Ferro Rodrigues avança hoje

29-12-2001
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CRISE POLÍTICA: A DESISTÊNCIA DE JAIME GAMA

Ferro Rodrigues Avança Hoje

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES

Sexta-feira, 21 de Dezembro de 2001

APOIADO POR JOÃO SOARES

Ao final da tarde o ministro anunciará que é candidato a secretário-geral do PS. Guterres quer estar presente

Eduardo Ferro Rodrigues viveu ontem provavelmente o dia mais longo da sua já longa carreira política. De manhã foi apanhado de surpresa com um dramático telefonema de Jaime Gama a anunciar-lhe que afinal não avançava, por motivos familiares fortíssimos. Ferro Rodrigues, que foi, com António Guterres, António Vitorino e António Costa, um dos arquitectos da solução Jaime Gama, viu que estava a chegar a sua hora.

Às 12h00 o PÚBLICO anunciou na sua edição electrónica (www.publico.pt) que Jaime Gama desistia da candidatura e que, em seu lugar, Ferro Rodrigues avançava. Quinze minutos depois agência Lusa anunciava também que o ministro do Equipamento Social já era candidato a secretário-geral do PS. As notícias antecipavam-se, porém, ao calendário que Ferro e o estado-maior do PS tinham estabelecido. Era preciso, por um lado, confirmar o mais possível a dimensão dos apoios que esta candidatura suscitaria no partido, nomeadamente de João Soares, que, na véspera de Jaime Gama ter avançado, já tinha admitido apoiá-la.

Acontecia ainda que a circunstância de Gama ter desistido pouco mais de 12 horas depois de ter avançado tinham criado no partido e na opinião pública em geral a sensação de absoluto desgoverno do PS. Impunha-se uma pausa. E até uma espécie de compasso de espera - como foi implicitamente admitido por Ferro - dado os motivos apresentados por Jaime Gama.

Ferro Rodrigues sentiu-se então na obrigação de declarar à RTP, pelas 13h00, que a sua candidatura não era "nenhum facto consumado". "Eu e outros dirigentes do PS estamos a reflectir perante a gravidade da situação criada. Penso que, e até por respeito por Jaime Gama, nenhuma alternativa, nenhuma candidatura, se deva declarar nas próximas horas, ou mesmo nos próximos dias", acrescentou. E aproveitou a ocasião para homenagear o seu colega ministro dos Negócios Estrangeiros: "Lamento muito as circunstâncias dramáticas da vida pessoal da família de Jaime Gama que o obrigaram, infelizmente, a renunciar à sua candidatura a secretario-geral do PS."

Ao almoço, o ministro das Obras Públicas discutiu a situação com António Guterres, Jaime Gama e António Costa na residência oficial do primeiro-ministro. É preciso notar que Ferro Rodrigues já se tinha declarado indisponível para uma candidatura a secretário-geral. Isso ocorreu na reunião conjunta da comissão política e do secretariado nacional que teve lugar na sede do Largo do Rato quarta-feira à noite. E que, no almoço de que o juntou a António Costa e a Jaime Gama na terça-feira - e onde foi arquitectada a "solução Gama" - foi considerado que o perfil do "inventor" do rendimento mínimo garantido era considerado demasiado à esquerda para o principal objectivo eleitoral do PS a curto prazo: reconquistar o eleitorado do centro, que nas eleições autárquicas claramente fugiu para o PSD.

Ao longo da tarde Ferro foi procedendo à contagem de espingardas. João Soares garantiu o seu apoio e Manuel Alegre também. São dois nomes de peso no partido que na véspera tinham dado sinais de grande intranquilidade face à candidatura de Jaime Gama - sendo que João Soares prometera mesmo tentar encontrar uma "candidatura alternativa", que até podia ser a sua.

