abismo. Lendo os depoimentos sobre o 25 de Novembro vejo que, felizmente, de entre muitos golpes militares paralelos que se deram no mesmo dia, o único que tinha um verdadeiro projecto para Portugal era também o único que apostava verdadeiramente na democracia pluralista.
idem
Não se sabia como era o desfecho disto tudo. A minha mãe estava um bocado aflita, achava que isto podia dar para o torto. Quis que eu fosse para casa porque podia haver tiros. Fui para casa onde estive à espera que a minha mãe viesse do jornal e passei a noite a acompanhar a emissão de televisão até àquele momento extraordinário em que Duran Clemente foi substituído por Danny Kaye
António Costa
Tinha passado o Verão em grande actividade, embora não tivesse qualquer filiação.
Elisa Ferreira
"Era membro da UEC e do PCP. Vivia e estudava no Porto, onde passei o dia 25 de Novembro"