Falando à Lusa, o ainda presidente da câmara de Lisboa afirmou: "Ferro Rodrigues contará com todo o meu apoio, porque estou apostado em que o PS ganhe as próximas eleições legislativas." A sua candidatura, acrescentou, representa a garantia de que o PS "se assumirá como um partido de esquerda". Durante a tarde Ferro Rodrigues recebeu também o apoio de João Cravinho.

Ia-se criando, entretanto, a ideia de que o anúncio da candidatura só teria lugar após a reunião da comissão nacional do PS marcada para sábado, e onde o principal ponto da agenda é a organização da eleição do novo secretário-geral do partido. Foi o próprio Ferro quem criou esta ideia ao dizer que isso poderia não ocorrer "nos próximos dias".

Mas chegar à comissão nacional do PS - que é seu órgão máximo entre congressos - sem uma solução de liderança já arranjada seria algo de muito arriscado. A intranquilidade do partido poderia vir toda ao de cima, e com alguma exposição pública. Seria impossível evitar a ideia de que o partido vive momentos de verdadeiro desgoverno. O melhor seria antecipar o anúncio para hoje, de modo a que a reunião da comissão nacional pudesse mesmo discutir a organização da eleição do secretário-geral - ou seja, manter-se balizada pela sua agenda oficial. Ontem, pelas 20h00, a edição "on line" do PÚBLICO confirmava que Ferro Rodrigues já é candidato e que hoje anunciaria essa candidatura. Desta vez ninguém desmentiu.

O anúncio será portanto hoje, provavelmente à hora dos telejornais da noite. António Guterres tenciona estar presente para sinalizar o seu apoio, mas ontem não sabia se podia, por motivos de agenda. Ontem os gabinetes de si dependentes fizeram-lhe uma festa de Natal, na residência oficial de São Bento. Ofereceram-lhe mobiliário para um jardim de Inverno. Politicamente, Guterres prepara-se para hibernar.

A FRASE

"Ferro Rodrigues contará com todo o meu apoio, porque estou apostado em que o PS ganhe as próximas eleições legislativas."

João Soares

CRISE POLÍTICA: A DESISTÊNCIA DE JAIME GAMA

Ferro Rodrigues Avança Hoje

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES

Sexta-feira, 21 de Dezembro de 2001

APOIADO POR JOÃO SOARES

Ao final da tarde o ministro anunciará que é candidato a secretário-geral do PS. Guterres quer estar presente

Eduardo Ferro Rodrigues viveu ontem provavelmente o dia mais longo da sua já longa carreira política. De manhã foi apanhado de surpresa com um dramático telefonema de Jaime Gama a anunciar-lhe que afinal não avançava, por motivos familiares fortíssimos. Ferro Rodrigues, que foi, com António Guterres, António Vitorino e António Costa, um dos arquitectos da solução Jaime Gama, viu que estava a chegar a sua hora.

Às 12h00 o PÚBLICO anunciou na sua edição electrónica (www.publico.pt) que Jaime Gama desistia da candidatura e que, em seu lugar, Ferro Rodrigues avançava. Quinze minutos depois agência Lusa anunciava também que o ministro do Equipamento Social já era candidato a secretário-geral do PS. As notícias antecipavam-se, porém, ao calendário que Ferro e o estado-maior do PS tinham estabelecido. Era preciso, por um lado, confirmar o mais possível a dimensão dos apoios que esta candidatura suscitaria no partido, nomeadamente de João Soares, que, na véspera de Jaime Gama ter avançado, já tinha admitido apoiá-la.

Acontecia ainda que a circunstância de Gama ter desistido pouco mais de 12 horas depois de ter avançado tinham criado no partido e na opinião pública em geral a sensação de absoluto desgoverno do PS. Impunha-se uma pausa. E até uma espécie de compasso de espera - como foi implicitamente admitido por Ferro - dado os motivos apresentados por Jaime Gama.

Ferro Rodrigues sentiu-se então na obrigação de declarar à RTP, pelas 13h00, que a sua candidatura não era "nenhum facto consumado". "Eu e outros dirigentes do PS estamos a reflectir perante a gravidade da situação criada. Penso que, e até por respeito por Jaime Gama, nenhuma alternativa, nenhuma candidatura, se deva declarar nas próximas horas, ou mesmo nos próximos dias", acrescentou. E aproveitou a ocasião para homenagear o seu colega ministro dos Negócios Estrangeiros: "Lamento muito as circunstâncias dramáticas da vida pessoal da família de Jaime Gama que o obrigaram, infelizmente, a renunciar à sua candidatura a secretario-geral do PS."

Ao almoço, o ministro das Obras Públicas discutiu a situação com António Guterres, Jaime Gama e António Costa na residência oficial do primeiro-ministro. É preciso notar que Ferro Rodrigues já se tinha declarado indisponível para uma candidatura a secretário-geral. Isso ocorreu na reunião conjunta da comissão política e do secretariado nacional que teve lugar na sede do Largo do Rato quarta-feira à noite. E que, no almoço de que o juntou a António Costa e a Jaime Gama na terça-feira - e onde foi arquitectada a "solução Gama" - foi considerado que o perfil do "inventor" do rendimento mínimo garantido era considerado demasiado à esquerda para o principal objectivo eleitoral do PS a curto prazo: reconquistar o eleitorado do centro, que nas eleições autárquicas claramente fugiu para o PSD.

Ao longo da tarde Ferro foi procedendo à contagem de espingardas. João Soares garantiu o seu apoio e Manuel Alegre também. São dois nomes de peso no partido que na véspera tinham dado sinais de grande intranquilidade face à candidatura de Jaime Gama - sendo que João Soares prometera mesmo tentar encontrar uma "candidatura alternativa", que até podia ser a sua.

Falando à Lusa, o ainda presidente da câmara de Lisboa afirmou: "Ferro Rodrigues contará com todo o meu apoio, porque estou apostado em que o PS ganhe as próximas eleições legislativas." A sua candidatura, acrescentou, representa a garantia de que o PS "se assumirá como um partido de esquerda". Durante a tarde Ferro Rodrigues recebeu também o apoio de João Cravinho.

Ia-se criando, entretanto, a ideia de que o anúncio da candidatura só teria lugar após a reunião da comissão nacional do PS marcada para sábado, e onde o principal ponto da agenda é a organização da eleição do novo secretário-geral do partido. Foi o próprio Ferro quem criou esta ideia ao dizer que isso poderia não ocorrer "nos próximos dias".

Mas chegar à comissão nacional do PS - que é seu órgão máximo entre congressos - sem uma solução de liderança já arranjada seria algo de muito arriscado. A intranquilidade do partido poderia vir toda ao de cima, e com alguma exposição pública. Seria impossível evitar a ideia de que o partido vive momentos de verdadeiro desgoverno. O melhor seria antecipar o anúncio para hoje, de modo a que a reunião da comissão nacional pudesse mesmo discutir a organização da eleição do secretário-geral - ou seja, manter-se balizada pela sua agenda oficial. Ontem, pelas 20h00, a edição "on line" do PÚBLICO confirmava que Ferro Rodrigues já é candidato e que hoje anunciaria essa candidatura. Desta vez ninguém desmentiu.

O anúncio será portanto hoje, provavelmente à hora dos telejornais da noite. António Guterres tenciona estar presente para sinalizar o seu apoio, mas ontem não sabia se podia, por motivos de agenda. Ontem os gabinetes de si dependentes fizeram-lhe uma festa de Natal, na residência oficial de São Bento. Ofereceram-lhe mobiliário para um jardim de Inverno. Politicamente, Guterres prepara-se para hibernar.

A FRASE

"Ferro Rodrigues contará com todo o meu apoio, porque estou apostado em que o PS ganhe as próximas eleições legislativas."

João Soares

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